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Desigualdade Racial



Abordaremos aqui problemática da raça e do racismo, tendo como base o modelo de relações raciais no Brasil e indicadores de desigualdade evidenciados a partir de dados estatísticos. O objetivo é introduzir em linhas gerais a noção de raça e distingui-la da noção de etnia ou grupo étnico, construindo uma reflexão crítica a respeito desse tema em nosso país. Em seguida, discutiremos o significado de racismo e como esse fenômeno social ocorre no Brasil, desenvolvendo a noção de raça, preconceito e discriminação a partir do termo “cor”, e de seus usos e acepções. Finalmente, utilizando dados de um estudo realizado com indicadores sobre desigualdade racial nas regiões metropolitanas e no Distrito Federal, analisaremos como a desigualdade entre brancos e negros se efetiva em números para homens e mulheres, procurando estabelecer uma reflexão crítica.

Espera-se a compreensão do que é raça e etnia; construir uma reflexão crítica a respeito da origem da concepção de raça e grupo étnico; apreender o significado do fenômeno social do racismo e o modelo de racismo brasileiro; analisar e refletir criticamente sobre a desigualdade racial no Brasil a partir de dados das regiões metropolitanas e do Distrito Federal.

Raça ou etnia?

Existe uma enorme variação entre os seres humanos no que diz respeito à cor da pele, à cor e ao formato dos olhos, ao tipo de cabelo, à estatura e a uma série de outras características. Essa variação de tipos humanos levou muitos cientistas, especialmente no século XIX, a defender a ideia de que haveria raças humanas. Pergunte à turma: Mas, afinal, o que é raça?.

Em Biologia, usa-se tradicionalmente a palavra para definir grupos de indivíduos distintos no interior de uma espécie. (BARBUJANI, G. A invenção das raças. São Paulo: Editora Contexto, 2007. p. 54. )

Embora atualmente haja um consenso de que todos os povos pertencem à espécie humana, não há, efetivamente, um acordo sobre o que venham a ser, no interior da espécie, grupos de indivíduos distintos.

É interessante observar que, após a Segunda Guerra Mundial, principalmente em virtude do genocídio de judeus, poloneses, ciganos e de outros povos discriminados com base nas teorias sobre raça, o conceito passou a ser recusado pela Biologia. Hoje, com o desenvolvimento da Genética, sabemos que as diferenças genéticas entre os grupos humanos variam de 5% entre populações oriundas do mesmo continente a 15% entre populações de continentes diferentes. Ou seja, na prática, 85% da diversidade genética humana é comum a todas as populações, fato que não se observa em quase nenhuma outra espécie de mamífero do planeta (BARBUJANI, 2007). Isso significa que não existem grupos humanos geneticamente tão diferenciados a ponto de afirmarmos que existam raças humanas.

Para aprofundar a discussão, questionamos: Por que o uso do termo “raça” persiste?
Uma explicação para isso pode estar na questão da diferença. A percepção das diferenças entre os seres humanos, na maior parte das vezes, encontra-se baseada em uma visão etnocêntrica, ou seja, no fato de avaliarmos os outros a partir dos nossos próprios padrões e valores.

Nesse sentido, a tendência é vermos os outros com base em nossas crenças e pré-noções a respeito deles. Assim, torna-se difícil compreender as diferenças, pois não somos capazes de nos colocar no lugar do outro. Por essa razão, indivíduos com características muito diferentes das nossas tendem a não ser percebidos como pertencentes ao mesmo grupo – daí a ideia de que certas características fenotípicas ou marcas físicas poderiam constituir uma raça distinta do grupo original de pertencimento.

Outra questão que surge com frequência quando se discute raça é sobre o termo “etnia”, ou “grupo étnico”. No texto a seguir há uma distinção que pode ser discutida com os alunos:

Uma raça é uma categoria de pessoas cujas marcas físicas são consideradas socialmente significativas. Um grupo étnico é composto de pessoas cujas marcas culturais percebidas são consideradas significativas socialmente. Os grupos étnicos diferem entre si em termos de língua, religião, costumes, valores e ancestralidade.
(BRYM, R.; LIE, J. et al. Sociologia: sua bússola para um novo mundo. São Paulo: Cengage Learning, 2008. p. 220. - Grifos dos autores).

