sexta-feira, 18 de maio de 2018

Consumo versus consumismo


Nosso objetivo aqui é discutir a relação entre consumo e consumismo, levando a refletir sobre a diferença entre os dois termos e a compreender que utilizá-los como sinônimos, como o faz o senso comum, é uma maneira inadequada de compreender a questão.

Consumo versus consumismo

Chegou o momento de trabalhar a diferença entre consumo e consumismo. O consumo como forma de satisfação de necessidades básicas faz parte da existência do homem como ser cultural.

Há uma primeira consciência de que o homem só existe como ser cultural e que é por intermédio da cultura que nos diferenciamos dos outros animais. Mas, nas sociedades que passaram pelo processo de industrialização, a apreensão dos conteúdos simbólicos da cultura não se faz apenas por intermédio do consumo, mas também, principalmente, por meio do consumismo.

Para alguns autores, o consumismo está mais relacionado com a criação de desejos crescentes, do que com a satisfação de necessidades. Ou seja, muitas propagandas, ao tentar vender seus produtos, não apelam para uma necessidade que o indivíduo tem e que aquele produto irá preencher ou satisfazer, e sim para desejos que ele nem sabe que tem ou que muitas vezes não tem.

As propagandas (seja em um jornal, uma revista ou um catálogo, seja na televisão, internet ou no cinema) procuram apresentar produtos que satisfazem desejos que o consumidor nem sabia que tinha.

Muitas vezes, as propagandas usam frases como: “Esse produto trará uma satisfação que você não espera”, ou algo similar. Ou seja, ela não vende a satisfação de uma necessidade existente, mas a criação de uma nova necessidade que a pessoa nem sabia que existia, mas que aquele produto irá suprir. Não é raro que a propaganda, transmitida pelos meios de comunicação, trabalhe a ideia de que o produto pode mudar a vida da pessoa ou de que a mesma não tem consciência de como isso poderia ser bom para ela.

A incessante criação de desejos implica a contínua substituição dos objetos, uma vez que novas necessidades são criadas o tempo todo e assim nos baseamos no excesso e no desperdício (BAUMAN, 2008, p. 53). O volume de
novidades rapidamente torna obsoletas levas e levas de produtos. Há então um excesso de novidades.

Veja no texto a seguir:

Na economia consumista, a regra é que primeiro os produtos apareçam (sendo inventados, descobertos por acaso ou planejados pelas agências de pesquisa e desenvolvimento), para só depois encontrar suas aplicações. Muitos deles, talvez a maioria, viajam com rapidez para o depósito de lixo, não conseguindo encontrar clientes interessados, ou até antes de começarem a tentar. Mas mesmo os poucos felizardos que conseguem encontrar ou invocar uma necessidade, desejo ou vontade, cuja satisfação possam demonstrar ser relevante (ou ter a possibilidade de), logo tendem a sucumbir às pressões de outros produtos “novos e aperfeiçoados” (ou seja, que prometem fazer tudo o que os outros podiam fazer, só que melhor e mais rápido – com o bônus extra de fazer algumas coisas que nenhum consumidor havia até então imaginado necessitar ou adquirir) muito antes de sua capacidade de funcionamento ter chegado ao seu predeterminado fim.
(BAUMAN, Zygmunt. Vida para consumo: a transformação das pessoas em mercadoria. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2008. p. 53-54)

As pessoas começam a compreender que o consumo faz parte de toda a vida social, pois os seres humanos precisam consumir para existir. Mas nas sociedades que passaram pelo processo de industrialização não há apenas o consumo como forma de satisfação de necessidades básicas; há também o consumismo. Ou seja, o consumo contínuo e incessante de bens, serviços e produtos muitas vezes supérfluos.

Outro ponto importante nessa discussão sobre consumo e consumismo diz respeito à questão da felicidade. Inicialmente, peça para a turma dar exemplos, com base em sua experiência pessoal, de elementos presentes na
nossa cultura que podem trazer felicidade para uns e não trazer para outros.

Por fim, estabeleça uma discussão sobre felicidade, consumismo e as propagandas analisadas. Afinal, as propagandas veiculadas pelos meios de comunicação de massa, como a televisão, o cinema, o rádio e a internet, procuram vender produtos que muitas vezes agradam pessoas dos mais diferentes lugares.

Com frequência, elas não vendem apenas produtos, mas também sentimentos, como a felicidade. É o momento de questionar: Por que que, ao falar sobre consumismo, também é preciso discutir a questão da felicidade? Qual é a relação entre os dois?

Será que estamos mais felizes do que já fomos? Será que a felicidade é mais alcançada hoje?

Leia o texto a seguir onde se enfatiza que o principal ponto abordado é uma reflexão sobre a relatividade da felicidade.

