quarta-feira, 16 de maio de 2018

Unidade 3 – Capítulo 7 - A estrutura social e as desigualdades


Podemos observar os sinais das desigualdades sociais em todos os lugares, todos os dias. Basta ir às ruas para notar as diferenças nas condições de vida das pessoas e verificar que um pequeno número delas desfruta de muitos privilégios. Essas diferenças aparecem, de imediato, em elementos materiais, como a moradia, as roupas, os meios de locomoção. Mas também se manifestam no acesso à educação e aos bens culturais, os chamados bens simbólicos.

Normalmente, as desigualdades se evidenciam no dia a dia pelos contrastes entre a riqueza e a pobreza, que podemos constatar com os próprios olhos ou mediante as estatísticas e os meios de comunicação.

Por que há desigualdades sociais? Quais são as formas de desigualdade existentes? Como elas se constituíram e como são explicadas? Nesta unidade, vamos refletir sobre essas questões, focalizando as diversas formas de desigualdade que se configuraram em diferentes tempos e lugares, inclusive no Brasil.

Capítulo 7 Estrutura social e estratificação

A estrutura social se constitui da relação entre vários fatores – econômicos, políticos, históricos, sociais, religiosos e culturais – que dão feição própria a uma sociedade. Uma de suas características é a estratificação, ou seja, a maneira como os indivíduos ou grupos são classificados em camadas sociais e o modo como se movem de uma camada para outra.

Segundo o sociólogo brasileiro Octavio Ianni, a estratificação social é determinada pela forma como se organizam a produção econômica e o poder político. Entretanto, as estruturas de apropriação (econômica) e de dominação (política) são influenciadas por elementos como a religião, a etnia, o sexo, a tradição e a cultura, que interferem nos processos de divisão social do trabalho e de hierarquização.

A estratificação e as desigualdades sociais são produzidas historicamente. Isso significa que elas são geradas por situações diversas e se expressam na organização das sociedades em sistemas de castas e de estamentos (estudados neste capítulo) ou de classes (apresentado no capítulo 8).

7.1. As sociedades organizadas em castas

O sistema de castas é uma configuração social de que se tem registro em diferentes épocas e lugares. Na Índia está a expressão mais acabada desse sistema. Embora legalmente abolido em 1950, o sistema de castas permanece por força da tradição, mesclando-se à estrutura de classes hoje existente na Índia.

Organizado há mais de 3 mil anos, esse sistema adora uma hierarquização baseada em religião, etnia, cor, hereditariedade e ocupação. Esses elementos definem a organização do poder político e a distribuição da riqueza gerada pela sociedade.

Na Índia, há quatro grandes castas:

* A dos brâmides (sacerdotal e superior às demais);

* A dos xátrias (intermediária, formada pelos guerreiros, encarregados do governo e da administração pública);

* A dos vaixás (casta dos artesãos, comerciantes e camponeses);

* A dos sudras (casta dos inferiores, dos que realizam trabalhos manuais considerados servis).

Os párias são os que não pertencem a nenhuma casta e vivem fora das regras existentes.

Não há mobilidade social em um sistema de castas. Os elementos mais visíveis dessa imobilidade são a hereditariedade, a endogamia, as regras relacionadas à alimentação e a proibição de contato físico entre membros de castas distintas.

A rigidez das regras, no entanto, não é total. Embora proibido, as castas inferiores adotam costumes, ritos e crenças dos brâmanes, o que cria certa homogeneidade de costumes entre as castas. Também exemplificam a relativização das regras os casamentos, não muito comuns, entre membros de diferentes castas.

O sistema de castas indiano está sendo desintegrado de forma gradativa, sob o impacto da urbanização, da industrialização, da implantação de cotas de inclusão para as castas inferiores nas universidades públicas e da introdução de padrões ocidentais de comportamento.

7.2. As sociedades organizadas por estamentos

O que identifica um estamento é um conjunto de direitos e deveres, privilégios e obrigações, aceitos como naturais e publicamente reconhecidos.

Numa sociedade estamental, a condição dos indivíduos e dos grupos em relação ao poder e à participação na riqueza não é somente uma questão de fato, mas também de direito.

Nas sociedades do período feudal, a propriedade da terra definia o prestígio, a liberdade e o poder dos indivíduos: os que não a possuíam eram dependentes econômica e politicamente, além de socialmente inferiores. A possibilidade de mobilidade de um estamento para outro existia, mas era muito controlada.

A relação entre os estamentos caracterizava-se pela reciprocidade. Os servos tinham obrigações para com os senhores, que, por sua vez, lhes deviam proteção.

A desigualdade era vista como algo natural: camponeses e servos sempre estiveram em situação de inferioridade.

Na França, ao final do século XVIII, havia três estados: a nobreza, o clero e o terceiro estado, que incluía os demais membros da sociedade – comerciantes, industriais, trabalhadores em geral etc.

A pobreza, expressão mais visível das desigualdades, era considerada, na Idade Media, uma condição de nascença do indivíduo. Havia uma visão positiva dessa condição, uma vez que despertava a compaixão e a caridade. A concepção da Igreja Católica, que predominava na Europa Ocidental, postulava que os ricos tinham obrigação moral de ajudar os pobres.

A partir do século XVI, quando o indivíduo se tornou o centro das atenções, o pobre passou a ser visto como uma ameaça social e o Estado “herdou” a função de cuidar dos pobres, antes atribuída aos ricos.

Na Inglaterra, com o aumento da produção e do comércio, a pobreza e a miséria seriam interpretadas como resultado da preguiça e da indolência, já que havia muitas oportunidades de emprego. Tais afirmações pretendiam que as pessoas se submetessem às condições de trabalho vigentes.

No final do século XVIII, com o fortalecimento do liberalismo, outra justificativa para a pobreza foi formulada: as pessoas eram responsáveis pelo próprio destino e ninguém era obrigado a dar trabalho ou assistência aos mais pobres. 

Dizia-se que era necessário manter o medo à fome para os trabalhadores realizarem bem suas tarefas.

Em meados do século XIX, difundiu-se a ideia de que os trabalhadores eram perigosos, pois poderiam não só transmitir doenças, já que viviam em condições precárias de higiene, como se rebelar, se organizar e fazer revoluções, questionando os privilégios das classes que detinham riqueza e poder.

Como explicar e entender a “liberdade de escolha” no mundo em que vivemos?

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