quinta-feira, 19 de maio de 2016

Filme sobre a ditadura tem sessão cancelada pela embaixada brasileira em Paris: "assunto espinhoso"

O documentário brasileiro "Retratos de Identificação" que tinha uma projeção-debate agendada para o próximo dia 31 de maio, teve sua sessão cancelada pela Embaixada brasileira em Paris.


O evento havia sido organizado pela Associação Alter'Brasilis. Segundo os organizadores, o cancelamento da sessão foi feito via telefone.

A página oficial do filme no Facebook divulgou o ocorrido. "Sinal dos tempos?"

Dirigipor Anita Leandro, o documentário mostra que, na época da ditadura militar, os presos políticos eram fotografados em diferentes situações: desde investigações e prisões até em torturas, exames de corpo de delito e necropsias. No filme, dois sobreviventes à tortura vêem, pela primeira vez, as fotografias relativas as suas prisões. Antônio Roberto Espinosa, o então comandante da organização VAR-Palmares, testemunha sobre o assassinato  de Chael Schreier, com quem conviveu na prisão. Já Reinaldo Guarany, do grupo tático armado ALN, relembra sua saída do país em 1971, em troca da vida do embaixador suíço Giovanni Bucher, conta como foi sua vida no exílio e fala sobre o suicídio de Maria Auxiliadora Lara Barcellos, com quem vivia em Berlim. Com essas revelações e testemunhos, segredos de um passado obscuro do país voltam a tona.

Confira o trailer do documentário:





Chomsky: 'Dilma foi impichada por uma gangue de ladrões'

'Uma liderança política que não roubou está sendo impichada por uma gangue de ladrões. É claro que isso é um golpe.'


Enquanto os protestos no Brasil sobre o voto dos legisladores para suspender a presidente Dilma Rousseff do cargo e levá-la a julgamento continuam, Noam Chomsky nota que “tem-se uma liderança política que não roubou para benefício próprio e que está sendo impichada por uma gangue de ladrões, que o fizeram. Isso conta como um golpe brando”.

O substituto de Rousseff, o vice-presidente do Brasil, Michel Temer, é membro do partido de oposição PMDB, que está envolvido em um escândalo de corrupção massiva envolvendo a estatal petrolífera Petrobras, e agora apontou um Gabinete exclusivamente branco e masculino acusado de implementar políticas pró-corporações.

AMY GOODMAN: E sobre o que está acontecendo agora no Brasil onde os protestos sobre o voto dos legisladores para suspender a presidente Dilma Rousseff do cargo e levá-la a julgamento continuam? Agora, El Salvador recusou reconhecer o novo governo brasileiro. O presidente Salvadorenho Salvador Sanchéz Cerén disse que a expulsão de Rousseff tem a “aparência de um golpe de estado”. O que está acontecendo lá para você? Pareceu talvez que Bush salvou a América Latina simplesmente por não focar nela, totalmente implicado com Iraque e Afeganistão. Parece que a administração Obama está prestando um pouco mais de atenção.


NOAM CHOMSKY: Bom, eu não acho que é sobre não prestar atenção. A América Latina tem, até um certo ponto, se libertado da dominação estrangeira – principalmente dos EUA – nos últimos 10 ou 15 anos. Isso é um desenvolvimento dramático em políticas externas. É a primeira vez em 500 anos. É uma grande mudança. Então a chamada falta de atenção se dá parcialmente pelo fato deque os EUA estão sendo retirados do hemisfério. Eram capazes de derrubar governos, emplacar golpes por mera vontade. Eles tentam. Houve três – dependendo do modo como você conta – golpes ou tentativas nesse século. Um na Venezuela em 2002 que foi vitorioso por dois dias, apoiado pelos EUA, derrubado pela reação popular. Um segundo no Haiti em 2004, vitorioso. Os EUA e a França – o Canadá ajudou – sequestraram o presidente, o mandaram para a África Central, e não permite que seu partido concorra a eleições. Esse foi um golpe vitorioso. Em Honduras, com Obama, teve um golpe militar que depôs um presidente reformista. Os EUA estavam praticamente sozinhos legitimando o golpe, dizendo que as eleições sob o regime autocrático eram legítimas. A sociedade de Honduras, sempre muito pobre e oprimida tornou-se uma câmara dos horrores. Um grande fluxo de refugiados, os jogamos de volta à fronteira, de volta à violência, a qual ajudamos a criar. No Paraguai, houve um tipo de semi-golpe. Também para livrar o país de um padre progressista que estavam comandando o país por um período breve.


