sexta-feira, 18 de maio de 2018

003 – Divisão Social do Trabalho


Objetivamos trazer elementos para pensar sobre as diferentes formas de trabalho na história da humanidade, com destaque para as características específicas do trabalho na sociedade capitalista. Nesse sentido, serão discutidos conceitos como divisão social e divisão manufatureira do trabalho, relações de trabalho e alienação.

A seguir apresentamos alguns cantos do poema A trama da rede”, de Carlos Brandão, cada um com uma ou duas estrofes. A finalidade é trabalhar esse canto para compreender a divisão social do trabalho.

A trama da rede

I
Essa é a trama da rede:
o tecido das trocas que fabricam
o pano de uma rede de dormir
enreda o corpo do homem na tarefa
de criar na máquina a rede com a mão.
A armadilha do trabalho em casa alheia
engole o homem e enovela todo o corpo
no fio no fuso na roda na teia
do maquinário da manufatura
que produz o seu produto: a rede
e reduz o corpo-operário à produção.
[...]

III
O corpo-bailarino que transforma
a coisa bruta em objeto
(a fibra em fio e o fio em pano)
e o objeto na mercadoria
(o pano pronto na rede e sua valia)
transforma o corpo do homem operário
em outro puro objeto de trabalho
pronta a fazer e refazer no fuso
aquilo de que a fábrica faz sua riqueza
de que, quem faz não se apropria.
[...]

VII
Sob a trama do trabalho em tear alheio
o corpo não possui seu próprio tempo
e é inútil que lhe bata um coração.
O relógio interior do operário
é o que existe na oficina, fora dele,
de onde controla o tear e o tecelão.

VIII
De longe o dono zela por quem faz:
pela força do homem que trabalha,
não pela vida do trabalhador.
Aqui não há lugar para o repouso
ainda que o produto do trabalho
seja uma rede de pano, de dormir
e que comprada serve ao sono e ao amor.

IX
Durante a flor da vida inteira
fazendo a mesma coisa e refazendo
uma operação simples de memória
o operário condena o próprio corpo
a ser tão automático e eficaz
que domine o gesto que o destrói.
A reprodução contínua, diária, igual
de um mesmo gesto repetido e limitado
todos os dias, sobre os mesmos passos,
ensina ao artesão regras de maestria
do trabalho que afinal então domina
através de saber sua ciência
com a sabedoria do corpo massacrado.
[...]

XI
Quem fia e enfia?
Quem carda e corta?
Quem tece e trança?
Quem toca e torce?
A moça o menino.
A velha o homem.
Eles são, artistas,
parte do trabalho coletivo
que faz a trama da rede
e a rede pronta:
o objeto bonito do descanso
que inventa a necessidade
da servidão do trabalho
do corpo produtivo.

XII
A dança ritmada desse corpo
de bailarino-operário de um ofício
de que o produto feito não é seu,
cria o servo de quem lhe paga aos sábados
para o que sobra da vida de trabalho
do corpo de quem fez e não viveu.
O trabalho-pago, alheio e sempre o mesmo
obrigando o operário bailarino
à rotina de fazer sem possuir
torna-o, artista, servo do ardil
de entretecer panos e redes sem criar
e recriar-se servo sem saber.
[...]

XIV
Não conhece descanso o corpo na oficina.
Ele é parte das máquinas que move
e que movidas não sabem mais parar.
Os pés descalços prolongam pedais
os braços são como alavancas
e as mãos estendem pontas de um fio
que existe no fuso e no tear.
O trabalho do corpo é o objeto
que o homem vende ao dono todo o dia.
O corpo-livre pertence ao maquinário
que o homem converte no operário
de que retira o preço do sustento:
a comida a cama a casa o agasalho,
o que mantém vivo o corpo e o seu trabalho.
BRANDÃO, Carlos Rodrigues. Encarte de Tempo e Presença. n. 1672, nov./dez. 1981.

