“Devemos tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais,
na medida de sua desigualdade”.
Aristóteles
Tratar dos conceitos de igualdade e equidade é, na verdade, discutir sobre o princípio da justiça. A
diferença entre os termos pode ser sutil, entretanto, juntos, constituem os pilares de uma sociedade
justa e democrática. A discussão remonta a Grécia Antiga, Platão e Aristóteles, em seus escritos
sobre ética, política, moral e justiça, trataram da relevância da equidade para o bem e a felicidade
perfeita da polis.
Partindo da crítica à teoria platônica das formas ou ideias, Aristóteles abriu um novo horizonte para
a filosofia ocidental e, dentro do seu legado encontramos a concepção aristotélica de equidade.
O conceito de equidade considera as diferenças como elemento essencial para a eficácia da
igualdade. A concepção da equidade passa a ser a justiça aplicada no caso particular, ou seja, a
justiça contextualizado e individualizada.
O conceito de equidade, além de ter influenciado as reflexões jurídicas contemporâneas, tornou-se
um dos fundamentos para a justiça social que ao longo de décadas tem balizado políticas e lutas
para a construção de uma sociedade melhor.
No Brasil, a Constituição Cidadã de 1988 declarou em seu artigo 5º o princípio de igualdade,
entretanto, nossa realidade econômica e social permanece marcada por diferenças. Apesar do
avanço de nossas leis, nosso pais possui uma história de modernidade sem mudanças
significativas, na qual a igualdade parece, cada vez mais, uma meta inatingível.
A pobreza, a miséria, a falta de oportunidade de emprego e educação, a seletividade do acesso à
moradia nos tornam cada vez mais desiguais! Mas qual a saída para rompermos este ciclo? Quais
as estratégias para a proposição de políticas públicas que ajudem a superar estas mazelas?
Julgo que o primeiro passo é falar em modernidade sem reproduzirmos práticas e posturas
arcaicas. Temos de assumir nossas diferenças, compreende-las, mapeá-las para, então,
construirmos políticas sociais que respeitem o cidadão no contexto em que este está inserido.
Precisamos incorporar práticas de desenvolvimento sustentável que garantam a justiça social. De
forma que, não existe justiça social sem equidade de oportunidades.
Devemos lutar para abolir a discriminação, seja ela qual for (por gênero, orientação sexual, raça,
religião, condição física, etária, econômica e social, julgamentos preconceituosos, a qual estamos
habituados, não pode impedir o acesso de indivíduos à educação, à saúde e ao trabalho, por
exemplo.
Além disso, a equidade de oportunidades remete ao desenvolvimento de políticas capazes de
desenvolver estratégias que minimizem obstáculos, sejam eles decorrentes de questões individuais
ou sociais, trata-se de reconhecer as desigualdades para promover a justiça social.
A acessibilidade arquitetônica é um exemplo desta luta por equidade de oportunidades, ou seja,
todo idoso ou pessoa com deficiência deve ter garantido seu direito de circular pela cidade, de
modo que possa consumir arte, cultura e acessar serviços.
_____________
Floriano PesaroS
Secretáriode Estado de Desenvolvimento Social
sábado, 23 de novembro de 2019
quarta-feira, 6 de novembro de 2019
Unidade 4 - Capitulo 12 – Poder, política e Estado no Brasil
Ao
longo da história do Brasil, o Estado assumiu as mais diferentes feições.
Durante mais de 300 anos, como colônia, o Brasil esteve submetido ao Estado
português. Após a independência, tornou-se um Estado monárquico liberal e,
contraditoriamente, escravocrata. Ao longo da República, tivemos um Estado ora
oligárquico, ora ditatorial, ora liberal, marcado por frequentes intervenções e
golpes militares. Enfim, com a Constituição de 1988, abriu-se para o país a
perspectiva de um Estado democrático duradouro, mas com uma política econômica
neoliberal, sem ter efetivamente passado por um Estado de bem-estar social.
Entre
1500 e 1822, todas as decisões políticas relacionadas ao Brasil eram tomadas
pelo soberano português, um monarca absolutista. Foi assim desde a criação das
capitanias hereditárias até a instituição do Governo Geral.
Entre
1822 e 1889, havia no Brasil um Estado imperial constitucional, com os poderes
Executivo (Conselho de Estado), Legislativo (Assembleia Geral, composta do
Senado e da Câmara dos Deputados) e Judiciário (Supremo Tribunal de Justiça).
No entanto, havia o poder Moderador, que ficava acima dos outros três e era
exercido pelo imperador. Dom Pedro I tinha o poder absoluto com uma maquiagem
liberal.
