sábado, 19 de maio de 2018

A desigualdade e a exclusão na modernidade ocidental


A desigualdade e a exclusão têm na modernidade ocidental um significado distinto do que tiveram nas sociedades do antigo regime. Pela primeira vez na história, a igualdade, a liberdade e a cidadania são reconhecidas como princípios emancipatórios da vida social.

A desigualdade e a exclusão têm, pois, de ser justificadas como exceções ou incidentes de um processo societal que lhes não reconhece legitimidade, em princípio. E, perante elas, a única política social legitimada é a que define os meios para minimizar uma e outra. Nada disto, como sabemos, vale para as sociedades sujeitas ao colonialismo europeu. Aí vigoraram a desigualdade e a exclusão como princípios de regulação cuja validade não implicou qualquer relação dialética com a emancipação. Durante o longo tempo do ciclo colonial, a “opção” para essas sociedades foi, quando muito, entre a violência da coerção e a violência da assimilação.

A importância da perspectiva pós-colonial reside hoje em mostrar que o “outro” da modernidade europeia, a “exterioridade colonial” foi, de fato, um elemento constitutivo originário da modernidade [...]. A desigualdade e a exclusão são dois sistemas de pertença hierarquizada. No sistema de desigualdade, a pertença dá-se pela integração subordinada enquanto que no sistema de exclusão a pertença dá-se pela exclusão.

A desigualdade implica um sistema hierárquico de integração social. Quem está embaixo está dentro e a sua presença é indispensável. Ao contrário, a exclusão assenta num sistema igualmente hierárquico mas dominado pelo princípio da segregação: pertence-se pela forma como se é excluído. Quem está embaixo, está fora. Estes dois sistemas de hierarquização social, assim formulados, são tipos ideais, pois que, na prática, os grupos sociais inserem-se simultaneamente nos dois sistemas, em combinações complexas.

Como é no século XIX que se consuma a convergência da modernidade e do capitalismo, é neste século que melhor se podem analisar os sistemas de desigualdade e de exclusão. O grande teorizador da desigualdade na modernidade capitalista é, sem dúvida, Karl Marx. Segundo ele, a relação capital/trabalho é o grande princípio da integração social na sociedade capitalista, uma integração que assenta na desigualdade entre o capital e o trabalho, uma desigualdade classista baseada na exploração.

Fonte: SANTOS, Boaventura Sousa. A gramática do tempo. São Paulo: Cortez, 2006. p. 280

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