Analisemos, agora o poema. Ele foi escrito tendo como referência a leitura de trechos da obra mais importante escrita por Karl Marx, O capital, nos quais ele fala dos operários e dos usos de seus corpos no processo de produção de mercadorias. Como diz Carlos Brandão, são “alegorias [exposição de um pensamento sob forma figurada] sobre o trabalho”, escritas para um documentário sobre a produção artesanal de redes no Ceará.

Para aprofundar a compreensão do poema, destacamos os seguintes elementos:

a)  Canto I: o trabalho de tecer a rede é exercido em “casa alheia”, ou seja, não na casa do trabalhador, mas no local determinado pelo seu patrão, na manufatura. Ali, são reunidos vários trabalhadores que, exercendo diferentes trabalhos, transformam os fios de várias cores em rede. A trama, o desenho da rede, é mostrada como a trama que enreda, que prende o trabalhador à máquina, que impõe seu movimento ao corpo do trabalhador.

b)  Canto III: o trabalhador que transforma a matéria-prima – o algodão – em fio, e o fio em rede, produz uma mercadoria que não pertence a ele, mas, sim, a quem o contratou. Ou seja, a rede que ele produz com o seu trabalho não pertence a ele, mas, sim, a quem lhe paga o salário.

c)   Canto VII: o ponto central desse canto se refere ao tempo ou ritmo de trabalho que, na manufatura, não é mais determinado pelo trabalhador, mas, sim, pelo ritmo da máquina, imposto pelo dono da oficina.

d)  Canto VIII: esse canto completa o anterior, pois se refere ao controle exercido pelo dono da manufatura. Este não está preocupado com a saúde, com a vida do trabalhador, mas, sim, com a produtividade do trabalho.

e)  Canto IX: na manufatura, o trabalhador executa movimentos repetitivos, especializando-se apenas em uma atividade de trabalho. Ele executa sua tarefa de forma automática, seguindo o movimento da máquina, sem nenhuma criatividade, tornando-se um trabalhador limitado em seu conhecimento.

f)    Canto XI: essa estrofe refere-se ao trabalho exercido por homens e mulheres, velhos, moças e crianças, tornados servos do trabalho coletivo que produz a rede. Carlos Brandão explica, em uma nota de rodapé, que, em Fortaleza, na produção de redes, além do trabalho na oficina, também são realizadas tarefas de acabamento das redes, como as “varandas”, nas casas dos trabalhadores. São os chamados trabalhos em domicílio, nos quais as pessoas de uma mesma família, de diferentes idades, trabalham. Lembre que o trabalho em domicílio existe, ainda hoje, por exemplo, nas indústrias de confecção e de calçados.

g)  Canto XII: o trabalho exercido na produção de uma mercadoria, a rede, submete o trabalhador e o seu corpo às determinações de seu patrão, aquele que lhe paga o salário. Seu corpo, suas energias, sua força de trabalho são vendidos em troca de um salário e usados na produção de uma mercadoria que não lhe pertence.

h)  Canto XIV: na manufatura, o corpo do operário parece ser um prolongamento da máquina – seus braços, mãos e pés põem em movimento a máquina e são movidos por ela. O corpo, a força de trabalho do trabalhador, torna-se um objeto que ele vende em troca de seu meio de vida, aquilo que lhe permite sobreviver e retornar, todo dia, ao local de trabalho, reproduzindo a sua servidão à máquina e ao patrão.

Aqui introduziremos conceitos como divisão social do trabalho, divisão sexual e etária do trabalho, relações de trabalho, processo de trabalho e alienação.

Divisão social do trabalho e divisão manufatureira do trabalho

A sociedade moderna teve início em meados do século XV, e sua constituição foi marcada pelos processos de urbanização, que se iniciaram no século XII, e de industrialização, que viriam a se intensificar na Inglaterra, no século XVIII. Essa sociedade resultou de um processo de transformação, em que se constituíram um novo modo de trabalhar, relações sociais diferentes e um novo modo de vida marcado pelo desenvolvimento industrial.

