Abordaremos aqui problemática da raça e do racismo, tendo como
base o modelo de relações raciais no Brasil e indicadores de desigualdade
evidenciados a partir de dados estatísticos. O objetivo é introduzir em linhas
gerais a noção de raça e distingui-la da noção de etnia ou grupo étnico, construindo
uma reflexão crítica a respeito desse tema em nosso país. Em seguida,
discutiremos o significado de racismo e como esse fenômeno social ocorre no
Brasil, desenvolvendo a noção de raça, preconceito e discriminação a partir do
termo “cor”, e de seus usos e acepções. Finalmente, utilizando dados de um estudo
realizado com indicadores sobre desigualdade racial nas regiões metropolitanas
e no Distrito Federal, analisaremos como a desigualdade entre brancos e negros
se efetiva em números para homens e mulheres, procurando estabelecer uma
reflexão crítica.
Espera-se a compreensão do que é raça e etnia; construir uma
reflexão crítica a respeito da origem da concepção de raça e grupo étnico;
apreender o significado do fenômeno social do racismo e o modelo de racismo
brasileiro; analisar e refletir criticamente sobre a desigualdade racial no
Brasil a partir de dados das regiões metropolitanas e do Distrito Federal.
Raça ou etnia?
Existe uma enorme variação entre os seres humanos no que
diz respeito à cor da pele, à cor e ao formato dos olhos, ao tipo de cabelo, à
estatura e a uma série de outras características. Essa variação de tipos
humanos levou muitos cientistas, especialmente no século XIX, a defender a
ideia de que haveria raças humanas. Pergunte à turma: Mas, afinal, o que é raça?.
Em
Biologia, usa-se tradicionalmente a palavra para definir grupos de indivíduos distintos
no interior de uma espécie. (BARBUJANI, G. A invenção das raças. São Paulo: Editora Contexto, 2007.
p. 54. )
Embora atualmente haja um consenso de que todos os povos
pertencem à espécie humana, não há, efetivamente, um acordo sobre o que venham
a ser, no interior da espécie, grupos de indivíduos distintos.
É interessante observar que, após a Segunda Guerra Mundial,
principalmente em virtude do genocídio de judeus, poloneses, ciganos e de
outros povos discriminados com base nas teorias sobre raça, o conceito passou a
ser recusado pela Biologia. Hoje, com o desenvolvimento da Genética, sabemos
que as diferenças genéticas entre os grupos humanos variam de 5% entre
populações oriundas do mesmo continente a 15% entre populações de continentes diferentes.
Ou seja, na prática, 85% da diversidade genética humana é comum a todas as
populações, fato que não se observa em quase nenhuma outra espécie de mamífero
do planeta (BARBUJANI, 2007). Isso significa que não existem grupos humanos
geneticamente tão diferenciados a ponto de afirmarmos que existam raças
humanas.
Para aprofundar a discussão, questionamos: Por que o uso do termo “raça”
persiste?
Uma explicação para isso pode estar na questão da diferença. A percepção das diferenças entre os
seres humanos, na maior parte das vezes, encontra-se baseada em uma visão etnocêntrica, ou seja, no fato de avaliarmos os
outros a partir dos nossos próprios padrões e valores.
Nesse sentido, a tendência é vermos os outros com base em
nossas crenças e pré-noções a respeito deles. Assim, torna-se difícil compreender
as diferenças, pois não somos capazes de nos colocar no lugar do outro. Por
essa razão, indivíduos com características muito diferentes das nossas tendem a
não ser percebidos como pertencentes ao mesmo grupo – daí a ideia de que certas
características fenotípicas ou marcas físicas poderiam constituir uma raça distinta do grupo original de
pertencimento.
Outra questão que surge com frequência quando se discute
raça é sobre o termo “etnia”, ou “grupo étnico”. No texto a seguir há uma
distinção que pode ser discutida com os alunos:
Uma
raça é uma categoria de pessoas cujas marcas físicas são
consideradas socialmente significativas. Um grupo étnico é
composto de pessoas cujas marcas culturais
percebidas são consideradas
significativas socialmente. Os grupos étnicos diferem entre si em termos de
língua, religião, costumes, valores e ancestralidade.
