Violência e desigualdade racial
Quando é verificado a participação de jovens em homicídios
segundo a cor, constatamos que a há uma queda no número de homicídios,
ou mortalidade por causas violentas em algumas regiões, mas paralelamente
os números da violência para a população negra é alarmante. Ou seja, enquanto
o número de vítimas brancas por homicídio caiu 32,3%, o número de vítimas
jovens negras aumentou 32,4%. Isso deixa explícito a seletividade social
que existe no Brasil, no que ser refere aos que vão ser assassinados. É importante
refletir, portanto, de que forma essa seletividade se dá, visto que diversos
dados e fatores operam no geral da sociedade.
Olhando especificamente para o indicador
de violência letal entre jovens desagregado pelo componente raça/cor,
verificamos que as taxas de mortalidade por homicídio entre jovens negros
são superiores em todas as regiões, com a maior discrepância verificada
na região Nordeste, cuja taxa de homicídios entre jovens negros (87,0) é
quase 4 vezes superior à de jovens brancos (17,4). Na sequência, apresenta-se
a região Norte, com taxa de mortalidade por homicídios entre jovens negros
de 72,5, ou 214% superior à taxa entre jovens brancos (23,1).
A região Centro-Oeste apresenta taxa
de homicídios de jovens negros 182% superior à de jovens brancos (88,6
contra 31,5) e a região Sudeste, 127% superior (53,2 entre jovens negros
e 23,5 entre jovens brancos). A região Sul destaca-se por apresentar a
menor taxa de homicídio entre jovens negros, bem como a menor discrepância
entre a taxa de jovens brancos, da ordem de 8%. O panorama nacional apresenta
uma taxa de homicídio entre jovens negros 155% maior do que a de jovens
brancos, na evidência de como a violência tem sido seletiva no país e da
necessidade de implementação de políticas públicas focalizadas para
este grupo de risco.
O IVJ – Violência e Vulnerabilidade Juvenil
O Índice de Vulnerabilidade Juvenil à Violência
e Desigualdade Racial 2014 é um relatório que sintetiza dados referentes
aos aspectos que determinam a vulnerabilidade dos jovens à violência
como, frequência à escola, escolaridade, inserção no mercado de trabalho,
taxa de mortalidade por causas internas, taxa de mortalidade por causas
violentas, valor do rendimento familiar médio mensal, entre outros. Um
fator considerado novo neste documento apresentado em 2014, foi a avaliação
de risco entre jovens negros e brancos, trazendo gráficos comparativos
que visam evidenciar o papel da desigualdade racial na vulnerabilidade
dos jovens junto as unidades da federação e municípios brasileiros.
Para entender a escala do IVJ, devemos considerar os valores de 0,0 até
1,0, sendo que será maior a vulnerabilidade dos jovens as regiões que
apresentarem o indicador mais próximo de 1,0.
O IVJ e os estados
Conforme dos dados apresentados no IVJ, o estado brasileiro
como o maior valor na escala do IVJ – Violência e Desigualdade Racial é
Alagoas (0,608), seguido da Paraíba (0,517), Pernambuco (0,506) e Ceará
(0,502). Este grupo é classificado pelo relatório como situação de alta
vulnerabilidade, ou seja, possuem um maior risco de mortalidade por homicídio
para o negro do que para o branco. Do outro lado da tabela, com os menores coeficientes
de coeficientes do IVJ, temos quatro estados do Sul e Sudeste (São Paulo,
Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Minas Gerais), mais o Distrito Federal.
No geral, os estudos mostram que, em nível nacional, a taxa de homicídio
é de 155% maior entre jovens negros, em relação aos brancos.
O IVJ e os
municípios
Os
dados do IVJ mostram claramente a relação entre a vulnerabilidade juvenil,
violência e território, já que às condições de vida da população interferem
gravemente no quadro de violência. No entanto, ao observarmos os dados
dos municípios verificamos que as questões referentes desigualdades
regionais interferem, mas a questão da violência letal, ou seja o homicídio
é o fator que mais prejudica em termos de vulnerabilidade do jovem, devendo
ser combatido de forma efetiva. O relatório mostra que os dez municípios
com mais altos índices (Cabo de Santo Agostinho/PE, Itaguaí/RJ, Altamira/PA,
Marabá/PA, Luziânia/GO, Parauapebas/PA, Simões Filho/BA, Eunápolis/BA,
Teixeira de Freitas/BA e Marituba/PA),
o indicador de mortalidade por homicídio é que apresenta o valor mais
alto dentre os indicadores que compõem o índice. Por outro lado, temos o
município paulista de São Caetano do Sul, que apresenta o menor IVJ do
país, mas do ponto de vista social, possui altos índices de frequência à escola
e inserção no emprego.
Fatores para compreensão da violência entre jovens negros
O levantamento feito pelo Mapa da Violência de 2014 sugere três fatores
para explicar essa desigualdade extrema da violência entre os jovens negros:
·
A privatização do aparelho de segurança e
consequentemente para os setores com melhor condição financeira, emergem os
melhores serviços privados. O estudo cita ainda a pesquisa domiciliar
do IBGE de 2011, que deixa claro que a renda média de famílias
brancas era superior à de famílias de negros, o que possibilita que parte da
sociedade tenha acesso a dupla segurança, privada e do Estado. Enquanto
famílias menos abastadas financeiramente ficam com o mínimo que o Estado pode
oferecer.
·
Os serviços públicos por fazerem parte do jogo
político ideológico nas disputas partidárias se distribuem de maneira
extremamente desigual nas diversas áreas geográficas, priorizando espaços
segundo a visibilidade política, tendo consequências também na mídia.
·
A naturalização e aceitação social da violência,
que gera um esquema de culpabilização de vítimas, justificando a violência de
vulneráveis para se evitar o questionamento de discursos dominantes. Nesse
sentido, mulheres que se tornam vítimas de estupros se tornam “vadias” e,
jovens e adolescentes que cometem delitos são “marginais”, etc.
Finalizando
Frente a este panorama, percebe-se que o Brasil enfrenta uma realidade
de violência e desigualdade, seja ela de classe, etnia ou gênero, muito
longe do que podemos considerar aceitável. Para refletir uma necessária
mudança de postura, em reflexão final, o documento toma como base a Declaração
Universal dos Direitos Humanos, de 1948:
·
Toda pessoa tem direito à vida, à liberdade e à
segurança pessoal [...] sem distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor,
sexo, língua, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional
ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição.
Reverter este quadro só será possível quando as diversas instituições,
Escola, Família, Estado, etc. se apoiarem em valores mais igualitários
e justos a fim de reverter esta lógica de violência instalada e naturalizada
no cotidiano social, seja pela mídia ou pelas políticas públicas excludentes.
Para saber mais sobre este assunto conheça o site da
Anistia internacional e conheça a campanha Jovem Negro Vivo:
Acesse e veja o vídeo da campanha.