Que os seres humanos preferiram a felicidade à infelicidade é uma observação banal, um pleonasmo, já que o conceito de “felicidade” em seu uso mais comum diz respeito a estados ou eventos que as pessoas desejam que aconteçam, enquanto a “infelicidade” representa estados ou eventos que elas querem evitar. Os dois conceitos assinalam a distância entre a realidade tal como ela é e uma realidade desejada. Por essa razão, quaisquer tentativas de comparar graus de felicidade experimentados por pessoas que adotam modos de vida distintos em relação ao ponto de vista espacial ou temporal só podem ser mal-interpretadas e, em última análise, inúteis.
Na verdade, se o povo A passou sua vida em um ambiente sociocultural diferente daquele em que viveu o povo B, seria inútil ou arrogante afirmar que A ou B era “mais feliz”. Os sentimentos de felicidade ou sua ausência derivam de esperanças e expectativas, assim como de hábitos aprendidos, e tudo isso tende a diferir de um ambiente social para outro. Assim, uma comida saborosa apreciada pelo povo A pode ser considerada repulsiva e venenosa pelo povo B. Da mesma maneira, as condições reconhecidamente capazes de tornar feliz o povo A poderiam deixar o povo B bastante infeliz e vice-versa.
(BAUMAN, Zygmunt. Vida para consumo: a transformação das pessoas em mercadoria. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2008. p. 58-59)

Verificamos que as propagandas vendem sentimentos, e não só objetos.
Vivemos numa sociedade em que a felicidade passa pela posse, ou seja, pelo ter. As propagandas, no intuito de vender os objetos, passam-nos a ideia de que é feliz aquele que os possui. Transmite a ideia de que é feliz aquele que tem.

Há aqui uma situação paradoxal em que vivemos: o consumismo, para continuar existindo, trabalha com um paradoxo (paradoxo significa algo que é um contrassenso, um absurdo, um disparate, ou que parece uma contradição).

Ao mesmo tempo que vende a promessa de satisfação, precisa mostrar ou fazer o consumidor acreditar que está insatisfeito. Ou seja, a pessoa compra um produto, mas logo é levada a pensar que um outro produto é melhor e lhe traria mais felicidade que aquele. “A sociedade
de consumo prospera enquanto consegue tornar perpétua a não satisfação de seus membros (e assim, em seus próprios termos, a infelicidade deles)” (BAUMAN, 2008, p. 64). Ou seja, estimula emoções consumistas, e não a razão.

Questões:

1.   Pesquisa

O objetivo é estimulá-los a analisar o que dizem as propagandas.

a) Escolha dois produtos que recorrentemente aparecem em propagandas nos meios de comunicação (sugerimos dois produtos, pois pode acontecer o caso de os jovens escolherem um produto cuja propaganda não possam analisar tão bem). As propagandas podem ser coletadas em revistas ou jornais, em sites da internet, em catálogos, ou, quando veiculadas em outros suportes que não os impressos, como a televisão, por exemplo, transcritas e/ou anotadas;

b) Analise o maior número de propagandas que encontrarem sobre os produtos escolhidos. Você pode sugerir alguns, como: carros, eletroeletrônicos, eletrodomésticos, casas, alimentos, bebidas (alcoólicas, refrigerantes, sucos), perfumes etc.;

c) a propaganda deve sempre conter texto (mesmo que pequeno e restrito a uma frase) e imagem do produto. No caso daquelas veiculadas pela televisão, a fala equivale ao texto sobre o produto;

d) depois de compreender o que deve fazer,  escolha um dos produtos para realizar a análise do respectivo material de propaganda. Essa análise pode ser dividida em dois tipos: do texto e da imagem do produto.
Ao analisar esses elementos, escreva:

a) Como um produto pode ser mostrado em texto e imagem de diferentes formas. Dependendo do produto a ser analisado, eles podem encontrar duas situações principais: propagandas sobre um mesmo produto que pouco diferem entre si (seja porque o ângulo de exposição do produto nas fotos é sempre muito parecido, seja porque os textos não são muito diferentes, como é o caso das propagandas de cerveja no verão que, independentemente da marca, mostram jovens em bares ou praias em roupas descontraídas); ou propagandas sobre um mesmo produto que apresentam uma grande diferenciação na forma de expô-lo;

b) Se a propaganda trata das qualidades reais do produto ou se ela “vende” algo que não está ligado diretamente a ele, como, status, relacionamentos ou mesmo sentimentos (alegria, felicidade e bem-estar, por exemplo).

Faça o rascunho da análise de cada propaganda e depois outro espaço para que as informações do rascunho sejam organizadas e sintetizadas em um único parágrafo. Por fim, é solicitado que o aluno crie uma redação unificando as informações da análise.

Como a análise passará ora por uma propaganda em particular, ora pelo conjunto de propagandas trazidas, exponha para a sala o resultado de sua análise, adotem a seguinte ordem de exposição:

a. explicar o tipo de produto escolhido;
b. dizer quantas propagandas foram analisadas;
c. diferenciar o(s) tipo(s) de suporte midiático em que as propagandas foram coletadas (televisão, jornal, revista, internet etc.);
d. explicar os resultados das análises dos itens a e b;
e. criar uma redação unificando as informações.

O objetivo é sensibilizá-los para o fato de que os discursos usados nas propagandas muitas vezes vendem muito mais do que objetos: vendem ideias, sentimentos e aspirações. São propagandas que, na maioria das vezes, estimulam o consumismo, e não o consumo.

2.   Pesquisa de letras de música que tratam dos temas consumo e/ou consumismo.

3.   Escreva um texto dissertativo argumentativo sobre a relação entre consumo, consumismo e felicidade.

Como explicar e entender a “liberdade de escolha” no mundo em que vivemos?

  HISTÓRIA SITUAÇÃO DE APRENDIZAGEM 1 TEMA: Desigualdades e vulnerabilidades: desafios e caminhos para uma sociedade democrática e inclus...