(BRYM,
R.; LIE, J. et al. Sociologia: sua bússola para um novo mundo. São
Paulo: Cengage Learning, 2008. p. 220. - Grifos dos autores).
Como exemplos de grupos étnicos podemos citar os judeus em
diversas partes do mundo, os curdos que vivem no norte do Iraque, os indígenas
no Brasil, que pertencem a diversas etnias (xavante, xingu, bororo, entre
outras).
É importante enfatizar que o que define uma raça ou uma etnia
é uma construção social,
isto é, as diferenças físicas, culturais, comportamentais ou morais (reais ou
imaginárias) são sempre atribuídas
pelos grupos que as definem, sejam os
próprios membros ou os outros com quem se relacionam.
No primeiro caso, quando o próprio grupo se identifica como
etnia, o objetivo é construir e afirmar identidades que promovam a coesão interna
e o sentimento de pertencimento. Quais seriam as vantagens sociais disso? Eis algumas
delas:
·
vantagens
econômicas: comunidades
de migrantes e imigrantes muitas vezes dependem dos membros do seu grupo étnico
para conseguir encontrar trabalho e residência quando se mudam de cidade,
Estado ou país. Com frequência, não têm contatos sociais extensos, conhecimento
suficiente do local e de seus costumes, ou mesmo da língua, e precisam de apoio
para se adaptar;
·
vantagens
políticas: o
estabelecimento de uma identidade étnica diferenciada é um elemento fundamental
quando um povo luta politicamente por direitos de cidadania, delimitação de
territórios ou até mesmo pela independência. No Brasil, temos o exemplo de
povos indígenas e comunidades quilombolas que lutam pela demarcação de terras e
o reconhecimento de direitos específicos, como o caso dos movimentos negros que
reivindicam cotas nas universidades públicas;
·
vantagens
emocionais: o
pertencimento a um grupo étnico traz benefícios do ponto de vista emocional,
especialmente quando o preconceito e a discriminação fazem com que o grupo
necessite do apoio mútuo e da solidariedade daqueles com quem se identifica. O
grupo também promove um sentido de enraizamento, especialmente no caso de
imigrantes de segunda geração que precisam se adaptar à convivência em
ambientes estranhos à cultura familiar.
No segundo caso, quando a sociedade na qual o grupo está
inserido distingue e destaca seus membros com base em características atribuídas
a partir de suas crenças e ideologias, são gerados estereótipos associados à raça ou à etnia.
Estereótipos: ideias ou convicções
classificatórias preconcebidas sobre alguém ou algo, resultantes de
expectativas, hábitos de julgamento e falsas generalizações.
Fonte:
Dicionário Houaiss da língua
portuguesa.
No senso comum, por exemplo, os negros são considerados
melhores e mais habilidosos no futebol e em determinados nichos artísticos, como
o da música popular, mas são tidos como mais próximos da criminalidade, dado o
tratamento diferenciado que recebem da polícia e no sistema de justiça penal.
Os descendentes de coreanos, japoneses e chineses, por sua vez, são considerados
talentosos em áreas como engenharia e ciências exatas.
A questão é que os grupos humanos tendem a considerar
“naturais” as características pelas quais se diferenciam uns dos outros. Porém,
como vimos anteriormente, as diferenças que nos distinguem não são naturais, mas culturais; ou seja, são
socialmente construídas pelo próprio homem. Desse modo, elas não são sempre as mesmas,
para todos os grupos, e não têm os mesmos fundamentos ou as mesmas
consequências.
Muitas das distinções que existem entre os seres humanos
colocam-nos em situações de desigualdade de poder, de direitos e de cidadania. Quando
essas distinções geram crenças e atitudes baseadas na ideia de que existem
raças humanas, dizemos que estamos diante do fenômeno de racismo.
