quarta-feira, 30 de maio de 2018

Desigualdade de Classes


Vamos introduzir  a problemática da desigualdade, tomando como ponto de partida a desigualdade social e econômica no Brasil. Com base em alguns indicadores sociais que evidenciam a desigualdade de renda, procuraremos estabelecer uma reflexão crítica sobre o significado do termo “estratificação”. Também veremos como a Sociologia analisa as diferenças nas posições ocupadas pelos diversos segmentos de uma população em relação à posse e ao controle de recursos materiais. Para isso, serão introduzidas, de forma breve, algumas teorias clássicas sobre estratificação, cujo objetivo é contribuir para a compreensão das desigualdades de classe observadas na sociedade brasileira contemporânea.

Importante relembrar o que nos caracteriza como seres humanos e por que razão somos diferentes; isto é, temos hábitos diferentes das pessoas que vivem do outro lado do mundo, por exemplo.

Agora, o objetivo é dirigir o olhar para as diferenças que colocam as pessoas em posições desiguais no interior da mesma sociedade. Para isso, recorremos, mais uma vez, ao método do estranhamento e sugerimos como ponto de partida as diferenças observadas nas situações vividas no cotidiano.

Desigualdade e diferença

No dia a dia, convivemos com pessoas que exercem atividades variadas e recebem rendimentos diversos para cada trabalho realizado. Dependendo da posição ocupada no mercado de trabalho, do grau de especialização da atividade exercida, da competitividade naquela área de atuação e do status social da profissão, os ganhos serão maiores ou menores. Isso faz com que cada pessoa tenha acesso a benefícios e oportunidades de mobilidade social diferenciados.

Mobilidade social: refere-se ao movimento de indivíduos e grupos entre diferentes posições econômicas. A mobilidade social pode ser vertical, ou seja, quando os indivíduos sobem ou descem na escala socioeconômica; ou horizontal, quando se mudam de bairro, cidade, Estado ou país.

Reflitamos sobre a seguinte situação:

Uma pessoa capacitada para operar máquinas pode se tornar um trabalhador da indústria, ter um emprego com carteira assinada e receber um salário. Se for casada e seu cônjuge também tiver um emprego remunerado, ambos poderão somar suas rendas e economizar para dar entrada no financiamento de uma casa própria. Porém, se não tiverem outra fonte de renda além do salário, seu padrão de vida será limitado ao que conseguirem economizar a cada mês. Uma pessoa proprietária de máquinas, por outro lado, capacitada para administrar uma indústria, pode se tornar um empregador e investir em um ramo empresarial, gerar capital e obter lucro. Considerando o lucro obtido com o trabalho dos empregados na sua indústria, poderá investir na continuidade do seu negócio e na bolsa de valores. Se for bom empreendedor, poderá alcançar um bom padrão de vida a partir dos rendimentos obtidos com seus investimentos.

Com base na situação apresentada, refletiremos sobre a questão: O que há de diferente nos dois exemplos mencionados em relação à posição ocupada por cada um no mercado de trabalho?

Nesse exemplo, bastante simples, a diferença é que o operador de máquinas não é o dono da máquina e, portanto, pode apenas vender o seu trabalho para o seu empregador. No segundo caso, o industrial é o proprietário das máquinas e, portanto, pode dispor do trabalho de muitos empregados. Há aqui uma diferença fundamental entre ambos, que os coloca em situação de desigualdade: o fato de possuir os meios de produção (máquinas, galpão, energia elétrica, matéria-prima, ou seja, tudo o que permite produzir alguma coisa) faz com que o industrial tenha muito mais capacidade de gerar renda do que o trabalhador.

Comparar a posição das pessoas em relação a suas ocupações no mercado de trabalho é apenas uma maneira de se perceber a desigualdade social. Com efeito, podemos analisar a diferença de posição entre as pessoas com base nos mais diversos atributos, como o gênero, a idade, a afiliação religiosa ou posto militar, por exemplo. A forma mais comum de medir a desigualdade social é por meio da renda: quanto maiores as diferenças entre os rendimentos obtidos pelas pessoas em uma comunidade, sociedade ou país, maior a desigualdade entre elas.

Vejamos o caso do Brasil segundo a renda. De acordo com os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 2011, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os rendimentos obtidos pelos brasileiros vêm aumentando progressivamente. Isso mostra que, até 2011 pelo menos, o país encontrava-se em situação de crescimento econômico. Porém, a distribuição dos rendimentos entre a população permanecia extremamente desigual.

Percentual de pessoas de 10 anos ou mais, segundo a classe de rendimento mensal – Brasil, 2011

a) o maior percentual (31%) de pessoas de 10 anos ou mais corresponde àquelas que não tinham qualquer forma de rendimento na ocasião da pesquisa;
b) 47% dos brasileiros recebiam até dois salários mínimos;
c) cerca de 2% recebiam de 10 a 20 salários mínimos e apenas 1% da população recebia mais de 20 salários mínimos.

Por que a distribuição da renda é tão desigual no Brasil?

Classe e estratificação

Um estudo realizado pela Fundação Getulio Vargas (FGV) em 2008 mostrou que, até pouco antes da crise financeira global chegar ao Brasil, o crescimento econômico do país vinha tendo efeitos positivos nas diferentes camadas da população, em especial na chamada nova classe média, também denominada classe “C”. Segundo a pesquisa, o número de brasileiros que ascenderam socialmente e passaram a integrar esse segmento aumentou 22,8% entre abril de 2004 e abril de 2008. Já as classes mais altas (A e B) cresceram 33,6% no mesmo período.[1]

O interesse sobre as condições de vida da população, capacidade de consumo, estilo de vida, ocupação e remuneração não é exclusividade de sociólogos e economistas, mas de especialistas das mais diversas áreas, de formuladores de políticas públicas de cunho social a publicitários e profissionais de mercado. Por essa razão, saber como a sociedade brasileira se diferencia em termos de condições socioeconômicas é fundamental para o desenvolvimento de políticas públicas, estratégias de marketing e planejamento de investimentos de recursos de qualquer natureza.

Essa é uma das diversas formas como podemos diferenciar os membros de uma população segundo a classe econômica. Existem várias formas de classificação econômica, que obedecem a metodologias distintas, conforme os critérios utilizados pelos diferentes institutos de pesquisa. Embora o conceito de classe utilizado pelos economistas seja diferente daquele utilizado pelos sociólogos, ele servirá como ponto de partida em nossas análises.