Como forma de compreender melhor esse processo histórico, leia
com os alunos o texto a seguir:

O esfacelamento do mundo feudal consistiu em um longo processo, no qual as velhas formas de trabalho artesanal foram sendo substituídas pelo trabalho em domicílio, a partir do campo, produzindo para as indústrias em desenvolvimento nas cidades. Assim, durante o século XIV, foram desenvolvidas as indústrias rurais em domicílio, como forma de aumentar a produção. Os comerciantes distribuíam a matéria-prima nas casas dos camponeses e ali era executada uma parte ou a totalidade do trabalho. Essas indústrias representaram uma forma de transição entre o artesanato e a manufatura e permitiram a acumulação de capital nas mãos desses comerciantes, além de formar mão de obra para o trabalho industrial nas cidades.
(Elaborado especialmente para o São Paulo faz escola)

O termo manufatura é uma palavra vem do latim e quer dizer trabalho manual. Para o seu desenvolvimento foi necessária a existência de dois fatores.

1º fator: Um empresário com capital para comprar a matéria-prima e ferramentas e concentrar em sua oficina um grande número de trabalhadores. Em vez de distribuir esses meios de produção nas casas dos trabalhadores, o comerciante transformado em industrial os junta sob um mesmo teto, criando, assim, a manufatura. Veja o Canto I do poema de Carlos Brandão – o autor está justamente se referindo a esse processo de concentração de produção em um único local.

2º fator: A existência de trabalhadores livres, ou seja, que não são mais donos dos meios de produção e dependem, para a sua sobrevivência, da venda de seu trabalho, ou seja, sua força de trabalho, transformando-se, assim, em trabalhadores assalariados.

Veja o texto a seguir:

A divisão do trabalho existiu em todas as sociedades, desde o momento em que os seres humanos começaram a trocar coisas e produtos, criando uma interdependência entre si. Assim, o artesão troca o produto de seu trabalho, o tecido, pelo algodão, cultivado pelo agricultor. A base da troca está na necessidade que o indivíduo tem de produtos que ele não produz. A divisão do trabalho deriva, portanto, do caráter específico do trabalho humano e ocorre quando os seres humanos, na vida em sociedade, dividem entre si as diferentes especialidades e ofícios. A divisão do trabalho em ofícios ou especialidades existiu em todas as sociedades conhecidas e um dos seus principais fatores é a divisão sexual do trabalho. Ou seja, havia uma divisão entre especialidades ou ofícios preferencialmente atribuídos às mulheres e outros preferencialmente atribuídos aos homens.
(Elaborado especialmente para o São Paulo faz escola)

Sobre a divisão sexual do trabalho, podemos dar alguns exemplos. A fiação e a tecelagem foram comumente vistas como atividades femininas, enquanto a caça, a pesca e a pecuária eram tidas como atividades masculinas.

Antigamente, eram destinadas às mulheres as ocupações relacionadas com o cuidado da casa, como cozinhar, lavar, limpar e cuidar dos filhos. Hoje, já temos homens cozinheiros, faxineiros etc. Uma ideia muito recorrente em diversas épocas e culturas é a de que existem trabalhos que as mulheres não são capazes de realizar e outros que elas realizariam muito melhor que os homens. Você pode ampliar essa discussão e, junto com os alunos, buscar outros exemplos de trabalhos que antes eram executados só por homens e que hoje são executados por mulheres ou vice-versa.

Retomando o poema de Carlos Brandão, Canto XIV, é possível entender melhor o que, de forma alegórica, o poeta diz.

