Revolução
é a transformação radical das estruturas sociais, políticas e econômicas de uma
sociedade. Outros tipos de mudança são as reformas sociais. Para o pensador
italiano Umberto Melotti, os reformadores procuram alterar elementos não
essenciais e garantir a permanência da situação vigente, enquanto os
revolucionários almejam destruir o existente para reconstruir a sociedade em
novas bases.
O
termo revolução relaciona-se a processos que alteraram substancialmente a vida
da humanidade. A Revolução Agrícola transformou radicalmente a forma de
produção de alimentos das populações. A Revolução Industrial mudou a forma de
produção de bens. A Revolução Industrial começou no setor têxtil.
Hoje,
participamos da terceira grande revolução mundial, baseada na informática, na
engenharia genética e na nanotecnologia. Nas mudanças de rumo político, destacam-se
as revoluções do século XVIII, chamadas burguesas por serem movimentos
liderados pela burguesia ascendente, e as que eclodiram no século XX,
consideradas populares, pois tiveram participação significativa do povo.
22.1. Revoluções políticas clássicas
São
chamadas de revoluções clássicas a Revolução Inglesa, a Revolução Americana e a
Revolução Francesa.
Revolução Inglesa (1642-1660)
Propunha
limitar o poder do rei e de seus associados, impedindo o controle do comércio e
da indústria e a criação de impostos sem autorização do Parlamento. Houve a
implantação de muitos direitos que hoje são universais. Contudo, o movimento
ocorreu em um único país. Derrubada do rei Carlos I em 1649, ano da proclamação
da República inglesa, em charge da época. Embora a monarquia fosse restaurada
em 1660, o Parlamento já havia consolidado sua força, dividindo o poder com a
coroa.
Revolução Americana (1776)
Movimento
de luta contra o domínio colonial inglês. Não havia a intenção de alterar profundamente
as relações sociais, nem de transformar a propriedade, tampouco de abolir a
escravidão. Foi considerada uma revolução pela grande repercussão,
principalmente nos países da América Latina.
Revolução Francesa (1789)
A
luta não foi apenas contra o poder monárquico francês, mas contra todos os
regimes que oprimiam a maioria da população. A estruturada propriedade rural
foi alterada. Os revolucionários lutaram em nome dos seres humanos (não
incluindo as mulheres), e não só dos franceses. Isso transformou o movimento em
paradigma das revoluções posteriores.
22.2. Experiências revolucionárias no
século XX
No
século XX, destacaram-se algumas revoluções populares.
Revolução Mexicana (1910-1917)
Três
grupos participaram do movimento: camponeses (maioria), trabalhadores urbanos e
burguesia urbana e rural. Em 1911, com a derrubada de Porfírio Díaz, que estava
havia 20 anos no poder – e tinha apoio dos Estados Unidos, dos grandes
industriais e dos latifundiários, nacionais e estrangeiros –, cada uma das três
forças revolucionárias prosseguiu separadamente.
No
México, apenas 1% da população detinha 97% das terras, o que gerava uma
situação de exploração e miséria muito grande. Os camponeses buscavam a
redistribuição das terras. A burguesia dissidente exigia regras claras para as
eleições e uma democracia do tipo liberal. Os trabalhadores urbanos
reivindicavam o direito à liberdade de expressão e reunião, previstos
constitucionalmente.
O
sucessor de Porfírio Díaz foi derrubado e assassinado em 1913. Victoriano
Huerta assumiu o poder, apoiado pelos Estados Unidos, pela burguesia, pelo
clero e pelo Exército Federal. Em 1914, camponeses e operários formaram um
exército e depuseram Huerta. Venustiano Carranza, governador do estado de
Coahuila, tornou-se presidente. Em dezembro de 1914, os camponeses se
levantaram contra Carranza, que não trazia nenhuma proposta favorável ao grupo.
Os
líderes revolucionários Emiliano Zapata e Pancho Villa marcham para a Cidade do
México, em dezembro de 1914. Foram derrotados pelo governo. Carranza derrotou a
oposição e convocou uma Constituinte. A nova carta trouxe importantes avanços,
principalmente para a classe operária. Mas a reforma agrária não foi realizada
e os proprietários de terras mantiveram-se no poder.
Uma revolução comunista na Rússia
(1917)
A
revolução começou com a derrubada do czar Nicolau II, em fevereiro, e
prosseguiu em novembro, com a tomada do poder pelos bolcheviques, liderados por
Lênin e Trotsky. O movimento teve como base operários e soldados, organizados
em sovietes, conselhos populares que expressavam a proposta de uma sociedade
democrática.