As sociólogas Christiane Uchôa e Celia Kerstenetzky, da UFF, analisaram os indicadores sociais da nova classe média, com base na Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) do IBGE de 2009. E se surpreenderam ao perceber que 9% dos pais de família do grupo são analfabetos, 71% das famílias não têm planos de saúde e 1,2% das casas (cerca de 400 mil) sequer têm banheiros. “A chamada nova classe média não se parece com a classe média como a reconhecemos”, concluem as pesquisadoras.
Criador do conceito “nova classe média”, o economista Marcelo Neri, presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), vê nas críticas uma reação de sociólogos que, para ele, “se sentem um pouco invadidos”: “Desde o começo a gente não está falando de classes sociais, mas de classes econômicas. Economistas são pragmáticos, talvez simplifiquem demais as coisas. Mas, entre 2003 e 2011, 40 milhões de pessoas se juntaram à classe C no Brasil, que passou para 105 milhões de pessoas”.
No recorte feito por Neri em 2009, eram consideradas como classe média famílias com renda mensal entre R$ 1.200 e R$ 5.174. Agora, as faixas foram atualizadas para entre R$ 1.750 e R$ 7.450.
“É claro que essa não é uma classe média europeia ou americana, é a classe média brasileira. Mas não olhamos só a renda, é uma métrica mais sofisticada. Há melhoras em indicadores de educação e, principalmente, de trabalho, que dá sustentabilidade às conquistas. O grande símbolo dessa classe média não é o celular nem o cartão de crédito, mas a carteira assinada”.
(‘Nova classe média’ tem trabalho precário, pouca instrução e moradia inadequada. O Globo, Caderno Economia, 21 mar. 2013. Disponível em: . Acesso em: 29 nov. 2013)

Teorias de classe e estratificação

Até aqui já percebemos que:

·         pessoas e grupos têm acesso diferenciado ao conjunto dos bens produzidos e distribuídos pelo conjunto da sociedade;

·         o acesso desigual aos bens, à propriedade, aos meios de produção e às oportunidades de ascensão e mobilidade social cria desigualdades estruturadas entre diferentes grupos de pessoas;

·         uma das maneiras de descrever as desigualdades existentes entre grupos nas sociedades humanas é por meio de sistemas de estratificação social.

Há diversos sistemas de estratificação social, que variam conforme as características consideradas pelos historiadores, economistas e sociólogos que analisam a sociedade em questão. Geralmente, a estratificação social leva em consideração as diferenças em termos de bens ou propriedades, mas é possível observar diferenças entre grupos sociais em razão de muitos outros aspectos, que vão além da renda e da riqueza.

As primeiras ideias desenvolvidas sobre como as sociedades se organizavam remontam ao final do século XIX e ao início do século XX. Dois dos principais autores da Sociologia, Karl Marx e Max Weber, formaram a base para a maioria das teorias sociológicas de classe e estratificação. Nesta etapa, estudaremos como Marx e Weber pensavam a organização da sociedade em estratos e classes.

Começaremos com Marx:

Karl Marx (1818-1883) foi um filósofo alemão cujas ideias foram fundamentais para a formação da Sociologia. Escreveu sobre Economia, Política, socialismo e História. Vivendo no século XIX, Marx testemunhou o crescimento das fábricas e da produção industrial, bem como as desigualdades que resultaram da exploração do trabalho nessa época. Uma de suas principais preocupações foi explicar as mudanças na sociedade durante a Revolução Industrial. Marx adotou posições políticas radicais em relação à situação enfrentada pelos trabalhadores de sua época e se tornou um dos grandes defensores do comunismo.
(Elaborado especialmente para o São Paulo faz escola)

Veja este texto de Marx:

Para Marx, uma classe é um grupo de pessoas que se encontram em uma relação comum com os meios de produção – os meios pelos quais elas extraem o seu sustento. Antes do avanço da indústria moderna, os meios de produção consistiam primeiramente na terra e nos instrumentos utilizados para cuidar das colheitas ou dos animais no campo. Logo, nas sociedades pré-industriais, as duas classes principais eram aquelas que possuíam a terra (os aristocratas, a pequena nobreza ou os donos de escravos) e aqueles que se envolviam ativamente na produção a partir da terra (os servos, os escravos e os camponeses livres). Nas sociedades industriais modernas, as fábricas, os escritórios, o maquinário e a riqueza, ou o capital necessário para comprá-los, tornaram-se mais importantes. As duas classes principais são formadas por aqueles que possuem esses novos meios de produção – os industrialistas ou capitalistas – e aqueles que ganham a vida vendendo seu trabalho para eles – a classe operária, ou, no termo hoje em dia um tanto arcaico às vezes preferido por Marx, o “proletariado”.
(GIDDENS, Anthony. Sociologia. Porto Alegre: Artmed, 2006. p. 235. c Ibidem, p.150)

Para aprofundar a discussão, pense nos seguintes aspectos:

·         observe que a análise desenvolvida no pensamento de Marx é histórica, ou seja, leva em consideração sempre o tipo de produção social de uma dada sociedade, historicamente determinada. Por exemplo: na sociedade pré-industrial, a produção dos bens econômicos ocorre sempre a partir da terra e das relações de posse, uso e trabalho da terra. Já na sociedade capitalista, os meios de produção se diversificam e novas relações de trabalho surgem em função disso;

·         a estrutura de classes é um fenômeno histórico-social que surge somente no tipo de produção social capitalista moderna;

·         os elementos que definem as classes sociais são as condições comuns, ou seja, uma relação comum com os meios de produção que leva essas pessoas a se encontrarem em idênticas condições de vida, interesses, problemas e costumes.[2]

Para finalizar a discussão sobre a teoria de Marx, coloquemos a seguinte questão: E onde ficariam as classes médias? Ppara Marx, no processo de desenvolvimento do capitalismo, haveria uma tendência à concentração do capital e da propriedade da terra e, consequentemente, à formação de duas classes fundamentais: de um lado, a dos grandes proprietários de terras e dos grandes capitalistas e, de outro, a dos trabalhadores assalariados, com a progressiva incorporação de elementos de outros setores sociais. “As classes médias – ‘classes residuais’, ‘pequena burguesia’, ‘classes de transição’, ‘classe dos pequenos proletários autônomos’ – colocar-se-iam entre os dois polos das classes fundamentais: entre a classe dominante e a proletária.”[3]

A abordagem de Weber baseia-se em várias considerações de Marx, mas ele as aprofunda em diversos aspectos. Prossigamos na leitura do texto a seguir:

Max Weber (1864-1920), nascido na Alemanha, escreveu sobre os mais variados campos do conhecimento, como Economia, Direito, Filosofia, Religião, História e, principalmente, Sociologia. Preocupou-se ainda com o desenvolvimento do capitalismo moderno e com a maneira como a sociedade moderna se organizava em comparação com as sociedades do passado. Seu método de análise é conhecido como compreensivo e tem como um dos objetos centrais de investigação a ação social e seus significados.
(Elaborado especialmente para o São Paulo faz escola)

Um elemento fundamental na análise weberiana é o tipo ideal. Trata-se de uma construção analítica que pode ser usada para compreender o mundo real. É importante enfatizar que os tipos ideais:

a.    não são um objetivo perfeito ou desejável a ser alcançável. O termo “ideal” significa que eles pertencem ao plano das ideias, isto é, só existem em hipótese;

b.    seriam formas “puras” de um fenômeno e, portanto, não existiriam no mundo real exatamente da forma como foram idealizados ou sequer seriam encontrados. Porém, essas construções hipotéticas são muito úteis como referências para comparação. Ao compararmos a realidade com um tipo ideal, podemos compreender melhor o mundo.

A tese da estratificação de Weber, portanto, também deve ser entendida como uma construção baseada em tipos ideais. Isso significa que a descrição de como a sociedade capitalista moderna estaria organizada é apenas uma referência teórica para pensarmos a realidade.

