O objetivo
é apresentar aos alunos a ideia de que o ser humano é um ser social que se
encontra inserido em um conjunto de redes sociais mais amplas (família, amigos,
comunidade religiosa, vizinhança, colegas de trabalho etc.). É como parte
integrante desses grupos sociais que o ser humano adquire sua identidade e os
meios fundamentais para sua sobrevivência.
A partir dessa percepção, deslocaremos o foco para o meio social em que vive o
ser humano: a sociedade. Trata-se de propiciar ao educando o estranhamento de
si mesmo com relação ao espaço (onde), à temporalidade
(quando) e ao modo como vive,
atentando para tudo o que os indivíduos produzem e que faz deles seres humanos e
sociais.
Selecionamos
duas propostas para análise do ser humano como ser social:
a)
Trechos
da obra Robinson Crusoé,
de Daniel Defoe;
b)
Exibição de trechos do Filme Náufrago, de
Robert.
Observação
da obra Robinson Crusoé, de Daniel Defoe
Após
a leitura da obra Robinson Crusoé, de Daniel Defoe, como meio
a partir do qual procuraremos
despertar a reflexão sobre a concepção do ser humano como um ser social.
Nosso
objetivo é introduzir os conteúdos acerca do ser humano como ser social.
Autor: Daniel
Defoe nasceu na Inglaterra, em 1660, filho de burgueses de origem holandesa. Educado
como protestante e dotado de grande espírito crítico, escrevia e distribuía
panfletos criticando o rei católico Jaime II e, posteriormente, a rainha Ana,
que procurou renovar a Igreja Anglicana. Por essa razão, foi preso duas vezes.
Em sua vida, viajou para Portugal e Espanha, onde aprendeu sobre a vida nas
colônias portuguesas e espanholas na América. Escreveu também O capitão Singleton, O coronel Jack, Roxana, O capitão Carleton e sua obra-prima As
aventuras e desventuras de Moll Flanders.
Obra: escrita
em 1719, Robinson Crusoé é a obra que o tornou famoso. O romance foi inspirado na história
verídica de um marinheiro escocês que, por quatro anos, viveu isolado na Ilha
de Juan Fernandez, no Caribe. O livro conta a vida do jovem inglês Robinson Kreutznaer,
logo conhecido como Robinson Crusoé. Tendo gosto por aventuras, torna-se
marinheiro e experimenta toda sorte de peripécias, chegando, inclusive, a viver
por algum tempo no Brasil. Em uma expedição malsucedida rumo à África, o navio
em que viajava encalha e o bote salva-vidas naufraga com todos a bordo. Crusoé
é o único sobrevivente e passa a viver sozinho em uma ilha desabitada, utilizando
apenas os recursos que consegue salvar dos destroços do navio encalhado e sua
própria engenhosidade
para produzir as ferramentas e os utensílios necessários à sua sobrevivência durante
os anos em que vive na ilha.
Análise
da Leitura da obra Robinson Crusoé
Robinson Crusoé
Andei sem rumo pela costa, pensando nos meus
amigos, todos desaparecidos, com certeza mortos. O mar transformara-se em
túmulo, além de carrasco.
Longe, mar adentro, o navio continuava imóvel,
encalhado. Eu estava molhado, sem água e sem comida. Nos bolsos, apenas uma
faca, um cachimbo e um pouco de tabaco. A noite avizinhava-se. Afastada da
praia, encontrei uma pequena fonte de água doce. Matei a sede. Para enganar a
fome, masquei um naco de fumo. Sem abrigo, sem armas e com medo de feras
selvagens, subi numa árvore para passar a noite. Consegui encaixar o corpo
cansado no meio de grossos galhos, sem perigo de cair durante o sono. Adormeci
logo. (p. 23) [...]