O que está acontecendo no Brasil agora, é extremamente infeliz em muitos aspectos. Primeiramente, existe um nível de corrupção massivo. Infelizmente, o Partido dos Trabalhadores (PT), o partido do Lula, que teve uma oportunidade real de alcançar algo significante, e até fez algumas mudanças positivas, se juntou aos demais – à roubalheira da elite tradicional. E isso deveria sofrer punição. Por outro lado, o que está acontecendo agora, o que você parafraseou de El Salvador, na minha opinião, está correto. É um tipo de golpe brando. A elite sempre detestou o PT e está usando essa oportunidade para se livrar do partido que ganhou as eleições. Eles não estão esperando pelas eleições, que eles provavelmente perderiam, mas eles querem se livrar do partido, explorando uma economia em recessão, que é séria, e a corrupção em massa que está sendo exposta.
 
Mas até mesmo com apontou o The New York Times, Dilma Rousseff é talvez a única figura política que não roubou para benefício próprio. Ela está sendo acusada de manipulações financeiras, que são muito comuns em muitos países, tirando de um bolso para por em outro. Talvez seja um delito de algum tipo, mas certamente não justifica impeachment. De fato, tem-se uma liderança política que não roubou e que está sendo impichada por uma gangue de ladrões, que o fizeram. Isso conta como um golpe brando.

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segunda-feira, 16 de maio de 2016

“As elites tradicionais voltaram ao poder. E elas fazem o que querem” , diz correspondente alemão

Em artigo publicado na emissora pública alemã Deutschlandfunk neste sábado (14/05), o correspondente do jornal Die Zeit no Brasil, Thomas Fischermann, comenta a composição do ministério recém-nomeado pelo presidente interino Michel Temer.
“Nenhum negro faz parte dele [do ministério] – e isso neste colorido país de tantas culturas. E também nenhuma mulher. O Ministério das Mulheres [e da Igualdade Racial, da Juventude e dos Direitos Humanos] foi até extinto”, escreve. Fischermann questiona se a escolha da nova equipe do governo é um reflexo da “estupidez ou do desespero”.
Para o jornalista, Temer acaba de enviar um sinal claro de que os velhos tempos estão voltando ao Brasil. “As elites tradicionais voltaram ao poder. E elas fazem o que querem”, comenta.
(…)
À base de poder do presidente interino pertencem barões de regiões de minas e agrícolas, reis da motosserra do Amazonas e capitães da indústria de ramos da economia dependentes de subvenções, comenta o jornalista. “E não são poucos deles que são alvo de acusações de corrupção, e alguns devidamente condenados”, conclui.

Disponível:http://www.diariodocentrodomundo.com.br/essencial/as-elites-tradicionais-voltaram-ao-poder-e-elas-fazem-o-que-querem-diz-correspondente-alemao/, acesso em 16.05.2016, as 15h40.

"Assim como na Ditadura, imprensa de hoje tem parte no que aconteceu", diz especialista

Na tarde do dia 12 da maio de 2016, o jornalista residente em LondresMaurício Moraes e o professor da Fundação Getúlio Vargas Yuri Carajelescov analisaram a cobertura midiática sobre o processo de impeachment, em conversa mediada pelo diretor de redação Brenno Tardelli. Para Maurício, no exterior o clima "é de assombro" após a abertura do processo no Senado.
Moraes conta que, no início da crise política, a narrativa dos jornais ainda "não era muito fiel aos fatos, porque reproduzia o que via na mídia brasileira". No entanto, logo após a votação do processo na Câmara dos Deputados, a tônica mudou.
"Aí o Brasil caiu no descrédito. Hoje, após a votação no Senado, a imagem é de uma República das Bananas, dada a série de episódios. A imagem é péssima e essa é inclusive uma das novas missões do presidente interino", explicou ao Justificando.
Para Carajelescov, talvez a própria mídia nacional dê cabo dessa imagem ruim. Segundo o jurista Professor da FGV, agora as revistas e jornais construirão uma imagem tão heróica de Temer que, em questão de semanas, ecoará a pergunta:"Como é que a gente não tinha descoberto esse homem antes para resolver todos os nossos males?"

