sexta-feira, 18 de maio de 2018

004 – Violência Escolar


O objetivo é debater a questão da violência escolar, estimulando a refletir, de forma crítica e construtiva, sobre essa que é uma das problemáticas que mais têm mobilizado educadores, diretores de escola, professores, funcionários, formuladores de políticas públicas, pais e alunos. Longe de propor soluções e esgotar as explicações para um problema de natureza complexa, por meio da interação entre professor e alunos, as questões pertinentes ao meio escolar sejam discutidas de modo a propiciar debates e estimular a formulação de propostas para a superação de conflitos.

A conscientização do papel de alunos e professores como atores responsáveis pelos conflitos escolares é o primeiro passo para a transformação das relações sociais no ambiente escolar.

A violência escolar é hoje considerada um dos principais problemas do sistema educacional, não apenas no Brasil, mas em diversos outros países. Porém, embora seja uma questão que influencia o cotidiano de muitas escolas, ela não pode ser tratada da mesma maneira, como se todas as instituições vivessem igualmente os mesmos problemas. Cada escola possui suas peculiaridades, suas qualidades e seus conflitos, e não cabem aqui generalizações. Por essa razão, antes de falar de violência escolar, é preciso mapear a situação vivida em cada contexto particular para, somente então, partir para uma reflexão crítica.

É importante um levantamento dos conflitos vivenciados no espaço da sua escola para analisar essa temática.

1. Nos últimos 12 meses, você ou algum dos seus colegas viu alguma dessas situações acontecendo dentro da sua escola ou bem perto dela (próximo aos portões, ou em volta do quarteirão da escola, do lado de fora)?


Situação


Sim

Não

Não sei
a) Pessoas agredindo-se verbalmente (xingando, usando palavrões).



b) Pessoas brigando, agredindo-se fisicamente.




c) Pessoas portando armas perfurocortantes (canivetes, estiletes, facas, navalhas).




d) Pessoas portando armas de fogo, que não fossem policiais em serviço.




e) Pessoas ameaçando ou intimidando professores.




f) Pessoas ameaçando ou intimidando funcionários.




g) Pessoas consumindo ou vendendo drogas ilegais (cocaína, crack, maconha).



h) Pessoas sendo ameaçadas ou intimidadas.




i) Professores ameaçando alunos.




j) Professores agredindo alunos verbalmente (xingando, usando palavrões).




k) Professores agredindo alunos fisicamente.




l) Funcionários ameaçando alunos.




m) Funcionários agredindo alunos verbalmente (xingando, usando palavrões).




n) Funcionários agredindo alunos fisicamente.




o) Pessoas destruindo o patrimônio coletivo da escola, como carteiras, janelas, portas, telefone público, bebedouros, banheiros etc.



p) Pessoas pichando paredes, muros, carteiras, lousas, janelas, banheiros etc.




q) Pessoas sendo atacadas sexualmente.




r) Pessoas sendo mortas por agressão (briga) ou arma de fogo.




s) Alunos agredindo professores verbalmente (xingando, usando palavrões).




t) Alunos agredindo funcionários verbalmente (xingando, usando palavrões).




u) Alunos agredindo professores fisicamente.




v) Alunos agredindo funcionários fisicamente.






2. Nos últimos 12 meses, alguém fez com você, na escola ou próximo a ela, alguma destas coisas?


Situação


Uma
vez

Algumas
vezes

Muitas
vezes

Nenhuma
vez

Não
sei
a) Ofendeu, humilhou ou xingou você.






b) Praticou uma brincadeira que fez você se sentir mal, triste ou envergonhado.






c) Ameaçou bater, empurrar ou chutar você.






d) Bateu, empurrou ou chutou você.






e) Ameaçou você com faca ou arma de fogo.






f) Esfaqueou você ou atirou em você.






g) Ameaçou machucá-lo de outras formas, ou seja, sem a utilização de facas ou armas de fogo.






h) Falou mal de você sem ter razão.






i) Escreveu algo impróprio sobre você em sites de relacionamento ou pichou isso em paredes ou muros da escola.