Como exemplos de grupos étnicos podemos citar os judeus em diversas partes do mundo, os curdos que vivem no norte do Iraque, os indígenas no Brasil, que pertencem a diversas etnias (xavante, xingu, bororo, entre outras).

É importante enfatizar que o que define uma raça ou uma etnia é uma construção social, isto é, as diferenças físicas, culturais, comportamentais ou morais (reais ou imaginárias) são sempre atribuídas pelos grupos que as definem, sejam os próprios membros ou os outros com quem se relacionam.

No primeiro caso, quando o próprio grupo se identifica como etnia, o objetivo é construir e afirmar identidades que promovam a coesão interna e o sentimento de pertencimento. Quais seriam as vantagens sociais disso? Eis algumas delas:

·         vantagens econômicas: comunidades de migrantes e imigrantes muitas vezes dependem dos membros do seu grupo étnico para conseguir encontrar trabalho e residência quando se mudam de cidade, Estado ou país. Com frequência, não têm contatos sociais extensos, conhecimento suficiente do local e de seus costumes, ou mesmo da língua, e precisam de apoio para se adaptar;

·         vantagens políticas: o estabelecimento de uma identidade étnica diferenciada é um elemento fundamental quando um povo luta politicamente por direitos de cidadania, delimitação de territórios ou até mesmo pela independência. No Brasil, temos o exemplo de povos indígenas e comunidades quilombolas que lutam pela demarcação de terras e o reconhecimento de direitos específicos, como o caso dos movimentos negros que reivindicam cotas nas universidades públicas;

·         vantagens emocionais: o pertencimento a um grupo étnico traz benefícios do ponto de vista emocional, especialmente quando o preconceito e a discriminação fazem com que o grupo necessite do apoio mútuo e da solidariedade daqueles com quem se identifica. O grupo também promove um sentido de enraizamento, especialmente no caso de imigrantes de segunda geração que precisam se adaptar à convivência em ambientes estranhos à cultura familiar.

No segundo caso, quando a sociedade na qual o grupo está inserido distingue e destaca seus membros com base em características atribuídas a partir de suas crenças e ideologias, são gerados estereótipos associados à raça ou à etnia.

Estereótipos: ideias ou convicções classificatórias preconcebidas sobre alguém ou algo, resultantes de expectativas, hábitos de julgamento e falsas generalizações.
Fonte: Dicionário Houaiss da língua portuguesa.

No senso comum, por exemplo, os negros são considerados melhores e mais habilidosos no futebol e em determinados nichos artísticos, como o da música popular, mas são tidos como mais próximos da criminalidade, dado o tratamento diferenciado que recebem da polícia e no sistema de justiça penal. Os descendentes de coreanos, japoneses e chineses, por sua vez, são considerados talentosos em áreas como engenharia e ciências exatas.

A questão é que os grupos humanos tendem a considerar “naturais” as características pelas quais se diferenciam uns dos outros. Porém, como vimos anteriormente, as diferenças que nos distinguem não são naturais, mas culturais; ou seja, são socialmente construídas pelo próprio homem. Desse modo, elas não são sempre as mesmas, para todos os grupos, e não têm os mesmos fundamentos ou as mesmas consequências.

Muitas das distinções que existem entre os seres humanos colocam-nos em situações de desigualdade de poder, de direitos e de cidadania. Quando essas distinções geram crenças e atitudes baseadas na ideia de que existem raças humanas, dizemos que estamos diante do fenômeno de racismo.

Racismo no Brasil

O que é racismo? Qual é sua opinião sobre o racismo?

A palavra “racismotem muitos significados diferentes, que não poderão ser explorados aqui. Entretanto, podemos dizer que:

O racismo é tanto uma doutrina, que prega a existência de raças humanas, com diferentes qualidades e habilidades, ordenadas de tal forma que umas seriam superiores a outras em termos de qualidades morais, psicológicas, físicas e intelectuais, como um conjunto de atitudes, preferências e gostos baseados na ideia de raça e superioridade racial, seja no plano moral, estético, físico ou intelectual. As atitudes consideradas racistas podem se manifestar de duas formas: pelo preconceito e pela discriminação.
(Fonte de dados: GUIMARÃES, A. S. A. Preconceito e discriminação. São Paulo: Fundação de Apoio à Universidade de São Paulo, Editora 34, 2004. p. 17. - Elaborado especialmente para o São Paulo faz escola.)