O navio, trazido pela tempestade, havia se
deslocado para um ponto bem próximo à praia. Continuava inteiro, sinal de que,
se tivéssemos permanecido a bordo, estaríamos agora todos com vida. (p. 23)
[...] Em primeiro lugar salvei os animais domésticos que viajavam no navio: um
cachorro e quatro gatos. (p. 24) [...] Rapidamente fiz uma revista geral para
ver o que podia salvar da carga. [...] Já havia decidido trazer do navio todas
as coisas possíveis de serem transportadas. Sabia não ter muito tempo: a
primeira tempestade faria o barco em pedaços. (p. 25) [...] Ia para bordo a nado
e voltava sempre com uma nova jangada, aproveitando para salvar assim também o
madeirame do navio. Consegui desse modo valiosas “riquezas” para um náufrago:
machados, sacos de pregos, cordas, pedaços de pano encerado para vela, três pés
de cabra, duas barricas[1] com
balas de mosquete[2],
sete mosquetes, mais outra espingarda de atirar chumbo, uma caixa cheia de
munições, o barril de pólvora molhada, roupas, uma rede, colchões e - surpresa!
– na quinta ou sexta viagem, quando já acreditava não haver mais provisões a
bordo, encontrei uma grande reserva de pão, três barris de rum e aguardentes,
uma caixa de açúcar e um tonel[3]3 de
boa farinha... (p. 25-26) [...]
Meu futuro não parecia tão bom... Na verdade
prometia ser triste, com poucas esperanças de salvação. Sozinho, abandonado
numa ilha deserta, desconhecida e fora das rotas de comércio, não alimentava a
menor perspectiva de sair dali com vida. Já me via velho e cansado, passando
fome, sem forças para nada: morreria aos poucos. Isto se eu não morresse antes,
vítima de alguma tragédia.
Muitas vezes deixei-me levar pelo desânimo. Não
foram poucas as lágrimas que salgaram meu rosto. Nessas ocasiões, recriminava e
maldizia a Deus. Como podia Ele arruinar suas criaturas de modo tão mesquinho,
tornando-as miseráveis, deixando-as ao completo abandono? (p. 29) [...]
Depois de dez dias, fiquei com medo de perder a
noção do tempo. Improvisei um rústico, mas eficiente calendário. [...] Todos os
dias, riscava no poste um pequeno traço. De sete em sete dias, fazia um risco
maior para indicar o domingo. Para marcar o final do mês, eu traçava uma linha
com o dobro do tamanho. Dessa forma, podia acompanhar o desenrolar dos dias,
conseguindo situar-me no tempo.
Entre tantos objetos, havia trazido do navio tinta,
papel e penas para escrever. E, enquanto a tinta durou, mantive um diário,
relatando de forma resumida os principais fatos acontecidos. (p. 30) [...] A
falta de ferramentas adequadas tornava alguns serviços extremamente demorados.
Mas, afinal, para quê pressa? Eu não tinha todo o
tempo do mundo? [...] Também descobri que o homem pode dominar qualquer
profissão que queira... Aos poucos, tratei de deixar mais confortável o meu
jeito de viver. (p. 31) [...]
Foi nessa época que fiquei doente, com febre, e
tive alucinações. Vendo a morte muito próxima, fui incapaz de ordenar minhas
ideias e colocá-las com clareza no papel. Hoje sei que esse período foi um dos
piores da minha vida. A febre veio de mansinho. (p. 36) [...] Num momento de
lucidez, entre um ataque e outro de febre, lembrei-me de que, no Brasil, se
usava fumo para curar a malária. E eu tinha, num dos caixotes, um pedaço de
fumo em rolo e algumas folhas ainda não defumadas. Foi a mão de Deus que me
guiou. Buscando o fumo, achei uma Bíblia, guardada no mesmo lugar.
O fumo curou-me a febre: não sabia como
usá-lo, por isso tentei diversos métodos ao mesmo tempo. Masquei folhas verdes,
tomei uma infusão de fumo em corda com rum, aspirei a fumaça de folhas
queimadas no fogo. Não sei qual dos métodos deu resultado: talvez todos juntos.
A verdade é que sarei em pouco tempo. A Bíblia foi um bom
remédio para a alma. (p. 37) [...]
Sempre quis conhecer a ilha inteira, ver cada
detalhe dos meus domínios. Acreditei que tinha chegado a hora. Peguei minha
arma, uma machadinha, uma quantidade grande de pólvora e munições, uma porção
razoável de comida e pus-me a caminho, acompanhado de meu cão... (p. 42) [...]