3. Responda se você já se sentiu rejeitado ou discriminado por causa de algum dos fatores a seguir:

Situação
Uma
vez

Algumas
vezes

Muitas
vezes

Nenhuma
vez

Não é o
meu caso

Não
sei

a)   Pela sua aparência.







b) Por sua condição financeira.






c) Pelo seu local de moradia.






d) Pela escola onde estuda.






e) Pela cor de sua pele ou por sua etnia.






f) Pela sua religião.







g) Por ser de outro país/Estado/cidade/bairro.






h) Por ter vindo de outra escola.






i)     Por ser mulher.







j)    Por ser homossexual.







k) Por ter alguma deficiência ou doença crônica.






l) Por ter dificuldades de aprendizagem.






m) Por ter repetido de ano.






n) Por outro fator.







j) Amedrontou ou perseguiu você.






k) Ameaçou você de morte.






l) Furtou ou roubou suas coisas.






m) Ameaçou pessoas próximas a você (amigos, parentes, namorado ou namorada).








Conflitos na vivência escolar

A violência na relação entre alunos e professores, alunos entre si e alunos e funcionários não é um fenômeno novo na escola. O que se vive hoje é, na realidade, uma grande mudança na forma de perceber os atos de violência. Algumas décadas atrás eram considerados “normais” e aceitos como parte do processo disciplinatório do ensino as punições físicas ao aluno, na forma de puxões de orelhas, reguadas, golpes de palmatória e outros castigos vexatórios, como a repetição de frases escritas dezenas de vezes, os xingamentos e a estigmatização perante a turma pelo mau desempenho ou comportamento.

Hoje, a indisciplina (conversas fora de hora, descumprimento de tarefas, discussões, brigas), um fato antes corriqueiro e integrado à vida da escola, passou a ter outra dimensão. Outras formas de violência têm se tornado cada vez mais comuns dentro e fora do espaço da escola (no seu entorno): vandalismo, agressões físicas, ameaças de morte e até mesmo casos de violência que resultam em óbito de professores, funcionários e alunos. Vivencia-se o conflito entre a dificuldade de dar andamento às aulas e “disciplinar” os alunos e a necessidade de introduzir novas práticas pedagógicas e didáticas que superem antigos modelos de ensinar e aprender.

E como explicar esses fenômenos?

As causas apontadas são várias, desde as sociais, tais como a vigência de políticas públicas de exclusão social que não oportunizam o acesso a uma educação de qualidade e trabalho digno, até causas psicológicas que convertem a baixa autoestima em respostas antissociais que se descortinam como única alternativa de sobrevivência, aceitação e autoafirmação, a exemplo da formação do poder paralelo do narcotráfico.
(MARRA, Célia A. S. Violência escolar – A percepção dos atores escolares e a repercussão no cotidiano da escola. São Paulo: Annablume, 2007. p. 25)

Não é o propósito deste texto, entretanto, aprofundar essa discussão, mesmo porque não haveria espaço para isso. Cabe distinguir, claramente, de que tipo de violência estamos falando, a quem ela se dirige, e que consequências ela traz para o cotidiano da escola. O objetivo é realizar um trabalho de conscientização a partir do qual eles consigam formular suas próprias percepções sobre o problema, sempre com base no princípio do estranhamento.

Há uma variedade de atos perpetrados no cotidiano escolar que são geradores de conflito. Porém, não necessariamente qualificamos todas essas ações como violência. As atitudes muitas vezes encaradas como “indisciplinadas”, como o uso reiterado de palavrões, as respostas às provocações dos colegas – que, muitas vezes, redundam em agressões físicas – e a postura contestatória de alguns alunos, fazem parte, na realidade, do processo interativo dos adolescentes e jovens. Trata-se, antes, mais de agressividade do que de violência propriamente dita. Os atos violentos, diferentemente, incorporam um desejo de destruição em relação ao outro (Freire, 1994 apud Marra, 2007, p. 38).

