Hoje em dia, os homens sentem, frequentemente, suas vidas privadas como uma série de armadilhas. Percebem que, dentro dos mundos cotidianos, não podem superar as suas preocupações, e quase sempre tem razão nesse sentimento: tudo aquilo de que os homens comuns tem consciência direta e tudo o que tentam fazer está limitado pelas órbitas privadas em que vivem. Sua visão, sua capacidade estão limitadas pelo cenário próximo: o emprego, a família, os vizinhos; em outros ambientes, movimentam-se como estranhos, e permanecem espectadores [...]
Subjacente a essa sensação de estar encurralados estão mudanças aparentemente impessoais na estrutura mesma de sociedades e que se estendem por continentes inteiros. As realidades da história contemporânea constituem também realidades para êxito e fracasso de homens e mulheres individualmente. Quando uma sociedade se industrializa, o camponês se transforma em trabalhador; o senhor feudal desaparece, ou passa a ser homem de negócios. Quando as classes ascendem ou caem, o homem tem emprego ou fica desempregado; quando a taxa de investimento se eleva ou desce, o homem se entusiasma, ou se desanima. Quando há guerras, o corretor de seguros se transforma no lançador de foguetes, o caixeiro da loja, em homem de radar; a mulher vive só, a criança cresce sem pai. A vida do indivíduo e a história da sociedade não podem ser compreendidas sem compreendermos essas alternativas.
E, apesar disso, os homens não definem, habitualmente, suas ansiedades em remroa de transformação histórica [...]. O bem-estar que desfrutam, não o atribuem habitualmente aos grandes altos e baixos da sociedade em que vivem. Raramente tem consciência da complexa ligação entre suas vidas e o curso da história mundial [...]. Não dispõem da qualidade intelectual básica para sentir o jogo que de processa entre os homens e a sociedade, a biografia e a história, o eu e o mundo. Não podem enfrentar suas preocupações pessoais de modo a controlar sempre as transformações estruturais que habitualmente estão atrás deles. [...]
A própria evolução da história ultrapassa, hoje, a capacidade quem têm os homens de se orientarem de acordo com valores que amam. E quais são esses valores? [...] as velhas maneiras de pensar e sentir entraram em colapso. [...] Que - em defesa só eu - se tornem moralmente insensíveis, tentando permanecer como seres totalmente particulares? [...]
Não é apenas de informação que precisam. [...]
O que precisam [...] é uma qualidade só espírito que lhes ajude a usar a informação e a desenvolver a razão, a fim de perceber com lucidez o que está ocorrendo no mundo e o que pode estar acontecendo dentro deles mesmos. É essa qualidade, afirmo, que jornalistas w professores, artista e públicos, cientistas e editores estão começando a esperar daquilo que poderemos chamar se imaginação sociológica [...]
O primeiro fruto dessa imaginação - e a primeira lição da ciência social que a incorpora - é a ideia de que o indivíduo só pode compreender a sua própria experiência e avaliar seu próprio destino localizando-se dentro de seu próprio período: só pode conhecer suas possibilidades na vida tornando-se cônscio das possibilidades se todas a pessoas, nas mesmas circunstâncias em que ele. (MILLS, C. Wright. A imaginação sociológica. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1980 [1959]. p. 8-11.
Esse texto discute a importância da "imaginação sociológica" para leigos, por se tratar de uma habilidade que possibilita a construção de conexões entre biografia e história, agência e estrutura, particular e geral.
Subjacente a essa sensação de estar encurralados estão mudanças aparentemente impessoais na estrutura mesma de sociedades e que se estendem por continentes inteiros. As realidades da história contemporânea constituem também realidades para êxito e fracasso de homens e mulheres individualmente. Quando uma sociedade se industrializa, o camponês se transforma em trabalhador; o senhor feudal desaparece, ou passa a ser homem de negócios. Quando as classes ascendem ou caem, o homem tem emprego ou fica desempregado; quando a taxa de investimento se eleva ou desce, o homem se entusiasma, ou se desanima. Quando há guerras, o corretor de seguros se transforma no lançador de foguetes, o caixeiro da loja, em homem de radar; a mulher vive só, a criança cresce sem pai. A vida do indivíduo e a história da sociedade não podem ser compreendidas sem compreendermos essas alternativas.
E, apesar disso, os homens não definem, habitualmente, suas ansiedades em remroa de transformação histórica [...]. O bem-estar que desfrutam, não o atribuem habitualmente aos grandes altos e baixos da sociedade em que vivem. Raramente tem consciência da complexa ligação entre suas vidas e o curso da história mundial [...]. Não dispõem da qualidade intelectual básica para sentir o jogo que de processa entre os homens e a sociedade, a biografia e a história, o eu e o mundo. Não podem enfrentar suas preocupações pessoais de modo a controlar sempre as transformações estruturais que habitualmente estão atrás deles. [...]
A própria evolução da história ultrapassa, hoje, a capacidade quem têm os homens de se orientarem de acordo com valores que amam. E quais são esses valores? [...] as velhas maneiras de pensar e sentir entraram em colapso. [...] Que - em defesa só eu - se tornem moralmente insensíveis, tentando permanecer como seres totalmente particulares? [...]
Não é apenas de informação que precisam. [...]
O que precisam [...] é uma qualidade só espírito que lhes ajude a usar a informação e a desenvolver a razão, a fim de perceber com lucidez o que está ocorrendo no mundo e o que pode estar acontecendo dentro deles mesmos. É essa qualidade, afirmo, que jornalistas w professores, artista e públicos, cientistas e editores estão começando a esperar daquilo que poderemos chamar se imaginação sociológica [...]
O primeiro fruto dessa imaginação - e a primeira lição da ciência social que a incorpora - é a ideia de que o indivíduo só pode compreender a sua própria experiência e avaliar seu próprio destino localizando-se dentro de seu próprio período: só pode conhecer suas possibilidades na vida tornando-se cônscio das possibilidades se todas a pessoas, nas mesmas circunstâncias em que ele. (MILLS, C. Wright. A imaginação sociológica. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1980 [1959]. p. 8-11.
Esse texto discute a importância da "imaginação sociológica" para leigos, por se tratar de uma habilidade que possibilita a construção de conexões entre biografia e história, agência e estrutura, particular e geral.