Para avançar na apresentação de outras questões relacionadas à divisão de trabalho na manufatura, leia o texto abaixo:

A manufatura se estendeu de meados do século XVI ao último terço do século XVIII, sendo substituída pela grande indústria. Na manufatura, foram introduzidas algumas inovações técnicas que modificaram a forma como o trabalho era organizado. Aos poucos, o trabalhador foi deixando de ser responsável pela produção integral de determinado objeto e passou a se dedicar unicamente a uma atividade. A divisão do trabalho foi acelerada, fazendo que um produto deixasse de ser obra de um único trabalhador e se tornasse o resultado da atividade de inúmeros trabalhadores. Dessa maneira, o produto passava por vários trabalhadores, cada um acrescentando alguma coisa a ele e, no final do processo, o produto era o resultado não de um trabalhador individual, mas de um trabalhador coletivo. Essa é a divisão do trabalho que persiste na sociedade capitalista, e que se caracteriza pela especialização das funções, ou seja, pela especialização do trabalhador na execução de uma mesma e única tarefa, especializando também o seu corpo nessa operação.
Na divisão manufatureira do trabalho, o ser humano é levado a desenvolver apenas uma habilidade parcial, limitando o conjunto de habilidades e capacidades produtivas que possuía quando era artesão. É isso que torna o trabalhador dependente e o faz vender a sua força de trabalho; e esta só serve quando comprada pelo capital e posta a funcionar no interior da oficina. Segundo Karl Marx, essa divisão do trabalho tinha como objetivo o aumento da produtividade e o aperfeiçoamento do método de trabalho e teve como resultado o que ele chama de “a virtuosidade do trabalhador mutilado”[1], com a especialização dos ofícios. Na manufatura, portanto, a produtividade do trabalho dependia da habilidade (virtuosidade) do trabalhador e da perfeição de suas ferramentas, e já havia o uso esporádico de máquinas. Foi apenas com o surgimento da grande indústria que a máquina passou a desempenhar um papel fundamental, primeiro, com base na mecânica, depois, na eletrônica e, atualmente, na microeletrônica.
(Elaborado especialmente para o São Paulo faz escola)

Veja o texto abaixo:

Uma das características mais distintivas do sistema econômico das sociedades modernas é a existência de uma divisão do trabalho extremamente complexa: o trabalho passou a ser dividido em um número enorme de ocupações diferentes nas quais as pessoas se especializam. Nas sociedades tradicionais, o trabalho que não fosse agrário implicava o domínio de um ofício. As habilidades do ofício eram adquiridas em um período prolongado de aprendizagem, e o trabalhador normalmente realizava todos os aspectos do processo de produção, do início ao fim. Por exemplo, quem trabalhasse com metal e tivesse que fazer um arado iria forjar o ferro, dar-lhe a forma e montar o próprio implemento. Com o progresso da produção industrial moderna, a maioria dos ofícios tradicionais desapareceu completamente, sendo substituída por habilidades que fazem parte de processos