terça-feira, 29 de maio de 2018

Por que somos diferentes? - Determinismo Geográfico e Determinismo Biológico


Abordaremos duas posturas que devem ser evitadas quando se pretende explicar as diferenças entre os seres humanos: o determinismo geográfico e o determinismo biológico.

Elas são comuns quando as pessoas tentam responder à questão: Por que somos diferentes? Contudo, embora essas posturas sejam muito populares, o objetivo é discuti-las e criticá-las para entender porque ambas são respostas equivocadas.

Por que somos diferentes? Provavelmente você dirá que isso ocorre porque as pessoas têm costumes diferentes; porque há indivíduos que têm mais dinheiro e aqueles que têm menos; ou, ainda, porque as pessoas vêm de meios diferentes ou porque somos geneticamente diferentes, entre muitas outras possíveis respostas.

De qualquer forma, o objetivo aqui é o de criticar duas posturas radicais que costumam dar uma explicação simplista para essa questão. Essas posturas são: o determinismo geográfico e o determinismo biológico.

Na maioria das vezes, o senso comum acredita que a diferença é fruto somente
do meio físico e/ou de fatores biológicos. Aqueles que acreditam que a diferença ocorre principalmente por conta do meio físico são os adeptos do determinismo geográfico e os que dizem que é uma questão puramente biológica são adeptos do determinismo biológico.

Ambas são posturas ou explicações a serem evitadas.

O determinismo geográfico

O determinismo geográfico pode ser definido como a postura segundo a qual se acredita que as diferenças de ambiente físico condicionam totalmente a diversidade cultural. Ou seja, segundo essa postura, os seres humanos são diferentes, pois habitam áreas geográficas diferentes: umas mais frias, outras mais quentes, umas mais próximas ao mar, outras mais altas etc. Para os adeptos do determinismo geográfico, o meio físico condiciona totalmente o comportamento do ser humano. Assim, acreditam, por exemplo, que pessoas que moram em regiões quentes são mais preguiçosas, por conta do calor, entre outros preconceitos.
A Antropologia mostrou que existem limites para a influência do ambiente físico em uma determinada cultura. Ou seja, o meio físico pode influenciar os seres humanos e seus costumes, mas não o condiciona totalmente.
Os hábitos, costumes e conteúdos simbólicos da vida de um povo podem sofrer influência do meio físico. Existem elementos em nossa cultura que são influenciados pelo meio, como a maior parte das nossas roupas. Elas são adaptadas ao nosso clima. Ou, ainda, o fato de nos alimentarmos de mandioca, que é uma raiz que constitui a base da alimentação em muitas regiões do Brasil. Em países de clima mais frio, é comum que as casas tenham sistema de aquecimento central, para que as pessoas não sofram com as baixas temperaturas, e se alimentem de vegetais que se desenvolvem em temperatura mais baixa do que aquela aqui encontrada.
(Elaborado especialmente para o São Paulo faz escola)

Questões:
1)    O que é determinismo geográfico? Explique com suas palavras.
2)    Além dos exemplos contidos no texto, apresente outros de como o meio físico
pode influenciar, em parte, a nossa cultura.

Queremos demonstrar que o determinismo geográfico é uma postura a ser evitada. Admitimos, inicialmente, que o meio físico, em parte, influencia uma cultura. No entanto, o meio físico não condiciona totalmente uma cultura; há limites para esse
condicionamento. Em um mesmo meio geográfico, é possível que culturas diferentes se desenvolvam.

Como exemplo, citamos os países escandinavos: Suécia, Noruega, Finlândia e Dinamarca. Suécia, Noruega e Finlândia são os países que compõem a Península Escandinava e a Dinamarca fica na Jutlândia. Eles têm o mesmo clima e um relevo muito parecido, assim como a flora e a fauna. Mesmo assim, possuem culturas diferentes e línguas diferentes: há o sueco, o dinamarquês, o finlandês e o norueguês.

Se fosse verdade que o meio físico condiciona totalmente o comportamento dos seres humanos, só haveria uma cultura na Península Escandinava, e não é o que acontece.

Por que isso ocorre? Porque, ao contrário do que acreditam os adeptos do determinismo geográfico, o meio físico não influencia totalmente a cultura. Na verdade, há limites para a influência do meio físico sobre a cultura. Esses limites são dados pelos interesses de cada cultura.