Racismo no Brasil
O que é racismo? Qual é sua
opinião sobre o racismo?
A palavra “racismo”
tem muitos significados diferentes,
que não poderão ser explorados aqui. Entretanto, podemos dizer que:
O
racismo é tanto uma doutrina, que prega a existência de raças humanas, com diferentes
qualidades e habilidades, ordenadas de tal forma que umas seriam superiores a
outras em termos de qualidades morais, psicológicas, físicas e intelectuais,
como um conjunto de atitudes, preferências e gostos baseados na ideia de raça e
superioridade racial, seja no plano moral, estético, físico ou intelectual. As
atitudes consideradas racistas podem se manifestar de duas formas: pelo
preconceito e pela discriminação.
(Fonte
de dados: GUIMARÃES, A. S. A. Preconceito
e discriminação. São
Paulo: Fundação de Apoio à Universidade de São Paulo, Editora 34, 2004. p. 17.
- Elaborado especialmente para o São Paulo faz escola.)
Doutrina: conjunto coerente de ideias
fundamentais a serem transmitidas.
(Fonte:
Dicionário Houaiss da língua
portuguesa.)
Para explicitar melhor o significado desses termos,
apresente os trechos a seguir,
O
que é preconceito? O
termo “(pré)conceito” quer dizer ideia ou crença prévia, anteriormente
concebida a respeito de alguém ou alguma coisa. No caso do preconceito racial,
trata-se de preconcepções das qualidades morais, intelectuais, físicas,
psíquicas ou estéticas de alguém, baseadas na ideia de raça.
O
que é discriminação? A
discriminação pode se manifestar verbalmente ou por meio do comportamento, nas
atitudes e ações concretas de uma pessoa ou de grupos de pessoas. Nesse caso,
quando a ideia de raça faz que as pessoas recebam tratamento diferencial,
dizemos que se trata de discriminação racial. Tal comportamento pode gerar
segregação e desigualdade raciais.
(Fonte
de dados: GUIMARÃES, A. S. A. Preconceito
e discriminação. São
Paulo: Fundação de Apoio à Universidade de São Paulo, Editora 34, 2004. p. 18.
- Elaborado especialmente para o São Paulo faz escola)
Há tensões raciais no Brasil? Nosso país, originariamente ocupado
por uma enorme
variedade de povos indígenas, foi colonizado por
conquistadores portugueses, franceses, holandeses e de outras origens
europeias, que trouxeram para cá costumes e tradições diferentes dos de seus
primeiros habitantes.
Em pouco tempo, imensas ondas de imigrantes forçados do
continente africano vieram trabalhar como escravos e trouxeram também sua
língua, sua religião e seus hábitos, continuando a forjar a chamada “mistura de
raças” pela qual o Brasil ficou tão conhecido. Diferentemente de outros países,
nos quais a segregação com base na raça ocorreu de forma evidentemente violenta
e conflituosa, sancionada por regras precisas de filiação grupal, nosso país
poderia parecer um local tranquilo onde toda a gente convivia com a mistura de
forma mais ou menos harmoniosa, o que não é verdade. As tensões sempre existiram
e sempre foram fortes.
Nos Estados Unidos, até o final dos anos 1960, e durante o
regime do apartheid na
África do Sul, as regras de segregação racial eram claras:
brancos e negros não se misturavam e a convivência era marcada por leis e severas
proibições. Até os bancos dos ônibus e os bebedores eram distinguidos. No
Brasil, entretanto, nunca houve uma legislação que estabelecesse regras
precisas. Brancos, negros e indígenas não apenas conviviam, como possuíam uma
longa história de miscigenação, ainda que dominada pelo homem branco: senhores
de terras podiam ter filhos com escravas indígenas ou negras, mas seus filhos não
eram reconhecidos como legítimos, tampouco tinham direito à posse de terras ou
à representação política. Isso teve uma consequência muito importante para a
percepção da forma como aconteciam as relações raciais no Brasil: durante muito
tempo, estudiosos e especialistas defenderam a ideia de que a miscigenação e a
ausência de conflitos violentos seriam evidência de uma sociedade na qual as
diferenças raciais não teriam importância significativa ou configurariam uma
“democracia racial”. Mas hoje se sabe que essa é uma visão equivocada das
relações no Brasil.