Para entender a visão de Weber sobre a estratificação social, realizemos a leitura dos textos a seguir:


Texto 1
Assim como Marx, Weber percebia as classes como categorias econômicas (Weber, 1946 [1922]: 180-95). Entretanto, ele não achava que um critério único – posse ou falta de propriedade – determinasse a posição de classe. A posição de classe, escreveu, é determinada pela “situação de mercado” da pessoa, o que inclui a posse de bens, o nível de educação e o grau de habilidade técnica. Nessa perspectiva, Weber definiu quatro classes principais: grandes proprietários; pequenos proprietários; empregados sem propriedade, mas altamente educados e bem pagos; e trabalhadores manuais não proprietários. Dessa forma, empregados de colarinho branco e profissionais especializados surgem como uma grande classe no esquema de Weber. Weber não apenas ampliou a ideia de classe de Marx como também reconheceu que dois outros tipos de grupos, que não a classe, têm relação com a maneira como a sociedade é estratificada: grupos de status e partidos.
(BRYM, R.; LIE, J. et al. Sociologia: sua bússola para um novo mundo. São Paulo: Cengage Learning, 2008. p. 192)

Texto 2
Na teoria de Weber, o status refere-se às diferenças existentes entre os grupos sociais quanto à honra e ao prestígio social conferido pelos demais. Nas sociedades tradicionais, o status era, em geral, determinado com base no conhecimento direto de uma pessoa, adquirido por múltiplas interações em diferentes contextos ao longo de um período de anos. No entanto, com o aumento da complexidade das sociedades, criou-se a impossibilidade de o status ser sempre concedido dessa forma e, em vez disso, de acordo com Weber, o status passou a ser expresso por meio dos estilos de vida das pessoas. Sinais e símbolos de status – como moradia, o vestir, o modo de falar e a ocupação – ajudam a moldar a posição social do indivíduo aos olhos dos outros. As pessoas que compartilham do mesmo status formam uma comunidade na qual existe uma noção de identidade conjunta.
(GIDDENS, Anthony. Sociologia. 4. ed. Porto Alegre: Artmed, 2006. p. 237)

Discutiremos agora, as diferenças entre as teorias de Marx e Weber sobre a estratificação social. Observe que:

·         assim como Marx, Weber considerava que a sociedade capitalista moderna caracterizava-se pelo conflito sobre a posse de bens e os recursos materiais e econômicos;

·         a ordem econômica é apenas a maneira como os bens e serviços são utilizados e distribuídos. Weber distinguia também duas outras ordens, que interferiam na organização da sociedade: a ordem jurídica, que influencia diretamente a distribuição do poder, e a ordem social, que é o modo como a “honra” social se distribui dentro de uma comunidade entre os grupos que a compõem. Por honra social entendemos as posições de prestígio e status conferidas a indivíduos e grupos;

·         embora as condições econômicas estivessem diretamente relacionadas na determinação das divisões de classe, para Weber as desigualdades sociais se originam de fatores mais complexos do que a posse ou não dos meios de produção. A posição de mercado, as qualificações, as titulações, o grau de escolaridade, os diplomas e as habilidades adquiridas modificam sensivelmente as oportunidades e as possibilidades de ascensão social dos indivíduos.

Questões:

Com base nas contribuições de Marx e Weber para a compreensão da desigualdade social na sociedade capitalista moderna, respondam às seguintes questões:

1.    De acordo com Karl Marx, o que é classe? Quais são as duas principais classes nas sociedades industriais modernas?
2.    Segundo Max Weber, o que determina a “posição de classe”? Quais seriam as principais classes segundo a teoria dele?
3.    De acordo com Weber, as sociedades não são estratificadas apenas com base na classe, mas também segundo grupos de status e partidos. Explique o que significa o termo “status, do ponto de vista de Weber, nas sociedades complexas modernas.
4.    Relacione os elementos que você aprendeu sobre estratificação, classe e status na teoria de Weber ao texto ‘Nova classe média’ tem trabalho precário, pouca instrução e moradia inadequada. Que elementos da classe C se referem à situação de mercado? Que elementos podem ser associados ao status?
5.    Quantas pessoas se juntaram à classe C e em qual período isso ocorreu? Qual é o seu tamanho atual?
6.    A entrada de um imenso contingente de pessoas na classe média significa que elas passaram a partilhar das condições da classe média que já estava consolidada? Cite dados do texto na sua argumentação.
7.    Além da renda, quais foram os outros indicadores usados para essa classificação? E qual é o grande símbolo dessa “nova classe média”?



[1] NERI, Marcelo C. (Coord.) A nova classe média. Rio de Janeiro: FGV/IBRE/CPS, 2008.
[2] HIRANO, S. Castas, estamentos e classes sociais: introdução ao pensamento sociológico de Marx e Weber. Campinas: Editora da Unicamp, 2002.
[3] HIRANO, S. Castas, estamentos e classes sociais: introdução ao pensamento sociológico de Marx e Weber. Campinas: Editora da Unicamp, 2002.

Como o ser humano se tornou ser humano?


Discutiremos a ideia de cultura, as características das culturas e a relação entre os seres humanos, o instinto e a cultura. Todos esses aspectos são importantes para compreender que o que diferencia os seres humanos são as culturas e que só nos tornamos humanos quando nos tornamos seres culturais.

Leia abaixo um texto na qual destacamos como este homem ali retratado, que age influenciado pela cultura norte-americana, é fruto de intensas, longas e antigas trocas culturais.

O cidadão norte-americano desperta num leito construído segundo padrão originário do Oriente Próximo, mas modificado na Europa Setentrional, antes de ser transmitido à América. Sai debaixo de cobertas feitas de algodão, cuja planta se tornou doméstica na Índia; ou de linho ou de lã de carneiro, um e outro domesticados no Oriente Próximo; ou de seda, cujo emprego foi descoberto na China. Todos esses materiais foram fiados e tecidos por processos inventados no Oriente Próximo. Ao levantar da cama faz uso dos “mocassins” que foram inventados pelos índios das florestas do Leste dos Estados Unidos e entra no quarto de banho cujos aparelhos são uma mistura de invenções europeias e norte-americanas, umas e outras recentes. Tira o pijama, que é vestuário inventado na Índia, e lava-se com sabão que foi inventado pelos antigos gauleses, faz a barba que é um rito masoquístico que parece provir dos sumerianos ou do antigo Egito.
Voltando ao quarto, o cidadão toma as roupas que estão sobre uma cadeira do tipo europeu meridional e veste-se. As peças de seu vestuário têm a forma das vestes de pele originais dos nômades das estepes asiáticas; seus sapatos são feitos de peles curtidas por um processo inventado no antigo Egito e cortadas segundo um padrão proveniente das civilizações clássicas do Mediterrâneo; a tira de pano de cores vivas que amarra ao pescoço é sobrevivência dos xales usados aos ombros pelos croatas do século XVII. Antes de ir tomar o seu breakfast, ele olha a rua através da vidraça feita de vidro inventado no Egito; e, se estiver chovendo, calça galochas de borracha descoberta pelos índios da América Central e toma um guarda-chuva inventado no sudoeste da Ásia. Seu chapéu é feito de feltro, material inventado nas estepes asiáticas.
De caminho para o breakfast, para para comprar um jornal, pagando-o com moedas, invenção da Líbia antiga. No restaurante, toda uma série de elementos tomados de empréstimo o espera.
O prato é feito de uma espécie de cerâmica inventada na China. A faca é de aço, liga feita pela primeira vez na Índia do Sul; o garfo é inventado na Itália medieval; a colher vem de um original romano. Começa o seu breakfast, com uma laranja vinda do Mediterrâneo Oriental, melão da Pérsia, ou talvez uma fatia de melancia africana. Toma café, planta abissínia, com nata e açúcar.
A domesticação do gado bovino e a ideia de aproveitar o seu leite são originárias do Oriente Próximo, ao passo que o açúcar foi feito pela primeira vez na Índia. Depois das frutas e do café vêm waffles, os quais são bolinhos fabricados segundo uma técnica escandinava, empregando como matéria-prima o trigo, que se tornou planta doméstica na Ásia Menor. Rega-se com xarope de maple inventado pelos índios das florestas do leste dos Estados Unidos. Como prato adicional talvez coma o ovo de alguma espécie de ave domesticada na Indochina ou delgadas fatias de carne de um animal domesticado na Ásia Oriental, salgada e defumada por um processo desenvolvido no norte da Europa.
Acabando de comer, nosso amigo se recosta para fumar, hábito implantado pelos índios americanos e que consome uma planta originária do Brasil; fuma cachimbo, que procede dos índios da Virgínia, ou cigarro, proveniente do México. Se for fumante valente, pode ser que fume mesmo um charuto, transmitido à América do Norte pelas Antilhas, por intermédio da Espanha. Enquanto fuma, lê notícias do dia, impressas em caracteres inventados pelos antigos semitas, em material inventado na China e por um processo inventado na Alemanha. Ao inteirar-se das narrativas dos problemas estrangeiros, se for bom cidadão conservador, agradecerá a uma divindade hebraica, numa língua indo-europeia, o fato de ser cem por cento americano.
(LINTON, Ralph. O homem: uma introdução à antropologia. 12. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2000. p. 313-314)