Na volta, apanhei um filhote de papagaio. Os colonos brasileiros costumavam
domesticá-los e ensiná-los a falar. Pensei em seguir-lhes o exemplo. (p. 43)
[...]
Foi no início da estação das chuvas. Passando perto
da paliçada[4],
num canto em que o rochedo projetava sua sombra, meus olhos fixaram-se em
pequenos brotos germinando. Nunca tinha visto aquelas plantinhas ali. Curioso,
aproximei-me e acreditei estar presenciando um milagre: uma ou duas dúzias de
pezinhos de milho surgiam da terra. Era milho e da melhor espécie, não havia dvida.
(p. 32) [...] Reconhecido, agradeci à Divina Providência por mais esse cuidado.
Só passado algum tempo é que me lembrei de um fato acontecido dias antes.
Precisava de algo para guardar restos de pólvora. Procurando no depósito da
caverna, achei um velho saco de estopa. Pelos vestígios, no passado servira
para armazenar grãos: no seu fundo havia cascas e migalhas de cereais. Para
limpar o saco, sacudi esses restos num canto, perto da cerca: milagrosamente
haviam germinado! (p. 33) [...]
Precisava de algo para moer o milho e transformá-lo
em farinha. Sem instrumentos para fazer um pilão de uma pedra, fiz um de
madeira, usando a mesma técnica que os índios brasileiros empregavam na
confecção de suas canoas: queimavam a madeira, escavando-a, a seguir, com a
plaina[5].
[...]
Poll, meu papagaio, aprendera a falar e
acompanhava-me aonde quer que eu fosse. Fazia-me bem ouvir outra voz além da
minha: pena não ser de algum homem. (p. 54) [...]
© DEFOE, Daniel. Robinson Crusoé.
Adaptação de ZOTZ, Werner. São Paulo: Scipione, 2010.
Diálogos
sociológicos sobre Robinson Crusoé
A
questão de número 4, por exemplo, teve como objetivo chamar a atenção para o
fato de que Robinson Crusoé, embora estivesse vivendo em condições precárias na
ilha, não direcionava toda a sua energia apenas para a satisfação de suas
necessidades vitais, mas manifestava certos comportamentos distintamente humanos,
como a manutenção de um calendário e o exercício da sua prática religiosa, por
meio da leitura da Bíblia. Esses elementos são importantes componentes de sua identidade humana.
Já a
questão de número 5 teve por objetivo destacar a importância dos conhecimentos
adquiridos no Brasil no episódio do ataque de malária. A
partir
dela, você pode situar a personagem com relação aos seus grupos sociais de origem
e aos demais grupos sociais com que conviveu, enfatizando a importância da
interação com os outros para a sobrevivência do ser humano.
Aqui,
buscaremos, a partir de uma discussão mais aprofundada da obra, realizar
com
os alunos uma reflexão a respeito da questão central: o ser humano é um ser social. Para isso, utilizaremos a situação enfrentada por Robinson
Crusoé, procurando identificar os sentimentos e as atitudes da personagem nos diversos
episódios da narrativa, para construir essa ideia de forma gradativa. Por essa
razão, propomos um formato dialogal, em que o raciocínio é construído com a participação de
todos. Seu papel é oferecer as bases para essa reflexão.
Que
objeto vocês considerariam indispensável ter em mãos, caso se encontrassem em
uma ilha deserta? Por quê? E se, por acaso, vocês se encontrassem em uma ilha
deserta sem absolutamente
nada?
O objetivo
dessa pergunta é provocar a reflexão sobre a capacidade de sobrevivência do ser
humano em condições adversas.
Você
acha que Robinson Crusoé “deu sorte” por ter conseguido resgatar diversos objetos
do navio encalhado?
Ressalta-se
que, em nenhum dos casos, ele tinha todas as condições adequadas
para
viver como um europeu do século XVII, do modo como estava habituado.
Vocês
acham que conseguiriam sobreviver se dispusessem exatamente dos mesmos recursos
que Robinson?