Influência da mídia na imagem política do país não é de hoje

Sob as vestes da "imparcialidade", as mídias tradicionais continuam produzindo notícias que se passam como "neutras", quando, na verdade, são filtradas pela ideologia das empresas. Segundo Maurício, esse processo talvez faça parte de nossa tradição hipócrita em agir de maneira velada, para "não pegar mal". Como no Verão, em que se faz"topless no Carnaval, mas o mesmo topless é mal visto nas praias".
Dessa maneira, o jornalista acredita que"imprensa tem sido parte daquilo que está acontecendo, como aconteceu na ditadura". A diferença, explica, é que, atualmente, o golpe não é mais de generais, mas um "golpe institucional" com participação midiática.
É, de fato, notável a semelhança entre a cobertura midiática dos anos 60, quando se iniciou a Ditadura Militar brasileira, com a que se faz hoje. Carajelescov conta que, na época, os jornais "brindavam a volta da democracia", propositadadamente ou não. Por isso, acredita que há hoje um"golpe cínico, mais sofisticado", fruto "da péssima transição que fizemos da ditadura para a democracia".

Regulamentar é fomentar a democracia

Atualmente, tramita no STF a ADO 10 do PSOL, que questiona a regulamentação da mídia. O tema é a caixa de marimbondos da qual ninguém deseja mexer, muito embora se faça necessário em tempos em que o Brasil vive sob o oligopólio da informação.
Na Inglaterra e em outros países desenvolvidos, Maurício conta que há um processo de regulamentação econômica da mídia que é, basicamente, uma empresa não poder obter o monopólio de uma atividade comercial. "A Argentina", lembra,"mudou esse monopólio".
No Brasil, no entanto, o tema caminha a passos lentos. Ainda que os dois especialistas considerem a pauta de extrema importância, acreditam também que dificilmente cairá aos gostos da opinião pública, vez que "fere o interesse dessas próprias pessoas que comandam as comunicações no país".
Assista ao programa completo:



Sócrates, Jesus e Dilma: análise

Se for feito com Temer o que a oposição fez com ela, temos muito a temer.

Sócrates (469 a.C-399 a.C) foi um filósofo da antiga Grécia, Jesus dividiu a historia humana em duas metades, antes e depois dele e Dilma é a primeira mulher presidenta do Brasil. São muito diferentes, entretanto existem algumas semelhanças entre esses personagens: os três foram condenados.
O que fez Sócrates para ser condenado? Quais foram seus crimes? “Corrompe a juventude”, afirmavam seus opositores. Ora, em que consiste essa “corrupção da juventude”?. Muito simples: perambulava pelas praças de Atenas e dialogava com as pessoas, ensinando-as a pensar, a usar o próprio raciocínio, a não se deixar levar pelo que dizem os outros (pela Globo da época, Veja, Isto é, etc.) e não ser “Maria vai com as outras”. A maiêutica nada mais é do que “parir” ideias. É bom lembrar que a mãe de Sócrates era uma parteira, ajudava as mulheres a arte do parto, a arte de dar a luz, de trazer para o convívio humanoos bebês que tinham cumprido o tempo no ventre materno. E Sócrates, filho dessa mulher, enquanto filósofo, ajudava as pessoas, especialmente os jovens, a “parir” ideias. Esse era o crime cometido por ele, pelo qual ele foi condenado democraticamente a “beber a taça de cicuta”, que em poucos minutos o levou à morte. Pensar sempre foi, e continua sendo, um problema, especialmente para os políticos. A Casa Grande da época sabia disso, como a de hoje.
Jesus também foi condenado, num duplo julgamento, do Sinédrio e do poder político de Roma. Primeiro foi condenado pelos representantes do poder religioso. Qual o crime cometido por Jesus? Apresentar, na sua prática, um projeto“de casa, pão e palavra” para todos, a começar pelos mais excluídos. Isso era impensável, na opinião dos judeus. Terminaria implodindo o sistema religioso como um todo, incluído o Templo de Jerusalém.

