quarta-feira, 16 de maio de 2018

Unidade 6 – Capítulo 18 - Cultura e ideologia


É comum dizer que um indivíduo é culto porque fala vários idiomas. Há quem Unidade afirme que a cultura de um povo é mais sofisticada e complexa que a de outro. Esse tipo de avaliação, baseada no senso comum, comporta elementos ideológicos. Afinal, o que significam “cultura” e “ideologia”, termos tão usados em nosso cotidiano e nas ciências humanas?

Capítulo 18 - Dois conceitos e suas definições

Cultura e ideologia são conceitos muitos amplos das ciências sociais; têm significados e usos diferentes, dependendo do autor.

18.1. Os significados de cultura no cotidiano

O francês Félix Guattari (1930-1992) reuniu o significado de cultura em três grupos:

·         Cultura-valor - aparece na ideia de “cultivar o espírito”. Define um julgamento de valor sobre quem tem ou não cultura.
·         Cultura-alma coletiva - sinônimo de “civilização”. Todas as pessoas, grupos e povos têm cultura e identidade cultural.
·         Cultura-mercadoria - é a “cultura de massa”. Compreende bens ou equipamentos culturais (como cinemas, bibliotecas e aqueles que trabalham nesses estabelecimentos), além dos conteúdos teóricos e ideológicos de produtos (como filmes, discos e livros) que estão disponíveis no mercado.

18.2. Cultura segundo a Antropologia

Para o antropólogo inglês Edward B. Tylor, cultura é o conjunto de conhecimentos, crenças, arte, moral, direito, costumes e hábitos de uma sociedade. Trata-se de uma visão universalista. O alemão Franz Boas demonstrou que as diferenças entre grupos e sociedades humanas eram culturais, e não biológicas. A visão dele era particularista.

Para o inglês Bronislaw Malinovsky, as culturas seriam sistemas funcionais e equilibrados, formados por elementos interdependentes. Sendo interdependentes, esses elementos não poderiam ser examinados isoladamente. 

As estadunidenses Ruth Benedict e Margareth Mead procuraram investigar as relações entre cultura e personalidade.

Ruth Benedict desenvolveu o conceito de padrão cultural e identificou dois tipos culturais extremos:

·         Apolínico - representado por indivíduos conformistas, tranquilos, solidários, respeitadores e comedidos;

·         Dionisíaco - reúne indivíduos ambiciosos, agressivos e individualistas.

Margareth Mead investigou o modo como os indivíduos recebiam os elementos de sua cultura e como isso formava sua personalidade. Com base em seus estudos, a antropóloga concluiu que a diferença das personalidades não está vinculada a características biológicas, como o sexo, mas à maneira como em cada sociedade a cultura define a educação das crianças.

Para o belga Claude Lévi-Strauss (1908-2009), a cultura é um conjunto de sistemas simbólicos, entre os quais se incluem a linguagem, as regras matrimoniais, a arte, a ciência, a religião e as normas econômicas. Lévi-Strauss analisou o que era comum e constante em todas as sociedades – as regras universais e os elementos indispensáveis para a vida social. Demonstrou que os elementos essenciais da maioria dos mitos se encontravam em todas as sociedades ditas primitivas.

18.3. Convivência com a diferença: o etnocentrismo

Os seres humanos tendem a tomar seu grupo ou sociedade como medida para avaliar as demais. Cada grupo ou sociedade considera-se superior e olha com desprezo os outros, tidos como estranhos ou estrangeiros. Na Antiguidade, os romanos chamavam de bárbaros os que não eram de sua cultura. Para os europeus do Renascimento, os povos da América eram selvagens.

O etnocentrismo, termo utilizado para designar essa tendência, gera intolerância e preconceito – cultural, religioso, étnico e político. Em nossos dias ele se manifesta, por exemplo, na ideologia racista da supremacia do branco sobre o negro ou de uma etnia sobre as outras. Manifesta-se, também, na ideia de que a cultura ocidental é superior, e os povos de outras culturas devem assumi-la, modificando suas crenças, normas e valores.

18.4. Trocas culturais e culturas híbridas

O pensador argentino Néstor García Canclini observou que, até o século XIX, as relações culturais ocorriam entre grupos próximos, familiares e vizinhos, com poucos contatos externos. No início do século XX, a possibilidade de trocas culturais aumentou com o desenvolvimento dos transportes e dos meios de comunicação.