Temos
de atentar para o fato de que Robinson Crusoé:
· era marinheiro, portanto, estava
habituado a trabalhar com madeira, cordas, barcos e velames (conjunto de velas
que ajudam a impulsionar o navio com a força do vento), que faziam parte do seu
dia a dia no navio;
· tinha conhecimentos sobre o uso de
armas de fogo com pólvora (mosquete);
· sabia como abater e esfolar animais,
além de fazer fogo (sem fósforos ou isqueiros) para assá-los e se alimentar
deles;
· vivera em contato com indígenas no
Brasil e conhecia melhor a natureza do que muitos de nós, que vivemos em cidades
e não estamos habituados a cultivar a terra e a caçar animais.
Mesmo
com tudo o que salvara do navio, ele não dispunha de ferramentas adequadas a
todas as atividades que precisava desenvolver para tornar sua vida mais
confortável na ilha, como cultivar a terra e ter onde cozinhar e armazenar alimentos.
O
que o ajudou a superar esses obstáculos?
Essa
pergunta tem por objetivo levar a reflexão sobre o fato de que não basta ter utensílios
e ferramentas para transformar a natureza, é preciso saber utilizá-los e ter conhecimento da sua fabricação, seu uso e sua manutenção.
No caso
de Robinson é um exemplo interessante da união entre conhecimentos de origens diversas:
consigo trouxe para a ilha o conhecimento que detinha como europeu, inglês,
protestante, marinheiro, alfabetizado e, ao mesmo tempo, aquilo que aprendera
nos anos em que vivera no Brasil como plantador de tabaco, tanto com os
colonizadores portugueses como com os nativos brasileiros. Foi essa herança
cultural que tornou possível a transformação dos recursos retirados da natureza
em meios para sua sobrevivência. Pensando dessa forma, reflitamos:
Você
acha que Robinson Crusoé encontrava-se realmente isolado na ilha desabitada em
que vivia?
Fisicamente
sim, mas na realidade ele estava culturalmente ligado à sociedade europeia de onde
viera e, também, às comunidades de colonizadores e indígenas brasileiros com quem
vivera no Brasil, por meio da herança
cultural que lhe foi legada.
Você
acha que Robinson Crusoé teria sobrevivido sem os conhecimentos que ele havia trazido
da Europa e do Brasil?
O instinto de sobrevivência do ser humano é extremamente
forte. Talvez ele tivesse sobrevivido, mas certamente não viveria da forma como
viveu na ilha. Seu modo de vida refletia seu passado em sociedade: marcava os
dias em um calendário (pensava no passado, presente e futuro), escrevia um
diário, lia a Bíblia, usava roupas, sentava-se à mesa para comer e beber, entre
outros exemplos. Pensando dessa forma você
acha que é possível identificar a origem de Crusoé aonde, quando e como ele
vivia, observando
o seu modo de vida?
Sim,
pois os seres humanos são tanto produtores
de cultura como produtos de
sua própria cultura. É
observando os artefatos deixados pelos povos do passado que os arqueólogos, por
exemplo, procuram entender de que maneiras diferentes grupos humanos viviam no
passado.
Imagine
que não tivéssemos acesso ao diário de Robinson Crusoé e estivéssemos estudando
sua ilha anos depois de sua morte. O
que poderíamos dizer sobre ele? Eis
alguns exemplos:
·
saberíamos que aquele homem
encontrava-se em uma ilha e deduziríamos, portanto, que deveria ter chegado ali
em um navio. Deduziríamos também, observando que aproveitara todo o material do
navio, que possuía conhecimentos sobre o uso de seus componentes e que,
possivelmente, exercia alguma função a eles relacionada (marinheiro,
carpinteiro, armeiro, capitão etc.);
·
o uso de armas como o mosquete o situa
entre os séculos XVI e XVIII. Isso pode ser confirmado também pelo uso de tinta
e penas para escrever. Desse modo, Robinson não poderia ter vivido antes ou
depois dessa época;
·
possuía uma Bíblia –
logo, era cristão. Se o arqueólogo que estivesse estudando os vestígios deixados
por Robinson conhecesse a língua em que a Bíblia
estivesse escrita, deduziria que ele,
possivelmente, era inglês.
Além
da profunda ligação com seu grupo social de origem, Robinson sentia a mais
profunda
solidão. Esse sentimento perpassa toda a obra e encontra-se refletido nas
atitudes que ele toma para amenizar o sofrimento causado pela ausência de
outros seres humanos. Ele criou diversos animais, dentre eles um papagaio, ao
qual ensinou a falar.
