quarta-feira, 16 de maio de 2018

Unidade 6 – Capítulo 19 – Mesclando cultura e ideologia


Vivemos num mundo de comunicações. Vemos televisão, fazemos pesquisas na internet, contatamos pessoas por e-mail, MSN ou sites de relacionamento, lemos jornais e revistas, ouvimos rádio. Estamos mergulhados na cultura e na ideologia.

19.1. Dominação e controle

Vários autores procuram demonstrar que os conceitos de cultura e ideologia não podem ser utilizados separadamente. O pensador italiano Antonio Gramsci (1891-1937) analisou a questão com base no conceito de hegemonia e no que ele chama de aparelhos de persuasão.

·         Hegemonia - processo pelo qual uma classe dominante consegue fazer seu projeto ser aceito pelos dominados.
·         Aparelhos de persuasão - práticas intelectuais e organizações no interior do Estado ou fora dele (livros, jornais, escolas, música, teatro, televisão, etc.) utilizadas para disseminar o projeto da classe dominante.

Cada relação de hegemonia é sempre pedagógica, pois envolve uma prática de convencimento, de ensino e de aprendizagem.

Para Gramsci, uma classe se torna hegemônica quando, além do poder coercitivo e policial, utiliza a persuasão, o consenso, que é desenvolvido por um sistema de ideias elaborado por intelectuais a serviço do poder, para convencer a maioria das pessoas. Por esse processo cria-se uma “cultura dominante efetiva”, cujo objetivo é demonstrar que a visão de mundo de quem domina é a única possível.

De acordo com Gramsci, é possível haver um processo de contra hegemonia, desenvolvido por intelectuais vinculados à classe trabalhadora. Contrapondo-se aos ideais burgueses transmitidos pela escola e pelos meios de comunicação, esses intelectuais defendem outra forma de “pensar, agir e sentir” na sociedade em que vivem.

O sociólogo francês Pierre Bourdieu formulou o conceito de violência simbólica para designar formas culturais que impõem como normal um conjunto de regras não escritas nem ditas. A dominação masculina é um exemplo: as mulheres, consideradas em nossa sociedade “naturalmente” mais fracas e sensíveis, devem se submeter aos homens. A sociedade aceita essa ideia como se fosse verdadeira (naturalização).

Para Bourdieu, é pela cultura que os dominantes garantem o controle ideológico, mantendo o distanciamento entre as classes sociais. Assim, práticas culturais distinguem quem é de uma classe ou de outra. Os “cultos” têm conhecimentos científicos, artísticos e literários que os opõem aos “incultos”. Isso é resultado de uma imposição cultural (violência simbólica) que define o que é ter “cultura”.

A violência simbólica ocorre de modo claro no processo educacional. Na escola, deve-se obedecer a um conjunto de regras e aprender saberes predeterminados. Essas regras e saberes não são questionados e normalmente não se pergunta quem os definiu.

Theodor Adorno e Max Horkheimer procuraram analisar a relação entre cultura e ideologia com base no conceito de indústria cultural, cujo objetivo é a produção em massa de bens culturais para ser consumidos como qualquer mercadoria. As empresas envolvidas na indústria cultural têm a lucratividade e a adesão incondicional ao sistema dominante como fundamentos, e colocam a felicidade nas mãos dos consumidores mediante a compra de alguma mercadoria cultural.

Ao consumir produtos culturais, nos sentimos integrados a uma sociedade imaginária, sem conflitos e sem desigualdades. A indústria cultural promove uma fuga do cotidiano: o indivíduo se aliena para poder continuar aceitando a exploração do sistema capitalista. Por meio da sedução e do convencimento, a indústria cultural vende produtos que devem agradar ao público, não para fazê-lo pensar com informações novas que o perturbem, mas para propiciar-lhe uma fuga da realidade.

19.2. Os meios de comunicação e a vida cotidiana

O avanço contínuo da tecnologia dos meios de comunicação não invalida o conceito de indústria cultural. Produtos de baixa qualidade têm a oferta justificada pelo argumento de que atendem às necessidades de pessoas que desejam apenas entretenimento e diversão. Mas esses produtos são oferecidos tendo em vista as necessidades das próprias empresas, ou seja, o lucro.

O “mundo maravilhoso” e sem diferenças está presente nos programas de televisão. O cientista social italiano Giovanni Sartori reflete sobre esse meio de comunicação. Até o advento do cinema, no final do século XIX e início do século XX, o universo da comunicação era puramente linguístico, quer a linguagem fosse escrita, quer fosse falada.

Com a televisão, nascida em meados do século XX, surgiu uma situação completamente nova, em que o ver tem preponderância sobre o ouvir. Para Sartori, “a televisão produz imagens e apaga conceitos; mas desse modo atrofia nossa capacidade de abstração e com ela toda a nossa capacidade de compreender”.

Várias críticas foram feitas à ideia de que a indústria cultural estaria destruindo nossa capacidade de discernimento. O filósofo Walter Benjamin (1886-1940) acreditava que a indústria cultural poderia ser vendida em bancas de revista. Segundo Benjamin, com as obras de arte poderiam ajudar a desenvolver o conhecimento, novas técnicas de reprodução, pois levaria a arte e a cultura a um número maior de pessoas difundidas entre outras classes sociais, contribuindo para a emancipação da arte.

Para Benjamin, é evidente que a ideologia dominante está presente nos produtos da indústria cultural. Muitos indivíduos tendem a reproduzir o que veem ou leem, mas a maioria das pessoas seleciona o que recebe e reelabora a informação. Além disso, nem todos recebem as mesmas informações. Pesquisando a ação da indústria cultural, percebe-se que os indivíduos não aceitam pacificamente tudo o que lhes é imposto.

Numa perspectiva de enfrentamento ou resistência, há um processo de contra hegemonia que ocorre dentro e fora da indústria cultural. Nos próprios meios de comunicação há críticas ao que se faz na indústria cultural. Fora dos meios de comunicação, intelectuais também criticam o que ocorre em todas as áreas culturais. Outros procuram desenvolver produtos culturais não massificados, ou manter canais alternativos de crítica e informação.

Milhares de pequenos grupos no mundo desenvolvem produções culturais específicas de seus povos e grupos de origem.

19.3. O universo da internet

A internet originou-se de um projeto militar dos Estados Unidos, na década de 1960. Tratava-se de um sistema no qual as informações eram geradas em muitos pontos e não ficavam armazenadas num único lugar. Posteriormente, o modelo foi utilizado para colocarem contato pesquisadores de diferentes universidades. Depois se expandiu.

A internet é o espaço onde há mais liberdade de produção, veiculação de mensagens, notícias, cultura e tudo que possa ser transmitido por esse sistema. Nesse meio de comunicação, palavras, imagens, música, etc., tudo é transmitido com muita rapidez para todos os que estiverem conectados. Essa tecnologia de informação oferece possibilidades quase infinitas de pesquisa.

Dependendo de como é utilizada, a internet pode empobrecer a capacidade de pensar ou ser um instrumento para a obtenção de conhecimento.

Liberdade de consulta e produção: em sites como Wikipédia, acessados de qualquer computador conectado à rede, o internauta pode não só pesquisar como editar informações. A contrapartida dessa liberdade é a limitada confiabilidade do conteúdo disponibilizado.

Como explicar e entender a “liberdade de escolha” no mundo em que vivemos?

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