quarta-feira, 16 de maio de 2018

Unidade 7 – Capítulo 23 – A mudança social no Brasil


Quando se fala em mudança social no Brasil, um termo comumente empregado é modernização. Uma pergunta sempre esteve presente nos escritos de muitos pensadores: por que existe tanta resistência às mudanças no Brasil?

Quem domina o país faz de tudo para garantir o controle, apesar das mudanças. Assim, modernização ou reforma seriam mais apropriados para caracterizar o tipo de mudança que tem ocorrido no Brasil, embora muitos eventos políticos sejam chamados de “revolução”.

Houve duas “revoluções” no Brasil no século XX:

“Revolução” de 1930

Esse foi o movimento que levou Getúlio Vargas ao poder. Na década de 1920, os grupos que dominavam a política nacional eram os mesmos desde o Império. Com a crise de 1929, que fechou fábricas e derrubou os preços do café, houve descontentamento geral. Foi nesse contexto que se desenvolveu o movimento que alterou os grupos no poder. Analistas desse movimento o classificam como “revolução pelo alto” ou “revolução sem revolução”: a mudança social, sem a participação popular, foi realizada com base nos interesses das classes dominantes. Mesmo assim, foi implantada a legislação trabalhista ainda em vigor no Brasil. Essa ambiguidade da “revolução” de 1930 fez do movimento um marco nas mudanças sociais no país.

“Revolução” de 1964

Desencadeada por um golpe militar que derrubou o governo de João Goulart, foi uma contrarrevolução. Os movimentos sociais, organizados desde 1960, foram abafados pelas forças conservadoras. Estas, temendo as “classes perigosas” e o “comunismo” na cena política, deram o golpe em 1º de abril de 1964. Tropas militares ocupam as ruas do Rio de Janeiro em agosto de 1968 e detêm dezenas de pessoas, na tentativa de impedir manifestação estudantil.

Os militares reprimiram qualquer ideia ou atitude que parecesse de oposição e retiraram uma série de direitos dos trabalhadores. Apesar da modernização das várias áreas da economia, no fim desse período havia uma desigualdade social nunca vista no país, inflação maior que a de 1964 e enorme dívida externa.

23.1. “Modernização conservadora”

Entre 1920 e 1940, vários autores trataram da “modernização” no Brasil. Para eles havia uma ligação entre o passado colonial e o presente que deveria ser eliminada para o país sair do atraso. Circulavam, principalmente, duas ideias: enquanto Oliveira Vianna e Azevedo Amaral acreditavam ser necessário um Estado forte; Nestor Duarte e Sérgio Buarque de Holanda defendiam a sociedade democrática.

O golpe de 1964 levou o sociólogo Florestan Fernandes a buscar uma explicação para a sociedade brasileira que superasse a visão tradicional e conciliadora cultivada pelos intelectuais vinculados às classes dominantes. De acordo com ele, o passado escravista está presente nas relações sociais, principalmente nas de trabalho, nas quais as pessoas são excluídas por serem pobres, negras ou mulheres.

Florestan acreditava que para revolucionar o Brasil seria necessário abolir o passado escravista e substituir a visão da política como relação de favor e arte de se manter no poder por práticas democráticas. Era preciso adotar uma democracia que fosse além do voto e permitisse a participação efetiva do povo nos destinos do país.

Com a ditadura militar perto do fim, quando as greves e manifestações sociais voltaram à cena, Florestan Fernandes escreveu, em seu livro Brasil, compasso de espera: “A história volta a ter uma face de esperança, embora tudo ainda seja muito frágil, incerto e obscuro”. O sociólogo estava avaliando as possibilidades de uma consolidação da democracia no Brasil.

Mudanças nos últimos anos

Muitas coisas mudaram no Brasil e muitas outras foram conservadas ou não mudaram de modo significativo. Em alguns lugares, o modo de vida assemelha-se ao das sociedades industrializadas de qualquer parte do mundo, tanto nas áreas urbanas como nas rurais. Em outros, configura-se uma realidade de extrema pobreza. Nas grandes cidades as duas situações convivem.

Politicamente, as regras do jogo democrático estão consolidadas: as eleições são realizadas regularmente e os eleitos são empossados e terminam os mandatos. No entanto, persistem velhas práticas, como o clientelismo, o “favor”, as decisões judiciais parciais e os conchavos políticos, o que demonstra que o país não mudou tanto.

Nos últimos 20 anos, houve uma alteração substancial na economia brasileira. Os processos industriais foram modificados com a entrada de novas indústrias e modernização tecnológica. Todavia, esse novo padrão não resultou em aumento de vagas de trabalho.

Houve também mudanças no consumo e nas relações entre os indivíduos – a oferta de dispositivos de comunicação de alta tecnologia provocou impressionantes mudanças comportamentais, nas relações sentimentais e nas trabalhistas.

A chamada globalização nos atingiu em cheio. Como diz o sociólogo Francisco de Oliveira, os meninos nas ruas vendendo balas, doces e quinquilharias não são o exemplo do atraso do país, mas a forma terrível como a modernização aqui se implantou.

Como explicar e entender a “liberdade de escolha” no mundo em que vivemos?

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