Destacamos
a importância desse fato. Observe que o papagaio é um animal, dotado de instinto
e não de razão, portanto, sua fala é apenas uma imitação daquilo que o ensinam a
dizer, de modo que Poll apenas repetia a própria fala de Robinson. Era uma
espécie de espelho para ele, de um “eco” de sua própria voz.
Por
que Crusoé ensinou um papagaio a repetir o seu próprio nome, entre outras
frases que imitavam um diálogo, mesmo sabendo que a ave jamais saberia o
que
estava dizendo a ele?
O ser
humano é um ser social, e não consegue sobreviver na ausência de outros seres
humanos. No limite, o papagaio era apenas um substituto para sua necessidade
mais premente: a de imaginar que outra
pessoa estava interagindo com ele.
Espera-se
termos desenvolvido a compreensão de que o ser humano não existe fora da
sociedade, e que os recursos de que se utiliza para sobreviver, comunicar-se e
relacionar-se com os outros compõem sua herança cultural e formam a base de sua
identidade.
Discussão
sobre trechos do filme Náufrago, de Robert Zemeckis
Aqui
também o objetivo é utilizar a situação da personagem para introduzir o tema o
ser humano como ser social. A situação da personagem do filme é muito semelhante
à de Robinson Crusoé, com o diferencial de se passar em uma época muito mais próxima
da nossa realidade do que aquela da obra de Daniel Defoe.
Sinopse:
O filme Náufrago conta
a história de Chuck Noland (interpretado por Tom Hanks), um engenheiro de
sistemas de uma companhia de correios e entregas, que vive para o trabalho. Em uma
de suas inúmeras viagens, o avião da companhia, sobrevoando o Oceano Pacífico, defronta-se com uma
tempestade e uma súbita e inexplicável pane nas turbinas leva-o a uma queda no
mar. Noland consegue acionar o equipamento de emergência e, a bordo de um
pequeno bote salva-vidas, chega a uma minúscula ilha no meio do Oceano Pacífico, onde vive sozinho
durante quatro anos, tendo como recursos apenas algumas caixas com encomendas
da companhia que foram salvas do acidente. Sua única motivação para permanecer
vivo é a lembrança da namorada Kelly (interpretada por Helen Hunt), cuja fotografia ele
mantém em um relógio de bolso que ela havia lhe dado no último encontro antes
do acidente. (Elaborado especialmente para o São Paulo faz escola).
O filme tem duração total de 144 minutos, e seria interessante
assisti-lo.
Aqui selecionamos
cenas, cuja ordem de exibição não compromete a sequência narrativa e atende perfeitamente
ao objetivo de discutir a questão central desta reflexão: o ser humano é um ser social.
As
cenas selecionadas são as de número 9, 10, 11, 12, 13 e 16, as quais, juntas,
totalizam cerca de 35 minutos.
Reflexão
sobre o filme
Até
agora, tivemos a oportunidade de pensar sobre a situação vivenciada pela
personagem do filme. As perguntas de interpretação do conteúdo assistido a que
eles
responderam deverão servir de base para a reflexão.
As
questões de número 6, 7 e 8, por exemplo, tiveram por objetivo chamar a atenção
para o fato de que Chuck Noland, embora estivesse vivendo em condições
precárias na ilha, não direcionava toda a sua energia apenas para a satisfação
de suas necessidades vitais, mas manifestava certos comportamentos
distintamente humanos, como o sepultamento de seu colega de trabalho, Albert
Muller. Esses elementos são importantes componentes de sua identidade humana.
Já a questão de número 11 teve por objetivo
destacar a importância dos conhecimentos que ele detinha no episódio da tentativa de fazer fogo. Saber
que para iniciar um processo de combustão é preciso combinar oxigênio,
combustível e calor é um conhecimento adquirido a partir da convivência com
outros grupos sociais, mostrando a importância da interação com os outros para
a sobrevivência do ser humano.
Aqui buscaremos,
a partir de uma discussão mais aprofundada do filme, realizar com os alunos uma
reflexão a respeito da questão central: o
ser humano é um ser social. Para isso,
utilizaremos a situação enfrentada por Chuck Noland, procurando identificar os sentimentos
e as atitudes da personagem nos diversos episódios da narrativa, para construir
essa ideia de forma gradativa.
