quarta-feira, 16 de maio de 2018

Unidade 4 - Capitulo 11 – O poder e o Estado


Desde o século XVIII, o termo “sociedade” – ou “sociedade civil” – era usado como contraposição a “Estado”. A ideia de separação entre sociedade e Estado prejudicou a compreensão de que o Estado é uma organização encarregada de determinadas funções e sua constituição é um processo histórico como tantos outros.

11.1. As teorias sociológicas clássicas sobre o Estado

Karl Marx

Tendo escrito sobre as questões que envolvem o Estado num período em que o capitalismo ainda estava em formação, Marx não formulou uma teoria específica sobre o Estado e o poder. Suas concepções sobre o Estado encontram-se em livros publicados entre 1847 e 1871. Para esse autor, o Estado seria a expressão jurídico-política da burguesia, isto é, uma organização cujos interesses são os da classe dominante na sociedade capitalista: a burguesia.

Em duas outras obras, ao analisar uma situação histórica específica, Marx afirma que o Estado nasceu para refrear os antagonismos de classe, e, por isso, é o Estado da classe dominante, apresentando-se por vezes como mediador – por exemplo, nos momentos em que a luta de classes precisa ser equilibrada.

Analisando a burocracia estatal, Marx afirma que, mesmo quando está acima da luta de classes, o Estado continua criando as condições necessárias para o desenvolvimento das relações capitalistas.

Pode-se dizer, portanto, que para ele o Estado é uma organização cujos interesses são os da classe dominante na sociedade capitalista: a burguesia.

Émile Durkheim

Ao analisar a questão da política e do Estado, Durkheim teve a sociedade francesa de seu tempo como referência.

Como sempre esteve preocupado com a coesão social, considerava o Estadofundamental numa sociedade que ficava cada dia maior e mais complexa.

Durkheim dizia que o Estado “concentrava e expressava a vida social”. Segundo Durkheim, o Estado proporciona um espaço mais amplo para o desenvolvimento da liberdade individual.

A intermediação entre Estado e indivíduos deve ser feita por grupos profissionais organizados, que são a base da representação política e da organização social.

Para Durkheim, portanto, o Estado é uma organização cujo conteúdo inerente são os interesses coletivos.

Max Weber

Ao analisar o Estado alemão, Weber afirma que o verdadeiro poder estatal está nas mãos da burocracia militar e civil. Para ele, o “Estado é uma relação de homens dominando homens” mediante a violência, considerada legítima.

Para que essa relação exista, é necessário que os dominados obedeçam à autoridade dos que detêm o poder. Há três formas de dominação legítima: a tradicional, a carismática e a legal.

Para Max Weber, portanto, o Estado é uma organização sem conteúdo inerente; é apenas mais uma das muitas organizações burocráticas da sociedade. De acordo com Weber, instituições militares (como o exército) e civis (como as máquinas administrativas e burocráticas) garantem ao Estado o monopólio do poder e do uso legítimo da força.

11.2. Democracia, representação e partidos políticos

As diversas formas que o Estado assumiu na sociedade capitalista estiveram ligadas à concepção de soberania popular, que é a base da democracia. Tal soberania só se torna efetiva com a representação pelo voto.

Para entender a “igualdade política” defendida pelo pensamento liberal, base ideológica do sistema capitalista, basta consultar o que disseram grandes pensadores liberais:

·         O francês Benjamin Constant (1767-1830) declarava que as pessoas condenadas ao trabalho diário e a uma situação de dependência não estavam mais bem informadas acerca dos assuntos públicos que uma criança; por isso, não podiam desfrutar o direito eleitoral.
·         O filósofo alemão Immanuel Kant (1724-1804) declarava que, para exercer os direitos políticos, não bastava a condição de homem; era preciso ser senhor de uma propriedade que lhe desse sustento.
·         O inglês Edmund Burke (1729-1797), ao analisar os perigos da Revolução Francesa para a sociedade burguesa, afirmava que somente uma elite tinha o grau de racionalidade e de capacidade analítica para compreender o que convinha ao bem comum.

Essas ideias ainda estão presentes na sociedade. Expressam-se, por exemplo, em declarações como “o povo não sabe votar” e na oposição à presença no Parlamento ou em cargos executivos daqueles que defendem os direitos dos trabalhadores.

Muitos ainda pensam que só se pode fazer política institucional por meio dos partidos políticos. Mas os partidos nasceram da pressão exercida por quem não tinha acesso ao Parlamento.

O francês Claude Lefort (1924-2010) afirma que é uma aberração considerar a democracia uma criação da burguesia. Essa classe sempre procurou impedir que o liberalismo se tornasse democrático, limitando o sufrágio universal e a ampliação de direitos. Para ele, a democracia é a criação contínua de novos direitos. Não é apenas consenso, mas principalmente dissenso.

Para alguns autores que procuram analisar os aspectos institucionais da questão democrática, algumas condições precisam ser cumpridas para garantir a efetivação da democracia representativa:

·         direito de voto;
·         eleições competitivas, livres e limpas para o Executivo e o Legislativo;
·         proteção e garantia das liberdades civis e dos direitos políticos;
·         controle efetivo das instituições legais e de segurança e repressão.

O sociólogo português Boaventura de Sousa Santos (1940-) afirma que a democracia no mundo contemporâneo apresenta duas imagens contrastantes. Por um lado, a democracia representativa é considerada internacionalmente o único regime político legítimo. Por outro, há sinais de que os regimes democráticos, nos últimos vinte anos, traíram as expectativas da maioria da população, principalmente das classes populares.

11.3. A sociedade disciplinar e a sociedade do controle

Há pensadores que analisam a questão do poder e da política sem dar primazia às relações com o Estado.

·         O francês Michel Foucault (1926-1984) afirma que todas as instituições procuram disciplinar os indivíduos desde que nascem. Esse poder desenvolve-se por meio de gestos, atitudes e saberes. É o que chama de a “arte de governar”, entendida como a racionalidade política que determina a forma de gestão das condutas dos indivíduos.

·         O francês Gilles Deleuze (1925-1995) declara que vivemos numa sociedade disciplinar, mas já percebemos a emergência de uma sociedade de controle.

·         Para o alemão Theodor Adorno (1903-1969), a sociedade de controle é como uma “prisão ao ar livre”. Os métodos de controle são de curto prazo e de rotação rápida, mas contínuos e ilimitados. Alcançam-nos em todos os momentos e lugares, sem deixar possibilidade de fuga.

Exemplos desses métodos de controle são as avaliações permanentes e a formação continuada. Outra forma de controle contínuo são os “conselhos” a respeito da saúde, que estão presentes na TV e na internet.

Na sociedade disciplinar, o indivíduo passa de um espaço fechado para outro e não para de recomeçar, pois em cada instituição deve aprender alguma coisa. A ronda dos prisioneiros, de Van Gogh, 1890. Na sociedade disciplinar, da família à escola, do hospital à prisão, as instituições confinam, adestram e vigiam os indivíduos.

Na sociedade disciplinar, a linha de produção é o coração da fábrica. Na sociedade de controle, o serviço de vendas é a alma da empresa.

O marketing é o instrumento de controle social por excelência: somos todos consumidores. Se tudo pode ser comprado e vendido, por que não as consciências e outras coisas mais?

Se na sociedade disciplinar há sempre um indivíduo vigiando os outros, na sociedade de controle todos olham para o mesmo lugar. A televisão é um bom exemplo disso, pois milhares de pessoas estão sempre diante do aparelho.

Como explicar e entender a “liberdade de escolha” no mundo em que vivemos?

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