O texto nos mostra que aquele homem que se considera cem por cento norte-americano, na verdade, é fruto de muitos cruzamentos culturais. Ou seja, se é verdade que o ser humano é fruto de uma cultura e que as culturas diferem entre si, também é fato que as culturas não são fechadas. No exemplo dado pelo texto, os gestos e hábitos daquele homem são os de um norte-americano, mas como não há cultura que exista sem ter contato com outras, esses gestos, hábitos e costumes resultam de cruzamentos e contatos muitas vezes longínquos. Por isso, é possível dizer que o ser humano é fruto de uma herança cultural, pois mesmo os gestos mais
típicos de uma determinada cultura originam-se de ligações, cruzamentos e contatos
dos quais muitas vezes não temos consciência por serem distantes no tempo.

As culturas estão constantemente se comunicando, estabelecendo trocas. Umas influenciam mais do que são influenciadas, mas não há nenhuma que exista fechada em si. O texto nos mostra que a ideia de cultura como algo fechado no tempo e no espaço e que não se modifica é, no mínimo, ingênua.

Apesar de podermos falar em uma cultura brasileira, francesa ou tailandesa, e também de hábitos e costumes partilhados por um povo, deve-se ter em mente que isso é fruto de um longo processo histórico que altera-se com o passar do tempo, de acordo com as trocas culturais que são estabelecidas. Mas o que é cultura? Quais são as características de todas as culturas? Como elas nasceram? Até onde existe o instinto no ser humano? Essas são algumas das questões que serão respondidas aqui.

A palavra cultura e a ideia de cultura

Você provavelmente já perceberam que uma característica do senso comum é a imprecisão terminológica, ou seja, a falta de uma preocupação em definir bem o que uma palavra quer dizer. Mas, em ciência, deve-se tomar muito cuidado ao usar um termo ou um conceito.

E o termo “cultura” é muito difícil de ser definido. Muitas são as definições de cultura.
Relembramos que parte essencial do desenvolvimento humano é o nosso processo de inserção nos grupos sociais, ou seja, a socialização. E que, para existir, os seres humanos precisam estar em constante contato entre si. Logo, o ser humano é um ser social como o são diversos outros animais que também precisam viver em sociedade para sobreviver, como os elefantes, as girafas, os lobos e tantos outros.

Mas há algo que distingue o ser humano dos outros animais, e este algo é o fato de que somos seres culturais. Ou seja, assim como muitos outros animais, o ser humano
também precisa viver em sociedade para sobreviver.

Contudo, não é viver em grupo ou passar pelo processo de socialização que nos diferencia dos outros animais, e sim, o fato de que construímos e transmitimos culturas, e eles, não. Mas o que é um ser cultural? Por que isso distingue o ser humano dos outros animais? Para responder a essas questões, deveremos analisar o significado de cultura e por que ela é o elemento que nos distingue dos outros animais.

Cultura é uma palavra que vem do latim, “cultura”, e que significava, até o século XIII, cuidado com o campo. Depois, passou a significar não mais um estado da coisa cultivada, mas a ação de cultivar a terra. Já no século XVIII, ela passou a designar o cuidado de trabalhar algo. Logo, cultura seria tudo aquilo que as pessoas cultivam (CUCHE, Denys. A noção de cultura nas ciências sociais. 2. ed. Bauru: EDUSC, 2002). É por isso que se pode falar em uma cultura de fungos, ou cultivo de fungos. O significado do termo pode variar de uma língua para outra.

É muito difícil aceitar que aquilo que aprendemos não é natural, uma vez que o internalizamos de tal forma que se torna quase uma segunda natureza para nós. Mas, para refletir sociologicamente, é necessário ter consciência de que “quase nada é natural no ser humano”. Já vimos que, para pensar sociologicamente, é preciso ter consciência do caráter social, histórico e cultural de nossas maneiras de agir, pensar e sentir.

Ou seja, o que todos os seres humanos têm em comum é a sua capacidade de se diferenciar uns dos outros. O que há de natural no ser humano é a sua aptidão para a variação cultural, a diversidade, a escolha de múltiplos caminhos.

Comecemos esta discussão, a partir do seguinte questionamento: O que você acha que o termo “cultura” pode significar?

·         Cultura pode significar um conhecimento diferenciado: no senso comum, muitas vezes associamos o termo “cultura” a uma série de conhecimentos que diferenciam as pessoas. E por isso é comum dizer “fulano tem cultura, ele leu muitos livros” ou “aquela é uma pessoa que não tem cultura, pois não sabe nada”, “fulano é culto”. Nesse sentido, cultura tem a ver com uma espécie de saber que algumas pessoas adquirem e outras não. Essa forma de entender a cultura está ligada à raiz da palavra cultura.

·         Cultura pode ser compreendida como o cultivo de algo: essa outra concepção do termo “cultura” liga-se ainda mais à sua raiz etimológica. É usada em agricultura quando se quer falar a respeito de uma plantação. Para se ter uma plantação de algo, é necessário fazer o cultivo de determinada espécie.

·         Cultura pode ser entendida como as manifestações artísticas de um povo: como quando se usa o termo “cultura” nas expressões: “teatro é cultura, cinema é cultura”.

·         Cultura também pode ser entendida como os hábitos e costumes de um povo: seria aquilo que as pessoas aprendem como membros de uma sociedade. Ou seja, as pessoas dizem, por exemplo, “os alemães comem salsicha, pois isso é uma característica de sua cultura”.