Doutrina: conjunto coerente de ideias fundamentais a serem transmitidas.
(Fonte: Dicionário Houaiss da língua portuguesa.)

Para explicitar melhor o significado desses termos, apresente os trechos a seguir,

O que é preconceito? O termo “(pré)conceito” quer dizer ideia ou crença prévia, anteriormente concebida a respeito de alguém ou alguma coisa. No caso do preconceito racial, trata-se de preconcepções das qualidades morais, intelectuais, físicas, psíquicas ou estéticas de alguém, baseadas na ideia de raça.
O que é discriminação? A discriminação pode se manifestar verbalmente ou por meio do comportamento, nas atitudes e ações concretas de uma pessoa ou de grupos de pessoas. Nesse caso, quando a ideia de raça faz que as pessoas recebam tratamento diferencial, dizemos que se trata de discriminação racial. Tal comportamento pode gerar segregação e desigualdade raciais.
(Fonte de dados: GUIMARÃES, A. S. A. Preconceito e discriminação. São Paulo: Fundação de Apoio à Universidade de São Paulo, Editora 34, 2004. p. 18. - Elaborado especialmente para o São Paulo faz escola)

Há tensões raciais no Brasil? Nosso país, originariamente ocupado por uma enorme
variedade de povos indígenas, foi colonizado por conquistadores portugueses, franceses, holandeses e de outras origens europeias, que trouxeram para cá costumes e tradições diferentes dos de seus primeiros habitantes.

Em pouco tempo, imensas ondas de imigrantes forçados do continente africano vieram trabalhar como escravos e trouxeram também sua língua, sua religião e seus hábitos, continuando a forjar a chamada “mistura de raças” pela qual o Brasil ficou tão conhecido. Diferentemente de outros países, nos quais a segregação com base na raça ocorreu de forma evidentemente violenta e conflituosa, sancionada por regras precisas de filiação grupal, nosso país poderia parecer um local tranquilo onde toda a gente convivia com a mistura de forma mais ou menos harmoniosa, o que não é verdade. As tensões sempre existiram e sempre foram fortes.

Nos Estados Unidos, até o final dos anos 1960, e durante o regime do apartheid na
África do Sul, as regras de segregação racial eram claras: brancos e negros não se misturavam e a convivência era marcada por leis e severas proibições. Até os bancos dos ônibus e os bebedores eram distinguidos. No Brasil, entretanto, nunca houve uma legislação que estabelecesse regras precisas. Brancos, negros e indígenas não apenas conviviam, como possuíam uma longa história de miscigenação, ainda que dominada pelo homem branco: senhores de terras podiam ter filhos com escravas indígenas ou negras, mas seus filhos não eram reconhecidos como legítimos, tampouco tinham direito à posse de terras ou à representação política. Isso teve uma consequência muito importante para a percepção da forma como aconteciam as relações raciais no Brasil: durante muito tempo, estudiosos e especialistas defenderam a ideia de que a miscigenação e a ausência de conflitos violentos seriam evidência de uma sociedade na qual as diferenças raciais não teriam importância significativa ou configurariam uma “democracia racial”. Mas hoje se sabe que essa é uma visão equivocada das relações no Brasil.

Mas, afinal, existe racismo no Brasil? Na realidade, o que acontece é que aqui, diferentemente do que ocorreu nos Estados Unidos da América e na África do Sul, as relações raciais ocorrem por meio de um sistema muito complexo e ambíguo de diferenciação, não baseado em regras claras de descendência biológica, mas em diferenças fenotípicas designadas como “cor”. Por essa razão, muitos pensadores defenderam a ideia de que no Brasil não haveria preconceito racial, mas sim “preconceito de cor”.