Mas, afinal, existe racismo no
Brasil? Na realidade, o
que acontece é que aqui, diferentemente do que ocorreu nos Estados Unidos da
América e na África do Sul, as relações raciais ocorrem por meio de um sistema
muito complexo e ambíguo de diferenciação, não baseado em regras claras de
descendência biológica, mas em diferenças fenotípicas designadas como “cor”.
Por essa razão, muitos pensadores defenderam a ideia de que no Brasil não
haveria preconceito racial, mas sim “preconceito de cor”.
O que significa “cor” do ponto
de vista das relações raciais no Brasil? Do mesmo modo que a noção de “raça”, a
noção de “cor” também é uma construção social. Tanto “raça” como “cor” são
construções sociais ambíguas utilizadas para gerar e perpetuar desigualdades sociais.
Embora pareçam características “naturais”, não há nada de “natural” em
selecionar e classificar as pessoas segundo a cor da pele, o tipo de cabelo ou
o formato do nariz.
Para aprofundar a discussão, leia o seguinte trecho:
De
fato, não há nada espontaneamente visível na cor da pele, no formato do nariz,
na espessura dos lábios ou dos cabelos, ou mais fácil de ser discriminado
nesses traços do que em outros, como o tamanho dos pés, a altura, a cor dos
olhos ou a largura dos ombros. Tais traços só têm significado no interior de
uma ideologia preexistente (para ser preciso: de uma ideologia que cria os fatos,
ao relacioná-los uns aos outros), e apenas por causa disso funcionam como
critérios e marcas classificatórios.
Em
suma, alguém só pode ter cor e ser classificado num grupo de cor se existir uma
ideologia em que a cor das pessoas tenha algum significado. Isto é, as pessoas
têm cor apenas no interior das ideologias raciais.
(Guimarães,
A. S. A. Racismo e
antirracismo no Brasil.
São Paulo: Fundação de Apoio à Universidade de São Paulo, Editora 34, 1999. p.
47.)
Deve ficar claro, a partir da discussão, que, embora
utilizemos com mais frequência o termo “cor” para distinguir as pessoas, essa
noção está carregada de conotações raciais e exerce a mesma função. Nesse
sentido, a característica do racismo no Brasil é basear-se mais em preconceitos
de marca (cor, tipo físico, características fenotípicas)
do que de descendência.
Outro ponto importante a destacar é que, embora depois da
Abolição da Escravatura não tivéssemos uma legislação racista, as relações entre
as pessoas não deixaram de ser marcadas pelo racismo.
Para finalizar, é preciso entender de que forma brancos,
pardos e negros vieram a se encontrar em posições hierárquicas desiguais na
sociedade brasileira e por quais razões os brancos ocupam posições privilegiadas
em relação aos mestiços e negros.
Os processos sociais que explicam a desigualdade racial no
Brasil são diversos e complexos, e não pretendemos esgotá-los aqui. De todo
modo, é possível dizer que:
·
no
Brasil colônia, a ordem escravocrata propiciava uma hierarquia social em que as
posições eram mais claramente identificáveis. Com o fim da escravidão, a “cor” passou
a ser uma importante marca de origem, uma espécie de código cifrado para
“raça”;
·
na
ordem oligárquica brasileira, a “raça” ou “cor”, o status social e a classe estão intimamente
ligados entre si. Como herança da ordem colonial, a elite, predominantemente de
cor branca, costumava ocupar posições sociais de prestígio, caracterizadas pela
educação formal e o acesso a determinados privilégios e direitos que eram
negados ao povo, predominantemente de cor parda e negra, que costumava viver em
condição de pobreza e exclusão política, social e cultural;
·
a
condição de pobreza dos negros e mestiços, assim como a condição servil dos escravos
na colônia, era tomada como marca de inferioridade. Esse fator foi determinante
para delimitar as posições sociais e quais grupos de “cor” estavam associados a
elas.
