Há registros de movimentos sociais no
Brasil desde o primeiro século da colonização até nossos dias. Esses movimentos
demonstram que os que viviam e os que vivem no Brasil nunca foram passivos e
sempre procuraram, de uma ou de outra forma, lutar em defesa de suas ideias e
interesses.
17.1. Lutas no período colonial
Durante o período colonial (1500-1822),
os movimentos sociais mais significativos foram:
·
os dos povos indígenas, que lutaram
para não ser escravizados e para manter suas terras e seu modo de vida;
·
os dos escravos africanos, cuja
principal forma de resistência eram as revoltas localizadas e a formação de
quilombos;
·
os de independência em relação a
Portugal: a Inconfidência Mineira (1789-1792) e a Conjuração Baiana
(1796-1799).
17.2. Revoltas regionais, abolicionismo e republicanismo
No período imperial (1822-1889), ocorreram
movimentos pelo fim da escravidão e contra a monarquia, objetivando a
instauração de uma república no Brasil ou a proclamação de repúblicas isoladas.
Todos foram reprimidos. Ocorreram ainda movimentos em radicalização da luta
popular contra o poder da aristocracia provincial.
A partir de 1850, dois grandes
movimentos sociais alcançaram âmbito nacional: o movimento abolicionista e o
republicano. Desenvolvidos paralelamente, e com composições diferentes, esses
movimentos foram fundamentais para a queda do império e a instauração da
república no Brasil.
O movimento abolicionista agregou
políticos, intelectuais, poetas e romancistas, mas também muitos negros e
pardos libertos. Cresceu lentamente, pois sofria a oposição dos grandes
proprietários de terras e escravos.
O movimento republicano foi dominado
pelos segmentos mais ricos da sociedade. A organização buscava uma nova forma
de acomodar os grupos que desejavam o poder sem a presença do imperador e da
monarquia. Participaram desse movimento liberais que defendiam uma república
democrática, mas eles foram afastados e os conservadores se apossaram do poder.
17.3. De Canudos à Coluna Prestes
Os movimentos que ocorreram entre o fim
do século XIX e o início do século XX revelavam um caráter político e social
marcante. Dois deles podem ser lembrados pela denúncia da miséria, da opressão
e das injustiças da República dos Coronéis: a Guerra de Canudos e a Guerra do Contestado.
Após anos de resistência e muitas
batalhas, os participantes desses movimentos foram massacrados pelo Exército
nacional.
Guerra de Canudos (1893-1897) - Bahia
Liderados por Antônio Conselheiro,
sertanejos baianos estabeleceram-se em Canudos. Ali, cerca de 30 mil habitantes
viviam em sistema comunitário, no qual não havia propriedade privada e todos os
frutos do trabalho eram repartidos.
Guerra do Contestado (1912-1916) - Paraná e Santa Catarina
Seus integrantes eram sertanejos
revoltados com as condições de opressão impostas pelos coronéis locais, posseiros
expulsos de suas terras pela empresa britânica Brazil Railway Company e
ex-empregados que haviam sido demitidos sumariamente dessa companhia.
Outros movimentos sociais, de caráter
urbano, marcaram as primeiras décadas do século XX.
Greves operárias
Mesmo proibidas por lei, as greves
operárias tomaram conta das fábricas no Sudeste do país e denunciavam as
péssimas condições de vida dos trabalhadores. No Rio de Janeiro e em São Paulo,
eram comandadas principalmente por imigrantes italianos com forte influência
anarquista.
Tenentismo
Movimento político-militar com o
objetivo de conquistar o poder para promover as reformas necessárias à
modernização da sociedade. O primeiro levante ocorreu em julho. Para tentar
impedir a posse do presidente eleito Arthur Bernardes, os oficiais rebelados
ameaçaram bombardear o Rio de Janeiro. O movimento foi controlado pelo
Exército.
O segundo levante ocorreu em 1924, em
São Paulo, e reuniu cerca de mil homens. Esse movimento também foi controlado
pelo Exército. O líder da revolta, general Isidoro Dias Lopes, dirigiu-se com
uma tropa para o Sul do país e se uniu a outros militares revoltosos, liderados
por Luís Carlos Prestes, formando a Coluna Prestes.
A Coluna Prestes
A Coluna Prestes percorreu mais de 20
mil quilômetros do território brasileiro, com o objetivo de levantar a população
contra o poder das oligarquias regionais.
17.4. A República varguista e o período democrático
O período de 1930 a 1945 foi marcado
por um forte controle do Estado sobre a sociedade. Mesmo assim, dois movimentos
buscaram alcançar o poder.
Movimento da Ação Integralista Nacional
O movimento era de tendência fascista,
foi liderado por Plínio Salgado. Tentou um golpe, fracassado, em 1938.
Aliança Nacional Libertadora (ANL)
O movimento, liderado por Luís Carlos
Prestes, tinha tendência socialista. Em 1935, a ANL foi proibida por Vargas e
tentou dar um golpe militar, mas fracassou.
No período de 1946 a 1964, eclodiram
vários movimentos:
·
“O petróleo é nosso” (1948-1953).
Campanha de cunho nacionalista que culminou na criação da estatal Petrobras.
·
Movimentos grevistas. Em 1962, ocorreu
a primeira greve nacional contra o custo de vida, pela realização do plebiscito
para o retorno ao presidencialismo e por reformas de base.
·
Movimentos agrários. Denunciavam as
condições precárias da população rural, bem como a estrutura da propriedade rural
no Brasil. Na década de 1950, os mais expressivos ocorreram em Porecatu (PR),
Trompas e Formoso (GO). De 1955 a 1964, organizaram-se as Ligas Camponesas
(PE).
17.5. A República fardada
Mesmo com o golpe militar de 1964, os
movimentos dos trabalhadores e estudantes continuaram atuantes, até dezembro de
1968, quando foi decretado o AI-5.
Apesar da violenta repressão pelos
militares, surgiram os movimentos armados de contestação ao regime. Nas
cidades, os sequestros e os roubos a bancos foram as ações mais utilizadas. No
campo, foram montados movimentos de guerrilheiros – o mais conhecido é a
Guerrilha do Araguaia.
Após o governo de Ernesto Geisel, foram
organizados grandes movimentos políticos pela democratização da sociedade:
·
Movimento pela Anistia (1978-1979);
·
Movimento pelas eleições diretas –
Diretas Já (1983- 1984);
·
Movimento pela Constituinte
(1985-1986).
Nesse período, outros movimentos também
foram importantes:
·
Movimentos grevistas no ABCD paulista. Questionavam
as condições salariais e de trabalho, e a legislação que não permitia a livre
organização e manifestação de trabalhadores.
·
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem
Terra (MST) Questionava da estrutura da propriedade da terra no Brasil e a
situação dos trabalhadores rurais.
17.6. Movimentos sociais hoje
De 1988 aos dias atuais, observa-se uma
série de movimentos pela efetivação dos direitos existentes e pela conquista de
novos direitos. Os movimentos dos negros, das mulheres, dos indígenas, dos ambientalistas,
dos sem-terra e dos sem-teto, por exemplo, não têm a preocupação de alcançar o
poder do Estado. Procuram construir espaços políticos públicos nos quais possam
ser debatidas as questões importantes para uma sociedade politizada.