O que significa “cor” do ponto de vista das relações raciais no Brasil? Do mesmo modo que a noção de “raça”, a noção de “cor” também é uma construção social. Tanto “raça” como “cor” são construções sociais ambíguas utilizadas para gerar e perpetuar desigualdades sociais. Embora pareçam características “naturais”, não há nada de “natural” em selecionar e classificar as pessoas segundo a cor da pele, o tipo de cabelo ou o formato do nariz.

Para aprofundar a discussão, leia o seguinte trecho:

De fato, não há nada espontaneamente visível na cor da pele, no formato do nariz, na espessura dos lábios ou dos cabelos, ou mais fácil de ser discriminado nesses traços do que em outros, como o tamanho dos pés, a altura, a cor dos olhos ou a largura dos ombros. Tais traços só têm significado no interior de uma ideologia preexistente (para ser preciso: de uma ideologia que cria os fatos, ao relacioná-los uns aos outros), e apenas por causa disso funcionam como critérios e marcas classificatórios.
Em suma, alguém só pode ter cor e ser classificado num grupo de cor se existir uma ideologia em que a cor das pessoas tenha algum significado. Isto é, as pessoas têm cor apenas no interior das ideologias raciais.
(Guimarães, A. S. A. Racismo e antirracismo no Brasil. São Paulo: Fundação de Apoio à Universidade de São Paulo, Editora 34, 1999. p. 47.)

Deve ficar claro, a partir da discussão, que, embora utilizemos com mais frequência o termo “cor” para distinguir as pessoas, essa noção está carregada de conotações raciais e exerce a mesma função. Nesse sentido, a característica do racismo no Brasil é basear-se mais em preconceitos de marca (cor, tipo físico, características fenotípicas) do que de descendência.

Outro ponto importante a destacar é que, embora depois da Abolição da Escravatura não tivéssemos uma legislação racista, as relações entre as pessoas não deixaram de ser marcadas pelo racismo.

Para finalizar, é preciso entender de que forma brancos, pardos e negros vieram a se encontrar em posições hierárquicas desiguais na sociedade brasileira e por quais razões os brancos ocupam posições privilegiadas em relação aos mestiços e negros.

Os processos sociais que explicam a desigualdade racial no Brasil são diversos e complexos, e não pretendemos esgotá-los aqui. De todo modo, é possível dizer que:

·         no Brasil colônia, a ordem escravocrata propiciava uma hierarquia social em que as posições eram mais claramente identificáveis. Com o fim da escravidão, a “cor” passou a ser uma importante marca de origem, uma espécie de código cifrado para “raça”;

·         na ordem oligárquica brasileira, a “raça” ou “cor”, o status social e a classe estão intimamente ligados entre si. Como herança da ordem colonial, a elite, predominantemente de cor branca, costumava ocupar posições sociais de prestígio, caracterizadas pela educação formal e o acesso a determinados privilégios e direitos que eram negados ao povo, predominantemente de cor parda e negra, que costumava viver em condição de pobreza e exclusão política, social e cultural;

·         a condição de pobreza dos negros e mestiços, assim como a condição servil dos escravos na colônia, era tomada como marca de inferioridade. Esse fator foi determinante para delimitar as posições sociais e quais grupos de “cor” estavam associados a elas.

Desigualdade racial

Analisemos alguns dados referentes às regiões metropolitanas e ao Distrito Federal,
que evidenciam as desigualdades entre brancos e negros que ainda persistem no Brasil. Um indicador importante que revela a desigualdade racial é o acesso à educação, e esse indicador pode ser medido de várias formas. A tabela a seguir, apresenta dados sobre a taxa de analfabetismo das pessoas de 15 anos ou mais de idade.

