quarta-feira, 16 de maio de 2018

Unidade 4 - Capitulo 13 – A democracia no Brasil


Analisar a questão da democracia no Brasil significa examinar não somente as instituições políticas e as regras existentes, mas também a maneira de se viver a democracia. Pode-se dizer que ela ainda é uma possibilidade, pois as forças de manutenção de práticas antigas são muito grandes.

13.1. Democracia e representação política: as regras institucionais

No Brasil, os detentores do poder mantiveram a maioria da população fora do processo eleitoral por muito tempo. Desde a proclamação da República, em 1889, cem anos se passaram para que a maioria da população pudesse participar das eleições.

Desde então, a consciência do eleitor mudou progressivamente. A compra de votos diminuiu com a urbanização, assim como a pressão dos “coronéis” sobre a população rural, que ainda era maioria em 1960.O desenvolvimento das regras eleitorais e das técnicas de votar – principalmente o voto secreto com cédulas únicas e a introdução das urnas eletrônicas – contribuiu para essa evolução.

13.2. A luta por direitos civis, políticos e sociais

Após a proclamação da República, diferentes segmentos da população procuraram ampliar os espaços de participação política. A resposta a esses movimentos na maioria das vezes foi a repressão. Só nos últimos anos os movimentos sociais conquistaram espaços institucionais por meio de leis ou mediante organizações que lutam pela garantia dos direitos. O Projeto Axé, criado em 1990, em Salvador, na Bahia, desenvolve trabalhos sociais em comunidades carentes. Educação e condições de vida adequadas são pré-requisitos para o exercício efetivo da democracia.

A democracia no Brasil é recente e está se consolidando. Avançará à medida que se ampliarem as regras institucionais para as eleições e o exercício do poder e se houver mais liberdade para lutar pela manutenção dos direitos fundamentais e pela criação de novos direitos. Somente quando a maioria da população tiver alimentação adequada, vida social decente e educação de qualidade, a democracia estará garantida no Brasil.

13.3. Os partidos políticos no Brasil

Até 1930, os partidos eram apenas agregados de oligarquias locais e regionais, organizados para tirar vantagens do Estado. Pode-se dizer que os partidos, a partir da esquerda, do Partido Comunista de Janeiro, 1946, todos militariam na clandestinidade após a cassação do partido, em 1947. Em1966, a ditadura militar os aboliu e impôs o bipartidarismo. O pluripartidarismo só foi retomado com o fim do período autoritário.

O sociólogo brasileiro Rudá Ricci afirma que os partidos políticos atuais se transformaram em imensas máquinas empresariais em busca do voto. Com isso, perderam a capacidade de politizar a sociedade, ou seja, não alimentam debates políticos que permitam à população identificar as diferenças nos projetos para a sociedade.

No cotidiano do parlamento, o que se vê são grupos (bancadas) reunidos em torno de corporações de interesses, gerando verdadeiras oligarquias setoriais. As instituições da democracia representativa ainda são vistas, portanto, como espaços para conchavos, corrupção e negociatas. Poucos de seus membros têm credibilidade perante a população.

13.4. Algumas reflexões sobre o Estado e a sociedade

O Estado é uma organização criada pela sociedade por diferentes percursos. A estrutura estatal implantada no Brasil após a independência perdurou até 1889. Depois, muitas transformações ocorreram, mas algumas características permaneceram, tornando a estrutura estatal brasileira a expressão da articulação do novo com o velho.

O Estado no Brasil sempre se sobrepôs à sociedade, como se fosse algo fora dela. Aprendemos desde cedo que tudo depende do Estado e que nada podemos fazer sem a presença dele, atribuindo-lhe a responsabilidade pelos problemas da sociedade e por suas soluções. Para esclarecer as características das relações entre o Estado e a sociedade no Brasil é preciso examinar a relação entre o que é público e o que é privado.

Privatização do público

Quem chegava ao poder tomava conta do que era público como se fosse seu. O Estado adotou como princípio o favorecimento dos setores privados mais poderosos em troca de sustentação. Para o restante da sociedade, as políticas públicas se desenvolveram na forma de “doação” ou de dominação, em nome da tranquilidade social. Isso não significa que a população tenha sido sempre passiva.

A política do favor, o clientelismo

O clientelismo é um dos suportes das relações políticas nacionais e ocorre entre os que têm o poder político e os que têm o poder econômico. A troca de favores políticos por benefícios econômicos pode ser observada na distribuição das concessões de emissoras de rádio e televisão ou nos financiamentos para empresas, por exemplo. São formas de conquistar apoio e sustentação de um partido, de uma organização ou de uma família.

Essa prática não ocorre só nos setores considerados atrasados da sociedade; é utilizada também pelos setores considerados modernos, que encontram no Estado um aliado em momentos de crise. Instalou-se no Brasil um capitalismo sem riscos, pois o poder público sempre esteve pronto para salvar aqueles que se punham em perigo.

A política do favor aparece também no cotidiano, na relação dos indivíduos com o poder público: na busca de ajuda em diversas circunstâncias, na distribuição de verbas assistenciais e nas promessas de políticos às pessoas ou instituições. Tudo para render votos futuros.

Nepotismo e corrupção

Muita coisa mudou na administração pública desde as reformas administrativas de Vargas. Os governos instituíram, gradualmente, concursos para a maioria dos cargos públicos e procuraram implantar uma administração com certo grau de profissionalização. No entanto, ainda há casos de manipulação dos concursos e a prática do nepotismo, ou seja, o emprego ou o favorecimento de parentes em cargos públicos.

A corrupção existe em todos os países, tanto nas estruturas estatais como nas empresas privadas. No Brasil, ela se mantém no sistema de poder porque o favor e o clientelismo continuam presentes. O combate à corrupção requer a criação de mecanismos que a coíbam, garantindo que os envolvidos sejam julgados e condenados por seus atos.

A despolitização e a economia como foco

Com as transformações produtivas e financeiras no mundo a questão política no Brasil está cada vez mais dependente da órbita financeira. O sociólogo Marco Aurélio Nogueira observa que a política brasileira se resume a uma tentativa de estabilização monetária, na qual o mercado está acima do Estado, o econômico acima do político, o especulativo acima do produtivo e o particular acima do geral. Esse quadro gera uma despolitização crescente, pois a política neutraliza-se como instrumento de mediação entre o individual e o coletivo, campo de discussão das ideias e de projetos políticos divergentes. Nos últimos anos, houve no Brasil um imenso crescimento do eleitorado e, ao mesmo tempo, uma despolitização enorme, o que é paradoxal.

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