Entre
as principais características das sociedades modernas, encontram-se a crescente
divisão do trabalho, o aperfeiçoamento contínuo dos sistemas produtivos e a
flexibilização e a mobilidade dos mercados de trabalho. Elas são o objeto de
análise neste capítulo.
5.1. A divisão do trabalho
O
pensamento de dois autores clássicos, Karl Marx e Émile Durheim, marca ainda
hoje perspectivas distintas sobre a divisão do trabalho nas sociedades
modernas.
Para
Marx, a divisão social do trabalho, realizada no processo de desenvolvimento
das sociedades, gera a divisão em classes.
Nas
sociedades modernas, com o surgimento das fábricas, duas classes foram
definidas pela divisão social do trabalho: a dos proprietários das máquinas e a
de seus operadores.
Subordinado
à máquina e ao proprietário dela, o trabalhador só tem, segundo Marx, sua força
para vender. Ao pagar por essa força de trabalho, o capitalista passa a ater o
direito de utilizá-la no interior da fábrica.
O
operário trabalha mais horas por dia do que o necessário para produzir o
referente ao valor do seu salário. O que ele produz nessas horas a mais é o que
Marx chama de mais-valia. O valor
das horas trabalhadas e não pagas é acumulado e reaplicado na produção, o que
enriquece o capitalista. Esse processo é denominado acumulação de capital.
Os
conflitos entre os capitalistas e os operários aparecem quando estes verificam
que trabalham muito e estão cada dia mais miseráveis. Diversos tipos de
enfrentamento marcaram, assim, o desenvolvimento do capitalismo.
Para
Durkheim, a crescente especialização do trabalho promovida pela produção
industrial moderna trouxe uma forma superior de solidariedade, não de conflito.
O
autor concebe duas formas de solidariedade:
* solidariedade
mecânica: o que une as pessoas não é o fato de uma depender do
trabalho da outra, mas a aceitação de um conjunto de crenças, tradições e
costumes comuns;
* solidariedade
orgânica: o que uma as pessoas é a necessidade que uma tem da outra,
em virtude da divisão do trabalho social.
A
interdependência provocada pela crescente divisão do trabalho cria
solidariedade, pois faz a sociedade funcionar e lhe dá coesão.
Se
a divisão do trabalho não produz a solidariedade, é porque as relações entre os
diversos setores da sociedade não são regulamentadas pelas instituições
existentes.
As
análises das relações de trabalho na sociedade moderna capitalista
influenciaram mudanças na organização do sistema produtivo a partir do início
do século XX.
5.2. O aperfeiçoamento dos sistemas
produtivos
Ainda
no final do século XIX, Frederick Taylor (1865-1915) propunha a aplicação de
princípios científicos na organização do trabalho, buscando maior
racionalização do processo produtivo. Já no século XX, Henry Ford (1863-1947)
introduziu em sua fábrica nos Estados Unidos uma forma bem detalhada e
encadeada de divisão de tarefas, visando à produção em série de um produto para
o consumo em massa, o automóvel Ford modelo T.
Com
as mudanças introduzidas por Ford, as expressões fordismo e taylorismo passaram a ser usadas para identificar um mesmo processo:
* uso mais racional das horas
trabalhadas;
* aumento da produtividade com o controle
das atividades dos trabalhadores;
* divisão e parcelamento das tarefas;
* mecanização de parte das atividades;
* introdução da linha de montagem;
* sistema de recompensas e punições
conforme o comportamento dos operários na fábrica.
Esse
processo deu início ao que veio a se chamar era do consumismo: produção e
consumo em larga escala.
Com
Ford e Taylor, a divisão do trabalho passou a ter um planejamento vindo de
cima, que não levava em conta os operários. Para corrigir isso e evitar
conflitos, a partir de 1930, Elton Mayo (1880-1949) buscou medidas que
promovessem o equilíbrio e a colaboração no interior das empresas.
A
visão de Taylor, a de Freud e a de Mayo revelam a influência das formulações de
Durheim, que afirmou haver uma consciência coletiva que define as ações individuais,
submetendo todos à ordem estabelecida. As empresas devem dar continuidade a
isso, definindo o lugar e as atividades de cada um.
O
sociólogo estadunidense Harry Braverman (1920-1976) foi um crítico dessa
divisão. Para ele, o taylorismo tirava do trabalhador o último resquício de
saber sobre a produção: a capacidade de operar uma máquina, restando-lhe
submeter-se ao administrador. Estava concluída a expropriação em todos os
níveis da autonomia dos trabalhadores.
A
crítica marxista destaca que as formas de regulamentação da força de trabalho
propostas por Mayo seriam indiretas, pela manipulação do operário por meio de
especialistas em resolver conflitos. Com esses procedimentos o
fordismo-taylorismo penetrou em todas as organizações sociais. Essa forma de
organizar o trabalho foi marcante até a década de 1970 e ainda prevalece em
muitos locais.
5.3. Flexibilização e mobilidade
Novas
transformações aconteceram na sociedade capitalista, principalmente depois da
década de 1970, e todas visam à busca por mais lucro. Destaca-se, entre essas
transformações, a flexibilização do trabalho e do mercado.
Há
duas formas de flexibilização próprias desse processo:
flexibilização
dos processos de trabalho e de produção: automação e
consequente eliminação do controle manual por parte do trabalhador;
flexibilização
e mobilidade dos mercados de trabalho: os empregadores passam a utilizar as
mais diferentes formas de trabalho, substituindo a forma clássica do emprego
regular, sob contrato.
5.4. A sociedade salarial está no fim?
O
trabalho fixo, sem mudança de emprego até a aposentadoria, está desaparecendo.
O sociólogo Robert Castel (1933-2013) constatou que há uma nova sociedade na
qual o trabalho e a previdência já não significam segurança, o que causa
transtornos sociais e individuais. Ele sintetizou essa situação em quatro
pontos:
·
a desestabilização dos estáveis;
·
a precariedade do trabalho;
·
o déficit de postos de trabalho;
·
o desajuste entre qualificação e
emprego.
Como
o trabalho é uma espécie de passaporte para a integração do indivíduo na
sociedade, o resultado é uma desqualificação do ponto de vista da cidadania,
com consequente perda de identidade.