quarta-feira, 16 de maio de 2018

Unidade 6 – Capítulo 20 – Cultura e Indústria Cultural no Brasil


Escrever sobre cultura no Brasil significa trabalhar com muitas expressões – como festas, danças, canções, esculturas, pinturas, gravuras, literatura, mitos, superstições e alimentação – presentes no cotidiano das pessoas e incorporadas ou não pela indústria cultural.

O que caracteriza nossa cultura? Na América portuguesa, no século XVI, as culturas indígenas e africanas não eram reconhecidas pelos colonizadores e expressavam-se à margem da sociedade que se constituía sob o domínio lusitano. Tal sociedade tinha como principal referência acultura europeia.

No entanto, as raízes indígenas e africanas impregnaram nosso cotidiano. A música brasileira apresenta uma variedade imensa de ritmos, que são puros ou misturados, cópias ou (re)elaborações constantes, invenções e inovações, com os mais diversos instrumentos.

A produção musical brasileira tem traços de origem marcadamente africana, indígena, sertaneja e europeia. Genuínas são as músicas, as danças e a arte plumária ou a cerâmica dos povos indígenas. As demais manifestações culturais são fusões, criações de uma vasta e longa herança de muitas culturas. Talvez essa seja a característica que podemos chamar de “brasileira”. O lundu, por exemplo, é um tipo de música e de dança que mistura ritmos portugueses com os batuques dos africanos escravizados.

20.1. Indústria cultural no Brasil

O desenvolvimento da indústria cultural no Brasil ocorreu paralelamente ao desenvolvimento econômico e teve como marco a introdução do rádio, na década de 1920, da televisão, na década de 1950, e da internet, nos anos 1990. Outros campos da indústria cultural, como cinema, jornais e livros, não são tão expressivos quanto a televisão e o rádio.

Em 1922 foi realizada a primeira transmissão de rádio no Brasil, inaugurando uma fase de experimentação, voltada principalmente para atividades não comerciais. Na década de 1930 foi dada a autorização da publicidade no rádio. Isso permitiu a ampliação da difusão. O dinheiro arrecadado com a publicidade permitiu manter a programação no ar.

As décadas de 1930 e 1950 foi o apogeu da audiência do rádio. Foi nesse período que o Estado passou a controlar as atividades do rádio. Durante a ditadura Vargas (1937-1945), o governo fazia sua propaganda e tentava desenvolver uma cultura nacionalista por meio do rádio. Os cantores e cantoras mais conhecidos eram contratados como grandes estrelas das emissoras de rádio, pois proporcionavam mais audiência e, consequentemente, mais anunciantes.

Nas décadas de 1960 e 1970 se deu o início da decadência do rádio. A chegada da televisão, que iniciava sua programação de modo mais intensivo, retirava do rádio não só a audiência, mas também os profissionais e os anunciantes. A partir de 1985 houve um novo impulso para a transmissão do rádio, com a introdução das emissoras FM (que permitiam melhor recepção), o fim da censura e a disponibilidade de mais investimentos oriundos da publicidade.

Hoje, muitas rádios são acessadas pela internet, o que significa uma inovação na recepção dos programas. Essa união do rádio com a internet propiciou às emissoras uma nova forma de chegar a públicos variados, com notícia ou música.

No Brasil, cerca de 85% das emissoras comerciais em operação estão em mãos de políticos, que usam as transmissões de acordo com seus interesses ou os de patrocinadores. As rádios comunitárias, as públicas e mesmo as piratas podem desenvolver uma programação sem as limitações mencionadas.

20.2. A televisão brasileira

A televisão chegou ao Brasil no início da década de1950, quando o jornalista Assis Chateaubriand inaugurou a primeira emissora brasileira, a TV Tupi, de São Paulo. Nos primeiros 20 anos de história, a TV Tupi liderou o mercado de televisão, enfrentando praticamente desde o início a concorrência de outras emissoras. Em 1960, em apenas 4,6% dos domicílios do Brasil havia um aparelho de televisão. Em 2008, a televisão já estava em 95,1% dos lares.