Que
objeto você consideraria indispensável ter em mãos, caso
se encontrassem em uma ilha deserta? Por quê?
Observe que a pergunta induz, necessariamente, à escolha de
um objeto.
E
se, por acaso, você se encontrasse em uma ilha deserta sem absolutamente nada?
O objetivo dessa pergunta é provocar a reflexão sobre a
capacidade de sobrevivência do ser humano em condições adversas.
Você
acham que Chuck Noland “deu sorte” por ter podido salvar alguns objetos das caixas
da companhia de entregas por ele encontradas?
Ressalta-se
que, em nenhum dos casos, ele tinha todas as condições adequadas para viver
como um estadunidense do século XX, do modo como estava habituado.
Você
acha que conseguiria sobreviver se tivessem exatamente os mesmos recursos de
que Chuck Noland dispunha?
Atentamos
para o fato de que Noland era engenheiro de sistemas e morava em Memphis, uma
cidade grande no Estado da Virgínia, nos Estados Unidos. Sabia pouco, portanto,
sobre como viver em um ambiente tropical.
E
se você estivesse em uma ilha onde nevasse e fizesse muito frio? Como Noland sabia
que era preciso esfregar dois pedaços de madeira para fazer fogo? Será que
vocês também teriam tido a mesma ideia, se não tivessem assistido ao filme?
Talvez
apresentemos soluções “mágicas”, como, por exemplo, “eu teria um canivete
escondido no bolso”, ou “eu sempre levo um isqueiro comigo”. Desafio-o, a
partir da à situação enfrentada pela personagem no filme, apresentar as
soluções. Chamamos a atenção para o fato de que, inicialmente, Noland optou por
não abrir as caixas da companhia de entregas. Naquele momento, ele
dispunha apenas das próprias mãos e da própria engenhosidade para resolver seus
problemas.
Um
exemplo é o funeral que realizou para o seu colega de trabalho, Albert Muller. Os rituais realizados por Noland
expressam, em grande parte, nossas crenças e os hábitos culturais que herdamos
ao lidar com a morte. O modo como ele
sepultou o corpo – enterramento –, o fato de ter coberto o rosto do cadáver, o
gesto de ter colocado junto ao morto seus objetos pessoais – a carteira e,
junto ao peito, a foto da família – são gestos simbólicos que aprendemos convivendo em
sociedade. Também andava vestido, usava calçados, procurava alimentar-se de
carne de caranguejo cozida e, mais importante ainda, buscava comunicar-se com
outros seres humanos, primeiro por meio da linguagem oral (chamando por socorro)
e, depois, escrita (escrevendo a palavra “socorro” na areia com os pés e depois,
com pedaços de madeira).
Pensando
dessa forma: Você acha que é possível identificar
a origem de Chuck Noland aonde, quando e como ele vivia, observando o seu modo
de vida?
Sim.
Afinal, os seres humanos são tanto produtores
de cultura como produtos de
sua própria cultura. É
observando os artefatos deixados pelos povos do passado que os arqueólogos, por
exemplo, procuram entender de que maneiras diferentes grupos humanos viviam no
passado.
Imagine
que Noland não tivesse sobrevivido e chegássemos à ilha anos depois de sua morte.
O que poderíamos dizer sobre
ele? Eis alguns exemplos:
·
um homem viveu ali, pois deixou marcas
da sua presença (objetos de fabricação humana, restos de fogueira, cocos verdes
abertos);
·
esse homem estava de alguma forma
ligado à empresa estadunidense de entregas, uma vez que parte dos objetos
encontrados com etapas empreendidas para abri-los.
O
que levou Noland a utilizar aqueles recursos para abrir o coco? Na tua opinião,
ele poderia ter utilizado outro utensílio?
Destacamos
o fato de a pedra ser mais dura que o coco.
Você
parou para pensar sobre isso?
A mesma
questão vale para as tentativas de fazer fogo. Como Noland sabia que esfregar pedaços de madeira,
um contra o outro, seria eficiente para fazer fogo? Onde será que ele aprendeu
isso?
