Pretende-se
chegar a uma concepção geral de violência e de suas principais formas e dimensões.
Serão discutidos também seus desdobramentos sociais e jurídicos, para chegar a
um consenso sobre em que consiste a violação de direitos e o que efetivamente
acarreta sanções do ponto de vista da lei.
A
violência é, hoje, parte do nosso cotidiano. De maneira direta ou indireta,
somos diariamente expostos a todo tipo de informação alusiva a atos de violação
da integridade física, psicológica e moral de outros seres humanos. Isso ocorre
por meio dos noticiários televisivos, da mídia impressa, do cinema, das séries
policiais e da própria realidade à nossa volta. Somos testemunhas de atos violentos,
conhecemos pessoas que foram vítimas e também agressores, ou somos nós mesmos,
vítimas ou responsáveis por ações que deixam sequelas físicas e psicológicas.
Por essa razão, tratar do tema “violência” envolve sempre o risco da
banalização e do senso comum. Pensar o problema de maneira sociológica requer,
antes de tudo, adotar um distanciamento apropriado, procurando analisá-lo sob um
enfoque objetivo. Mais uma vez, vamos recorrer ao exercício do estranhamento
para tratar do assunto “violência” como se estivesse sendo discutido pela
primeira vez.
Nesta
etapa, vamos discutir a questão central da Situação de Aprendizagem, ou seja, a
concepção do que é violência. É importante ter em mente que, tal como diversos
outros conceitos da Sociologia, não há uma definição única sobre o que seja a
violência, aceita de forma unânime pelos sociólogos. Diferentes autores a
abordam sob enfoques diversos. Por essa razão, vamos começar por uma concepção
geral, embasada na literatura sociológica. Essa noção, entretanto, não deve ser
entendida como um conceito fechado e acabado, mas, sim, aberto ao debate e à
reflexão crítica.
Segundo
a Organização Mundial da Saúde (OMS), no Relatório Mundial sobre a Violência
e Saúde (2002), a violência pode ser definida como o uso intencional de
força física ou do poder contra si mesmo, outra pessoa, um grupo ou uma
comunidade.
O
uso da força ou do poder pode ser:
a)
real, ou seja, quando chega às vias de fato e resulta em dano;
b)
em forma de ameaça, isto é, quando representa alta probabilidade de
causar dano psicológico, lesão, deficiência de desenvolvimento, privação[1]
ou morte.
A
violência pode ser entendida como a ação ou ameaça de um indivíduo ou grupo
contra uma ou mais pessoas a fim de causar danos. Essa violência pode ser
direta, quando atinge imediatamente o corpo da pessoa que a sofre, ou indireta,
quando se dá por meio da alteração do ambiente no qual ela se encontra ou
quando se retiram, destroem ou danificam os seus recursos materiais. Tanto a
forma direta como a forma indireta prejudicam a pessoa ou o grupo alvo da
violência. Além disso, existe violência quando a ação causa constrangimentos
não apenas físicos, mas também psicológicos e morais. Finalmente, é preciso
incluir a violência simbólica, que não causa a morte física, mas atenta contra
as crenças, a cultura e a própria identidade dos indivíduos que dela são
vítimas. Concluindo, entende-se como violência tudo aquilo que não é desejado
pelo outro e que lhe é imposto pela força concreta ou simbólica.
Você
deverá pesquisar, seguindo as orientações de seu professor, em revistas,
jornais e na internet, reportagens e matérias que relatem episódios de
violência variados. O objetivo da pesquisa é obter um caso de violência física,
um de violência psicológica e outro de violência simbólica. O trabalho deve
contemplar os seguintes aspectos: assunto da reportagem; breve descrição dos
fatos ocorridos; identificação das vítimas e dos agressores; identificação
do(s) tipo(s) de violência abordado(s) na reportagem; justificativa do item
anterior.
Para refletir
Resumindo,
entendemos que podem existir várias formas de violência. Uma maneira de
continuar a refletir sobre isso é olhar para você mesmo, para a sua família,
seus amigos, sua vizinhança e até para o país e se perguntar: Eu costumo sofrer
violência em casa, na escola, na vizinhança ou no trabalho? Eu contribuo para a
violência? Bato, ameaço ou faço quaisquer dos atos explicados?
Aproveite
para se perguntar: O que eu posso mudar no meu comportamento e como posso ajudar
outras pessoas a mudarem o comportamento delas? Afinal, é importante refletir
tanto sobre as ações dos outros quanto sobre nossas próprias ações.
Nesse universo, todos são vítimas, não
apenas porque provenham do mesmo “meio social” e estejam igualmente submetidos
às desfavoráveis condições sociais de vida, mas na condição de vítimas de um
mundo social opressivo e despótico, como é o mundo do crime entre classes
populares. Pode-se, portanto, argumentar que todos, indistintamente, são vítimas
da pobreza de direitos, grosso modo entendida como conjunto de obstáculos
enfrentados no acesso à justiça social, inclusive precária proteção social
contra a derivação para a violência e para o crime. Se a derivação para a
violência e para o crime configura-se como uma espécie de opção, escolha ou
vontade de alguns, o que resulta na construção de carreiras criminais, é
justamente porque, em algum momento, as leis deixaram de ser aplicadas. (ADORNO,
Sérgio. [Trecho citado]. In: PERES, Maria F.; CARDIA, Nancy; SANTOS, Patrícia
C. Homicídios de crianças e jovens no Brasil: 1980-2002. São Paulo:
Núcleo de Estudos da Violência/Universidade de São Paulo, 2006. p. 31.)
Uma das particularidades mais
relevantes dos jovens cujos estilos de vida são mais marcados pelo risco é a
sua recorrente subestimação e o reforço da sua atração. Sistematicamente verificamos
que os jovens mais envolvidos nos comportamentos de risco tendem a não reconhecer
ou a subestimar a sua periculosidade e as suas implicações em termos de saúde.
O risco apresenta-se muitas vezes como atrativo e as possíveis consequências
negativas, que a surgirem apenas se manifestarão, em muitos casos, muito mais
tarde, são ignoradas. Por isso se verificou uma relação negativa entre os
comportamentos de risco e a preocupação e o empenho face ao futuro. Subjacente
à postura de risco perfilha-se muitas vezes uma atitude hedonista voltada para
as gratificações que a ação no presente pode proporcionar. (FERREIRA, Pedro M.
Comportamentos de risco dos jovens. In: PAIS, José M. et al. Condutas de
risco, práticas culturais e atitudes perante o corpo: resultados de um
inquérito aos jovens portugueses. Oeiras: Celta, 2003. p. 166.)
[1] A falta do necessário à vida;
necessidade, fome, miséria.