Entre os
estudiosos que se preocuparam em analisar a relação do indivíduo com a
sociedade, destacam-se autores clássicos da Sociologia, como Karl Marx, Émile
Durkheim, Max Weber, Nobert Elias e Pierre Bourdieu. Neste texto examinaremos
as diferentes perspectivas adotadas por esses autores para analisar o processo
de constituição da sociedade e a maneira como os indivíduos se relacionam.
Max
Weber, o indivíduo e a ação social
O alemão
Max Weber (1864-1920), diferentemente de Durkheim, tem como preocupação central
compreender o indivíduo e suas ações. Por que as pessoas tomam determinadas
decisões? Quais são as razões para seus atos? Segundo esse autor, a sociedade
existe concretamente, mas não é algo externo e acima das pessoas, e sim o
conjunto das ações dos indivíduos relacionando-se reciprocamente. Assim, Weber,
partindo do indivíduo e de suas motivações, pretende compreender a sociedade
como um todo.
O
conceito básico para Weber é o de ação social, entendida como o ato de se
comunicar, de se relacionar, tendo alguma orientação quanto às ações dos outros.
“Outros”, no caso, pode significar tanto um indivíduo apenas como vários,
indeterminados e até desconhecidos. Como o próprio Weber exemplifica, o
dinheiro é um elemento de intercâmbio que alguém aceita no processo de troca de
qualquer bem e que outro indivíduo utiliza porque sua ação está orientada pela
expectativa de que outros tantos, conhecidos ou não, estejam dispostos a também
aceitá-lo como elemento de troca.
Seguindo
esse raciocínio, Weber declara que a ação social não é idêntica a uma ação
homogênea de muitos indivíduos. Ele dá um exemplo: quando estão caminhando
na rua e começa a chover, muitas pessoas abrem seus guarda-chuvas ao mesmo
tempo. A ação de cada indivíduo não está orientada pela dos demais, mas sim
pela necessidade de proteger-se da chuva.
Weber
também diz que a ação social não é idêntica a uma ação influenciada, que
ocorre muito frequentemente nos chamados fenômenos de massa.
Quando há
uma grande aglomeração, quando se reúnem muitos indivíduos por alguma razão,
estes agem influenciados por comportamentos grupais, isto é, fazem determinadas
coisas porque todos estão fazendo.
Max
Weber, ao analisar o modo como os indivíduos agem e levando em conta a maneira
como eles orientam suas ações, agrupou as ações individuais em quatro grandes
tipos, a saber: ação tradicional, ação afetiva, ação racional
com relação a valores e ação racional com relação a fins.
A ação
tradicional tem por base um costume arraigado, a tradição familiar ou um
hábito. É um tipo de ação que se adota quase automaticamente, reagindo a
estímulos habituais. Expressões como “Eu sempre fiz assim” ou “Lá em casa sempre
se faz deste jeito” exemplificam tais ações.
A ação
afetiva tem por fundamento os sentimentos de qualquer ordem. O sentido da ação
está nela mesma. Age afetivamente quem satisfaz suas necessidades, seus
desejos, sejam eles de alegria, de gozo, de vingança, não importa. O que
importa é dar vazão às paixões momentâneas. Age assim aquele indivíduo que diz:
“Tudo pelo prazer” ou “O principal é viver o momento”.
A ação
racional com relação a valores fundamenta-se em convicções, tais como o dever,
a dignidade, a beleza, a sabedoria, a piedade ou a transcendência de uma causa,
qualquer que seja seu gênero, sem levar em conta as consequências previsíveis.
O indivíduo age baseado naquelas convicções e crê que tem certo “mandado” para
fazer aquilo. Se as consequências forem boas ou ruins, prejudiciais ou não,
isso não importa, pois ele age de acordo com aquilo em que acredita. Age dessa
forma o indivíduo que diz: “Eu acredito que a minha missão aqui na Terra é
fazer isso” ou “O fundamental é que nossa causa seja vitoriosa”.
A ação
racional com relação a fins fundamenta-se numa avaliação da relação entre meios
e fins. Nesse tipo de ação, o indivíduo pensa antes de agir em uma dada
situação. Age dessa forma o indivíduo que programa, pesa e mede as consequências,
e afirma: “Se eu fizer isso ou aquilo, pode acontecer tal ou qual coisa; então,
vamos ver qual é a melhor alternativa” ou “creio que seja melhor conseguir tais
elementos para podermos atingir aquele alvo, pois, do contrário, não
conseguiremos nada e só gastaremos energia e recursos”.
Para
Weber, esses tipos de ação social não existem em estado puro, pois os
indivíduos, quando agem no cotidiano, mesclam alguns ou vários tipos de ação
social. São “tipos ideais”, construções teóricas utilizadas pelo sociólogo para
analisar a realidade.
Como se
pode perceber, para Weber, ao contrário do que defende Durkheim, as normas, os
costumes e as regras sociais não são algo externo ao indivíduo, mas estão
internalizados, e, com base no que traz dentro de si, o indivíduo escolhe
condutas e comportamentos, dependendo das situações que se lhe apresentam.
Assim, as relações sociais consistem na probabilidade de que se aja socialmente
com determinado sentido, sempre numa perspectiva de reciprocidade por
parte dos outros.
Nas
Palavras de Weber:
Sobre a ação social
A ação social (incluindo tolerância ou omissão)
orienta-se pela ação de outros, que podem ser passadas, presentes ou esperadas como
futuras (vingança por ataques anteriores, réplica a ataques presentes, medidas
de defesa diante de ataques futuros). Os "outros" podem ser
individualizados e conhecidos ou então uma pluralidade de indivíduos
indeterminados e completamente desconhecidos (o "dinheiro", por
exemplo, significa um bem — de troca — que o agente
admite no comércio porque sua ação está orientada pela expectativa de que
outros muitos, embora indeterminados e desconhecidos, estarão dispostos também
a aceitá-lo, por sua vez, numa troca futura). [...] Nem toda espécie de contato
entre os homens é de caráter social; mas somente uma ação, com sentido próprio,
dirigida para a ação de outros. Um choque de dois ciclistas, por exemplo, é um
simples evento, como um fenômeno natural. Por outro lado, haveria ação social
na tentativa dos ciclistas se desviarem, ou na briga ou considerações amistosas
subsequentes ao choque.
(Weber, Max. Ação social e relação social. In: Foracchi,
Marialice Mencarine, Martins, J. de Souza. Sociologia e sociedade.
São Paulo: Livros Técnicos e Científicos, 1977. p. 139.)
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FONTE: Tomazi, Nelson Dacio - Sociologia
para o ensino médio / Nelson Dacio Tomazi. —2. ed. — São Paulo : Saraiva, 2010,
pg. 26 - 28.