Depois foi condenado covardemente pelo poder político, onde Pilatos simplesmente lavou as mãos entregando o acusado a ser crucificado.  Um projeto que priorize casa, pão e palavra para todos, onde é que se viu? Isso é impensável, só cabe na cabeça de pessoas que querem acabar com o nosso modo de vida, pensavam os opositores da ordem e dos bons costumes judaicos. É melhor que morra um antes que o coletivo seja prejudicado.
Dilma também está sendo condenada. Primeiro foi condenada na Avenida Paulista por uma turba de gente “branca”, o Brasil dos ricos, a Casa Grande, que não tolera que as políticas públicas favoreçam prioritariamente as classes populares. Que os excluídos possam ter “casa, pão e palavra”, isso é impensável. Só passa pela cabeça de Lula e Dilma, cuja memória deve ser banida, pois são dois elementos perigosos e perturbadores da “ordem e progresso”. Que os filhos dos pobres possam frequentar as universidades e que o aeroporto vire rodoviária: isso é crime, quem fez isso deve ser  condenado.
Na realidade, não é a Dilma que está em jogo, mas o que ela significa, vale dizer,a democracia, a Constituição, o projeto que ela acalenta e coloca em prática. Ao mesmo tempo, importa entender que ela é a primeira mulher na história do Brasil - antes tinha sido um torneiro mecânico - a ocupar o cardo de Presidente da República. Este fato é intolerável para a Casa Grande.
Na época da ditadura militar o ministro da economia dizia que, primeiro, o bolo econômico tinha que crescer, só depois seria possível repartir. Com Lula, o bolo se repartiu e cresceu. Ao mesmo tempo. Isto a Casa Grande não pode tolerar, na primeira oportunidade ela revida. E o momento é agora.
Por outro lado, depois das últimas eleições, o Brasil ficou dividido. Inicialmente eu pensava que o tempo curaria as feridas, isto não aconteceu. Ao contrário, hoje parece que a ”marolinha” emocional virou um tsunami. Talvez, as duas palavras que melhor possam definir o momento político que vivemos são o ódio e a ambição. O ódio perpassa o tecido social do país, com tanta intensidade que se alguém declararpublicamente suas preferências políticas, desperta nos outros os piores sentimentos a ponto de querer eliminá-lo, como quiseram fazer com Chico Buarque, em São Paulo. Significa que estamos num momento de trevas, que estamos regredindo:no confronto de opiniões, a última referência não é mais a palavra, o diálogo, mas a lei do mais forte que prevalece, a lei do Cu-nha. Ao lado do ódio, o outro sentimento que habita o espaço público é a ambição.
A Assembléia dos Deputados, quando da abertura do processo de impcheament, foi o momento máximo de expressão deste sentimento: os deputados mais pareciam um grupo de crianças brigando e olhando para o próprio narcisismo do que preocupados com o interesse coletivo do Brasil. O mesmo fenômeno se repetiu no Senado, quando os ilustres mandatários exibiram um comportamento de “manada”, ávidos de tomar o lugar de Dilma, mesmo que para isso fosse necessário “inventar” um embasamento jurídico que inexiste no processo que corre no Senado contra ela.
Sempre foi mais fácil apontar os defeitos dos outros do que reconhecer os próprios, sempre foi mais fácil apontar com o dedo as possíveis falhas do vizinho do que fazer uma saudável autocrítica. Isto aconteceu contra Sócrates, aconteceu contra Jesus e está acontecendo,agora, contra Dilma.
Pela triste lógica dos fatos, Dilma é o “bode expiatório” do momento: de todas as coisas ruins do péssimo momento que atravessamos ela é a “culpada”. É verdade que ela cometeu erros, é verdade que a situação política e econômica é muito ruim. Ela, de fato, não governou. Ou melhor, a oposição não a deixou governar. Se for feito com Temer o que a oposição fez com ela, temos muito a temer.
Dizem que Fortuna escolheu os lugares reservados,na linha do tempo, para os acusados e para os acusadores: a estes é concedido um minuto de glória e depois o esquecimento para sempre no Ades, já para os primeiros,após um minuto de muito sofrimento, o lugar dos heróis.
Manuel Losada é psicanalista e professor universitário.
Disponível em http://www.carosamigos.com.br/index.php/artigos-e-debates/6798-socrates-jesus-e-dilma, acesso em 16.05.2016 às 11h07

sexta-feira, 13 de maio de 2016

Infraestrtura e superestrutura em Marx

Infraestrutura e superestrutura em Marx
Por Cristiano das Neves Bodart

Há dois conceitos importantes para a compreensão de todo o pensamento de Karl Marx: infraestrutura e superestrutura.

Ao se dedicar em compreender a organização da sociedade capitalista e sua estrutura social, Marx percebeu que a sociedade estava dividida em infraestrutura e superestrutura. 

Para Marx, a infraestrutura trata-se das forças de produção, compostas pelo conjunto formado pela matéria-prima, pelos meios de produção e pelos próprios trabalhadores (onde se dá as relações de produção: empregados-empregados, patrões-empregados). Trata-se da base econômica da sociedade, onde se dão, segundo Marx, as relações de trabalho, estas marcadas pela exploração da força de trabalho no interior do processo de acumulação capitalista.

A superestrutura é fruto de estratégias dos grupos dominantes para a consolidação e perpetuação de seu domínio. Trata-se da estrutura jurídico-política e a estrutura ideológica (Estado, Religião, Artes, meios de comunicação, etc.).