Ao longo dos mais de cinquenta anos de história da televisão no Brasil, o Estado, por intermédio dos sucessivos governos, influiu diretamente nessa indústria. Sempre deteve o poder de conceder e cancelar concessões. A partir de 1964, com o início do regime militar, a interferência aumentou de forma quantitativa e qualitativa. Os militares fizeram investimentos em infraestrutura para ampliar a abrangência da televisão e aumentar seu poder na programação.

Em 1968 houve a inauguração do sistema de transmissão de micro-ondas. Em 1974, a criação de novas estações via satélite. Em 1981, foi realizado um acordo da Embratel com as redes Bandeirantes e Globo para permitir a transmissão da programação dessas emissoras a todo o Brasil. Os sinais podiam ser captados por antenas parabólicas. Em 1985/86, aconteceu o lançamento dos dois primeiros satélites brasileiros.

O projeto de integração nacional pretendido pelo regime militar, alicerçado numa política cultural específica, alcançou êxito graças à televisão. Durante o regime militar, as redes de televisão – que eram privadas – obedeciam fielmente às determinações do Estado. Os programas passavam a impressão de que o governo militar era legítimo e vivíamos em uma democracia.

A maior beneficiária desse modelo foi a Rede Globo. Fundada em 1965, cresceu apoiada nas relações amistosas com o regime militar. O programa de maior audiência foi a telenovela, que se tornou um “produto cultural brasileiro”. O modelo de televisão estabelecido pela ditadura sobreviveu ao regime militar e ganhou ainda mais poder. A televisão converteu-se, enfim, fonte de poder político.

As relações entre o Estado e as emissoras modificaram-se apenas na década de 1990, quando os investimentos públicos diminuíram, a censura foi abolida e o mercado se alterou com a introdução da transmissão a cabo. Como o rádio, a televisão é controlada pelo poder público por meio das regulamentações e também da propaganda oficial.

20.3. A programação da televisão

A televisão é, no Brasil, o principal veículo de difusão cultural e de informação. A influência da televisão no dia a dia dos brasileiros é preocupante, pois existem graves problemas relacionados à informação e à formação de opinião.

É possível uma televisão diferente? De acordo com o filósofo brasileiro Renato Janine Ribeiro, deve-se levar em conta a importância que a televisão tem no Brasil, pois ela dá para a sociedade uma pauta de conversa. A TV também desempenha um papel na reflexão do Brasil atual, principalmente por meio das novelas, que levam aos telespectadores algumas questões pouco discutidas ou até silenciadas.

Janine Ribeiro deixa claro que alguns assuntos não são discutidos nas novelas, como as questões sociais, a desigualdade de classes e o autoritarismo do patrão sobre o empregado, por exemplo. Uma alternativa para melhorar a programação da TV estaria na criação de mecanismos de democratização dos meios de comunicação, como a concessão de canais para instituições de caráter público que pudessem transmitir informação e cultura.

20.4. A inclusão digital

O acesso à internet no Brasil ainda é bastante restrito, o que constitui mais um aspecto das desigualdades no país. Dados de pesquisa realizada em 2006 pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGIBr) mostram que somente 33,3% dos brasileiros já tiveram contato com a internet. Entre os mais ricos, 95% já acessaram a rede; entre os mais pobres, apenas 12,2%.

A indústria cultural no Brasil desenvolveu boa parte de sua trajetória à sombra de governos autoritários ou sob regras rígidas, mas sempre houve brechas nas quais se pôde veicular conteúdos críticos e de boa qualidade. Pode-se dizer, assim, que existe um potencial de liberdade em cada meio de comunicação. Nesse processo, a internet caracteriza-se como um meio que proporciona uma liberdade sem igual.

Como explicar e entender a “liberdade de escolha” no mundo em que vivemos?

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