Desigualdade racial
Analisemos alguns dados referentes às regiões
metropolitanas e ao Distrito Federal,
que evidenciam as desigualdades entre brancos e negros que
ainda persistem no Brasil. Um indicador importante que revela a desigualdade
racial é o acesso à educação, e esse indicador pode ser medido de várias
formas. A tabela a seguir, apresenta dados sobre a taxa de analfabetismo das
pessoas de 15 anos ou mais de idade.
Taxa de analfabetismo das
pessoas de 15 anos ou mais de idade, segundo algumas características
selecionadas – 2002/2012 (em %)
|
||
Brasil e algumas
características
selecionadas
|
Taxa de analfabetismo das
pessoas de 15 anos ou mais de idade
|
|
2002 (1)
|
2012
|
|
Brasil
|
11,9
|
8,7
|
Situação do domicílio
|
||
Urbana 9,1 6,6
|
9,1
|
6,6
|
Rural
|
27,7
|
21,1
|
Sexo
|
||
Homem
|
12,1
|
9,0
|
Mulher
|
11,7
|
8,4
|
Cor ou raça (2)
|
||
Branca
|
7,5
|
5,3
|
Preta ou parda
|
17,3
|
11,8
|
Grupos de idade
|
||
15 a 19 anos
|
2,9
|
1,2
|
20 a 24 anos
|
4,6
|
1,6
|
25 a 34 anos
|
7,1
|
3,5
|
35 a 44 anos
|
9,6
|
6,6
|
45 a 54 anos
|
14,9
|
9,8
|
55 a 64 anos
|
24,7
|
15,7
|
65 anos ou mais
|
35,4
|
27,2
|
Tabela 1.
(1) Exclusive a população rural de Rondônia, Acre,
Amazonas, Roraima, Pará e Amapá.
(2) Exclusive as pessoas de cor ou raça amarela e
indígena.
Fonte de dados: Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE). Síntese de indicadores sociais. Uma análise das condições
de vida da população brasileira. Estudos
e Pesquisas. (Informação Demográfica e
Socioeconômica). Rio de Janeiro, n. 32, 2013. p. 139.
Disponível em:
|
Será que temos ideia da porcentagem de analfabetos no Brasil? Você
acha que a taxa de analfabetismo independe de certos aspectos como ser homem ou
mulher, negro ou não, jovem ou velho? Ou seja, é a mesma para todos?
Em Sociologia, toda opinião deve ter como base argumentos
sólidos fundamentados
em pesquisas e dados retirados de livros, teses, jornais,
revistas ou da internet,
em sites
de institutos de pesquisa
conceituados.
Um primeiro ponto a ser destacado é o fato de que a média
de analfabetismo no Brasil, quando desagregada em outras variáveis (como
situação de domicílio, sexo, cor e faixa etária), mostra diferenças
significativas. Ou seja, o
dado geral encobre diferentes realidades.
Questionamos quais dados chamam a nossa atenção. Isso é
interessante para verificar quais são os temas que mais nos tocam. É provável
que muitos de nós nos atrapalhemos nesse momento, pois a tabela apresenta dados
sobre diferentes variáveis. Uma maneira de contornar isso é trabalhá-la com
muito cuidado e de forma minuciosa.
A possibilidade de um adulto ser analfabeto é maior que a
de um jovem ou que a proporção de pretos e pardos analfabetos em 2012 é mais do
que o dobro da de brancos na mesma situação.
O primeiro ponto a ser destacado na análise é o de que a
tabela trabalha com dois recortes temporais num intervalo de dez anos,
apresentando dados de 2002 e 2012.
Uma análise de tabela geralmente começa dos totais para
depois percorrer as especificidades.
