quarta-feira, 16 de agosto de 2017

Violência e Sociedade I - O que é violência?

Pretende-se chegar a uma concepção geral de violência e de suas principais formas e dimensões. Serão discutidos também seus desdobramentos sociais e jurídicos, para chegar a um consenso sobre em que consiste a violação de direitos e o que efetivamente acarreta sanções do ponto de vista da lei.

A violência é, hoje, parte do nosso cotidiano. De maneira direta ou indireta, somos diariamente expostos a todo tipo de informação alusiva a atos de violação da integridade física, psicológica e moral de outros seres humanos. Isso ocorre por meio dos noticiários televisivos, da mídia impressa, do cinema, das séries policiais e da própria realidade à nossa volta. Somos testemunhas de atos violentos, conhecemos pessoas que foram vítimas e também agressores, ou somos nós mesmos, vítimas ou responsáveis por ações que deixam sequelas físicas e psicológicas. Por essa razão, tratar do tema “violência” envolve sempre o risco da banalização e do senso comum. Pensar o problema de maneira sociológica requer, antes de tudo, adotar um distanciamento apropriado, procurando analisá-lo sob um enfoque objetivo. Mais uma vez, vamos recorrer ao exercício do estranhamento para tratar do assunto “violência” como se estivesse sendo discutido pela primeira vez.

Nesta etapa, vamos discutir a questão central da concepção do que é violência. É importante ter em mente que, tal como diversos outros conceitos da Sociologia, não há uma definição única sobre o que seja a violência, aceita de forma unânime pelos sociólogos. Diferentes autores a abordam sob enfoques diversos.

Por essa razão, vamos começar por uma concepção geral, embasada na literatura sociológica. Essa noção, entretanto, não deve ser entendida como um conceito fechado e acabado, mas, sim, aberto ao debate e à reflexão crítica.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), no Relatório Mundial sobre a Violência e Saúde (2002), a violência pode ser definida como o uso intencional de força física ou do poder contra si mesmo, outra pessoa, um grupo ou uma comunidade.

O uso da força ou do poder pode ser:
a) real, ou seja, quando chega às vias de fato e resulta em dano;
b) em forma de ameaça, isto é, quando representa alta probabilidade de causar dano psicológico, lesão, deficiência de desenvolvimento, privação1 ou morte.

A violência pode ser entendida como a ação ou ameaça de um indivíduo ou grupo contra uma ou mais pessoas a fim de causar danos. Essa violência pode ser direta, quando atinge imediatamente o corpo da pessoa que a sofre, ou indireta, quando se dá por meio da alteração do ambiente no qual ela se encontra ou quando se retiram, destroem ou danificam os seus recursos materiais. Tanto a forma direta como a forma indireta prejudicam a pessoa ou o grupo alvo da violência. Além disso, existe violência quando a ação causa constrangimentos não apenas físicos, mas também psicológicos e morais. Finalmente, é preciso incluir a violência simbólica, que não causa a morte física, mas atenta contra as crenças, a cultura e a própria identidade dos indivíduos que dela são vítimas. Concluindo, entende-se como violência tudo aquilo que não é desejado pelo outro e que lhe é imposto pela força concreta ou simbólica.

Você deverá pesquisar, seguindo as orientações de seu professor, em revistas, jornais e na internet, reportagens e matérias que relatem episódios de violência variados. O objetivo da pesquisa é obter um caso de violência física, um de violência psicológica e outro de violência simbólica. O trabalho deve contemplar os seguintes aspectos: assunto da reportagem; breve descrição dos fatos ocorridos; identificação das vítimas e dos agressores; identificação do(s) tipo(s) de violência abordado(s) na reportagem; justificativa do item anterior.

Para refletir

Resumindo, entendemos que podem existir várias formas de violência. Uma maneira de continuar a refletir sobre isso é olhar para você mesmo, para a sua família, seus amigos, sua vizinhança e até para o país e se perguntar: Eu costumo sofrer violência em casa, na escola, na vizinhança ou no trabalho? Eu contribuo para a violência? Bato, ameaço ou faço quaisquer dos atos explicados?
Aproveite para se perguntar: O que eu posso mudar no meu comportamento e como posso ajudar outras pessoas a mudarem o comportamento delas? Afinal, é importante refletir tanto sobre as ações dos outros quanto sobre nossas próprias ações.
Nesse universo, todos são vítimas, não apenas porque provenham do mesmo “meio social” e estejam
igualmente submetidos às desfavoráveis condições sociais de vida, mas na condição de vítimas de um
mundo social opressivo e despótico, como é o mundo do crime entre classes populares. Pode-se, portanto, argumentar que todos, indistintamente, são vítimas da pobreza de direitos, grosso modo entendida como conjunto de obstáculos enfrentados no acesso à justiça social, inclusive precária proteção social contra a derivação para a violência e para o crime. Se a derivação para a violência e para o crime configura-se como uma espécie de opção, escolha ou vontade de alguns, o que resulta na construção de carreiras criminais, é justamente porque, em algum momento, as leis deixaram de ser aplicadas.
(ADORNO, Sérgio. [Trecho citado]. In: PERES, Maria F.; CARDIA, Nancy; SANTOS,
Patrícia C. Homicídios de crianças e jovens no Brasil: 1980-2002. São Paulo: Núcleo de Estudos da
Violência/Universidade de São Paulo, 2006. p. 31.)

Uma das particularidades mais relevantes dos jovens cujos estilos de vida são mais marcados pelo
risco é a sua recorrente subestimação e o reforço da sua atração. Sistematicamente verificamos que os
jovens mais envolvidos nos comportamentos de risco tendem a não reconhecer ou a subestimar a sua
periculosidade e as suas implicações em termos de saúde. O risco apresenta-se muitas vezes como
atrativo e as possíveis consequências negativas, que a surgirem apenas se manifestarão, em muitos
casos, muito mais tarde, são ignoradas. Por isso se verificou uma relação negativa entre os
comportamentos de risco e a preocupação e o empenho face ao futuro. Subjacente à postura de risco
perfilha-se muitas vezes uma atitude hedonista voltada para as gratificações que a ação no presente
pode proporcionar.
(FERREIRA, Pedro M. Comportamentos de risco dos jovens. In: PAIS, José M. et al. Condutas de risco, práticas culturais e atitudes perante o corpo: resultados de um inquérito aos jovens portugueses. Oeiras: Celta, 2003. p. 166.)

1 A falta do necessário à vida; necessidade, fome, miséria.



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Fonte: São Paulo-SEE, Caderno do professor. Sociologia, EM, 2ª S., V.1, 2014, p. 39-46

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