Taxa de analfabetismo das pessoas de 15 anos ou mais de idade, segundo algumas características selecionadas – 2002/2012 (em %)
Brasil e algumas características
selecionadas
Taxa de analfabetismo das pessoas de 15 anos ou mais de idade
2002 (1)
2012
Brasil
11,9
8,7
Situação do domicílio
Urbana 9,1 6,6
9,1
6,6
Rural
27,7
21,1
Sexo
Homem
12,1
9,0
Mulher
11,7
8,4
Cor ou raça (2)
Branca
7,5
5,3
Preta ou parda
17,3
11,8
Grupos de idade
15 a 19 anos
2,9
1,2
20 a 24 anos
4,6
1,6
25 a 34 anos
7,1
3,5
35 a 44 anos
9,6
6,6
45 a 54 anos
14,9
9,8
55 a 64 anos
24,7
15,7
65 anos ou mais
35,4
27,2
Tabela 1.
(1) Exclusive a população rural de Rondônia, Acre, Amazonas, Roraima, Pará e Amapá.
(2) Exclusive as pessoas de cor ou raça amarela e indígena.
Fonte de dados: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Síntese de indicadores sociais. Uma análise das condições de vida da população brasileira. Estudos e Pesquisas. (Informação Demográfica e Socioeconômica). Rio de Janeiro, n. 32, 2013. p. 139.
Disponível em: . Acesso em: 31 jan. 2014.



Será que temos ideia da porcentagem de analfabetos no Brasil? Você acha que a taxa de analfabetismo independe de certos aspectos como ser homem ou mulher, negro ou não, jovem ou velho? Ou seja, é a mesma para todos?

Em Sociologia, toda opinião deve ter como base argumentos sólidos fundamentados
em pesquisas e dados retirados de livros, teses, jornais, revistas ou da internet,
em sites de institutos de pesquisa conceituados.

Um primeiro ponto a ser destacado é o fato de que a média de analfabetismo no Brasil, quando desagregada em outras variáveis (como situação de domicílio, sexo, cor e faixa etária), mostra diferenças significativas. Ou seja, o dado geral encobre diferentes realidades.

Questionamos quais dados chamam a nossa atenção. Isso é interessante para verificar quais são os temas que mais nos tocam. É provável que muitos de nós nos atrapalhemos nesse momento, pois a tabela apresenta dados sobre diferentes variáveis. Uma maneira de contornar isso é trabalhá-la com muito cuidado e de forma minuciosa.

A possibilidade de um adulto ser analfabeto é maior que a de um jovem ou que a proporção de pretos e pardos analfabetos em 2012 é mais do que o dobro da de brancos na mesma situação.

O primeiro ponto a ser destacado na análise é o de que a tabela trabalha com dois recortes temporais num intervalo de dez anos, apresentando dados de 2002 e 2012.
Uma análise de tabela geralmente começa dos totais para depois percorrer as especificidades.

Observe que, no caso da taxa de analfabetismo total, houve queda no intervalo de dez anos analisado: de 11,9%, em 2002, para 8,7%, em 2012.

Questões:

1.    De forma geral, a taxa de analfabetismo subiu ou desceu nos últimos 10 anos?

Para as questões de 2 a 4, considere apenas os dados referentes ao ano de 2012:

2.    Com base na tabela, anote qual subgrupo apresenta as taxas mais altas de analfabetismo entre os demais, para cada uma das seguintes características.
a) situação de domicílio.
b) sexo.
c) cor ou raça.
d) grupos de idade.

3.    Cite o grupo, entre todos os apresentados na tabela, que apresenta a maior taxa de analfabetismo e o que apresenta a menor.

4.    A taxa de analfabetismo dos pretos ou pardos é maior que a média nacional? Explique.

De forma geral, a taxa de analfabetismo desceu para todas as categorias da tabela nos últimos 10 anos.

Considerando apenas os dados referentes ao ano de 2012, é possível observar também as diferenças existentes entre as taxas de analfabetismo dentro das categorias selecionadas:

·         A taxa de analfabetismo é maior entre as pessoas cujo domicílio é situado na zona rural (21,1%). Essa porcentagem é mais do que três vezes maior do que aquela encontrada entre as pessoas que moram em áreas urbanas (6,6%).

·         A porcentagem de homens analfabetos (9,0%) é maior do que a de mulheres (8,4%), ainda que a diferença seja de menos de 1 ponto percentual.

·         É possível dizer que a porcentagem de pretos ou pardos analfabetos (11,8%) é mais do que o dobro da encontrada entre os brancos (5,3%).

·         Entre os grupos de idade, a maior porcentagem de analfabetos pode ser encontrada entre as pessoas com 65 anos ou mais (27,2%), ao passo que a menor taxa ocorre entre os jovens de 15 a 19 anos (1,2%).