Talvez
o Brasil tenha sido o único país em que uma constituição liberal coexistiu com
a escravidão. Trata-se de uma grande contradição, pois esse documento dispõe
que todos os indivíduos são iguais perante a lei, ao passo que a escravidão é a
negação desse princípio. Essa contradição permaneceu porque a escravidão era um
dos elementos estruturais do Império. Ela foi abolida em 1888 e a monarquia
caiu em seguida.
12.1. O Estado republicano
O
Estado nascido com a República caracterizou-se como liberal conservador. Desde
o início, a presença dos militares foi marcante: na presidência da República ou
nos bastidores, eles sempre influíram nas principais decisões políticas. Nesse
período, diferentes tipos de poder se alternaram: o poder oligárquico (dos
latifundiários), as ditaduras explícitas, os governos democráticos liberais com
restrições, etc.
A
República no Brasil surgiu de um movimento da cúpula militar, sem a
participação da população.
Em
1891, foi promulgada uma constituição que instituiu a República Federativa do
Brasil. As províncias (os atuais estados) tinham autonomia e constituição
própria, que definia o Judiciário, as Forças Armadas, os códigos eleitorais e a
cobrança de impostos. Mas a União podia intervir nas províncias em defesa da
ordem e do pacto federativo.
12.2. República Velha (de 1889 a 1930)
Nesse
período, o poder se caracterizava por duas práticas: a política dos
governadores e o coronelismo. A política dos governadores expressava um acordo entre
o governo federal e as oligarquias regionais, por meio da destinação de verbas
da União para obras públicas estaduais. Em troca, o governo federal recebia apoio
para a aprovação dos projetos de interesse do Executivo. Foi marcante a
presença dos estados de Minas Gerais e São Paulo no Executivo federal.
O
coronelismo era uma forma de poder político, econômico e social, encarnado pelo
proprietário rural, que controlava os meios de produção e os moradores da zona
rural e das pequenas cidades do interior. A prática política e social dos
coronéis mantinha uma articulação local-regional e regional-federal como nos tempos
do Império. Não havia mecanismos institucionais que pudessem coibir as fraudes,
pois o voto era aberto e não existia uma justiça eleitoral independente.
12.3. Período Vargas (1930 a 1945)
Dois
golpes de Estado delimitam esse período: um para colocar Getúlio Vargas no
poder e outro para derrubá-lo. A atuação parlamentar, quando existiu, esteve
atrelada ao governo central. Houve duas constituições: a de 1934 (de fundamento
liberal); a de 1937 (de inspiração fascista e autoritária).
Com
Getúlio Vargas no poder, estabeleceu-se o populismo: relação em que o governo
buscava o apoio dos trabalhadores e da burguesia industrial (setor que de fato
representava). Isso criou uma divergência com o setor agrário dominante, já que
o objetivo era industrializar o país, utilizando a modernização e instalação da
estrutura estatal e a incorporação, pelo Congresso de modo controlado e
subordinado, das massas urbanas.
Na
era Vargas (1937 a 1945), o Estado aparecia como o Estado Novo, principal
agente investidor na infraestrutura necessária à industrialização. A despeito
de seu caráter autoritário e da repressão que desencadeou no Estado Novo,
Getúlio Vargas deixou um legado de leis trabalhistas e a concepção de um país
com um projeto nacional que continuou nos anos seguintes.
12.4. O Estado liberal (1945 a 1964)
O
Estado estruturou-se com a Constituição de 1946, considerada politicamente
liberal. Mas a intervenção estatal na economia era permitida, quando necessária
à industrialização. O governo investiu em empresas siderúrgicas e nacionalizou
a produção e o refino de petróleo. O objetivo era diminuir as importações que
ainda abrangiam os bens de consumo duráveis, como os eletrodomésticos em geral.
De
1956 a 1960, o governo de Juscelino Kubitschek promoveu grande desenvolvimento
econômico e industrial graças à aliança entre investimentos do Estado e dos
capitais nacional e estrangeiro. A indústria nacional de bens duráveis e a
automobilística foram implantadas. Em 1961, Jânio Quadros foi eleito com a
promessa de varrer a corrupção e a dívida pública. Mas sua renúncia desencadeou
uma crise que culminou no golpe militar de1964, derrubando João Goulart.
12.5. República dos generais (1964 a
1985)
Com
o golpe militar de 1964, instaurou-se no país a ditadura militar, que durou até
1985. Segundo os golpistas, o objetivo era acabar com a anarquia e a insegurança
que levariam o país ao comunismo, deter a inflação e avançar no processo de
industrialização. Esse período divide-se politicamente em três momentos: de
1964 a 1968; de 1969 a 1973; e, de 1974 a 1984.