Para essa consolidação e perpetuação da dominação das classes dominantes estes utilizam de estratégias que demandam ora uso da força, ora da ideologia (MARX, 1993). Um exemplo de um instrumento de uso da força é o Estado, o qual possui o uso da força legitimado pela ideologia. Para Marx, o Estado está sempre à serviço da classe dominante, buscando manter o status quo.

A ideologia é a tática de tornar certas ideias como verdadeiras e aceitas pela sociedade, sendo elas criada pela classe dominante de acordo com seus interesses. Como dizia Marx, 

“As ideias da classe dominante são, em cada época, as ideias dominantes; isto é, a classe que é a força material dominante da sociedade é, ao mesmo tempo, sua força espiritual dominante. A classe que tem à sua disposição os meios de produção material dispõe também dos meios de produção espiritual, de modo que a ela estão submetidos aproximadamente ao mesmo tempo os pensamentos daqueles aos quais faltam os meios de produção espiritual. As ideias dominantes nada mais são que a expressão ideal das relações materiais dominantes, são as relações materiais dominantes apreendidas como ideias; portanto, são a expressão das relações que fazem de uma classe a classe dominante, são as ideias de sua dominação” (MARX, 1993, p. 72). 

O uso da força, muitas vezes, deve ser justificada por ideias coletivamente aceitas; por esse motivo a classe dominante busca produzir e disseminar ideias que legitimem as ações do Estado em prol de seus interesses. Da mesma forma, a ideologia cumpriria o papel de justificar as relações de trabalho e a existência das desigualdades sociais, bem como da exploração do homem sobre o homem.

Para Karl Marx, 

“é evidente que eles o fazem em toda a sua extensão, portanto, entre outras coisas, que eles dominam também como pensadores, como produtores de ideias, que regulam a produção e distribuição das ideias de seu tempo; e, por conseguinte, que suas ideias são as ideias dominantes da época" (MARX, 1993, p. 72).

Nesse sentido, a superestrutura seria responsável pela manutenção das relações sociais existentes na infraestrutura e esta possibilita a sua existência, pois toda a riqueza necessária para manter a superestrutura seria, segundo Marx, produzida na infraestrutura por meio das nas relações de produção e de troca.


Referência

MARX, Karl. A ideologia alemã. 9ª ed. São Paulo: Hucitec, 1993.

BODART, Cristiano das Neves. Infraestrutura e superestrutura em Marx. Blog Cagé com Sociologia. com. Disponível em:  http://www.cafecomsociologia.com/2016/02/infraestrutura-e-superestrutura-em-marx.html?m=1, acesso em: 13.05.2016.

sexta-feira, 6 de maio de 2016

Como é ser negro no Brasil

Como é ser negro no Brasil* (texto inédito)

Por Milton Santos

Eu tive a sorte de ser negro em pelo menos quatro continentes e em cada um desses é diferente ser negro e; é diferente ser negro no Brasil. Evidente que a história de cada um de nós tem uma papel haver com a maneira como cada um de nós agimos como indivíduo, mas a maneira como a sociedade se organiza que dá as condições objetivas para que a situação possa ser tratada analiticamente permitindo o consequente, um posterior tratamento político. Porque a política para ser eficaz depende de uma atividade acadêmica... acadêmica eficaz! A política funciona assim! A questão negra não escapa a essa condição. Ela é complicada porque os negros sempre foram tratados de forma muito ambígua . Essa ambiguidade com que essa questão foi sempre tratada é o fato de que o brasileiro tem enorme dificuldade de exprimir o que ele realmente pensa da questão. 

O professor Florestan Fernandes e o professor Otavio Ianni, escreveram ambos que os Brasileiros, de um modo geral, não têm vergonha de ser racista, mas têm vergonha de se dizer que são racistas. E acho que isso é algo permanente das relações inter-étnicas no Brasil e que traz uma dificuldade de aproximação da questão e da análise, inclusive dos próprios negros, que podem se deixar possuir por uma forma de reação puramente emocional diante da questão, dentro do problema, quando é necessário buscar, analisar, a condição do negro dentro da formação social brasileira. Porque a política não se faz no mundo, não é no mundo que dita as regras da política que se faz em cada país. E não é o outro continente. Não é o olhar para a África que vai ajudar na produção de uma política brasileira para o negro, nem um olhar para os Estados Unidos que vai também permitir essa produção de uma política. É o estudo do negro dentro da sociedade brasileira. É evidente que esse estudo passa pela categoria que se chama “formação socioeconômica”, a qual eu modifiquei propondo a categoria de “formação socioespacial”, porque eu creio que o território tem um papel muito grande na compreensão do que é uma nação. 