Observe que, no caso da taxa de analfabetismo total, houve
queda no intervalo de dez anos analisado: de 11,9%, em 2002, para 8,7%, em
2012.
Questões:
1. De forma geral, a taxa de
analfabetismo subiu ou desceu nos últimos 10 anos?
Para as questões de 2 a 4, considere apenas os dados
referentes ao ano de 2012:
2. Com base na tabela, anote qual
subgrupo apresenta as taxas mais altas de analfabetismo entre os demais, para
cada uma das seguintes características.
a)
situação de domicílio.
b)
sexo.
c)
cor ou raça.
d)
grupos de idade.
3. Cite o grupo, entre todos os
apresentados na tabela, que apresenta a maior taxa de analfabetismo e o que
apresenta a menor.
4. A taxa de analfabetismo dos pretos ou
pardos é maior que a média nacional? Explique.
De forma geral, a taxa de analfabetismo desceu para todas
as categorias da tabela nos últimos 10 anos.
Considerando apenas os dados referentes ao ano de 2012, é
possível observar também as diferenças existentes entre as taxas de
analfabetismo dentro das categorias selecionadas:
·
A
taxa de analfabetismo é maior entre as pessoas cujo domicílio é situado na zona
rural (21,1%). Essa porcentagem é mais do que três vezes maior do que aquela
encontrada entre as pessoas que moram em áreas urbanas (6,6%).
·
A
porcentagem de homens analfabetos (9,0%) é maior do que a de mulheres (8,4%),
ainda que a diferença seja de menos de 1 ponto percentual.
·
É
possível dizer que a porcentagem de pretos ou pardos analfabetos (11,8%) é mais
do que o dobro da encontrada entre os brancos (5,3%).
·
Entre
os grupos de idade, a maior porcentagem de analfabetos pode ser encontrada entre
as pessoas com 65 anos ou mais (27,2%), ao passo que a menor taxa ocorre entre
os jovens de 15 a 19 anos (1,2%).
·
Entre
todos os grupos apresentados na tabela, aquele que apresenta a maior taxa de analfabetismo
é o das pessoas com 65 anos ou mais (27,2%) e o grupo com a menor taxa é o dos
jovens de 15 a 19 anos (1,2%).
·
A
taxa de analfabetismo do grupo de pretos e pardos é de 11,8%, ou seja, 3,1
pontos percentuais acima da média nacional, que é de 8,7%.
O nível de educação interfere no tipo de ocupação da pessoa
e, consequentemente, nos seus rendimentos. As tabelas a seguir o ajudarão a discutir
isso
Distribuição dos ocupados, por
cor, segundo setores de atividade econômica. Região Metropolitana de São
Paulo – Biênio 2011-2012 (em %)
|
|||
Setor de Atividade
|
Total
|
Negros
|
Não negros
|
Total de Ocupados
|
100,0
|
100,0
|
100,0
|
Indústria de transformação
|
17,8
|
17,1
|
18,1
|
Construção
|
7,3
|
9,6
|
6,1
|
Comércio, reparação de veículos automotores e
motocicletas
|
17,9
|
17,1
|
18,3
|
Serviços
|
55,8
|
54,8
|
5,63
|
Serviços Domésticos
|
7,0
|
10,2
|
5,3
|
Tabela 2 – Fonte de dados: DIEESE/SEADE et al. A inserção
dos negros nos mercados de trabalho metropolitanos. PED – Pesquisa de Emprego e Desemprego. São Paulo, 2013. p. 8. Disponível
em:
|
Com base na tabela, responda às questões:
1. Qual é a área que possui maior
porcentagem de ocupados para negros e para não negros?
2. E qual é a área com menor porcentagem
de ocupados para negros e para não negros?
3. Os dados expostos nas questões 1 e 2
já permitem fazer uma análise da desigualdade? Explique.
