Vivemos num mundo de comunicações.
Vemos televisão, fazemos pesquisas na internet, contatamos pessoas por e-mail,
MSN ou sites de relacionamento, lemos jornais e revistas, ouvimos rádio.
Estamos mergulhados na cultura e na ideologia.
19.1. Dominação e controle
Vários autores procuram demonstrar que
os conceitos de cultura e ideologia não podem ser utilizados separadamente. O
pensador italiano Antonio Gramsci (1891-1937) analisou a questão com base no
conceito de hegemonia e no que ele chama de aparelhos de persuasão.
·
Hegemonia - processo pelo qual uma
classe dominante consegue fazer seu projeto ser aceito pelos dominados.
·
Aparelhos de persuasão - práticas
intelectuais e organizações no interior do Estado ou fora dele (livros,
jornais, escolas, música, teatro, televisão, etc.) utilizadas para disseminar o
projeto da classe dominante.
Cada relação de hegemonia é sempre
pedagógica, pois envolve uma prática de convencimento, de ensino e de
aprendizagem.
Para Gramsci, uma classe se torna
hegemônica quando, além do poder coercitivo e policial, utiliza a persuasão, o
consenso, que é desenvolvido por um sistema de ideias elaborado por intelectuais
a serviço do poder, para convencer a maioria das pessoas. Por esse processo
cria-se uma “cultura dominante efetiva”, cujo objetivo é demonstrar que a visão
de mundo de quem domina é a única possível.
De acordo com Gramsci, é possível haver
um processo de contra hegemonia, desenvolvido por intelectuais vinculados à
classe trabalhadora. Contrapondo-se aos ideais burgueses transmitidos pela
escola e pelos meios de comunicação, esses intelectuais defendem outra forma de
“pensar, agir e sentir” na sociedade em que vivem.
O sociólogo francês Pierre Bourdieu
formulou o conceito de violência simbólica para designar formas culturais que
impõem como normal um conjunto de regras não escritas nem ditas. A dominação
masculina é um exemplo: as mulheres, consideradas em nossa sociedade
“naturalmente” mais fracas e sensíveis, devem se submeter aos homens. A
sociedade aceita essa ideia como se fosse verdadeira (naturalização).
Para Bourdieu, é pela cultura que os
dominantes garantem o controle ideológico, mantendo o distanciamento entre as
classes sociais. Assim, práticas culturais distinguem quem é de uma classe ou
de outra. Os “cultos” têm conhecimentos científicos, artísticos e literários
que os opõem aos “incultos”. Isso é resultado de uma imposição cultural (violência
simbólica) que define o que é ter “cultura”.
A violência simbólica ocorre de modo
claro no processo educacional. Na escola, deve-se obedecer a um conjunto de
regras e aprender saberes predeterminados. Essas regras e saberes não são
questionados e normalmente não se pergunta quem os definiu.
Theodor Adorno e Max Horkheimer
procuraram analisar a relação entre cultura e ideologia com base no conceito de
indústria cultural, cujo objetivo é a produção em massa de bens culturais para ser
consumidos como qualquer mercadoria. As empresas envolvidas na indústria
cultural têm a lucratividade e a adesão incondicional ao sistema dominante como
fundamentos, e colocam a felicidade nas mãos dos consumidores mediante a compra
de alguma mercadoria cultural.
Ao consumir produtos culturais, nos
sentimos integrados a uma sociedade imaginária, sem conflitos e sem
desigualdades. A indústria cultural promove uma fuga do cotidiano: o indivíduo
se aliena para poder continuar aceitando a exploração do sistema capitalista. Por
meio da sedução e do convencimento, a indústria cultural vende produtos que
devem agradar ao público, não para fazê-lo pensar com informações novas que o
perturbem, mas para propiciar-lhe uma fuga da realidade.
19.2. Os meios de comunicação e a vida cotidiana
O avanço contínuo da tecnologia dos
meios de comunicação não invalida o conceito de indústria cultural. Produtos de
baixa qualidade têm a oferta justificada pelo argumento de que atendem às
necessidades de pessoas que desejam apenas entretenimento e diversão. Mas esses
produtos são oferecidos tendo em vista as necessidades das próprias empresas,
ou seja, o lucro.
O “mundo maravilhoso” e sem diferenças
está presente nos programas de televisão. O cientista social italiano Giovanni
Sartori reflete sobre esse meio de comunicação. Até o advento do cinema, no
final do século XIX e início do século XX, o universo da comunicação era
puramente linguístico, quer a linguagem fosse escrita, quer fosse falada.
Com a televisão, nascida em meados do
século XX, surgiu uma situação completamente nova, em que o ver tem
preponderância sobre o ouvir. Para Sartori, “a televisão produz imagens e apaga
conceitos; mas desse modo atrofia nossa capacidade de abstração e com ela toda
a nossa capacidade de compreender”.
Várias críticas foram feitas à ideia de
que a indústria cultural estaria destruindo nossa capacidade de discernimento. O
filósofo Walter Benjamin (1886-1940) acreditava que a indústria cultural
poderia ser vendida em bancas de revista. Segundo Benjamin, com as obras de
arte poderiam ajudar a desenvolver o conhecimento, novas técnicas de
reprodução, pois levaria a arte e a cultura a um número maior de pessoas difundidas
entre outras classes sociais, contribuindo para a emancipação da arte.
Para Benjamin, é evidente que a
ideologia dominante está presente nos produtos da indústria cultural. Muitos
indivíduos tendem a reproduzir o que veem ou leem, mas a maioria das pessoas
seleciona o que recebe e reelabora a informação. Além disso, nem todos recebem
as mesmas informações. Pesquisando a ação da indústria cultural, percebe-se que
os indivíduos não aceitam pacificamente tudo o que lhes é imposto.
Numa perspectiva de enfrentamento ou
resistência, há um processo de contra hegemonia que ocorre dentro e fora da
indústria cultural. Nos próprios meios de comunicação há críticas ao que se faz
na indústria cultural. Fora dos meios de comunicação, intelectuais também
criticam o que ocorre em todas as áreas culturais. Outros procuram desenvolver
produtos culturais não massificados, ou manter canais alternativos de crítica e
informação.
Milhares de pequenos grupos no mundo
desenvolvem produções culturais específicas de seus povos e grupos de origem.
19.3. O universo da internet
A internet originou-se de um projeto
militar dos Estados Unidos, na década de 1960. Tratava-se de um sistema no qual
as informações eram geradas em muitos pontos e não ficavam armazenadas num único
lugar. Posteriormente, o modelo foi utilizado para colocarem contato
pesquisadores de diferentes universidades. Depois se expandiu.
A internet é o espaço onde há mais
liberdade de produção, veiculação de mensagens, notícias, cultura e tudo que
possa ser transmitido por esse sistema. Nesse meio de comunicação, palavras,
imagens, música, etc., tudo é transmitido com muita rapidez para todos os que
estiverem conectados. Essa tecnologia de informação oferece possibilidades
quase infinitas de pesquisa.
Dependendo de como é utilizada, a
internet pode empobrecer a capacidade de pensar ou ser um instrumento para a
obtenção de conhecimento.
Liberdade de consulta e produção: em
sites como Wikipédia, acessados de qualquer computador conectado à rede, o
internauta pode não só pesquisar como editar informações. A contrapartida dessa
liberdade é a limitada confiabilidade do conteúdo disponibilizado.