A formação socioeconômica ela tem relações com todo o mundo. É evidente que o porte africano no Brasil ele vai ter um papel na compreensão com o que se passa no Brasil, como o aporte europeu e hoje o aporte estadunidense. Mas isso resulta numa produção que se chama “o Brasil”. É nele que eu quero estar como brasileiro integral! É nele que devemos estar, todos, independente da nossas origens étnicas, como brasileiros integrais, sem servos olhados vesgamente em função de nossa, repito, origem étnica. Por conseguinte esse tipo de aproximação que eu privilegio naquilo que eu faço, e faço pouco porque não sou um especialista da questão negra. Eu sou apenas um negro a mais no Brasil que tem uma experiência de ser negro, mas que não sou especialista da questão negra. O meu trabalho, como todo mundo sabe, é outro, eu me especializei em outra coisa, é a minha história, mas não sou indiferente a essa questão, longe disto. Creio que as contribuições teóricas que por ventura tenha elaborado para o entendimento da sociedade possa ser de alguma valia no tratamento da questão do negro no Brasil; que não será resolvido se os negros forem sozinhos na luta. A luta dos negros só pode ter eficácia se envolver todos os brasileiros, inclusive os negros, mas não só os negros. Não cabe aos negros, aliás, fazer essa luta. Essa luta tem que ser feita sobretudo por todos. Creio que essa etapa seguinte, a de reclamar de todos que participem; e não só em um dia ou uma semana. Eu não tenho simpatia por treze de maio e nem semana do mês de novembro, porque tenho uma enorme dificuldade em aceitar que o país celebre uma semana, celebre um dia e os resto dos 357 dias se descuide da questão. Eu creio que é importante que haja esses dias no sentido de mobilização. Só que a mobilização não é obrigatoriamente aquilo que produz a consciência. Com frequência a mobilização cria um elã emocional e o que permite uma luta continuada é a produção da consciência que não pode ser, digamos, obtida em um dia, treze de maio, uma semana, semana da consciência negra, por que não é questão de consciência negra, é questão de consciência nacional; o negro sabe perfeitamente a sua situação. É por isso que eu me recuso a vir em reuniões como essa, ou quando me convidam na imprensa ou na televisão, a ficar choramingando, “ah nós somos assim, somos acolá, nós estamos em baixo”. Todo mundo sabe disso, então vamos usar o tempo para outro tipo de preocupação.

Inclusive como estava dizendo a um colega da Bahia, da gloriosa universidade da Bahia, onde eu foi aluno de meu filho, que para mim é uma grande satisfação intelectual e moral, que a questão passa por aí, da questão do negro brasileiro, porque assim que me intitulo, eu sou um negro brasileiro, não quero ser outra coisa se não um negro brasileiro, mas quero ser um brasileiro integral. A luta que tem que ser feita passa por criar uma consciência nacional e não, digamos, nos limitarmos a uma produção de uma consciência negra, porque os negros já estão cansados de saber qual é sua condição na sociedade. Para isso é necessário preparar outro discurso.

Eu estou muito mal satisfeitos com maior parte dos discursos dos movimentos negros porque são repetitivo esses discursos, são pobres e não são mobilizadores realmente, exceto para choramingas. De que adianta continuar dizendo que os negros ganham menos no mercado de trabalho? Muito pouco! Todo mundo já sabe disso. Com pequenas variações é a mesma coisa sempre. De que adianta sair dizendo que há um preconceito aberto ou larvar? Todo mundo sabem disse, inclusive aqueles que comentem sabem que estão fazendo preconceito; muitos não sabem. Ai entra o papel de outro discurso, que é o discurso da conscientização a partir de novas palavras de ordem. Por exemplo, peço desculpa por falar de mim mesmo, mas quando nessa entrevista que tive o prazer de dá ao Roberto D’Abila que me perguntou a respeito do ressentimento dos negros em relação a sociedade branca. Eu disse, não, ao contrário, são os brancos que têm o ressentimento com relação os negros que conseguem acender socialmente, que já era um ensaio de produzir um outro discurso. Eu não vou aceitar discutir que os negro tem ressentimento por uma maneira muito simples: porque o nosso ressentimento, se existe, ele não é eficaz, ele não tem poder. O ressentimento que tem eficácia é do que tem poder. Então quando eu falo que é o branco que tem ressentimento, e tem, em relação ao negro que triunfa, não digo o branco em geral, mas um bonito grupo de pessoas brancas . É para exatamente reverter o discurso. É um exemplo de, como creio, que haveria que trabalhar nessa coisa do discurso que acho muito importante, inclusive para a recriação daquilo que repetem com muita frequência, a questão da autoestima. A autoestima ela pode ser parcialmente enfrentada a partir de outro discurso também. É isso, por isso, que não perdoo ao governo federal, e aos governos estaduais, que não põem seu recursos jornalísticos a disposição da produção do discurso da autoestima, o que não custaria muito, mas que tem que ver com as condições de nosso tempo, que tem que ser analisada e se propor outra coisa.