Apesar dos múltiplos significados do termo e das inúmeras variações, podemos dizer, genericamente, que cultura, tanto para a Antropologia como para a Sociologia, significa tudo aquilo que o ser humano vivencia, realiza e transmite por meio da linguagem. Ou seja, a cultura está relacionada com os conteúdos simbólicos da vida. Ou, como alguns diriam, com os mecanismos de controle dos indivíduos em sociedade, isto é, sistemas de símbolos entrelaçados e interligados entre si que fornecem para os indivíduos um modo de pensar, de agir e sentir.

Para discutir de que modo o comportamento humano é regido por meio de símbolos, leia o texto reproduzido a seguir.

O comportamento humano é regido por meio de símbolos, que são passados de geração para geração e que também se modificam. Não há ser humano cujo comportamento não seja regido por meio de símbolos.
Mas e os animais? Os animais não são também regidos por símbolos? Na natureza, o vermelho e o preto muitas vezes não são sinônimos de perigo? Os animais não transmitem mensagens para os outros animais? Não e sim. Os animais não são regidos por meio de símbolos, o que não quer dizer que não possam transmitir mensagens. Eles transmitem mensagens, mas elas são sempre as mesmas para a espécie, por isso são sinais. Já entre os seres humanos, as mensagens variam de grupo para grupo, pois são compostas por símbolos socialmente estabelecidos, que variam de sociedade para sociedade.
O comportamento dos animais é regido principalmente por meio de sinais, enquanto o do ser humano é regido predominantemente por meio de símbolos. Os sinais são organicamente programados, geneticamente transmissíveis e intransformáveis[1].
Diz-se que o sinal é organicamente programado, porque faz parte da constituição biológica desses animais se comunicarem da forma como se comunicam. A maioria dos animais, mesmo quando tirados do seu meio, desenvolve as características da espécie, ou seja, age como um membro criado pelo grupo, mesmo que tenham sido separados ao nascer. Já os símbolos são socialmente programados. Uma criança separada de seus pais ao nascer não agirá como eles, mas, sim, como membro do grupo que a criou.
Daí decorre o fato de que o comportamento dos animais é geneticamente transmissível. Afinal, a maioria deles vai se comportar sempre da mesma forma, não interessa em qual grupo seja criado. Assim, todos os tigres sempre agirão e se comunicarão por meio dos mesmos sinais, o castor sempre construirá seus diques da mesma forma, assim como as abelhas sempre farão suas colmeias do mesmo jeito. Já o nosso comportamento é regido muito mais pela forma como somos criados.
O papel da educação e do aprendizado é fundamental para que um ser humano possa se desenvolver plenamente. Mas o que cada um deve aprender, como deve se comportar como membro de um grupo, varia de cultura para cultura.
Por fim, é possível compreender a partir disso que os sinais entre os animais são intransformáveis, ou seja, não são passíveis de mudança, pois são transmitidos geneticamente de geração para geração. Ao passo que, entre os seres humanos, os símbolos são eminentemente transformáveis, ou seja, variam de cultura para cultura, de grupo para grupo.
(Elaborado especialmente para o São Paulo faz escola)


O ser humano, o instinto e a cultura

Agora é o momento de discutir a relação entre instinto e cultura. Para ilustrar temos os lobos, por exemplo. Lembre-os de que, por intermédio dos documentários que vemos na televisão, sabemos que os lobos vivem em grupo, que há regras em cada grupo e que, inclusive, há um macho que parece comandá-lo. Logo, entre os lobos, há hierarquia e uma organização social. Contudo, entre eles não há cultura.

Por que entre eles não há cultura? Só o ser humano tem essa capacidade de se projetar em tudo o que faz. Ele projeta seus valores e suas ideias nos objetos que constrói, deixando vestígios de suas relações sociais nesses objetos. Ele não se adapta à natureza como os outros animais, mas a transforma e interage com ela. Só ele tem a capacidade de transformar a natureza. Os animais sempre se adaptam ao meio ou, então, morrem.

Porque um grupo de lobos – não interessa se habita as Montanhas Rochosas, nos Estados Unidos, ou se vive do outro lado do planeta, na Sibéria – sempre agirá e se organizará da mesma forma. Isso porque os lobos podem se organizar em grupo, mas não têm cultura.

Não há cultura entre os lobos, pois não há tradição viva, elaborada de geração para geração, que permita tornar única e singular uma dada sociedade. Uma tradição viva nada mais é do que um conjunto de escolhas. Ter tradição não significa só viver determinadas regras, pois os animais vivem regras, mas viver conscientemente as regras. Sob determinadas circunstâncias, os animais vão sempre agir e reagir da mesma forma. Um grupo de lobos só agirá de forma diferente em relação a outros grupos se um elemento externo ao grupo influenciá-lo; caso isso não ocorra, agirá sempre da mesma forma. Se eles mudam suas regras, fazem isso por mudanças no meio.

Com o ser humano não acontece o mesmo, pois estamos inseridos em culturas, em tradições. A cada grupo humano corresponde uma tradição cultural.

Só o ser humano tem essa capacidade de se projetar em tudo o que faz. Ele projeta seus valores e suas ideias nos objetos que constrói, deixando vestígios de suas relações sociais nesses objetos. Ele não se adapta à natureza como os outros animais, mas a transforma e interage com ela. Só ele tem a capacidade de transformar a natureza. Os animais sempre se adaptam ao meio ou, então, morrem.

Muitas espécies animais foram extintas porque ocorreram mudanças na natureza (resultantes ou não da ação do ser humano sobre a natureza) e essas espécies não conseguiram se adaptar. Com o ser humano isso não acontece; nós não só nos adaptamos à natureza como também, principalmente, interagimos com ela, transformando-a.

Um animal pode ser criado em outro ambiente e não vai deixar de ser um animal e de adquirir as características de sua espécie. Por exemplo: o gato criado por cachorros não latirá. Mas o mesmo não acontece com o ser humano: transferido para outro ambiente, ele buscará adaptar-se, transformando o meio que o cerca, criando objetos e símbolos e se transformando também nesse processo.

Assim, o ser humano, por meio da cultura, não é só um animal que inventa objetos, mas é capaz de pensar o próprio pensamento, ou seja, ele inventa a si mesmo como ser humano.

Assim, o mundo humano se desenvolve em um ritmo dialético com a natureza, ou seja, o ser humano não responde como os animais às mudanças que ocorrem, pois diferentes culturas encontram diferentes formas de reagir às mudanças. Pode-se dizer que um animal, à medida que cresce, comporta-se cada vez mais como um membro de sua espécie. Por exemplo, uma onça cada vez mais se comporta como onça conforme cresce e se adapta ao meio. Mas não podemos dizer que um ser humano está se tornando mais ser humano, pois não há uma única possibilidade de ser humano.

A noção de adaptação, quando referida aos seres humanos, é mais difícil, pois não há uma única maneira de se adquirir sua humanidade, muito pelo contrário.

E isso é dado pela cultura. A resposta do ser humano ao meio é cultural, pois somente nós temos essa capacidade de transformar. Nós somos seres humanos porque respondemos de modo específico às mudanças. Logo, um ser humano não se torna apenas mais um ser humano à medida que cresce, mas sobretudo se torna um brasileiro, um norte-americano, um boliviano, um chinês, um alemão, um árabe etc.

Verificamos anteriormente que isso se deve à forma por meio da qual os seres humanos se comunicam. O comportamento dos seres humanos é regido por símbolos que variam de uma cultura para outra.