Toda cultura age seletivamente em relação ao meio físico em que ela se desenvolve e, por isso, existem elementos culturais que, apesar de aceitos, não estão de acordo com o meio geográfico. Um exemplo notório é o uso do terno e da gravata em um país quente como é o Brasil na maioria dos meses do ano. Essa roupa é adequada aos países de clima temperado, mas totalmente inadequada, na maior parte do ano, ao clima do nosso país.
Mesmo assim, os homens, seja por razões de trabalho, seja porque têm de comparecer a um determinado evento social, muitas vezes usam terno e gravata. Por que eles fazem isso? Porque essa roupa tem um significado cultural. Trata-se do exemplo de uma vestimenta mais formal, que proporciona certo status social, pois não é uma roupa barata.
Se o meio físico influenciasse totalmente as culturas, como querem acreditar os adeptos do determinismo geográfico, os homens usariam roupas adequadas ao nosso clima.
Essa mesma reflexão pode ser feita em relação aos hábitos de alimentação.
Existem animais que habitam o Brasil e outros países, como a China, o Camboja, a Tailândia, o Vietnã e o México, por exemplo. Mas isso não significa que eles sejam considerados passíveis de servir como alimento aqui e lá. É o caso do rato. No Brasil, é praticamente impensável para uma pessoa se alimentar da carne de ratos. Já na China, no Camboja, no Vietnã e na Tailândia, esses animais são normalmente consumidos como alimento. Na Tailândia também é comum comer espetos de certas larvas na rua, assim como aqui se come churrasco. Há ainda o caso do México: lá é possível comer tacos (prato típico mexicano feito de farinha de milho, parecido com uma panqueca, com vários tipos de recheios e molhos) recheados com certo tipo de grilo comestível. Se o determinismo geográfico realmente existisse, nós nos alimentaríamos igualmente desses animais, que também habitam nosso território.
(Elaborado especialmente para o São Paulo faz escola)

A partir dessa leitura podemos concluir que o meio físico age sobre a cultura, embora não a condicione totalmente, pois a cultura age de forma seletiva em relação aos elementos do meio físico.

O determinismo biológico
Agora vamos abordar a outra postura a ser evitada, o determinismo biológico. Segundo essa postura, as pessoas seriam totalmente condicionadas por fatores biológicos, ou seja, pela genética.

É importante destacar que essa é uma postura a ser evitada, pois diferenças genéticas não determinam diferenças culturais. Infelizmente, muito do preconceito existente está relacionado a esse raciocínio equivocado.

Para trabalhar essa questão, leia o texto a seguir:

Outra linha de pensamento que procura explicar o que diferencia um ser humano do outro é a do determinismo biológico, segundo a qual as diferenças genéticas determinam as diferenças culturais.
Essa é a velha história de que “o homem é o que é, pois isso estaria no sangue”, ou seja, todas as diferenças entre duas pessoas seriam estabelecidas por meio dos nossos genes. A partir desse tipo de raciocínio, cria-se uma série de estereótipos, tais como: os judeus e os árabes nascem para negociar; os alemães são bons de cálculo; os norte-americanos são todos empreendedores etc. E a justificativa é a de que isso estaria no sangue.
Mas isso é um grande engano, por várias razões.
A primeira razão é dada pelos avanços dos estudos genéticos que mostraram que os seres humanos são muito parecidos e muito diferentes entre si do ponto de vista genético. Em termos da porcentagem total de material genético, a variação genética entre dois seres humanos é inferior a 1%. Entretanto, se verificarmos em números, será possível observar que há milhões de diferenças no código genético entre dois indivíduos escolhidos ao acaso. Ou seja, apesar de sermos muito parecidos em termos relativos (uma diferença menor do que 1%), em termos absolutos, isto é, considerando o número de diferenças genéticas, somos muito diferentes (milhões de diferenças entre dois indivíduos). Em outras palavras, milhões dessas diferenças genéticas representam menos de 1% do total do código genético, não importando a origem geográfica ou étnica deles. No entanto, mais de 90% dessa variação ocorre entre indivíduos e menos de 10% ocorre entre grupos étnicos (“raças”) diferentes, mais um argumento para o fato de que há apenas uma raça de Homo sapiens: a raça humana!
Com base em tais informações, é possível dizer que cada um de nós é um ser humano único e tão diferente de outro ser humano que procurar juntar as pessoas para formar grupos distintos (por exemplo, “raças humanas”) não faz sentido.
Não existem diferenças suficientes entre os grupos humanos para permitir separar ou juntar os seres humanos em “raças”. As diferenças visualizadas entre populações de continentes distintos são muito pequenas e superficiais, não se refletindo no genoma (constituição genética total de uma pessoa).
Mas, mesmo assim, há aquelas velhas questões: Se isso é verdade, por que tantos portugueses são padeiros? Por que tantos descendentes de árabes são comerciantes? Isso não está mesmo no sangue?
Se isso fosse verdade, então Portugal seria um país de padeiros e em todos os lugares onde os portugueses fossem morar eles seriam padeiros. E isso não acontece.
Se aqui há muitos descendentes de portugueses que são padeiros, isso se deve ao fato de que essa foi uma profissão em que vários imigrantes se destacaram, e que eles a ensinaram a outros imigrantes, mas não porque estava no sangue deles ser padeiro.
O pão é um alimento de consumo em todas as regiões do mundo, mas isso não quer dizer que só os portugueses façam pão, ou que o façam melhor do que outros povos. Há padeiros chineses, malaios, indianos, botsuanos, alemães, franceses, gregos, espanhóis, russos, chilenos, bolivianos, argentinos, holandeses, japoneses, australianos, moçambicanos etc. E não só portugueses. Há padeiros em todas as sociedades, em todas as culturas. E, se há portugueses em todos esses lugares citados, isso não significa que eles sejam padeiros. Em outras regiões do mundo, eles podem ter se especializado em outras profissões. Logo, é equivocado achar que profissões tenham uma determinação biológica e que exista o determinismo biológico.
(Elaborado especialmente para o São Paulo faz escola)