Enfatizamos que ele combinou seus conhecimentos com sua criatividade, buscando
alternativas, a partir de sucessivas tentativas e erros, para encontrar soluções
para um problema.
O comportamento do ser humano, como ser racional,
caracteriza-se pela combinação destes dois fatores: a união dos conhecimentos herdados
dos seus grupos sociais de origem e sua própria capacidade de raciocinar, questionar,
criar e resolver problemas. Foi essa herança cultural que tornou possível a transformação
dos recursos retirados da natureza em meios para a sobrevivência. Pensando dessa
forma, reflitamos:
Você
acha que Chuck Noland encontrava-se realmente isolado na ilha desabitada em que
vivia?
Fisicamente
sim, mas na realidade ele estava culturalmente ligado à sociedade estadunidense de
onde viera e, também, às diversas sociedades ao redor do mundo com quem mantivera
contato em suas inúmeras viagens como funcionário da companhia de entregas.
Você
acha que Chuck Noland teria sobrevivido sem os conhecimentos que ele havia
trazido dos Estados Unidos?
O instinto de sobrevivência do ser humano é extremamente
forte. Noland talvez tivesse sobrevivido, mas certamente não viveria da forma
como viveu na ilha. Seu modo de vida refletia seu passado em sociedade.
·
a presença desse homem na ilha só pode
ter se dado a partir de 1994, quando a empresa de entregas passou a adotar, oficialmente,
aquele logotipo;
·
na década de 1990, as fitas de
videocassete VHS ainda eram bastante difundidas, de modo que podemos situar o
período em que esse homem viveu na ilha mais ou menos nessa época;
·
as marcas que ele deixou na pedra indicam
que ele tinha conhecimentos matemáticos e sabia fazer cálculos, logo, era
alfabetizado, e, como utilizava o sistema de milhas, e não de quilômetros,
provavelmente era estadunidense ou inglês.
Além
da profunda ligação com seu grupo social de origem, Noland sentia a mais
profunda solidão. Esse sentimento perpassa todo o filme e encontra-se refletido
nas atitudes que ele toma para amenizar o sofrimento causado pela ausência de
outros seres humanos. A principal delas é a criação de um amigo imaginário,
Wilson. Destacamos a importância desse fato. Observe que Wilson é, na realidade,
uma bola de vôlei, com uma marca de sangue que representa um rosto, incapaz de
falar. Portanto, sua “fala” é apenas imaginada por Noland. Nesse sentido, Wilson
servia apenas de contraponto para um diálogo imaginário. Era uma espécie de espelho
para Noland, de um “eco” de sua própria voz. A partir da marca deixada por ele
– uma marca distintamente humana, de sua mão, com seu próprio sangue –, Noland desenha
um rosto e começa a conversar com ele, o que pode ser interpretado como uma
projeção de toda a angústia causada pela falta da presença de outros seres humanos.
Aos poucos, esse rosto assume uma identidade e torna-se outra pessoa, fora
dele, com quem Noland dialoga e passa a viver em sociedade.
Em
que momento, exatamente, essa sociedade se formou?
A
partir do instante em que Noland se dirige a Wilson, procurando estimar qual sua
posição geográfica com base em sua recapitulação dos fatos e eventos que
antecederam o acidente, e passa a utilizar a primeira pessoa do plural, o
pronome pessoal “nós”.
Por
que Noland passa a falar com Wilson, mesmo sabendo que ele era apenas uma bola de
vôlei suja de sangue?
O
ser humano é um ser social, e não consegue
sobreviver na ausência de outros seres humanos. No limite, a bola de vôlei com
a carinha pintada, batizada de Wilson, era apenas um substituto para sua
necessidade mais premente: a de imaginar que outra
pessoa estava interagindo com ele.
Esperamos
que tenha desenvolvido a compreensão de
que o ser humano não existe fora da sociedade, e que os recursos de que utiliza
para sobreviver, se comunicar e se relacionar com os outros compõem sua herança
cultural e formam a base de sua identidade enquanto ser humano.
[3] Grande recipiente de madeira formado
por dois tampos planos e tábuas encurvadas unidas por aros metálicos.
Questões:
1.
Quais são as primeiras coisas que
Robinson Crusoé faz ao despertar em terra, após o naufrágio?