Um problema mais sério que surge no relacionamento entre os alunos ocorre quando apelidos, brincadeiras, agressões e fofocas passam do limite e se tornam uma atitude deliberada no sentido de “zoar”, “sacanear” e humilhar colegas, que são discriminados por uma série de razões, como as exemplificadas na atividade anterior. Esse fenômeno, denominado bullying, pode levar crianças, adolescentes e jovens a um grande sofrimento. Geralmente, as vítimas de bullying sentem-se isoladas. Por se sentirem discriminadas, sofrem de baixa autoestima e chegam a ter o rendimento escolar prejudicado por causa do medo que os colegas praticantes do bullying lhes provocam. O bullying pode se tornar extremamente violento, chegando até mesmo a causar lesões físicas e transtornos psicológicos sérios.

O termo bullying – sem tradução na língua portuguesa – compreende todas as formas de atitudes agressivas, intencionais e repetidas, que ocorrem sem motivação evidente. São adotadas por um ou mais estudantes contra outro(s), causando dor e angústia, e executadas dentro de uma relação desigual de poder.

Porém, no cotidiano escolar também são evidenciados atos violentos não direcionados de forma sistemática e reiterada a um colega em particular. As ações violentas, entre as quais se incluem as brigas, as ameaças (inclusive as de morte) e as lesões corporais, seguidas ou não de morte, podem ocorrer entre alunos que não necessariamente são vítimas sistemáticas de bullying. As brigas e ameaças ocorrem pelos mais variados motivos de desentendimento, boatos, fofocas, disputas, rivalidades e, especialmente, como forma de revidar uma ofensa. Em muitos casos, os pais dos alunos também ameaçam os próprios filhos cotidianamente e incentivam a reação violenta como forma de defesa no relacionamento com os colegas.

Os conflitos vivenciados no cotidiano escolar, muitas vezes, não se encontram circunscritos ao espaço da escola: várias brigas têm início dentro da sala de aula e continuam nos portões, ou começam na vizinhança e continuam dentro da classe, exatamente porque a escola não está isolada das relações da comunidade na qual está inserida. Nesse sentido, as ameaças contribuem para o aumento da violência, especialmente nas localidades onde há relações com grupos de poder ligados ao narcotráfico.

São frequentes as ameaças de alunos para com seus colegas, invocando o nome de irmãos e outros parentes, em geral ligados ao tráfico de drogas, e, portanto, conhecidos e temidos pelos outros.
(MARRA, Célia A. S. Violência escolar – A percepção dos atores escolares e a repercussão no cotidiano da escola. São Paulo: Annablume, 2007. p. 130)

O ponto a ser discutido com os alunos é a atitude violenta em relação a outros colegas. Considerando as diferenças entre meninos e meninas é possível distinguir as atitudes consideradas menos aceitáveis. O objetivo é provocar a reflexão sobre as ações violentas que os alunos tomam em relação aos colegas, mas não aceitam que sejam tomadas quando se trata deles mesmos, e sobre de que forma essas atitudes podem gerar um círculo vicioso de violência no espaço escolar.

Violência escolar: o papel de cada um

Pode parecer, pela discussão desenvolvida, que o aluno é o único responsável pela violência no cotidiano escolar; porém, as relações conflituosas se dão não apenas entre colegas, mas entre todos os membros participantes da estrutura da escola: diretores, coordenadores pedagógicos, inspetores de alunos, professores e demais funcionários. Nesse sentido, cabe uma breve discussão sobre o papel de cada um nesse cotidiano.

É muito importante identificar quais são as maiores queixas, formular hipóteses sobre a origem dos conflitos e discutir o assunto para saber quais seriam algumas possíveis soluções. Utilize as informações a seguir para complementar a discussão.