Com os animais não acontece o mesmo. É possível dizer que o ser humano é movido mais pela cultura do que pelos seus instintos.

À medida que cresce, o ser humano é cada vez menos conduzido pelos seus instintos e cada vez mais pela cultura. É claro que o ser humano é um ser biológico, que depende de uma série de funções vitais: todos os seres humanos comem, dormem, bebem etc. Entretanto, a maneira de satisfazer essas diferentes funções biológicas varia de uma cultura para outra.
Assim, entende-se que o comportamento do ser humano é fruto da interação entre biologia e cultura.

Tomemos como exemplo a alimentação. Se fôssemos como as outras espécies, todos nós nos alimentaríamos do mesmo modo, comendo os mesmos alimentos. É o que acontece com os outros animais. Animais de uma mesma espécie têm todos o mesmo tipo de alimentação. Todas as focas, por exemplo, se alimentam dos mesmos alimentos, e, se há uma mudança no seu padrão alimentar, isso se deve a uma alteração no meio físico e nos alimentos disponíveis e não a uma escolha do grupo. Como os seres humanos são seres culturais, tudo ocorre de forma muito diferente:

·         não nos alimentamos todos com os mesmos alimentos. Somos todos uma única espécie, mas os diferentes grupos humanos têm formas muito distintas de se alimentar. Alguém poderia dizer que isso ocorre porque, em diferentes partes do mundo, existem alimentos que são típicos de alguns lugares e outros que são muito diferentes. O determinismo geográfico é uma postura equivocada. O ser humano seleciona do meio o que ele considera servir ou não como alimento. E essa escolha é culturalmente orientada;

·         devemos nos lembrar que os mesmos animais e vegetais podem ser encontrados em diferentes locais do mundo, mas isso não quer dizer que sejam considerados alimentos possíveis em todos os lugares.

Existem, exemplos de animais e/ou vegetais que são considerados alimentos em alguns lugares e não em outros. Muitos provavelmente se lembrarão de que os coreanos comem carne de cachorro e que os chineses comem escorpiões, além de lesmas e baratas. Lembramos de que muitos dos povos latino-americanos comem o abacate na sua forma salgada. Em alguns lugares da América Latina, por exemplo, as crianças levam sanduíches de pão com abacate como lanche para a escola. Os franceses costumam consumir fígado de pato, ou que judeus não consomem carne de porco.

Voltando à questão do instinto, pode-se afirmar que o processo de evolução do ser humano se dá de forma diferente daquele que ocorre com os outros animais. Isso porque os animais de uma mesma espécie, na medida em que são guiados pelo instinto, sempre agirão da mesma forma sob as mesmas condições.

Mas o mesmo não acontece com o ser humano. Isso significa, então, que o ser humano não tem instinto? Qual será o papel do instinto na vida do ser humano?

Chegamos, então, a outro ponto. O ser humano é resultado do meio social em que foi socializado. Se o ser humano fosse mesmo um ser levado predominantemente pelos seus instintos, todos nós, em uma mesma situação, agiríamos da mesma forma. Mas não é isso o que acontece, porque, apesar de o instinto ser o mesmo em todos os lugares, não somos regidos somente pelo instinto.

·         só o ser humano produz cultura: o que diferencia o ser humano dos outros animais é o fato de que ele é o único ser que possui cultura;

·         só o ser humano acumula experiências e as transmite de geração para geração, formando uma herança cultural: os primatas, como sabemos, são os seres que mais se parecem com o ser humano. Entretanto, ao contrário de nós, que acumulamos e transmitimos nossas experiências para as sucessivas gerações, os primatas não fazem isso. Eles habitam as florestas e vivem sempre da mesma forma. O ser humano, por exemplo, não vive mais em cavernas. Ano a ano, de geração a geração, vamos acumulando experiências e saberes a respeito da natureza. Algo que não acontece com os outros animais. Os animais mudam o seu comportamento quando há uma mudança no meio físico, mas não porque resolvem agir de forma diferente;

·         só o ser humano renova e transforma seu comportamento: ao contrário dos outros animais, cujo comportamento se modifica para se adaptar a mudanças do meio físico, o ser humano está sempre renovando e transformando seus comportamentos, independentemente do meio físico no qual habita. O meio físico pode provocar certas mudanças no comportamento dos seres humanos, mas isso não é algo que determina a nossa maneira de agir. É o contato com outros seres humanos e outras culturas que provoca a renovação e a transformação nos hábitos, costumes e modos de pensar e de agir dos seres humanos. Somos capazes de partilhar e transmitir a experiência e temos a habilidade de acumular nossas experiências, enquanto os outros animais não. E, com isso, transformamos os comportamentos anteriores;

Tudo isso é o resultado da interação com o meio físico e não só da adaptação. Ou seja, o ser humano não só reage às adversidades do meio físico, mas também o transforma e cria novas possibilidades com essa experiência, também se transformando nesse processo.

·         o ser humano é guiado mais pela cultura do que pelos seus instintos: isso porque, à medida que cresce, vai sendo cada vez menos levado pelos seus instintos e cada vez mais orientado pela cultura. É claro que o ser humano é um ser biológico, que depende de uma série de funções vitais: todos comem, dormem, bebem. Entretanto, a maneira de satisfazer essas diferentes funções biológicas varia de uma cultura para outra;

·         o processo de evolução do ser humano ocorre de forma diferente em relação ao dos outros animais: um cachorrinho recém-nascido pode ser criado por uma gata. Mas por mais que a gata procure ensiná-lo, o cachorro não miará. Ele rosnará, latirá, mas não miará. Ou seja, nenhuma privação de associação com sua espécie fará do cachorro um gato. Isso porque o cachorro, assim como os outros animais, é movido primordialmente por seus instintos e é programado geneticamente para agir como um cachorro. Já com o ser humano é diferente. Ao nascer, ele é totalmente dependente de outros seres humanos e dificilmente conseguirá viver afastado deles. E, se um bebê nascido em uma cultura é adotado por um casal de outra cultura, ele aprenderá a língua e os hábitos do novo grupo. Não vai agir como seus pais biológicos, ou gostar das mesmas coisas que eles, mas será influenciado pelos seus pais adotivos. O ser humano, portanto, é resultado do meio em que foi socializado. Se o ser humano fosse mesmo um ser guiado predominantemente pelos seus instintos, todos nós agiríamos da mesma forma em uma mesma situação, e não é isso o que acontece.

Os seres humanos, assim como os outros animais, possuem instintos. Mas a relação que o ser humano tem com seus instintos é muito diferente da que os outros animais têm.

Quando nasce, o ser humano é puro instinto, assim com os outros animais. Se tem fome ou sede, ele chora. Se não gosta de uma comida, ele cospe. Se tem vontade de satisfazer suas necessidade fisiológicas, ele urina e defeca onde estiver, pois não consegue se controlar. Mas, ao contrário dos outros animais, à medida que cresce, o instinto passa a ter um papel secundário na sua vida, pois aprende que para viver em sociedade é necessário contê-lo.

Dessa forma, as pessoas não defecam ou urinam quando querem. E, mesmo quando comem algo de que não gostam, geralmente não cospem o alimento. Um exemplo simples, mas ao mesmo tempo interessante, mostra isso: digamos que um rapaz foi convidado para comer na casa da jovem por quem tem sério interesse. Para impressioná-lo, a família dela faz uma iguaria muito apreciada por todos, mas que o rapaz, ao provar, acha horrível.

