quarta-feira, 16 de maio de 2018

Unidade 1 - Capitulo 03 – As relações entre indivíduo e sociedade



Entre os estudiosos que se preocuparam em analisar a relação dos indivíduos com a sociedade, destacam-se os clássicos da Sociologia, como Karl Marx, Émile Durkheim e Max Weber, e alguns mais recentes, como Norbert Elias e Pierre Bourdieu. Vamos sintetizar a seguir a visão de cada um.

3.1. Karl Marx, os indivíduos e as classes sociais

Para Karl Marx (1818-1883), o ser humano, além do resultado da evolução biológica da espécie, é um produto histórico em constante mudança, dependendo da sociedade na qual está inserido e das condições em que vive. Assim, os indivíduos devem ser analisados de acordo com o contexto social em que vivem.

Coletando alimentos, caçando, defendendo-se e criando instrumentos, nossos ancestrais construíram sua história e sua existência na sociedade. Ao produzir as condições materiais de existência, o indivíduo elabora sua consciência, seu modo de pensar e conceber o mundo. Nesse sentido, Marx afirma que é a maneira como os indivíduos produzem sua existência que condiciona o processo de vida social, política e intelectual, ou seja, o modo como a pessoa vive determina como ela pensa. Assim, a sociedade produz o indivíduo e este produz a sociedade. Por isso, Marx não analisa um indivíduo genérico, abstrato, mas os indivíduos humanos reais que vivem em uma sociedade histórica.

3.2. Constituição das classes

De acordo com Marx, na sociedade capitalista, os operários não trabalham mais para si, mas vendem seu trabalho e não conseguem se reconhecer no que fazem e produzem. Assim desumanizados, os indivíduos trabalhadores se identificam de sua exploração, configurando uma classe social.
Marx mantém a ideia do indivíduo como ser social e afirma, que os seres humanos constroem sua história, mas não da maneira que querem, pois são condicionados por situações anteriores. O ponto central da análise marxista da sociedade capitalista está nas relações estabelecidas entre as classes que compõem essa sociedade. Para ele, só é possível entender as relações dos indivíduos com base na luta de classes que se desenvolve à medida que os homens e as mulheres procuram satisfazer suas necessidades, sejam elas oriundas do estômago ou da fantasia.

3.3. Émile Durkheim, as instituições e o indivíduo

Para o fundador da escola francesa de Sociologia, Émile Durkheim (1858-1917), a sociedade sempre está acima dos indivíduos, dispondo de certas regras, normas, costumes e leis que asseguram sua continuidade. Isso independe do indivíduo e paira sobre todos, formando uma consciência coletiva que dá o sentido de integração entre os membros da sociedade. Esses elementos se solidificam em instituições, base da sociedade, como a família, a escola, o sistema judiciário e o Estado.

A força da sociedade está na herança transmitida, por intermédio da educação, ás gerações futuras. Condicionado e controlado pelas instituições, cada membro de uma sociedade sabe como deve agir para não desestabilizar a vida comunitária, e sabe também que será punido caso provoque alguma desestabilização.

Diferentemente de Marx, que vê a contradição e o conflito como essenciais na sociedade, Durkheim enfatiza a necessidade da coesão e da integração para a sociedade se manter. Para ele, o conflito existe pela anomia ou ausência da normatização das relações sociais ou pela falta de instituições que as regulamentam.

Durkheim só considera um fenômeno social como fato social se ele for:

* coercitivo, impondo-se aos indivíduos, fazendo com que aceitem as normas da sociedade;

* exterior aos indivíduos, existindo antes deles e não sendo fruto das consciências individuais;

* geral, atingido todos os indivíduos que fazem parte de uma sociedade.

3.4. Max Weber, o indivíduo e a ação social

Max Weber (1864-1920) parte do indivíduo e de suas motivações para compreender a sociedade como um todo. Sua preocupação central é compreender o indivíduo e suas ações. Para ele, a sociedade não está acima das pessoas; ela é o conjunto das ações dos indivíduos que se relacionam o tempo todo.

Um dos principais elementos presentes no intercâmbio entre os indivíduos é o dinheiro, que circula entre as pessoas e é universalmente aceito como elemento de troca, porque existe a expectativa de que outros o utilizem como elemento de troca. De acordo com Weber, há quatro tipos de ações sociais:

* ação tradicional, que tem por base um costume arraigado, como uma tradição familiar, em que agimos quase automaticamente ou por imitação, ações sociais mais comuns;

* a ação afetiva, ligada à satisfação de desejos, aos sentimentos e aos estados emocionais;

* a ação racional com relação a valores, baseada em convicções e valores éticos, estéticos, religiosos e outros;

* a ação racional com relação a fins, na qual, para atingir um objetivo, o indivíduo se programa, pesa e mede as consequências em relação ao que pretende obter.

Weber assume que essa classificação abrange tipos conceituais em estado puro, construídos como ferramentas para analisar a realidade. Os indivíduos, em seu dia a dia, mesclam os vários tipos de ação social. Para Weber, diferentemente de Durkheim, as razões das ações humanas não são algo externo a elas. O indivíduo escolhe condutas e comportamentos, dependendo da cultura em que vive, sempre numa perspectiva de reciprocidade por parte dos outros.

3.5. Norbert Elias e Pierre Bourdieu: a sociedade dos indivíduos

Até aqui, abordamos três diferentes análises da relação entre indivíduo e sociedade, para explicar o processo de constituição da sociedade e a maneira como indivíduos se relacionam:

* Para Marx, o foco recai sobre os indivíduos inseridos as classes sociais e sobre os conflitos e as contradições que existem entre elas, provocando a luta de classes.

* Para Durkheim, o fundamental é a integração dos indivíduos na sociedade.

* Para Weber, os indivíduos e o sentido de suas ações são os elementos constitutivos da sociedade.

Vamos tratar agora de dois autores mais recentes, entre muitos outros que também construíram análises da relação entre indivíduo e sociedade: o alemão Norbert Elias (1897-1990) e o francês Pierre Bourdieu (1930-2002).

3.6. O conceito de configuração

Elias criou a teoria da configuração para superar a dicotomia entre indivíduo e sociedade. Os dois parecem se contrapor o temo todo como se a felicidade dos indivíduos fosse impossível numa sociedade livre de conflitos. Ele defende que só nas relações e por meio delas os indivíduos adquirem características humanas como falar, pensar e amar. Sem uma sociedade que tenha história, cultura e educação, nenhum indivíduo trabalharia, estudaria e se divertiria.

O conceito de configuração nos ajuda a pensar essa relação de forma dinâmica, como acontece na realidade. Para Elias, “configuração é a teia de relações de indivíduos interdependentes que estão ligados de diversas maneiras e em vários níveis, pelos quais perpassam relações de poder”.

As configurações ocorrem em qualquer sociedade: não dá para separar indivíduo e sociedade. Daí vem a expressão sociedade dos indivíduos, criada por Elias, realçando a unidade, não a divisão.

3.7. O conceito de habitus

Elias utiliza também o conceito de habitus, compartilhado por Pierre Bourdieu e definido como um saber social incorporado pelo indivíduo em sociedade.

Bourdieu, ao retomar esse conceito, quer ligar teoricamente indivíduo e sociedade e define habitus como “a relação entre as condições de existência do indivíduo e suas formas de ação e percepção, dentro ou fora dos grupos”. Em outros termos, seu conceito de habitus articula práticas cotidianas – a vida concreta dos indivíduos – com as condições de classe de determinada sociedade, ou seja, articula a conduta dos indivíduos e as estruturas mais amplas.

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