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*Palestra proferida pelo professor Milton Santos e transcrita por Cristiano das Neves Bodart a partir de um audio que guardava desde a época que cursava a graduação. Infelizmente não sabemos onde foi proferida essa palestra.

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SANTOS, Milton. Ser negro no Brasil. Palestra transcrita por Cristiano das Neves Bodart.Blog Café com Sociologia.2016. Disponível em: <linkdapostagemaqui>. Acessado em: dia mês e ano.

domingo, 1 de maio de 2016

Racismo e alienação religiosa


1º de Maio - Dia do Trabalho: Conflitos e Precarização no Mundo do Trabalho

Os conflitos e a precarização no mundo do trabalho são causados basicamente pela divergência de interesses entre as classes sociais.

Considerando-se que a sociedade capitalista é dividida em classes sociais, como já dizia Karl Marx, é fato que essas classes têm interesses antagônicos. Esse antagonismo, obviamente, seria fundamental para se pensar a permanente luta de classes caracterizada na obra marxiana, tendo nos conflitos do mundo do trabalho a sua manifestação, uma vez que esses são decorrentes das relações sociais de produção características do sistema capitalista.
 Mas qual a natureza desses conflitos pertinentes à produção da vida material, ou seja, ao cotidiano do mundo do trabalho? Para se pensar numa breve (porém, não suficiente) resposta, basta considerar o simples raciocínio: enquanto o operário visa melhores salários e condições de trabalho, os empresários visam aumento do lucro e expansão de suas empresas.
Além disso, a valorização de uma alta racionalização dos processos produtivos desde a revolução industrial, o aumento da exploração do trabalho humano e as consequentes acumulação de riqueza e aumento da desigualdade social, só fizeram recrudescer as hostilidades e divergências entre as classes ao longo da história do capitalismo enquanto modo de produção predominante.
Pode-se apontar que os primeiros movimentos de resistência dos trabalhadores entre os séculos XVIII e XIX tinham por motivação a dificuldade de adaptação a esse novo modelo de produção – agora industrial – uma vez que os indivíduos ainda estavam ligados a outro contexto de maior liberdade e autonomia quanto às práticas de trabalho. Um dos primeiros levantes operários contra os empresários foi o chamado movimento Ludista, ocorrido no início do século XIX, no qual trabalhadores se dispunham a quebrar as máquinas, as quais (no entendimento destes) estariam roubando seus empregos.
Nos dias de hoje, vale dizer que o desenvolvimento tecnológico leva a uma exclusão da mão de obra humana, gerando um processo de desemprego estrutural. A atual conjuntura de desenvolvimento do capitalismo é marcada pela forte automatização da produção, isto é, o significativo processo irreversível de transformações no processo produtivo pela substituição da mão de obra humana. Por isso é preciso compreender como se dá a luta entre os interesses de classe e, mais precisamente, como se dão os conflitos no mundo do trabalho, uma vez que essas transformações podem significar uma precarização do trabalho, se pensarmos, por exemplo, nos níveis de desemprego.
Em outras palavras, mudanças estruturais podem trazer mais complicações para o trabalhador (que agora deve estudar mais, se preparar mais, disputar mais por vagas que são escassas). Para Ricardo Antunes (2011), “quando o trabalho vivo [trabalhadores de fato] é eliminado, o trabalhador se precariza, vira camelô, faz bico etc.” (ANTUNES, 2011, p. 06). A precarização do trabalho significa o desmonte dos direitos trabalhistas. Daí a importância de refletir sobre essa temática, sobre a lógica perversa do capitalismo, avaliando formas de manter garantias ao trabalhador, que é o lado mais frágil desse conflito.
Ainda segundo Antunes (2011), “reduzir a jornada de trabalho, discutir o que produzir, para quem produzir e como produzir são ações prementes. Ao fazermos isso, estamos começando a discutir os elementos fundantes do sistema de metabolismo social do capital que é profundamente destrutivo” (Ibidem, p. 06). Não apenas esse aspecto é discutido entre empresários e trabalhadores, mas também acerca das questões salariais, jornadas de trabalho, geração de emprego, participação em lucros, condições de segurança, planos de carreira, entre tantos outros aspectos ligados aos direitos trabalhistas adquiridos ao longo do século XX, por meio da organização do movimento operário através dos sindicatos, do sindicalismo.
Contudo, é fato que as condições de trabalho e os direitos trabalhistas de certo modo avançaram. Obviamente, esses avanços no sentido dos direitos e das garantias ao trabalhador não foram dádivas da classe empresarial, mas fundamentalmente resultado da luta de movimentos sindicais, operários. No Brasil de hoje, as chamadas centrais sindicais, em linhas gerias, têm os seguintes pontos como reivindicação: mudanças na política econômica para reduzir juros e distribuir renda; redução da jornada de trabalho de 44 horas semanais para 40 horas; extinção do fator previdenciário; e regulamentação da terceirização de serviços.
Ainda assim, a despeito dos avanços no tocante ao trabalho e à resolução de alguns conflitos (por meio de legislações trabalhistas) que dele resultam, não se pode esquecer a lógica da exploração inerente ao capitalismo (tão presente no cotidiano do trabalhador), nem mesmo o que Marx chamava de embrutecimento do homem pela rotinização do trabalho e, consequentemente, da vida.