Qual seria o instinto do jovem? Cuspir aquela “gororoba”! Mas isso não quer dizer que ele vá agir de acordo com seus instintos. Ele é controlado pelo padrão cultural internalizado, segundo o qual seria uma ofensa muito grande à família da jovem não comer aquilo. E ele, se estiver de fato interessado na jovem, não apenas comerá o alimento de que não gostou como provavelmente sorrirá e dirá que o achou “uma delícia”, só para agradar à amada e seus familiares. Nesse sentido, pode-se dizer que o ser humano, assim como os outros animais, também possui instinto. Entretanto, conforme passa pelo processo de socialização, seus instintos são “abafados”, reprimidos pelo padrão cultural que ele internaliza.

O papel do instinto nos seres humanos deve ser relativizado, ou seja, que ele não deixa de existir, mas pode ser atenuado e reprimido pela cultura.

Como falar em instinto de conservação quando lembramos as façanhas dos camicases japoneses (pilotos suicidas) durante a Segunda Guerra Mundial? Se o instinto existisse, seria impossível aos arrojados pilotos guiarem os seus aviões de encontro às torres das belonaves americanas.
O mesmo é verdadeiro para os índios das planícies americanas, que possuíam algumas sociedades militares nas quais os seus membros juravam morrer em combate e assim assegurar um melhor lugar no outro mundo.
Como falar em instinto materno, quando sabemos que o infanticídio é um fato muito comum entre diversos grupos humanos? Tomemos o exemplo das mulheres Tapirapé, tribo Tupi do Norte de Mato Grosso, que desconheciam quaisquer técnicas anticoncepcionais ou abortivas e eram obrigadas, por crenças religiosas, a matar todos os filhos após o terceiro. Tal atitude era considerada normal e não criava nenhum sentimento de culpa entre as praticantes do infanticídio.
Como falar em instinto filial, quando sabemos que os esquimós conduziam os seus velhos pais para as planícies geladas para serem devorados pelos ursos? Assim fazendo, acreditavam que os pais seriam reincorporados na tribo quando o urso fosse abatido e devorado pela comunidade.
(LARAIA, Roque de Barros. Cultura: um conceito antropológico. 23. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2009. p. 50-51)

O texto é um conjunto de exemplos que ajudam a relativizar certas ideias do senso comum, tais como a do instinto de sobrevivência, do instinto materno e do instinto filial. Com esses exemplos não se quis dizer que o ser humano não tenha instinto, é claro que nós temos. Entretanto, maior do que o papel do instinto na vida dos seres humanos é a importância dos comportamentos culturalmente transmitidos, que muitas vezes podem se opor a ele, como foram os casos dos camicases do Japão, das índias Tapirapé de Mato Grosso e dos esquimós e seus pais.

O ser humano e a cultura

Trabalhemos aqui com algumas hipóteses de como evoluímos e quais são as características da cultura. Muitos são os autores que discutiram o tema da evolução humana e os antropólogos estão de acordo com a ideia de que não há um mesmo desenvolvimento unilinear (crença de que toda a humanidade passou, passa e passará por um mesmo processo linear de evolução, ou seja, pelas mesmas etapas).

Há o consenso de que o que existe é uma evolução multilinear. Ou seja, de que as diferentes sociedades possuem um desenvolvimento próprio e não passam todas pelas mesmas etapas.

Um autor que pode nos ajudar a trabalhar criticamente essa questão é Roberto DaMatta (1987). Para ele, nessa ideia de desenvolvimento linear há uma concepção teatral da origem do homem, segundo a qual o seu desenvolvimento se deu por etapas:

a) no primeiro ato, o mundo é um lugar povoado por uma natureza hostil: animais perigosos e fenômenos naturais como vendavais, tempestades, glaciações;

b) no segundo ato, aparece o ser humano, apresentado como um ser solitário;

c) estimulado pelo mundo exterior, o ser humano usa sua inteligência e começa a aprender pela experiência. Aos poucos, cria artefatos para enfrentar a natureza e dominá-la;

d) ele vê que precisa se agrupar para lutar contra o mundo exterior;

e) ele se vê obrigado a inventar instituições para conter seus impulsos e os dos outros seres humanos: a agressividade leva ao surgimento das leis e do direito; sua sexualidade leva ao surgimento do casamento, da família etc.

Segundo DaMatta, esse teatro apresenta dois aspectos importantes:

·         uma visão utilitarista da cultura;
·         o social é um fenômeno secundário, uma simples resposta do ser humano a estímulos externos.

Quais são os problemas desse teatro?

·         ele fala do ser humano, quando, na verdade, ele nunca existiu dessa forma atomizada, sozinho. O que sempre existiu foram sociedades e culturas;
·         ao tratar do ser humano deixando de lado as culturas e as sociedades, fala-se dele com generalidade, mas há aí um problema: ao deixar de lado a cultura, deixam-se de lado as diferenças. E o ser humano só existe na diferença. Não há um ser humano sozinho;
·         um terceiro problema é que, ao deixar de lado as diferenças, sugere-se que o ser humano não reflete, não pensa, que ele só reage ao ambiente natural. E isso não é verdade:
a) o ser humano interage com o meio, ou seja, ele não apenas se adapta. Ele écapaz de criar, inventar, transformar;
b) o ser humano nunca existiu sozinho, pois ele precisa dos outros seres humanos para existir. Ao nascer é absolutamente frágil e só se humaniza em sociedade, ou seja, imerso em um grupo e por meio da incorporação de um sistema de símbolos que são partilhados pelo grupo e que dizem como ele deve agir. Nesse sentido, não é possível esquecer que o ser humano só existe na diferença, imerso em um determinado grupo.

O que mais essa visão de um único processo linear de desenvolvimento para toda a humanidade deixa de lado?

O que se deixa de lado com tudo isso é, na verdade, a ideia de que os diferentes seres humanos procuram respostas diferentes para os mesmos problemas e que também, por vezes, cada cultura cria e precisa resolver problemas e questões particulares que não dizem respeito a outras culturas.

Se fôssemos realmente regidos por leis utilitárias, ou seja, por uma única lógica do instinto, não existiriam diferenças entre os seres humanos. Só existiria, portanto, para todos nós, uma única resposta possível para os problemas de sobrevivência que nos são colocados. Mas existem muitas respostas. Elas não só existem como também são a base da condição humana.

Tendo compreendido que o ser humano só existe como ser cultural, que o instinto existe entre nós, mas que é reprimido pela cultura, falta agora finalizarmos discutindo as características da cultura.

