quarta-feira, 6 de novembro de 2019

Unidade 4 - Capitulo 12 – Poder, política e Estado no Brasil




Ao longo da história do Brasil, o Estado assumiu as mais diferentes feições. Durante mais de 300 anos, como colônia, o Brasil esteve submetido ao Estado português. Após a independência, tornou-se um Estado monárquico liberal e, contraditoriamente, escravocrata. Ao longo da República, tivemos um Estado ora oligárquico, ora ditatorial, ora liberal, marcado por frequentes intervenções e golpes militares. Enfim, com a Constituição de 1988, abriu-se para o país a perspectiva de um Estado democrático duradouro, mas com uma política econômica neoliberal, sem ter efetivamente passado por um Estado de bem-estar social.
Entre 1500 e 1822, todas as decisões políticas relacionadas ao Brasil eram tomadas pelo soberano português, um monarca absolutista. Foi assim desde a criação das capitanias hereditárias até a instituição do Governo Geral.
Entre 1822 e 1889, havia no Brasil um Estado imperial constitucional, com os poderes Executivo (Conselho de Estado), Legislativo (Assembleia Geral, composta do Senado e da Câmara dos Deputados) e Judiciário (Supremo Tribunal de Justiça). No entanto, havia o poder Moderador, que ficava acima dos outros três e era exercido pelo imperador. Dom Pedro I tinha o poder absoluto com uma maquiagem liberal.
Talvez o Brasil tenha sido o único país em que uma constituição liberal coexistiu com a escravidão. Trata-se de uma grande contradição, pois esse documento dispõe que todos os indivíduos são iguais perante a lei, ao passo que a escravidão é a negação desse princípio. Essa contradição permaneceu porque a escravidão era um dos elementos estruturais do Império. Ela foi abolida em 1888 e a monarquia caiu em seguida.

12.1. O Estado republicano
O Estado nascido com a República caracterizou-se como liberal conservador. Desde o início, a presença dos militares foi marcante: na presidência da República ou nos bastidores, eles sempre influíram nas principais decisões políticas. Nesse período, diferentes tipos de poder se alternaram: o poder oligárquico (dos latifundiários), as ditaduras explícitas, os governos democráticos liberais com restrições, etc.
A República no Brasil surgiu de um movimento da cúpula militar, sem a participação da população.
Em 1891, foi promulgada uma constituição que instituiu a República Federativa do Brasil. As províncias (os atuais estados) tinham autonomia e constituição própria, que definia o Judiciário, as Forças Armadas, os códigos eleitorais e a cobrança de impostos. Mas a União podia intervir nas províncias em defesa da ordem e do pacto federativo.

12.2. República Velha (de 1889 a 1930)
Nesse período, o poder se caracterizava por duas práticas: a política dos governadores e o coronelismo. A política dos governadores expressava um acordo entre o governo federal e as oligarquias regionais, por meio da destinação de verbas da União para obras públicas estaduais. Em troca, o governo federal recebia apoio para a aprovação dos projetos de interesse do Executivo. Foi marcante a presença dos estados de Minas Gerais e São Paulo no Executivo federal.
O coronelismo era uma forma de poder político, econômico e social, encarnado pelo proprietário rural, que controlava os meios de produção e os moradores da zona rural e das pequenas cidades do interior. A prática política e social dos coronéis mantinha uma articulação local-regional e regional-federal como nos tempos do Império. Não havia mecanismos institucionais que pudessem coibir as fraudes, pois o voto era aberto e não existia uma justiça eleitoral independente.

12.3. Período Vargas (1930 a 1945)
Dois golpes de Estado delimitam esse período: um para colocar Getúlio Vargas no poder e outro para derrubá-lo. A atuação parlamentar, quando existiu, esteve atrelada ao governo central. Houve duas constituições: a de 1934 (de fundamento liberal); a de 1937 (de inspiração fascista e autoritária).
Com Getúlio Vargas no poder, estabeleceu-se o populismo: relação em que o governo buscava o apoio dos trabalhadores e da burguesia industrial (setor que de fato representava). Isso criou uma divergência com o setor agrário dominante, já que o objetivo era industrializar o país, utilizando a modernização e instalação da estrutura estatal e a incorporação, pelo Congresso de modo controlado e subordinado, das massas urbanas.
Na era Vargas (1937 a 1945), o Estado aparecia como o Estado Novo, principal agente investidor na infraestrutura necessária à industrialização. A despeito de seu caráter autoritário e da repressão que desencadeou no Estado Novo, Getúlio Vargas deixou um legado de leis trabalhistas e a concepção de um país com um projeto nacional que continuou nos anos seguintes.

12.4. O Estado liberal (1945 a 1964)
O Estado estruturou-se com a Constituição de 1946, considerada politicamente liberal. Mas a intervenção estatal na economia era permitida, quando necessária à industrialização. O governo investiu em empresas siderúrgicas e nacionalizou a produção e o refino de petróleo. O objetivo era diminuir as importações que ainda abrangiam os bens de consumo duráveis, como os eletrodomésticos em geral.
De 1956 a 1960, o governo de Juscelino Kubitschek promoveu grande desenvolvimento econômico e industrial graças à aliança entre investimentos do Estado e dos capitais nacional e estrangeiro. A indústria nacional de bens duráveis e a automobilística foram implantadas. Em 1961, Jânio Quadros foi eleito com a promessa de varrer a corrupção e a dívida pública. Mas sua renúncia desencadeou uma crise que culminou no golpe militar de1964, derrubando João Goulart.

