Segundo E. Hobsbawm, que analisou o “banditismo social”,
em seu estudo sobre os movimentos sociais nos séculos XIX e XX., esse fenômeno constitui a mais
primitiva forma de “protesto social organizado” de que se tem conhecimento.
Ele representa, para o “homem violento”, uma das duas possibilidades de
enfrentamento da realidade social injusta e opressora que se impõe,
sem resistências, ao “homem comum” – ou seja, a alternativa da “rebeldia
social”, que se contrapõe à possibilidade de se aliar aos opressores e
de servir a eles. E é enquanto “rebelde social”, que o “bandido” é protegido
pelo homem pobre, que o cultua como um “herói” e o transforma em um “mito”, que,
em geral, só é capturado quando “traído” – ainda que a polícia sempre se autoproclame
como autora dessa ação.
Entretanto, Hobsbawm enfatiza que o bandido social
é portador de um “protesto não revolucionário”, na medida em que é incapaz
de “criar um mundo de igualdade”, ao agir por meio da ilegalidade, com o objetivo
de apenas impor limites à opressão do Estado e da sociedade (cf. HOBSBAWM, 1970).
O “bandido” é, portanto, considerado como tal pelo
Estado e pelo conjunto das normas e leis sociais, embora, do ponto de vista
das “convenções locais”, seus atos não sejam entendidos como crimes que as
ameacem.
Banditismo social no
Brasil
Mas, se o estudo desse historiador inglês se centra
no banditismo social típico do meio rural das sociedades tradicionais
pré-capitalistas, a antropóloga brasileira A. Zaluar encontra uma
forma atualizada desse fenômeno, no espaço urbano do Rio de Janeiro da
penúltima década do século XX. (cf. ZALUAR,
1985). O “bandido” por ela pesquisado, no bairro de Cidade de Deus, continua
sendo um “herói-vítima”, que agora resiste ao capitalismo, e cujo par antagônico
não é mais o aliado e servidor do opressor, mas o próprio trabalhador. O
bandido é, portanto, um “pobre que opta pela vida criminosa”, mas é representado
positivamente como o “vingador de seu povo” e “defensor” de seu território.
É graças a ele que os moradores do bairro estão a salvo de outros bandidos,
ladrões e estupradores que ameaçariam sua segurança física e sua integridade
moral. Assim, do mesmo modo que o estudo de Hobsbawm verificou que o “bandido
social” só é protegido pela população camponesa, quando age respeitando
as convenções locais – o que significa jamais assaltá-la ou roubá-la,
mesmo em caso de privação e fome, pois a transgressão desse limite levaria
à sua denúncia –, os trabalhadores que habitam Cidade de Deus protegem
apenas aqueles que identificam como “bandidos formados”, ou seja, os que
respeitam as “regras do jogo” e se limitam ao seu papel de defender a população,
já que a polícia e o judiciário não o fazem.
É por isso que Hobsbawm aponta que os “bandidos”, ou,
pode-se dizer, “os modernos Robin Hoods”, vivem um grave “paradoxo”, pois
“para se tornarem realmente paladinos do próprio povo”, seria preciso
que eles deixassem de ser bandidos (cf. op. cit., p. 42).
O que significa dizer que a violência oriunda da violação e da privação
de direitos só pode ser combatida com a organização política e o pleno
e irrestrito funcionamento das instituições democráticas.
Violência e Juventude
A seguir traremos uma reflexão e uma sequência de
dados sobre violência juvenil, considerando o mapa da violência de 2014
e também o Índice de Vulnerabilidade Juvenil à Violência e Desigualdade
Racial 2014.
Observamos que no Brasil nos últimos anos, segundo os
dados do Mapa da Violência, houve uma queda em algumas regiões e certa estagnação
no número de homicídios na população como um todo. No entanto, este estudo
mostra que os homicídios, são a principal causa de morte entre jovens de
15 a 29 anos no Brasil, sendo vítimas, principalmente, o jovem do sexo masculino,
negro e da periferia das áreas metropolitanas das grandes cidades.
Causas de mortalidade entre jovens e não
jovens
No primeiro gráfico, apresentamos um comparativo
entre população jovem e não jovem em se tratando das causas de mortalidade,
quando a participação do jovem em causas de mortes por homicídio é de
38,7% contra 2,4% entre a população não jovem.
Entre 2002 e 2012 o Brasil conseguiu estagnar o crescimento
das taxas de homicídios que vinham crescendo desde 1980. E isso se deu possivelmente
com políticas públicas e iniciativas privadas voltadas a diminuição e
prevenção da violência. Porém, é preciso refletir de que maneira isso
atinge a população como um todo. A violência no Brasil ainda se encontra
em limites inaceitáveis, devendo ser objeto de diversos estudos, como é
o caso do Mapa da Violência e do Índice de vulnerabilidade Juvenil à
Violência e Desigualdade Racial/IVJ, para que se ampliem políticas públicas
de combate, principalmente para os agrupamentos sociais mais afetados.
Que se possa, acima de tudo efetivar direitos sociais destes grupos.
Taxas de homicídio da juventude nos estados
da federação
No gráfico abaixo apresentamos as taxas de homicídio
da juventude por unidades da federação, que nos mostra um ranking entre
os estados, quando temos o Estado de Alagoas com um número cinco vezes
maior que estados como Santa Catarina e São Paulo.