Quando
se fala em mudança social no Brasil, um termo comumente empregado é
modernização. Uma pergunta sempre esteve presente nos escritos de muitos
pensadores: por que existe tanta resistência às mudanças no Brasil?
Quem
domina o país faz de tudo para garantir o controle, apesar das mudanças. Assim,
modernização ou reforma seriam mais apropriados para caracterizar o tipo de
mudança que tem ocorrido no Brasil, embora muitos eventos políticos sejam
chamados de “revolução”.
Houve
duas “revoluções” no Brasil no século XX:
“Revolução” de 1930
Esse
foi o movimento que levou Getúlio Vargas ao poder. Na década de 1920, os grupos
que dominavam a política nacional eram os mesmos desde o Império. Com a crise
de 1929, que fechou fábricas e derrubou os preços do café, houve
descontentamento geral. Foi nesse contexto que se desenvolveu o movimento que
alterou os grupos no poder. Analistas desse movimento o classificam como
“revolução pelo alto” ou “revolução sem revolução”: a mudança social, sem a
participação popular, foi realizada com base nos interesses das classes
dominantes. Mesmo assim, foi implantada a legislação trabalhista ainda em vigor
no Brasil. Essa ambiguidade da “revolução” de 1930 fez do movimento um marco
nas mudanças sociais no país.
“Revolução” de 1964
Desencadeada
por um golpe militar que derrubou o governo de João Goulart, foi uma
contrarrevolução. Os movimentos sociais, organizados desde 1960, foram abafados
pelas forças conservadoras. Estas, temendo as “classes perigosas” e o
“comunismo” na cena política, deram o golpe em 1º de abril de 1964. Tropas
militares ocupam as ruas do Rio de Janeiro em agosto de 1968 e detêm dezenas de
pessoas, na tentativa de impedir manifestação estudantil.
Os
militares reprimiram qualquer ideia ou atitude que parecesse de oposição e
retiraram uma série de direitos dos trabalhadores. Apesar da modernização das
várias áreas da economia, no fim desse período havia uma desigualdade social
nunca vista no país, inflação maior que a de 1964 e enorme dívida externa.
23.1. “Modernização conservadora”
Entre
1920 e 1940, vários autores trataram da “modernização” no Brasil. Para eles
havia uma ligação entre o passado colonial e o presente que deveria ser
eliminada para o país sair do atraso. Circulavam, principalmente, duas ideias:
enquanto Oliveira Vianna e Azevedo Amaral acreditavam ser necessário um Estado
forte; Nestor Duarte e Sérgio Buarque de Holanda defendiam a sociedade democrática.
O
golpe de 1964 levou o sociólogo Florestan Fernandes a buscar uma explicação
para a sociedade brasileira que superasse a visão tradicional e conciliadora
cultivada pelos intelectuais vinculados às classes dominantes. De acordo com
ele, o passado escravista está presente nas relações sociais, principalmente
nas de trabalho, nas quais as pessoas são excluídas por serem pobres, negras ou
mulheres.
Florestan
acreditava que para revolucionar o Brasil seria necessário abolir o passado
escravista e substituir a visão da política como relação de favor e arte de se
manter no poder por práticas democráticas. Era preciso adotar uma democracia que
fosse além do voto e permitisse a participação efetiva do povo nos destinos do
país.
Com
a ditadura militar perto do fim, quando as greves e manifestações sociais
voltaram à cena, Florestan Fernandes escreveu, em seu livro Brasil, compasso de espera: “A história
volta a ter uma face de esperança, embora tudo ainda seja muito frágil, incerto
e obscuro”. O sociólogo estava avaliando as possibilidades de uma consolidação da
democracia no Brasil.
Mudanças nos últimos anos
Muitas
coisas mudaram no Brasil e muitas outras foram conservadas ou não mudaram de
modo significativo. Em alguns lugares, o modo de vida assemelha-se ao das
sociedades industrializadas de qualquer parte do mundo, tanto nas áreas urbanas
como nas rurais. Em outros, configura-se uma realidade de extrema pobreza. Nas
grandes cidades as duas situações convivem.
Politicamente,
as regras do jogo democrático estão consolidadas: as eleições são realizadas
regularmente e os eleitos são empossados e terminam os mandatos. No entanto,
persistem velhas práticas, como o clientelismo, o “favor”, as decisões
judiciais parciais e os conchavos políticos, o que demonstra que o país não
mudou tanto.
Nos
últimos 20 anos, houve uma alteração substancial na economia brasileira. Os
processos industriais foram modificados com a entrada de novas indústrias e
modernização tecnológica. Todavia, esse novo padrão não resultou em aumento de
vagas de trabalho.
Houve
também mudanças no consumo e nas relações entre os indivíduos – a oferta de
dispositivos de comunicação de alta tecnologia provocou impressionantes
mudanças comportamentais, nas relações sentimentais e nas trabalhistas.
A
chamada globalização nos atingiu em cheio. Como diz o sociólogo Francisco de
Oliveira, os meninos nas ruas vendendo balas, doces e quinquilharias não são o
exemplo do atraso do país, mas a forma terrível como a modernização aqui se
implantou.