O trabalho é um assunto sobre o qual sempre
há muitas perguntas a fazer. Afinal, para que ele existe? Quem o inventou? Seu
significado é semelhante nas diferentes sociedades?
Poderíamos dizer que o trabalho existe para
satisfazer as necessidades humanas, desde as mais simples, como as de alimento,
vestimenta e abrigo, até as mais complexas, como as de lazer, crença e
fantasia. E, se o trabalho existe para satisfazer nossas necessidades, fomos
nós que o inventamos. No entanto, essa atividade humana nem sempre teve o mesmo
significado, a mesma organização e o mesmo valor.
Capítulo
4 – O trabalho nas diferentes sociedades
Em nossa sociedade, a produção de cada objeto
envolve uma complexa rede de tarefas e de trabalhadores de diferentes
especialidades. Outros tipos de sociedade apresentam características bem
diversas.
As sociedades tribais, por exemplo, em geral,
não são estruturadas pela atividade que denominamos trabalho. Nelas, todos
sabem desempenhar as atividades para se manter. Apenas a idade e o sexo definem
a divisão das tarefas.
O antropólogo americano Marshall Sahlins
(1930-), contrariando a ideia muito divulgada de que essas sociedades viviam em
estado de pobreza, as chama de “sociedades da abundância” ou “sociedades do
lazer” por satisfazerem as necessidades materiais com pouquíssimas horas
dedicadas ao que chamamos de trabalho. Seu modo de relacionamento integrado com
a natureza fazia com que dispusessem do necessário para se manter saudáveis,
sem a preocupação de acumular bens e alimentos, pois estes estavam sempre à
disposição. Daí a ausência nessas sociedades do que chamamos de “mundo do
trabalho”.
Entre sociedades de diferentes tempos
históricos, também se observam muitas diferenças quanto à concepção e à
organização do trabalho. A palavra trabalho
pode ter origem no vocábulo latino tripallium,
que significa “instrumento de tortura”, e sempre esteve associada à ideia de
atividade penosa e torturante.
Nas sociedades grega e romana, a produção
necessária para o suprimento da população era garantida basicamente pela mão de
obra escrava, embora houvesse trabalhadores livres, como os artesãos e os
camponeses. Os senhores e proprietários eram desobrigados das atividades
produtivas, dedicando-se a discutir os assuntos da cidade e o bem-estar dos
cidadãos.
Nas sociedades feudais, a terra era o
principal meio de produção e muitos nela trabalhavam em regime de servidão.
Prevalecia um sistema de deveres do servo para o senhor e deste para aquele.
Havia outras formas de trabalho, como as atividades artesanais desenvolvidas
nas cidades e nos feudos e as atividades comerciais.
Desde a Antiguidade até o fim da Idade Média,
o trabalho foi sempre desvalorizado. Com a emergência do mercantilismo e do
capitalismo, a concepção de trabalho começou a mudar – de atividade penosa ou
vil para atividade que dignifica o homem.
A transformação dos artesãos e pequenos
produtores em assalariados ocorreu por meio de dois processos de organização do
trabalho: a cooperação simples e a manufatura.
* Cooperação simples: o artesão desenvolve
todo o processo produtivo. A diferença é que ele está a serviço de quem
financia a matéria-prima e os instrumentos de trabalho e de quem define o local
e as horas a serem trabalhadas.
* Manufatura: o trabalhador continua como
artesão, mas não faz tudo do começo ao fim. Cada um cuida de uma parte, como
numa linha de montagem.
Manufatura ˃Trabalho
coletivo˃O
produto torna-se resultado das atividades de muitos trabalhadores˃ O trabalho transforma-se em mercadoria que
pode ser vendida e comprada
Surge uma terceira forma de trabalho: a maquinofatura. A destreza manual do
trabalhador é substituída pela máquina e o espaço de trabalho passa a ser a
fábrica.
Durante esse processo, o trabalhador foi
sendo convencido de que a situação presente era melhor do que a anterior.
Diversos setores da sociedade colaboraram para essa mudança:
·
as
igrejas difundiram a ideia de que só quem trabalhasse seria abençoado;
·
os
governantes criaram leis para penalizar quem não trabalhasse;
·
os
empresários instituíram uma disciplina rígida em seus estabelecimentos;
· as
escolas passaram às crianças a noção de que o trabalho é fundamental para a
sociedade.
O trabalhador era livre apenas legalmente,
porque, na realidade, via-se forçado, pela necessidade, a fazer o que lhe
impunham e trabalhava mais horas do que antes. Max Weber afirma que isso era
necessário para que o capitalismo existisse.