No
primeiro momento (1964-1968), os militares editaram atos institucionais,
suspendendo as eleições diretas para cargos executivos e os direitos políticos
de centenas de pessoas. Criou-se o bipartidarismo, com a Aliança Renovadora Nacional
(Arena), de apoio ao governo, e o Movimento Democrático Brasileiro (MDB), de
oposição consentida.
Nos
primeiros anos após o golpe de 1964, ocorreram manifestações públicas contra o
regime militar. Logo passaram a ser reprimidas com violência. O Ato
Institucional nº 5 (AI-5), editado em 13 de dezembro de 1968, praticamente
anulou a Constituição de 1967 e tornou clara a implantação da ditadura.
No
segundo momento, os chamados “anos de chumbo”, a intensa repressão aumentou a
oposição ao regime, com a organização de movimentos guerrilheiros. Os militares
reagiram com violência, praticando torturas, assassinatos e prisão de ativistas
de esquerda e de pessoas que eles diziam conspirar contra a segurança nacional.
Nesse período, iniciou-se o processo do “milagre econômico”, pois houve
crescimento expressivo da produção nacional.
A
última fase do regime militar (1974-1984) foi marcada, no plano econômico,
pelas crises internacionais decorrentes da elevação expressiva dos preços do petróleo.
A oposição ao regime fortaleceu-se, tanto no plano eleitoral quanto no plano
dos movimentos populares. O governo do general Ernesto Geisel (1974-1979) conteve
militares que queriam a continuidade do regime, e iniciou uma transição lenta e
gradual para a democracia representativa.
Alguns
fatos importantes dessa fase merecem ser lembrados:
·
extinção do AI-5 em 1978;
·
aprovação da lei da anistia, em 1979,
com o retorno de exilados políticos;
·
restabelecimento do pluripartidarismo
em 1979;
·
campanha por eleições diretas para
presidente da República, em 1984, derrotada no Congresso.
12.6. O retorno à democracia (1985 a
nossos dias)
O
retorno à democracia iniciou-se com a eleição indireta do primeiro presidente
civil a substituir os militares. O presidente eleito, Tancredo Neves, morreu
antes de tomar posse. O vice, José Sarney, assumiu o poder. Em 1988, foi
promulgada a Constituição Cidadã, fundamental para a democracia estável no
país. Os governantes seguintes foram eleitos pelo voto popular; o Legislativo e
o Judiciário desenvolveram suas atividades plenamente.
A
preocupação fundamental do Estado nesse período foi a redução da inflação.
Vários planos econômicos foram criados para isso, mas somente o Plano Real alcançou
os objetivos propostos. O Estado neoliberal – mesmo sem nunca ter passado pelo
Estado de bem-estar social -, que se implantou a partir do governo Fernando
Collor-Itamar Franco, criou um “Estado do mal-estar social” com as políticas
que desenvolveu.
Tiveram
grande influência no crescimento do país algumas medidas por eles tomadas, como
privatização de empresas estatais nos setores de siderurgia, energia e
comunicações; livre atuação dos bancos e movimentação de capital; abertura
comercial com barreiras mais brandas de importação; lei de responsabilidade
fiscal; criação do bolsa-escola, ponto de partida do bolsa-família; criação de
vale-gás e cartão-alimentação; redução de alguns direitos trabalhistas;
incentivos a universidades particulares e menor nível de investimento em
universidades públicas; criação de agências reguladoras para os serviços
anteriormente públicos que foram privatizados, entre outras.
Com
a manutenção da política econômica, o governo Lula, que sucedeu ao de Fernando
Henrique Cardoso, possibilitou o aumento dos lucros dos grandes conglomerados
industriais e financeiros. Em contrapartida, ampliaram-se as políticas de
redistribuição de renda, com resultados significativos para mais de 30 milhões
de brasileiros, e foram mantidos e ampliados programas sociais iniciados no
governo anterior. O ponto alto foi seguramente a criação de milhões de empregos
estáveis. Foram criados programas de inclusão de jovens no ensino técnico e na
universidade por meio de programas de cotas e do ProUni. A imagem do Brasil no
exterior teve mais visibilidade pelas inúmeras visitas oficiais a países
praticamente ignorados anteriormente, sobretudo na África.
Como
candidata de Lula para dar seguimento a seu governo, uma vez eleita, Dilma
Rousseff manteve os projetos desenvolvidos no governo anterior. Essas políticas
estão, lentamente, provocando uma pequena diminuição da desigualdade social no
Brasil.
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