de produção de maior escala. Um eletricista que hoje trabalhe em um ambiente industrial, por exemplo, pode examinar e consertar alguns componentes de um tipo de máquina; diferentes pessoas lidarão com os demais componentes e com outras máquinas. A sociedade moderna testemunhou uma mudança na localização do trabalho. Antes da industrialização, a maior parte do trabalho ocorria em casa, sendo concluído coletivamente por todos os membros da família. Os avanços na tecnologia industrial, como o uso do carvão, contribuíram para a separação entre trabalho e casa. As fábricas de propriedade dos empresários tornaram-se foco de desenvolvimento industrial: maquinários e equipamentos concentraram-se dentro destas, e a produção em massa de mercadorias começou a ofuscar a habilidade artesanal em pequena escala, que tinha a casa como base. As pessoas que procurassem emprego em fábricas eram treinadas para se especializarem em uma tarefa, recebendo um ordenado por esse trabalho. O desempenho era supervisionado pelos gerentes, os quais se preocupavam em implementar técnicas para ampliar a produtividade e a disciplina dos trabalhadores.
O contraste que existe na divisão do trabalho entre as sociedades tradicionais e as modernas é verdadeiramente extraordinário. Mesmo nas maiores sociedades tradicionais, geralmente não havia mais do que 20 ou 30 ofícios, contando funções especializadas como as de mercador, soldado e padre. Em um sistema industrial moderno, existem literalmente milhares de ocupações distintas. O censo do RU [Reino Unido] lista cerca de 20 mil empregos diferentes na economia britânica. Nas comunidades tradicionais, a maior parte das pessoas trabalhava na agricultura, sendo economicamente autossuficiente. Produziam seus próprios alimentos, suas roupas, além de outros artigos que necessitassem. Um dos aspectos principais das sociedades modernas, em contraste, é uma enorme expansão da interdependência econômica. Para termos acesso aos produtos e aos serviços que nos mantêm vivos, todos nós dependemos de um número imenso de trabalhadores – que, hoje em dia, estão bem espalhados pelo mundo. Com raras exceções, a vasta maioria dos indivíduos nas sociedades modernas não produz o alimento que come, a casa onde mora ou os bens materiais que consome.
Os primeiros sociólogos escreveram extensivamente a respeito das consequências potenciais da divisão do trabalho – tanto para os trabalhadores em termos individuais, quanto para toda a sociedade. Para Marx, a mudança para a industrialização e a mão de obra assalariada certamente resultaria numa alienação entre os trabalhadores. Uma vez que estivessem empregados numa fábrica, os trabalhadores perderiam todo o controle do seu trabalho, sendo obrigados a desempenhar tarefas monótonas, de rotina, que despojariam seu trabalho do valor criativo intrínseco. Em um sistema capitalista, os trabalhadores acabam adotando uma orientação instrumental para o trabalho, afirmava ele, vendo-o como nada mais do que uma maneira de ganhar a vida.
(GIDDENS, Anthony. Sociologia. 4. ed. Porto Alegre: Artmed, 2006. p. 309)

