quarta-feira, 16 de maio de 2018

Violência e Sociedade - Barbárie e civilização



Em seu texto, Edu­cação após Aus­chwitz (In: COHN, G. (org.). The­odor Adorno. Co­leção Grandes Ci­en­tistas So­ciais. São Paulo: Edi­tora Ática, 1986, pp. 33-45), T. W. Adorno está pre­o­cu­pado com a pos­si­bi­li­dade de re­pe­tição de Aus­chwitz e dis­cute o papel da edu­cação no sen­tido de formar per­so­na­li­dades que cons­ci­en­te­mente se opo­nham e re­sistam à re­pe­tição da bar­bárie.

Sua aná­lise re­vela a pre­o­cu­pação com a pouca atenção e falta de cons­ci­ência sobre a mons­tru­o­si­dade co­me­tida contra o pró­prio homem: "A bar­bárie sub­sis­tirá en­quanto as con­di­ções que pro­du­ziram aquela re­caída subs­tan­ci­al­mente per­du­rarem" (p.33). Re­toma Freud e sua aná­lise sobre o “mal estar na cul­tura”, para dis­cutir como a ci­vi­li­zação é capaz de pro­duzir a an­ti­ci­vi­li­zação e a re­força pro­gres­si­va­mente. Ad­verte que a es­tru­tura bá­sica da so­ci­e­dade e suas ca­rac­te­rís­ticas ine­rentes que pos­si­bi­li­taram a bar­bárie ainda estão pre­sentes. Para ele, o campo de con­cen­tração e o que lá foi co­me­tido nada têm de aber­rante ou de su­per­fi­cial, mas são a ex­pressão de uma "ten­dência ex­tre­ma­mente po­de­rosa da so­ci­e­dade" (p. 34).

Nesse sen­tido, ele lembra o as­sas­si­nato pelos “jo­vens turcos” de mais de um mi­lhão de ar­mê­nios, um ver­da­deiro ge­no­cídio que ex­pressa a res­sur­reição de um “na­ci­o­na­lismo agres­sivo” que tem ocor­rido em muitos países desde o final do sé­culo XIX; e, da mesma ma­neira, também con­si­dera a in­venção da bomba atô­mica e o ex­ter­mínio de mi­lhares de pes­soas como ge­no­cídio. Com esses fatos, ele pre­tende mos­trar como a bar­bárie está ins­crita na marcha da His­tória.

Propõe, então, in­ves­tigar os me­ca­nismos que tornam os ho­mens ca­pazes de tais atos – é o que chama de “volta ao su­jeito”, ao as­pecto sub­je­tivo, visto que a pos­si­bi­li­dade de al­terar as con­di­ções so­ciais e po­lí­ticas é muito re­du­zida. Chama a atenção para os res­pon­sá­veis pela vi­o­lência, que nem sempre são per­ce­bidos como tal; e ao se con­trapor a essa in­cons­ci­ência que se ma­ni­festa, su­gere que a "edu­cação só teria pleno sen­tido como edu­cação para a au­tor­re­flexão crí­tica" (p. 35), pois, com isso, seria pos­sível im­pedir o es­que­ci­mento e a ma­ni­fes­tação da frieza que do­mina os in­di­ví­duos.

A seu ver, essa edu­cação deve se con­cen­trar na pri­meira in­fância e con­sistir em um "es­cla­re­ci­mento geral cri­ando um clima es­pi­ri­tual, cul­tural e so­cial que não dê margem a uma re­pe­tição; um clima, por­tanto, em que os mo­tivos que le­varam ao horror se tornem cons­ci­entes, na me­dida do pos­sível" (p. 36). Trata-se, por­tanto, de pensar a for­mação das novas ge­ra­ções, es­cla­re­cendo-as, para que, re­al­mente, se con­cre­tizem as pro­messas da ci­vi­li­zação e se eli­mine a vi­o­lência res­pon­sável pela bar­bárie.


Sugestão de reflexão


Su­ge­rimos a acesso ao site do Nú­cleo de Es­tudos de Vi­o­lência da Uni­ver­si­dade de São Paulo. Neste caso in­di­camos a lei­tura do livro: Vi­o­lência nas es­colas: um guia para pais e pro­fes­sores. Este livro aborda “as di­fe­rentes formas que a vi­o­lência pode as­sumir no co­ti­diano da es­cola, indo da não re­so­lução de pe­quenos con­flitos que fazem parte das di­nâ­micas de re­la­ções in­ter­pes­soais pre­sentes no am­bi­ente até os casos ex­tremos de vi­o­lência que in­ter­ferem na ro­tina e no apren­di­zado es­colar. Nesse sen­tido, são abor­dados temas como vi­o­lência ins­ti­tu­ci­onal, as­sédio moral (bullying) e al­guns as­pectos entre vi­o­lência e as con­di­ções so­ciais e infra-es­tru­tu­rais tanto da es­cola como de seu en­torno. Por fim, são apre­sen­tadas e dis­cu­tidas al­gumas ex­pe­ri­ên­cias que podem servir como al­ter­na­tivas para re­dução dessa vi­o­lência”. Para baixar: http://www.ne­vusp.org/por­tu­gues/index.php?op­tion=com_con­tent&task=view&id=954&Itemid=121



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