·         Entre todos os grupos apresentados na tabela, aquele que apresenta a maior taxa de analfabetismo é o das pessoas com 65 anos ou mais (27,2%) e o grupo com a menor taxa é o dos jovens de 15 a 19 anos (1,2%).

·         A taxa de analfabetismo do grupo de pretos e pardos é de 11,8%, ou seja, 3,1 pontos percentuais acima da média nacional, que é de 8,7%.

O nível de educação interfere no tipo de ocupação da pessoa e, consequentemente, nos seus rendimentos. As tabelas a seguir o ajudarão a discutir isso


Distribuição dos ocupados, por cor, segundo setores de atividade econômica. Região Metropolitana de São Paulo – Biênio 2011-2012 (em %)
Setor de Atividade
Total
Negros
Não negros

Total de Ocupados
100,0
100,0
100,0
Indústria de transformação
17,8
17,1
18,1
Construção
7,3
9,6
6,1
Comércio, reparação de veículos automotores e motocicletas
17,9
17,1
18,3
Serviços
55,8
54,8
5,63
      Serviços Domésticos
7,0
10,2
5,3
Tabela 2 – Fonte de dados: DIEESE/SEADE et al. A inserção dos negros nos mercados de trabalho metropolitanos. PED – Pesquisa de Emprego e Desemprego. São Paulo, 2013. p. 8. Disponível em:.Acesso em: 31 jan. 2014

Com base na tabela, responda às questões:

1. Qual é a área que possui maior porcentagem de ocupados para negros e para não negros?

2. E qual é a área com menor porcentagem de ocupados para negros e para não negros?

3. Os dados expostos nas questões 1 e 2 já permitem fazer uma análise da desigualdade? Explique.

Você pode começar a análise da Tabela 2 observando inicialmente que a área que possui maior porcentagem de ocupados tanto para negros como para não negros é o setor de serviços, com 54,9% dos negros e 56,3% dos não negros empregados nele. Já a área que possui menor porcentagem de ocupados para os negros é o setor de construção (9,6%) e, para os não negros, o setor de serviços domésticos (5,3%).

Observe que, mesmo obtendo os dados referentes às questões 1 e 2, ainda não é possível compreender a desigualdade entre negros e não negros no acesso a uma ocupação sem que se faça uma comparação entre eles. Por meio dessa comparação, é possível perceber que há uma diferença significativa entre negros e não negros em dois setores. O primeiro é o da construção, no qual trabalham quase 10% dos negros e apenas 6,1% dos não negros. O segundo é o setor de serviços domésticos, que emprega 10,2% dos negros, quase o dobro da porcentagem de não negros empregados nela, que é de 5,3%.

Esses dados são significativos, pois são os dois setores que empregam as pessoas com menos instrução, e, portanto, mostram a desigualdade no acesso a uma ocupação.

Vale destacar que o nível de escolaridade não é o único fator que explica os salários mais baixos. A questão é complexa e não podemos esgotá-la numa Situação de Aprendizagem. O objetivo aqui é tomar consciência dessa desigualdade. A Tabela 3, disponível a seguir auxiliará nessa tarefa.

Destacamos que alguns estudos apontam que, mesmo com o mesmo nível de instrução, os negros tendem a receber menos que os brancos. No caso da Tabela 3, é possível observar, para diferentes regiões do país, a proporção de rendimentos entre negros e não negros e quais foram os rendimentos por hora de ambos os grupos.

As questões a seguir são propostas após a análise da tabela

1.    Qual é a área em que os negros ganham rendimentos por hora melhores e aquela em que eles ganham menos? E no caso dos não negros?

2.    Será que o fato do Distrito Federal pagar aos negros, em média, mais do que o dobro da pior área, que é Recife, significa que lá a desigualdade entre negros e não negros é menor?

3.    Qual é, então, a área com a menor desigualdade entre as estudadas? Isso significa que ali a desigualdade é baixa e que essa situação é aceitável?