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RIBEIRO, Paulo Silvino. "Conflitos e precarização no mundo do trabalho"; Brasil Escola. Disponível em . Acesso em 01 de maio de 2016.

'Eleito' pelo PT, Temer prepara governo 'tucano'

Para cientista político, traição a voto lulista é motivo de 'ilegitimidade' de futuro governo Temer


O Brasil prepara-se para um paradoxo. Se Dilma Rousseff for afastada do cargo pelo Senado nos próximos dias, como é provável, o vice Michel Temer assume a Presidência. Eleito em uma chapa liderada pelo PT, o peemedebista tem planos econômicos e sociais opostos àqueles que levaram à vitória de Dilma na  eleição de 2014. 
Para o cientista político Fábio Wanderley Reis, professor aposentado da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o descompasso entre as urnas e a agenda Temer é motivo de “ilegitimidade” do futuro governo. “O voto foi na cabeça de chapa, na Dilma, um voto petista. No fundo, foi um voto no Lula. É um elemento importante de ilegitimidade de um governo Temer.”
Deste ponto de vista, diz, Temer é mesmo um “traidor”, como tacham os petistas. Se parte dos eleitores de Dilma frustrou-se com a guinada conservadora dela, há razão para reclamação igual com Temer. “Se existe cobrança quanto ao que se chama de fraude eleitoral, com essa agenda do Temer isso também se aplica, ainda que ele não tenha vocalizado suas ideias na campanha.”
Alguns exemplos da agenda neoliberal de Temer que em nada se parecem com as propostas de Lula e do PT puderam ser vistos no noticiário recente.
Xodó lulista, o Bolsa Família excluirá pessoas. Foi o que disse o economista Ricardo Paes de Barros, um dos formuladores de agenda Temer, conforme entrevista publicada na segunda-feira 25 no Estado de S. Paulo. Para ele, o “Bolsa Família está inchado” e, quando enxuto, “tem gente que vai sofrer”.
O Pronatec, programa de qualificação profissional de desempregados criado no governo Dilma, também é candidato a encolher. Para Paes de Barros, o Pronatec “qualifica o desempregado de maneira cega”.
A Previdência deverá ser reformada para instituir-se idade mínima de 65 anos às aposentadorias. Revelação feita por Roberto Brant, ministro da área no governo Fernando Henrique (1995-2002) e colaborador da “agenda Temer”, ao Globo da quinta-feira 28.
Dilma preparava a mesma reforma, contra a posição de Lula e de movimentos sociais que ajudaram a reelegê-la.
Na área da infra-estrutura, o vice-presidente planeja privatizar “tudo o que for possível”.
A agenda de Temer assemelha-se à do senador Aécio Neves (PSDB-MG), derrotado por Dilma em 2014. Mais uma razão para ele ser tratado de “traidor” no PT. E para o ministro petista Ricardo Berzoini, da Secretaria de Governo, defender nova eleição, caso o Senado casse Dilma em definitivo. “Com um vice conspirador e golpista, não haverá pacificação.”

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Fonte: Carta Capital
http://www.cartacapital.com.br/politica/eleito-pelo-pt-temer-prepara-governo-tucano

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