12.5. República dos generais (1964 a 1985)
Com o golpe militar de 1964, instaurou-se no país a ditadura militar, que durou até 1985. Segundo os golpistas, o objetivo era acabar com a anarquia e a insegurança que levariam o país ao comunismo, deter a inflação e avançar no processo de industrialização. Esse período divide-se politicamente em três momentos: de 1964 a 1968; de 1969 a 1973; e, de 1974 a 1984.
No primeiro momento (1964-1968), os militares editaram atos institucionais, suspendendo as eleições diretas para cargos executivos e os direitos políticos de centenas de pessoas. Criou-se o bipartidarismo, com a Aliança Renovadora Nacional (Arena), de apoio ao governo, e o Movimento Democrático Brasileiro (MDB), de oposição consentida.
Nos primeiros anos após o golpe de 1964, ocorreram manifestações públicas contra o regime militar. Logo passaram a ser reprimidas com violência. O Ato Institucional nº 5 (AI-5), editado em 13 de dezembro de 1968, praticamente anulou a Constituição de 1967 e tornou clara a implantação da ditadura.
No segundo momento, os chamados “anos de chumbo”, a intensa repressão aumentou a oposição ao regime, com a organização de movimentos guerrilheiros. Os militares reagiram com violência, praticando torturas, assassinatos e prisão de ativistas de esquerda e de pessoas que eles diziam conspirar contra a segurança nacional. Nesse período, iniciou-se o processo do “milagre econômico”, pois houve crescimento expressivo da produção nacional.
A última fase do regime militar (1974-1984) foi marcada, no plano econômico, pelas crises internacionais decorrentes da elevação expressiva dos preços do petróleo. A oposição ao regime fortaleceu-se, tanto no plano eleitoral quanto no plano dos movimentos populares. O governo do general Ernesto Geisel (1974-1979) conteve militares que queriam a continuidade do regime, e iniciou uma transição lenta e gradual para a democracia representativa.
Alguns fatos importantes dessa fase merecem ser lembrados:
·         extinção do AI-5 em 1978;
·         aprovação da lei da anistia, em 1979, com o retorno de exilados políticos;
·         restabelecimento do pluripartidarismo em 1979;
·         campanha por eleições diretas para presidente da República, em 1984, derrotada no Congresso.

12.6. O retorno à democracia (1985 a nossos dias)
O retorno à democracia iniciou-se com a eleição indireta do primeiro presidente civil a substituir os militares. O presidente eleito, Tancredo Neves, morreu antes de tomar posse. O vice, José Sarney, assumiu o poder. Em 1988, foi promulgada a Constituição Cidadã, fundamental para a democracia estável no país. Os governantes seguintes foram eleitos pelo voto popular; o Legislativo e o Judiciário desenvolveram suas atividades plenamente.
A preocupação fundamental do Estado nesse período foi a redução da inflação. Vários planos econômicos foram criados para isso, mas somente o Plano Real alcançou os objetivos propostos. O Estado neoliberal – mesmo sem nunca ter passado pelo Estado de bem-estar social -, que se implantou a partir do governo Fernando Collor-Itamar Franco, criou um “Estado do mal-estar social” com as políticas que desenvolveu.
Tiveram grande influência no crescimento do país algumas medidas por eles tomadas, como privatização de empresas estatais nos setores de siderurgia, energia e comunicações; livre atuação dos bancos e movimentação de capital; abertura comercial com barreiras mais brandas de importação; lei de responsabilidade fiscal; criação do bolsa-escola, ponto de partida do bolsa-família; criação de vale-gás e cartão-alimentação; redução de alguns direitos trabalhistas; incentivos a universidades particulares e menor nível de investimento em universidades públicas; criação de agências reguladoras para os serviços anteriormente públicos que foram privatizados, entre outras.
Com a manutenção da política econômica, o governo Lula, que sucedeu ao de Fernando Henrique Cardoso, possibilitou o aumento dos lucros dos grandes conglomerados industriais e financeiros. Em contrapartida, ampliaram-se as políticas de redistribuição de renda, com resultados significativos para mais de 30 milhões de brasileiros, e foram mantidos e ampliados programas sociais iniciados no governo anterior. O ponto alto foi seguramente a criação de milhões de empregos estáveis. Foram criados programas de inclusão de jovens no ensino técnico e na universidade por meio de programas de cotas e do ProUni. A imagem do Brasil no exterior teve mais visibilidade pelas inúmeras visitas oficiais a países praticamente ignorados anteriormente, sobretudo na África.
Como candidata de Lula para dar seguimento a seu governo, uma vez eleita, Dilma Rousseff manteve os projetos desenvolvidos no governo anterior. Essas políticas estão, lentamente, provocando uma pequena diminuição da desigualdade social no Brasil.

Como explicar e entender a “liberdade de escolha” no mundo em que vivemos?

  HISTÓRIA SITUAÇÃO DE APRENDIZAGEM 1 TEMA: Desigualdades e vulnerabilidades: desafios e caminhos para uma sociedade democrática e inclus...