Proporção de negros na população ocupada e rendimento hora dos ocupados negros e não negros. Regiões Metropolitanas (1) – Biênio 2011-2012

Regiões
Metropolitanas

Proporção de negros na
população ocupada
(em %)
Rendimento/hora (Em R$ de junho de 2013)

Negros

Não negros

Negros/
Não negros
(em %)
Belo Horizonte
64,0
7,68
10,98
69,95
Distrito Federal
68,6
11,32
17,35
65,24
Fortaleza
75,6
5,47
7,23
75,66
Porto Alegre
11,9
6,61
9,29
71,15
Recife
70,2
5,26
8,07
65,18
Salvador
89,2
5,89
9,84
59,86
São Paulo
34,
6,96
11,40
61,05
Total
48,2
6,83
10,69
63,89
Tabela 3.
(1) Correspondem ao total das Regiões Metropolitanas de Belo Horizonte, Fortaleza, Porto Alegre, Recife, Salvador, São Paulo e o Distrito Federal.
Obs: Raça/cor negra = pretos e pardos; raça/cor não negra = brancos e amarelos
Fonte de dados: DIEESE/SEADE et al. Os negros no trabalho. PED – Pesquisa de Emprego e Desemprego. São Paulo, 2013. p. 6. Disponível em: . Acesso em: 31 jan. 2014.

Comecemos a análise com os dados mais expressivos, ou seja, que o Distrito Federal é a área que melhor pagava os negros em junho de 2013, com R$11,32 por hora, e a Região Metropolitana de Recife é aquela em que os negros ganhavam menos no mesmo período: apenas R$5,26 por hora em média. No caso dos não negros, a área em que recebiam os melhores rendimentos por hora também é o Distrito Federal, com R$17,35, e a pior área é a Região Metropolitana de Fortaleza em que o rendimento médio por hora para os não negros em junho de 2013 era de R$7,23.

Aprofundemos a discussão respondendo à questão 2, que é muito importante para entender quão complexo e delicado é o problema. A princípio, pode parecer que a desigualdade é menor no lugar onde eles ganham mais, que é o Distrito Federal, mas isso pode não ser necessariamente verdade. Para saber se a desigualdade é maior ou menor, é preciso observar com cuidado a coluna “Negros/Não negros”, que apresenta qual é a proporção de rendimento dos negros em relação ao rendimento dos não negros. Por exemplo, a região com menor porcentagem é a de Salvador com 59,86%, ou seja, em Salvador os negros ganham em média por hora apenas 59,86% do que ganha um branco. É a região metropolitana em que a desigualdade é maior.

No caso da pergunta feita sobre a desigualdade em Recife e no Distrito Federal, a porcentagem de 65,18% em Recife se assemelha muito à porcentagem de 65,24% do Distrito Federal, o que mostra que entre as áreas com pior rendimento e aquelas de maior rendimento a desigualdade é a mesma em termos de rendimento.

A área com a menor desigualdade entre as estudadas, como se pode observar na tabela, é Fortaleza, onde um negro em 2013 ganhava em  média por hora 75,66% do que um não negro. É importante deixar que os jovens se manifestem se pensam que a desigualdade de rendimentos entre negros e não negros em Fortaleza é baixa e se essa situação é aceitável. Em seguida, complete ou corrija sua análise, apontando que o fato da desigualdade de rendimento ser menor em Fortaleza não significa necessariamente que essa área seja um espaço sem desigualdade entre negros e não negros ou que essa desigualdade seja menor que as demais.

Em primeiro lugar, para responder isso seria necessário saber se, em relação a outros fatores, como acesso a moradia, saúde, saneamento e bens culturais, entre outros, a desigualdade entre negros e não negro é menor, pois tal desigualdade não pode ser medida apenas pelo rendimento.

Em segundo lugar, o fato de que, na melhor situação, existe uma disparidade de rendimento de aproximadamente 25% mostra que a desigualdade entre negros e não negros ainda é muito grande e que a situação é inaceitável.

Para encerrar, há a problemática da desigualdade por cor pode se expressar na taxa de desemprego

A taxa de desemprego dos negros em alguma área estudada é menor do que a dos não negros? Analise as implicações disso para a desigualdade.