Você pode começar a análise da Tabela 2 observando
inicialmente que a área que possui maior porcentagem de ocupados tanto para
negros como para não negros é o setor de serviços, com 54,9% dos negros e 56,3%
dos não negros empregados nele. Já a área que possui menor porcentagem de
ocupados para os negros é o setor de construção (9,6%) e, para os não negros, o
setor de serviços domésticos (5,3%).
Observe que, mesmo obtendo os dados referentes às questões
1 e 2, ainda não é possível compreender a desigualdade entre negros e não
negros no acesso a uma ocupação sem que se faça uma comparação entre eles. Por
meio dessa comparação, é possível perceber que há uma diferença significativa
entre negros e não negros em dois setores. O primeiro é o da construção, no
qual trabalham quase 10% dos negros e apenas 6,1% dos não negros. O segundo é o
setor de serviços domésticos, que emprega 10,2% dos negros, quase o dobro da
porcentagem de não negros empregados nela, que é de 5,3%.
Esses dados são significativos, pois são os dois setores
que empregam as pessoas com menos instrução, e, portanto, mostram a
desigualdade no acesso a uma ocupação.
Vale destacar que o nível de escolaridade não é o único
fator que explica os salários mais baixos. A questão é complexa e não podemos
esgotá-la numa Situação de Aprendizagem. O objetivo aqui é tomar consciência dessa
desigualdade. A Tabela 3, disponível a seguir auxiliará nessa tarefa.
Destacamos que alguns estudos apontam que, mesmo com o
mesmo nível de instrução, os negros tendem a receber menos que os brancos. No
caso da Tabela 3, é possível observar, para diferentes regiões do país, a proporção
de rendimentos entre negros e não negros e quais foram os rendimentos por hora de
ambos os grupos.
As questões a seguir são propostas após a análise da tabela
1. Qual é a área em que os negros ganham rendimentos
por hora melhores e aquela em que eles ganham menos? E no caso dos não negros?
2. Será que o fato do Distrito Federal
pagar aos negros, em média, mais do que o dobro da pior área, que é Recife,
significa que lá a desigualdade entre negros e não negros é menor?
3. Qual é, então, a área com a menor
desigualdade entre as estudadas? Isso significa que ali a desigualdade é baixa
e que essa situação é aceitável?
Proporção de negros na
população ocupada e rendimento hora dos ocupados negros e não negros. Regiões
Metropolitanas (1) – Biênio 2011-2012
|
||||
Regiões
Metropolitanas
|
Proporção de negros na
população ocupada
(em %)
|
Rendimento/hora (Em R$ de junho
de 2013)
|
||
Negros
|
Não negros
|
Negros/
Não negros
(em %)
|
||
Belo Horizonte
|
64,0
|
7,68
|
10,98
|
69,95
|
Distrito Federal
|
68,6
|
11,32
|
17,35
|
65,24
|
Fortaleza
|
75,6
|
5,47
|
7,23
|
75,66
|
Porto Alegre
|
11,9
|
6,61
|
9,29
|
71,15
|
Recife
|
70,2
|
5,26
|
8,07
|
65,18
|
Salvador
|
89,2
|
5,89
|
9,84
|
59,86
|
São Paulo
|
34,
|
6,96
|
11,40
|
61,05
|
Total
|
48,2
|
6,83
|
10,69
|
63,89
|
Tabela 3.
(1) Correspondem ao total das Regiões Metropolitanas de
Belo Horizonte, Fortaleza, Porto Alegre, Recife, Salvador, São Paulo e o Distrito
Federal.
Obs: Raça/cor negra = pretos e pardos; raça/cor não negra
= brancos e amarelos
Fonte de dados: DIEESE/SEADE et al. Os negros no
trabalho. PED – Pesquisa de Emprego e
Desemprego. São Paulo, 2013. p. 6. Disponível
em:
|
Comecemos a análise com os dados mais expressivos, ou seja,
que o Distrito Federal é a área que melhor pagava os negros em junho de 2013,
com R$11,32 por hora, e a Região Metropolitana de Recife é aquela em que os negros
ganhavam menos no mesmo período: apenas R$5,26 por hora em média. No caso dos
não negros, a área em que recebiam os melhores rendimentos por hora também é o Distrito
Federal, com R$17,35, e a pior área é a Região Metropolitana de Fortaleza em que
o rendimento médio por hora para os não negros em junho de 2013 era de R$7,23.
