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O Caráter Culturalmente Construído da Humanidade


Nesse texto deveremos tomar consciência de que quase nada é natural no ser humano e que nossas maneiras de agir, pensar e sentir são culturalmente estabelecidas.

Para isso, seremos conduzidos à compreensão de que será preciso adotar a postura do relativismo para conseguir compreender o outro e evitar o etnocentrismo.

O que vocês acham que nos distingue dos outros animais? A organização em grupos também ocorre entre os animais, mas somente os seres humanos são capazes de criar e transmitir cultura. Esse fator é o que nos distingue dos demais animais.

O que é natural no ser humano? Esta questão os ajudará a compreender as questões centrais no que diz respeito da pergunta: O que nos une como seres humanos? e O que nos diferencia?

Esclarecemos que elas não serão totalmente neste texto, pois, para compreender o que une e o que diferencia os seres humanos, precisaremos, primeiramente, que refletir sobre o que é natural para o ser humano, qual é a relação que temos com nossos instintos e o que é que nos distingue dos outros animais.

Ressaltamos que o que é natural no ser humano é a sua capacidade para a diferenciação.

Os seres humanos e a natureza

Será necessário compreender que muito do que consideramos natural em nós é, de fato, cultural, o que parece ser óbvio, mas não é. Tendemos a naturalizar os nossos comportamentos socialmente apreendidos e assim nos esquecemos que não nascemos com eles, mas somos socializados e ensinados a viver de uma determinada forma.

O que todos nós temos em comum é a capacidade de nos diferenciar uns dos outros e de viver essa experiência, que é a de ser humano, da forma mais variada possível, por meio da imersão nas mais diferentes culturas.
Logo, o que nos liga são as nossas diferenças; e elas são dadas pela cultura na qual somos socializados desde o momento de nosso nascimento.
Toda cultura é uma construção histórica e social. Nossos hábitos, costumes, maneiras de agir, sentir, viver e até morrer são culturalmente estabelecidos. Dizer que se trata de uma construção não é aleatório, pois construção remete à montagem, a algo que passa pelas mãos do ser humano, que não está pronto, ou seja, que não é dado pela natureza, mas que passa por algum processo de transformação, até se tornar o que é.
A cultura é uma construção histórica, porque varia de uma época para outra, porque demorou muito para ser o que é. A cultura é uma construção social, porque é partilhada por um grupo. Grupos humanos diferentes, portanto, têm culturas diferentes. Isso significa dizer que quase nada no ser humano é natural.
Um comportamento considerado natural para uma sociedade e não para outra mostra que ele não é natural e, sim, cultural. Não há ser humano que possa existir sem que esteja imerso em determinada cultura.
Somos todos seres culturais. Pode-se dizer que não existe uma natureza humana igual para todos os seres humanos e todos temos a capacidade de sermos diferentes entre nós.
Se apenas um grupo ou alguns grupos consideram uma forma de agir, pensar e sentir como natural, você pode ter certeza de que não se trata de algo natural, mas, sim, cultural. Tudo o que é natural para uns e não para outros não é natural. Pois natural seria o que faz parte da natureza humana, ou seja, o que é compartilhado por todos os seres humanos.
(Elaborado especialmente para o São Paulo faz escola)

Mas será que existe uma natureza humana que seria a mesma para todos? Para os antropólogos, está claro que não há uma natureza humana única e imutável. É fato que a cultura nos molda como uma espécie única, e ela também nos modela como indivíduos separados.

Não é natural:
·         Vestir jeans e camisetas.
·         Comer arroz e feijão.
·         Casar de branco.
·         Enterrar os mortos.

Em outras culturas:
·         Comer arroz e feijão também não é algo natural. Existem grupos no deserto que se alimentam de gafanhotos, e o escargot (tipo de lesma) é uma iguaria na França.
·         O jeans e a camiseta não são roupas naturais para o ser humano. Na Índia, por exemplo, é comum as mulheres usarem o sári; já no Brasil, muitos povos indígenas andam nus.
·         Não são todos os povos que enterram seus mortos. Os indianos, por exemplo, costumam cremá-los.
·         Em nossa sociedade, a noiva veste-se de branco, mas, em muitas outras, a cor da roupa da noiva não é o branco.

Pode ser difícil aceitar que nossas maneiras de agir, pensar e sentir não são naturais. O simbolismo das cores, por exemplo, também não é natural. Tal simbolismo é fruto do senso comum e das crenças de cada cultura e pode variar. Por exemplo, é costume associar as cores a diferentes emoções, estados de espírito ou acontecimentos, como se isso fosse perfeitamente natural a todos os seres humanos, o que não é verdade.

Por exemplo, no caso do branco e do preto, esse simbolismo pode mudar muito, dependendo da cultura de um povo.

Muitos povos orientais não associam o branco à vida e à luz. Para eles, o branco “naturalmente” é associado à morte e é usado como cor de luto. Nas culturas ocidentais, como é a nossa, ocorre o contrário. Associamos “naturalmente” o branco à luz, ao sol e à vida, e o preto, às trevas, à escuridão, à noite e à morte. Nenhuma dessas associações é natural ao ser humano, pois, caso isso fosse realmente natural, todos os indivíduos, em todas as sociedades, fariam as mesmas associações. Se isso não ocorre, é porque quase nada é natural no ser humano, e o simbolismo das cores é um exemplo de como o que muitos consideram “natural”, na verdade, é fruto de uma construção histórica, social e cultural.

Questões:

1)   Escrevam exemplos de:
a) roupas ou adereços usados por diferentes povos;
b) hábitos diferentes dos praticados pelos brasileiros.

2)  É possível dizer que há uma natureza humana igual para todos? O que é natural no ser humano?

3)   O que nos torna seres humanos? O que une e o que diferencia os seres humanos?

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