Para demonstrar como no capitalismo, com o aumento da divisão do trabalho, cada trabalhador passou a depender cada vez mais das atividades de outro trabalhador para conseguir viver, basta observar como precisamos das atividades de outras pessoas para sobreviver. É possível, portanto, discutir, a partir da observação de como a sociedade está organizada, que os indivíduos possuem ocupações diversas, interdependentes entre si e que garantem a dinâmica de funcionamento da sociedade. Dependemos de padeiros, açougueiros, agricultores etc. para obter alguns itens básicos de nossa alimentação; do motorista de ônibus ou maquinista de trem para nos deslocarmos pela cidade; do inspetor e de faxineiros, por exemplo, para estar em um espaço escolar em ordem e limpo; de pessoas na secretaria da escola para resolver questões administrativas etc. Sinta-se à vontade para formular outros exemplos com base em suas vivências e experiências.

Relações de trabalho e alienação

Retomemos os cantos VII e VIII do poema de Carlos Brandão. Isso permitirá esclarecer o que Marx chama de sujeição ou submissão do trabalho ao capital, ou o controle exercido pelo dono da manufatura sobre o trabalho e os trabalhadores. Tendo o poema como inspiração, leia o texto a seguir com o objetivo de aprofundar essa discussão.

A produção capitalista pressupõe, como já vimos, a existência do trabalho livre, e não a servidão e a escravidão. O trabalhador é livre, porém não dispõe dos meios de trabalho e de vida. Portanto, para a sua sobrevivência, ele precisa vender a única propriedade de que dispõe: a sua força de trabalho. O trabalhador, por conseguinte, submete-se ao domínio do capital, aceitando suas imposições e determinações.
O objetivo maior que direciona todo o processo de produção capitalista é a maior produção de mais-valia[2], e, portanto, a maior exploração possível da força de trabalho.
A dominação do capital sobre o trabalho tem o objetivo de garantir a exploração do processo de trabalho social. Com isso, a dominação tem como condição o antagonismo inevitável entre o capitalista e o trabalhador.
Para os trabalhadores, entretanto, a cooperação imposta pela divisão do trabalho não significa a percepção de sua força como grupo. A relação que estabelecem é com o capital, e não entre si. O trabalhador torna-se incapaz de perceber que a riqueza que ele desenvolve é produto de seu trabalho, como também não consegue se reconhecer no produto de seu trabalho. A consequência da divisão do trabalho é a separação, no processo de trabalho, entre concepção e execução do trabalho. A decisão sobre o que produzir e como produzir não é mais responsabilidade do trabalhador, mas, sim, do capital ou de seus representantes. Além disso, o produto, a mercadoria, não resulta de seu trabalho individual, e sim do trabalho de todos. Ele realiza apenas uma parte dela e, assim, o produto do trabalho, a mercadoria, aparece ao trabalhador como algo alheio, estranho a ele. A relação do trabalhador com o produto de seu trabalho é, portanto, de alheamento, de estranhamento. O trabalhador, que colocou a sua vida no objeto, agora se defronta com ele, como se a coisa, a mercadoria, tivesse vida própria, independente, e fosse dotada de um poder diante dele. De fato, assim como o trabalho já não lhe pertence, mas a um outro homem (o proprietário dos meios de produção), o produto de seu trabalho igualmente não lhe pertence. Esse processo é o que Marx chama de relação alienada do homem com outro homem, com o produto de seu trabalho e com o trabalho. Para Marx, então, o trabalho livre, assalariado, é trabalho alienado.
(Elaborado especialmente para o São Paulo faz escola)

Enfatizamos que, no processo de produção capitalista, temos não só a produção de mercadorias, mas essencialmente a produção de relações sociais. Se há capitalistas e trabalhadores, isso implica não só posições definidas no processo de produção, mas também na sociedade. Ocorre a separação entre a concepção e a execução do trabalho; ou seja, o trabalho pode resultar da concepção de uma pessoa e a execução de outra. Isso é produto da divisão do trabalho.

Questões (responder no Google Formulários):
1.   Dê exemplos de trabalhos que antes eram executados só por homens e que hoje são executados também por mulheres.
2.   Dê exemplos de trabalhos que antes eram executados só por mulheres e que hoje são executados também por homens.
3.   Retomemos o canto IX do poema “A trama da rede” e, com a ajuda do texto, escrevam em seus Cadernos o que é a divisão manufatureira do trabalho e quais são as suas implicações para o trabalho e para os trabalhadores.
4.   Qual é a principal diferença entre as sociedades tradicionais e as sociedades modernas no que diz respeito à divisão do trabalho? Quais foram as consequências dessa mudança?
5.   O texto afirma que a sociedade moderna testemunhou uma mudança na localização do trabalho. Quais alterações nas relações de trabalho essa mudança acarretou?
6.   O que é a interdependência econômica que existe hoje nas sociedades modernas?
7.   Ao final do texto, há uma breve explicação das preocupações de Marx em relação às consequências da divisão do trabalho. Explique com suas palavras o que você entendeu desse ponto do texto.
8.   Qual é o objetivo da dominação do capital sobre o trabalho?
9.   O que Marx entende por trabalho alienado?



[1] Marx utiliza o termo “mutilado” para enfatizar a limitação das habilidades do trabalhador, reduzido ao exercício de uma única e repetitiva atividade.

[2] O comprador da força de trabalho ou da capacidade de trabalho não se limita a usá-la somente durante o tempo necessário para repor o valor da força de trabalho, mas, sim, durante um tempo além dele, quando o trabalhador produz, então, um valor excedente, ou uma mais-valia, da qual o capitalista se apropria.

Como explicar e entender a “liberdade de escolha” no mundo em que vivemos?

  HISTÓRIA SITUAÇÃO DE APRENDIZAGEM 1 TEMA: Desigualdades e vulnerabilidades: desafios e caminhos para uma sociedade democrática e inclus...