Hoje, as tecnologias de comunicação permitem que as trocas culturais sejam feitas em tal quantidade que não se sabe mais a origem delas. Culturas locais se mesclam a expressões culturais, principalmente dos Estados Unidos e de alguns países europeus, formando uma imensa cultura mundial. As expressões de grupos ou de regiões mundo globalizado, os produtos culturais circulam sem fronteiras, coexistem com essas culturas híbridas.

Para o sociólogo holandês Joost Smiers, é importante preservar as formas particulares, grupais, regionais ou nacionais para que se alcance uma democracia cultural de fato. Para ele, o obstáculo a vencer é a dominação cultural.

18.5. Cultura erudita e cultura popular

A separação entre cultura popular e cultura erudita está relacionada à divisão da sociedade em classes. De acordo com essa classificação, há uma cultura dos segmentos populares e outra identificada com as elites.

A cultura erudita abrangeria expressões artísticas como a música clássica de padrão europeu, as artes plásticas, o teatro e a literatura de cunho universal. Como qualquer mercadoria, alguns desses produtos culturais podem ser comprados e até deixados de herança como bens físicos.

A cultura popular encontra expressão nos mitos e contos, na dança, na música e no artesanato. Inclui expressões surgidas nos meios urbano e rural. Demonstra haver constante criação e recriação no universo cultural de base popular.

A palavra cultura vem do latim e designa “o ato de cultivar a terra”. Está, assim, vinculada ao ato de trabalhar, a uma ação determinada. Nesses termos, todos têm acesso à cultura, pois todos podem trabalhar. Se alguém compra um livro, um disco ou um quadro, vai ao teatro ou ao cinema, adquire, mas não produz cultura. Isso caracteriza o consumo de uma mercadoria como qualquer outra. Não ter acesso a esses bens, não significa, portanto, não ter cultura.

Para o pensador brasileiro Alfredo Bosi, a cultura é alguma coisa que se faz, e não apenas um produto que se adquire. Quando afirmamos que ter cultura significa ser superior e não ter cultura significa ser inferior, utilizamos a condição de posse de cultura como elemento de diferenciação social e imposição de uma superioridade que não existe. Isso é ideologia.

18.6. A ideologia, suas origens e perspectivas

O conceito de ideologia é moderno. Antes da Idade Moderna, a realidade era explicada pelos mitos ou pelo pensamento religioso. O termo ideologia foi inicialmente utilizado pelo francês Destutt deTracy (1754-1836) como “ciência da gênese das ideias”. Em 1822, a palavra foi utilizada por Napoleão Bonaparte com o sentido Francis Bacon. A publicação de 1620 incluía estudo que expressou umas das primeiras de “ideia falsa” ou “ilusão”.

Augusto Comte retomou o sentido de ideologia usado por Tracy, acrescentando outro – o de conjunto de ideias de determinada época.

Para Karl Marx, a ideologia é um sistema elaborado de representações e de ideias que correspondem a formas de consciência que os homens têm em determinada época. De acordo com ele, as ideias dominantes em qualquer época são sempre as de quem domina a vida material e, portanto, a vida intelectual.

Segundo Émile Durkheim, o cientista deve deixar de lado as noções pré-científicas e as ideias subjetivas. São essas noções e ideias que ele entende por ideologia, ou seja, o contrário de ciência.

De acordo com Karl Mannheim , as ideologias são sempre conservadoras, pois expressam o pensamento das classes dominantes, que visam à estabilização da ordem. Em oposição, utopia é o pensamento das classes oprimidas, que buscam a transformação social.

18.7. A ideologia no cotidiano

Nas relações entre as pessoas, uma série de elementos ideológicos se manifestam por meio de ações, palavras e sentimentos. No capitalismo, a ideologia se expressa, por exemplo, no discurso que procura ocultar as contradições existentes na sociedade. Baseado em categorias genéricas, esse discurso transmite uma ideia de uniformidade.

A crença na verdade inquestionável do conhecimento científico talvez seja a maior de todas as expressões ideológicas presentes em nosso cotidiano. Da buscado sentido da vida às possibilidades de sucesso, a ciência seria a grande solução para todos os problemas, males e enigmas. No entanto, o pensamento científico se distancia da ideia de verdade absoluta. Ele é histórico e tem validade temporária, sendo a dúvida seu maior valor.

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