O que é o determinismo biológico e por que essa é uma postura que deve ser evitada? Para continuar esta discussão, vamos ler o seguinte texto:

Toda criança ao nascer é fruto da combinação de elementos genéticos do pai e da mãe. Contudo, sua maneira de agir, pensar e sentir não está relacionada com esse código genético. Na verdade, se transportarmos para a Bolívia um bebê inglês e o criarmos ali com outros pais, ele desenvolverá os hábitos, a maneira de falar e de raciocinar típicos do lugar. Provavelmente não gostará de comer a comida que seus pais biológicos ingleses apreciam, nem pensará como um inglês, pois assumirá os hábitos e costumes da família boliviana que o criou. A carga genética vinda de seus pais não influenciará seu comportamento. Mesmo determinadas doenças, para as quais ele, porventura, tenha predisposição genética, poderão não se manifestar, impedidas possivelmente pelos hábitos alimentares e de vida adquiridos no novo país.
Isso demonstra que o determinismo biológico é uma postura equivocada e que deve ser evitada, pois a cultura pode interferir no plano biológico. Do ponto de vista biológico, em geral, os homens são mais fortes do que as mulheres, mas em várias culturas é a mulher quem realiza o trabalho braçal e não o homem. A Antropologia tem mostrado que muitas atividades atribuídas aos homens em determinadas culturas são realizadas pelas mulheres em outras. Portanto, apesar de existirem diferenças biológicas entre homens e mulheres, a cultura pode interferir no plano biológico.
O riso é outro exemplo de que o determinismo biológico é uma postura equivocada.
Segundo Laraia (2009, p. 69), o riso é uma propriedade do ser humano e dos primatas mais desenvolvidos. Mas o que é considerado risível varia de cultura para cultura. Ou seja, o riso é totalmente condicionado pelos padrões culturais, apesar de toda a sua fisiologia.


Questões:

1)   De que maneira a cultura age em relação ao meio físico?

2)   Cite um exemplo do texto que mostre isso e explique por quê.
3)   Descreva um exemplo, que não seja tirado do texto, de como a cultura age de forma seletiva em relação ao meio físico.

4)   Retire do texto um exemplo que mostre por que a postura do determinismo biológico é equivocada e o explique.

5)   Descreva um exemplo diferente dos apresentados para mostrar o problema do determinismo biológico.

Como explicar e entender a “liberdade de escolha” no mundo em que vivemos?

  HISTÓRIA SITUAÇÃO DE APRENDIZAGEM 1 TEMA: Desigualdades e vulnerabilidades: desafios e caminhos para uma sociedade democrática e inclus...