Chamamos a atenção para o gráfico, observando que em todas as áreas estudadas há maior proporção de negros desempregados do que de não negros, o que mostra que a desigualdade perpassa diferentes áreas do Brasil. Contudo, também é preciso afirmar que há uma região em que a diferença quase não existe: a Região Metropolitana de Fortaleza, na qual a diferença entre negros e não negros é de menos de 0,5 pontos percentuais. Em outras regiões, como é o caso da Região Metropolitana de Salvador, a diferença é de expressivos 4,5 pontos percentuais.

Questões:

1.    Pesquise, utilizando jornais, revistas ou internet, selecionando reportagens, matérias e casos noticiados de uma situação de racismo. O objetivo desta pesquisa é fazer uma análise do caso, em um trabalho no qual estejam contemplados os seguintes aspectos:
o    título da reportagem, fonte e data do evento e da coleta;
o    breve resumo dos eventos noticiados;
o    descrição do contexto em que eles ocorreram;
o    análise do caso, determinando se houve preconceito e/ou discriminação por parte dos envolvidos;
o    conclusão.

2.    Procure em jornais, sites ou revistas uma matéria em que conste uma análise de pesquisa sobre o racismo e que faça um resumo da discussão e dos dados apresentados.

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(Autor Desconhecido) "Não acabo amizade por causa de política. Se você concorda que os portugueses não pisaram na África e que os próprios negros enviaram seus irmãos para nos servir, acabo a amizade pelo desconhecimento da História. Se você concorda que de 170 projetos, apenas 2 aprovados, é o mesmo que 500, acabo a amizade por causa da Matemática. Se você concorda que o alto índice de mortalidade infantil tem a ver com o número de nascimentos prematuros, acabo a amizade por causa da Ciência. Se você concorda que é só ter carta branca para que a PM e a Civil matem quem julgarem merecer, acabo a amizade por causa do Direito. Se você concorda que não há evidências de uso indevido do dinheiro público, mas acha que é mito quem usa apartamento funcional "pra comer gente", acabo a amizade pela Moral. Se você concorda que Carlos Brilhante Ustra não foi torturador e que merece ter suas práticas exaltadas, acabo a amizade por falta de Caráter. Se você concorda ...

O processo de desumanização e coisificação do outro

Introduziremos aqui o tema da não cidadania. P ara isso, refletiremos sobre situações nas quais ocorrem práticas sistemáticas de violação de direitos básicos, que levam ao processo de desumanização e coisificação do outro. Compreender os mecanismos que sustentam esse processo será de fundamental importância. Por isso, mais uma vez, recorremos ao recurso metodológico do estranhamento e da reflexão crítica sobre fenômenos sociais com nos quais nos defrontamos na realidade brasileira. O objetivo é iniciar a reflexão sobre o tema central: o processo de desumanização e coisificação do outro , que faz com que o ser humano seja anulado e desconsiderado como tal. Para isso, a problemática que abordaremos inicialmente é a escravidão contemporânea. Quando terminou oficialmente a escravidão no Brasil? A escravidão foi abolida em 1888, quando a Princesa Isabel promulgou a Lei Áurea. De fato, oficialmente, a escravidão no Brasil foi abolida nessa data. Porém, ela ainda persiste no séc...

Como é ser negro no Brasil

Como é ser negro no Brasil* (texto inédito) Por Milton Santos Eu tive a sorte de ser negro em pelo menos quatro continentes e em cada um desses é diferente ser negro e; é diferente ser negro no Brasil. Evidente que a história de cada um de nós tem uma papel haver com a maneira como cada um de nós agimos como indivíduo, mas a maneira como a sociedade se organiza que dá as condições objetivas para que a situação possa ser tratada analiticamente permitindo o consequente, um posterior tratamento político. Porque a política para ser eficaz depende de uma atividade acadêmica... acadêmica eficaz! A política funciona assim! A questão negra não escapa a essa condição. Ela é complicada porque os negros sempre foram tratados de forma muito ambígua  . Essa ambiguidade com que essa questão foi sempre tratada é o fato de que o brasileiro tem enorme dificuldade de exprimir o que ele realmente pensa da questão.  O professor Florestan Fernandes e o professor Otavio Ianni, escrevera...