Várias são as características de todas as culturas. Entre elas é importante destacar que toda cultura é:

a.    simbólica: a cultura é um conjunto de significados sistematizados transmitidos por símbolos e sinais, ou seja, a linguagem. Podemos tomar como exemplo o coração: como um símbolo, seu significado é construído de maneira social, histórica e cultural. Logo, pode variar em uma mesma cultura e entre diferentes culturas. Entre nós é muito usado em propagandas. Em uma propaganda do Dia dos Namorados, por exemplo, a imagem de um coração batendo ao lado de duas pessoas entrelaçadas significa amor. Mas o coração em nossa sociedade também é utilizado como símbolo da vida. Assim, em outra propaganda, cujo tema é a doação de órgãos, a imagem de um coração batendo não está tão relacionada apenas ao amor, mas também com a vida, com solidariedade.

b.    social: não existe uma cultura individual. Toda cultura é necessariamente partilhada por um grupo. Ela diz respeito a um sistema de símbolos socialmente partilhados que ajudam a reger o nosso comportamento. Por exemplo, o Direito. O Direito reflete as regras do grupo, o que é importante para aquele grupo, para aquela sociedade. Ele diz respeito a significados e comportamentos socialmente partilhados e tidos como aceitáveis pela maioria da população, e que, por serem tão importantes, são codificados na forma de lei. Caso a lei não faça mais sentido para a maioria da população, ela pode deixar de fazer parte do Código. Por exemplo, até há algum tempo um homem poderia matar a sua mulher e alegar legítima defesa da honra. Hoje, isso não é mais aceito pela maioria da população e essa lei foi retirada do Código Civil. Nenhum homem tem o direito de matar sua esposa.

c.    dinâmica e estável: pode-se dizer que toda cultura é ao mesmo tempo dinâmica e estável. As culturas são dinâmicas, pois se transformam. Não há cultura que permaneça estática. Mas é claro que algumas se transformam mais rápido, outras mais devagar. Entretanto, ao mesmo tempo que as culturas mudam, pode-se dizer que essa mudança não ocorre diariamente. Existem padrões, modelos institucionalizados de comportamentos que são considerados aceitáveis e que não se modificam da noite para o dia. Por essa razão é possível dizer que elas também são estáveis, pois, durante determinado período (que varia de cultura para cultura), permanecem as mesmas. Existem duas possibilidades de mudança cultural: uma que é interna à própria cultura e outra que é o resultado do contato com outro sistema cultural. Elas mudam, então, devido a fatores internos ou externos. A mudança por fatores internos à própria cultura é mais difícil de ocorrer, pois a tendência de uma determinada cultura, quando tem pouco contato com outras, é a de reproduzir sempre o mesmo padrão. As mudanças culturais em virtude de fatores externos são mais fáceis de ocorrer. O contato entre culturas com valores, costumes e modos de vida diferentes pode provocar transformações culturais. Um exemplo de mudança por fatores externos é o dos hábitos alimentares dos brasileiros. Na nossa cultura, não havia quase o hábito de se comer hambúrguer. Mas, como a influência da cultura norte-americana é grande, isso mudou. Com a entrada de redes de fast-food, propagandas e a produção de hambúrgueres em larga escala, a preços cada vez mais baixos, é difícil encontrar pessoas, especialmente as mais jovens, que não apreciem esse tipo de alimento.

d.    seletiva: a cultura está sempre mudando, mas ela muda de forma seletiva. Cada cultura absorve determinados padrões, mas não todos com os quais toma contato. É preciso dizer que muitas vezes essa seleção é inconsciente. Há a tendência de achar que o padrão cultural estabelecido não é um padrão cultural, mas, sim, um comportamento natural. As pessoas se esquecem de que outros padrões são possíveis. Para esclarecer essa questão, tome como exemplo o casamento. Existem muitos padrões possíveis de casamento na humanidade: o de um homem com uma mulher (monogâmico), o de duas mulheres ou dois homens (homossexual), o de um homem com mais de uma mulher (poligâmico) e o de uma mulher com mais de um homem (poliândrico). Na nossa cultura, o único aceito do ponto de vista jurídico, ou seja, o que é legalmente aceito, é o padrão monogâmico, como o casamento de um homem com uma mulher, o de duas mulheres e o de dois homens, mas não o casamento poligâmico ou a poliandria. Já no Irã, é permitido não só o casamento entre um homem e uma mulher, mas o casamento poligâmico também, enquanto a poliandria e o casamento homossexual são impensáveis para a sociedade iraniana.

e.    determinante e determinada: ao mesmo tempo que a cultura se impõe sobre o indivíduo, que determina o seu comportamento, o indivíduo pode mudar a cultura, ou seja, ela pode ser determinada pelo indivíduo. Toda cultura é uma obra coletiva, mas pode ser modificada e é vivida de diferentes maneiras pelas diferentes pessoas. Ela não é só uma amarra, ela não só se impõe sobre nós. Nós também podemos modificá-la, determiná-la. Afinal, apesar de existir um sistema de símbolos partilhado por todos, as pessoas não se inserem em uma cultura todas da mesma forma, seja porque cada subgrupo dentro de uma cultura se relaciona com ela de uma forma diferente, seja porque cada pessoa compreende e se relaciona com os mesmos padrões culturais de uma maneira única. Caso isso não ocorresse, todos dentro de uma mesma cultura pensariam da mesma forma, pois partilhariam valores e símbolos. Mas não é isso o que acontece. Cada indivíduo se relaciona com o padrão social e culturalmente estabelecido de forma única.

Para encerrar essa discussão, tomemos o exemplo do Direito. Como vimos, as regras ou as normas sociais mostram o que as pessoas devem e não devem fazer, na medida em que são expressões de um padrão cultural. Essas regras ou normas são unificadas e consolidadas na forma de regras jurídicas que disciplinam as relações dos indivíduos em sociedade, estabelecendo penalidades no caso de seu não cumprimento. Mas, assim como as regras sociais, as normas do direito não são somente determinantes, ou seja, não apenas agem sobre nós, elas também são determinadas por nós e, assim, podem ser modificadas. Uma expressão disso é a lei do divórcio, que permite a dissolução do vínculo matrimonial e um novo casamento com outras pessoas. Essa lei veio a alterar a norma social e jurídica que considerava o casamento como indissolúvel, e foi o resultado da mobilização de grupos sociais que lutaram pela sua efetivação.

Pode-se resumir o que foi estudado até aqui da seguinte forma:

·         A cultura, mais do que a herança genética, determina o comportamento do ser humano.
·         O ser humano age de acordo com seus padrões culturais, ou seja, ele é um ser parcialmente movido pelos instintos. No ser humano, o papel do instinto diminui conforme ele passa pelo processo de socialização.
·         O ser humano depende muito mais do aprendizado do que do instinto.
·         Como não só se adapta ao meio, mas também interage com ele, o ser humano é capaz de viver sob os mais diversos climas e situações. Assim, ele conseguiu transformar quase toda a Terra em seu habitat.
·         A cultura é um processo cumulativo resultante das sucessivas gerações, ou seja, a experiência vai sendo acumulada com o passar do tempo. Mas isso não quer dizer que a cultura não seja passível de mudança.

Questões

1.    Explique por que há diferença de comportamento entre os seres humanos e outros animais.

2.    Disserte sobre o papel do instinto na vida do ser humano. Por que, à medida que o ser humano envelhece, os instintos vão perdendo a importância?

3.    As culturas humanas são muito diferentes entre si. Entretanto, todas as culturas têm algumas características que as ligam. Explique duas características da cultura e dê um exemplo de cada característica.

4.    Faça uma redação na qual discutam a relação entre a cultura e o instinto na vida das pessoas.




[1] Leia mais sobre o assunto em: RODRIGUES, José Carlos. Antropologia e comunicação: princípios radicais. Rio de Janeiro: PUC-Rio; São Paulo: Loyola, 2003. (Coleção Ciências Sociais, n. 5).

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