Uma pesquisa realizada em 2009 pela Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo, a pedido do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) e da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade (Secadi)[1], em 501 escolas públicas do país, envolvendo 18 599 estudantes, pais, mães, professores e funcionários, mostrou que o preconceito e a discriminação estão fortemente presentes na escola pública. As principais vítimas de preconceito são os portadores de necessidades especiais, os negros, os homossexuais e os pobres[2].

A atitude discriminatória dentro e fora da sala de aula, inclusive por parte de pais e educadores, contribui para o baixo desempenho e para a reprodução da violência escolar. O aluno que se sente estigmatizado por qualquer razão dentro da sala de aula e fora dela não desenvolve qualquer relação positiva com a atividade escolar e deixa de aprender. Para ele, abandonar ou destruir a escola e desrespeitar os colegas e o professor são a forma de exteriorizar o sofrimento de não se sentir no mesmo direito de estar ali.

A educação é um processo interativo, em que a subjetividade do educador se mistura com a subjetividade do educando, buscando um entendimento, uma linguagem unificada a partir das diferenças. Então, esse educador necessita se conhecer, se dominar, e ter uma consideração positiva do outro, especialmente quando esse outro traz em si as marcas dos estigmas, e já não tem muito o que esperar da sociedade e da escola.
(MARRA, Célia A. S. Violência escolar – A percepção dos atores escolares e a repercussão no cotidiano da escola. São Paulo: Annablume, 2007. p. 124)

Por essa razão, a interação entre educador e educando não pode prescindir da afetividade e da confiança que facilitam o diálogo, atributos exatamente opostos ao medo, à desconfiança, ao revide ou ao silêncio induzido pela ameaça.

As pesquisas sobre violência escolar desenvolvidas por sociólogos e educadores no contexto brasileiro têm chegado a resultados semelhantes quando analisam as motivações para os conflitos entre educadores e educandos. Por um lado, é possível afirmar que parte das dificuldades enfrentadas pelos alunos, em termos de expectativas e rendimento, tem a ver com as trajetórias escolares de seus familiares mais próximos; ou seja, em ambientes familiares em que tradicionalmente não há o hábito do estudo ou os pais não tiveram a oportunidade de completar a escolaridade básica, os alunos têm mais dificuldade de encontrar apoio para realizar suas tarefas, estudar e melhorar seu desempenho. Por outro lado, práticas pedagógicas desinteressantes e relacionamento inadequado (muitas vezes, marcado por preconceitos, atitudes autoritárias e sem sentido para os alunos) são apontados como fatores que propiciam atitudes antissociais que evoluem para a violência propriamente dita entre professores e alunos.

Questões:

1.   Elabore um projeto de resolução de conflitos, com os seguintes itens:

·         na primeira parte, o grupo deverá redigir um texto que explique quais são os principais problemas vivenciados na escola e procurar desenvolver algumas explicações para eles;
·         segunda parte, deverá identificar quais são as principais práticas relacionadas à violência escolar e de que modo elas interferem no seu cotidiano, no processo de aprendizagem e crescimento;
·         na terceira parte, deverá apresentar suas propostas de como esses conflitos poderiam ser solucionados, e qual é seu papel, como alunos, em contribuir para diminuir a violência na escola.

2.   Elabore uma redação narrando um caso (fictício ou real) de violência escolar, em que sejam explicitados os fatores que levaram à ocorrência, o episódio propriamente dito e as consequências, indicando de que maneira o conflito foi solucionado (ou não) e o que pode ter contribuído para isso. 


[1] Atual Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão, do Ministério da Educação (MEC).
[2] Fonte de dados: IWASSO, Simone; MAZZITELLI, Fábio. Escola é dominada por preconceitos, diz pesquisa. O Estado de S. Paulo, 18/06/2009. p. A19.

Em nome do Pai, do Filho e do Pastor Malafaia: Política, Família e o Desgaste da Democracia Brasileira

Os acontecimentos recentes envolvendo Jair Bolsonaro e seu filho Eduardo Bolsonaro, revelados em relatório final da Polícia Federal, escanca...