Aprofundemos a discussão respondendo à questão 2, que é
muito importante para entender quão complexo e delicado é o problema. A
princípio, pode parecer que a desigualdade é menor no lugar onde eles ganham
mais, que é o Distrito Federal, mas isso pode não ser necessariamente verdade.
Para saber se a desigualdade é maior ou menor, é preciso observar com cuidado a
coluna “Negros/Não negros”, que apresenta qual é a proporção de rendimento dos
negros em relação ao rendimento dos não negros. Por exemplo, a região com menor
porcentagem é a de Salvador com 59,86%, ou seja, em Salvador os negros ganham
em média por hora apenas 59,86% do que ganha um branco. É a região metropolitana
em que a desigualdade é maior.
No caso da pergunta feita sobre a desigualdade em Recife e
no Distrito Federal, a porcentagem de 65,18% em Recife se assemelha muito à
porcentagem de 65,24% do Distrito Federal, o que mostra que entre as áreas com pior
rendimento e aquelas de maior rendimento a desigualdade é a mesma em termos de
rendimento.
A área com a menor desigualdade entre as estudadas, como se
pode observar na tabela, é Fortaleza, onde um negro em 2013 ganhava em média por hora 75,66% do que um não negro. É
importante deixar que os jovens se manifestem se pensam que a desigualdade de
rendimentos entre negros e não negros em Fortaleza é baixa e se essa situação é
aceitável. Em seguida, complete ou corrija sua análise, apontando que o fato da
desigualdade de rendimento ser menor em Fortaleza não significa necessariamente
que essa área seja um espaço sem desigualdade entre negros e não negros ou que
essa desigualdade seja menor que as demais.
Em primeiro lugar, para responder isso seria necessário
saber se, em relação a outros fatores, como acesso a moradia, saúde, saneamento
e bens culturais, entre outros, a desigualdade entre negros e não negro é
menor, pois tal desigualdade não pode ser medida apenas pelo rendimento.
Em segundo lugar, o fato de que, na melhor situação, existe
uma disparidade de rendimento de aproximadamente 25% mostra que a desigualdade
entre negros e não negros ainda é muito grande e que a situação é inaceitável.
Para encerrar, há a problemática da desigualdade por cor
pode se expressar na taxa de desemprego
A taxa de desemprego dos negros
em alguma área estudada é menor do que a dos não negros? Analise as implicações
disso para a desigualdade.
Chamamos a atenção para o gráfico, observando que em todas
as áreas estudadas há maior proporção de negros desempregados do que de não
negros, o que mostra que a desigualdade perpassa diferentes áreas do Brasil.
Contudo, também é preciso afirmar que há uma região em que a diferença quase não
existe: a Região Metropolitana de Fortaleza, na qual a diferença entre negros e
não negros é de menos de 0,5 pontos percentuais. Em outras regiões, como é o
caso da Região Metropolitana de Salvador, a diferença é de expressivos 4,5
pontos percentuais.
Questões:
1. Pesquise, utilizando jornais, revistas
ou internet, selecionando reportagens, matérias e casos noticiados de uma situação
de racismo. O objetivo desta pesquisa é fazer uma análise do caso, em um
trabalho no qual estejam contemplados os seguintes aspectos:
o
título
da reportagem, fonte e data do evento e da coleta;
o
breve
resumo dos eventos noticiados;
o
descrição
do contexto em que eles ocorreram;
o
análise
do caso, determinando se houve preconceito e/ou discriminação por parte dos
envolvidos;
o
conclusão.
2. Procure em jornais, sites ou revistas
uma matéria em que conste uma análise de pesquisa sobre o racismo e que faça um
resumo da discussão e dos dados apresentados.