Após
a ascensão dos bolcheviques e com uma nova estrutura estatal, os sovietes
perderam o poder. No início, a república socialista cuidou para que todos os
focos de oposição fossem eliminados. O governo enfrentou a oposição de diversos
setores, principalmente dos anarquistas, que queriam uma sociedade mais livre
da repressão a trabalhadores e soldados, na então capital Petrogrado (atual São
Petersburgo). De fevereiro a outubro de 1917, seguidos levantes populares
impulsionaram o processo revolucionário na Rússia. Em 1918, o Estado fez um
acordo de não agressão com a Alemanha.
Entre
1919 e 1921, houve uma guerra na Rússia. Países europeus que não aceitavam a
revolução enviaram tropas para apoiar os “brancos” contra os “vermelhos”. Organizado
e liderado por Trotsky, o Exército Vermelho derrotou os contrarrevolucionários
e expulsou as tropas invasoras. A situação, que já era terrível por causa da
Primeira Guerra Mundial, agravou-se no período de afirmação da revolução.
Na
União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), fundada em 1922, a
propriedade privada foi extinta e procurou-se modificar a estrutura estatal e
de serviços. Em 1924, com a morte de Lênin, Stálin assumiu o comando. Desde
então, a revolução que nascera com o propósito de transformar o sistema
anterior e garantir a liberdade a todos, resolveu parte de seus problemas
econômicos à custa da submissão da sociedade a um Estado opressor e
autoritário. A URSS deixou de existir em 1991.
Revolução comunista na China
Em
um longo processo de luta, o Partido Comunista Chinês (PCC), fundado em 1921,
mobilizou os camponeses (a maioria da população) para lutar contra os invasores
japoneses e os exércitos de Chiang Kai-shek, anticomunista apoiado pelas
potências vencedoras da Primeira Guerra Mundial. A luta durou até 1949, quando
os comunistas, comandados por Mao Tse-tung, tomaram Pequim.
Para
organizar o Estado, Mao recebeu ajuda da URSS, mas essa aliança foi rompida no início
da década de 1960, quando os chineses quiseram ter seu arsenal nuclear – o que os
soviéticos não admitiam. A primeira explosão atômica chinesa ocorreu em 1964. A
partir da década de 1970, a China foi se tornando, de forma gradual, uma das
maiores potências do mundo.
Ao
entrar no século XXI, a China caracterizava-se como um Estado centralizador e
autoritário, ainda sob o controle do Partido Comunista, mas com produção
industrial capitalista. Numerosas empresas ocidentais atuam no território chinês,
que apresenta muita exploração da força de trabalho, problemas sérios de
desigualdade social e outros tantos ambientais.
Revolução socialista em Cuba
O
processo revolucionário iniciou-se em 1953, quando Fidel Castro liderou uma
tentativa de tomada do quartel de Moncada e terminou preso. Ao deixar a prisão,
o líder foi para o México, de onde retornaria em 1956, com um grupo de
correligionários, iniciando uma série de guerrilhas contra a ditadura de Fulgencio
Batista, que governava o país havia 20 anos. Em 1º de janeiro de 1959, os
revolucionários chegaram ao poder em Cuba.
O
governo castrista tomou uma série de medidas contrárias aos interesses dos Estados
Unidos, que impuseram dificuldades ao comércio. Isso aproximou Cuba da URSS. Cubanos
comemoram a vitória da revolução nas ruas da ilha de Havana, em janeiro de
1959. Quando os Estados Unidos romperam relações diplomáticas com Cuba e
apoiaram uma tentativa frustrada de invasão da ilha por um grupo de exilados
cubanos, em 1961, Fidel Castro declarou Cuba república socialista.
Com
o apoio da URSS, Cuba pôde desenvolver um sistema educacional e de saúde
semelhante aos melhores do mundo, além de proporcionar invejável qualidade de
vida à população. Entretanto, com o fim da URSS, as condições de vida em Cuba
se tornaram precárias. Até hoje o sistema político é centralizado no Partido Comunista
Cubano e na figura emblemática de Fidel Castro, substituído no poder por seu
irmão, Raul Castro, em 2008.
Um breve balanço
Cada
revolução significa uma experiência de emancipação possível no processo da
autonomia desejada. Os movimentos vistos aqui são de sociedades que alteraram
sua estrutura e seu modo de vida, mas avançaram pouco no processo de liberdade
e emancipação. Por isso, não são mais parâmetros para as mudanças que ocorrem
atualmente.
O que nos espera?
Na
sociedade atual, ocorre o desenvolvimento máximo das transformações iniciadas
pela Revolução Industrial, sem modificação das estruturas de poder e economia. Estão
germinando, contudo, novas formas de mudança, que não estão necessariamente
ligadas à ideia de transformação geral e ampla. Hoje, buscam-se mudanças
específicas por meio da emancipação dos poderes existentes e da criação de alternativas
coletivas concretas.