2.
Ao descobrir que o navio, trazido pela
tempestade, encontrava-se próximo à praia e continuava inteiro, Robinson decide
ir até ele e ver o que podia salvar da carga. Que tipo de utensílios e
ferramentas ele recupera do navio e por que os considera valiosas “riquezas”
para um náufrago?
3.
Descreva as condições em que Robinson
se viu, nos primeiros meses de seu exílio na ilha, e o seu estado de espírito.
4.
Alguns comportamentos adotados por Robinson
Crusoé não são relacionados diretamente à satisfação de necessidades básicas
como alimentação, abrigo e descanso. Dentre as atividades citadas na obra,
descreva duas que não se referem propriamente à sobrevivência.
5.
Em diversos momentos do texto,
Robinson utiliza-se de conhecimentos adquiridos no Brasil para atingir um
objetivo. Você pode citar alguns exemplos?
6.
Originalmente,
Robinson era marinheiro e explorador. Não conhecia muito dos ofícios que viria
a desenvolver na ilha. Com base na leitura do texto, cite o que ele aprendeu a
fazer, nos anos em que viveu isolado, tendo apenas as poucas ferramentas que recuperara
do navio e os conhecimentos que detinha na época (século XVII).
7.
Durante os anos em que viveu sozinho
na ilha, Robinson criou diversos animais de estimação, dentre eles um papagaio
chamado Poll, ao qual ensinou a falar. Você poderia explicar por que ele fez
isso?
8.
Quais são as primeiras coisas que Chuck
Noland faz ao despertar na praia, após o acidente?
9.
De que formas Noland procura se
comunicar para pedir socorro?
10.
Ao descobrir os cocos verdes, Noland procura
abri-los a fim de beber a água e alimentar-se da polpa. Enumere a ordem 2 das
etapas empreendidas no esforço para abri-los.
(4)
Utilizar uma pedra para parti-los.
(1)
Atirá-los contra uma parede de pedra.
(6)
Utilizar duas pedras combinadas, uma como
martelo, outra como cinzel, para furar o coco.
(2)
Esmurrar o coco contra a parede de pedra.
(5)
Utilizar uma pedra lascada como
ferramenta para cortar a casca.
(3)
Tentar abri-los esmurrando-os contra
uma rocha pontiaguda.
11.
A certa altura, Noland saiu em
exploração pela beira da água. Quais eram seus objetivos?
a)
Descobrir onde estava.
b)
Reconhecer o território.
c)
Perceber os limites geográficos do
local.
d)
Encontrar outros seres humanos.
e)
Todas as alternativas anteriores.
12.
Quais foram suas descobertas?
13.
Durante a expedição, Noland avista o
que parece ser um dos seus companheiros do acidente. Desesperado, corre até
ele, mas, ao chegar, encontra apenas um cadáver. Com base no que você viu no filme,
responda: O que levou Noland a correr desesperadamente em direção àquilo que
vira do ponto mais alto da ilha?
14.
Ao constatar que seu colega de
trabalho estava morto, por que Noland se deu ao trabalho de trazer o corpo até
a ilha e enterrá-lo?
15.
Quais são os rituais que Noland
realizou durante o funeral?
16.
Quais foram os objetos que Noland
encontrou ao abrir as caixas recolhidas do acidente?
a)
Relógio de bolso, pager,
vestido, fitas de videocassete, papéis de divórcio, bola de vôlei, patins de
gelo.
b)
Cartão de aniversário, lanterna, fitas
de videocassete, vestido, bola de vôlei, patins de gelo, plástico bolha.
c)
Papéis de divócio, fitas de videocassete, bola de
vôlei, patins de gelo, cartão de aniversário, pager, sapatos pretos.
d)
Fitas de videocassete, papéis de divórcio,
cartão de aniversário, bola de vôlei, patins de gelo, vestido.
17.
Descreva, com suas próprias palavras,
de que modo a personagem utiliza esses objetos para transformar os recursos
naturais e mesmo aquilo de que dispunha em meios para a sua sobrevivência.
18.
Como Noland conseguiu fazer fogo?
Descreva as etapas percorridas para que ele conseguisse e os fatores que o
levaram a ter sucesso.
19.
Quem é Wilson?