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A i-logica do Capital: desigualdade como padrão

A BBC publica o gráfico aí de cima, onde se compara a riqueza das 62 pessoas mais ricas do mudo e a dos 50% mais pobres do planeta, “apenas” 3,6 bilhões de seres humanos. Igual.
O que faz com que cada indivíduo deste grupo “valha”, simplesmente, o mesmo que 58 milhões de pessoas.
A proporção, como se vê nos números – baseados em dados do banco Credit Suisse e elaborados pela ONG britânica Oxfam – estão piorando desde a crise de 2008/09.
Chega a ser imoral dizer que isso é fruto da “liberdade”, onde cada um se afirma pelo mérito que possui.
O estudo mostra também que aquela história dos 1% x 99% também “já era”: ano passado era assim, agora já é menos de 1% tendo tanta riqueza que mais de 99%.
Ontem escrevi aqui sobre o absurdo que era a desigualdade de riqueza no Brasil.
Para quem duvidava, vê-se que aqui é muito ruim e em escala mundial é muito pior.
O que pede a Oxfam, entre outras coisas?
O fim dos paraísos fiscais, verdadeiras baías piratas onde o capital se homizia e de onde sai em explorações predatórias sobre as nações, sobretudo as pobres.
Que precisam de capital e, por isso, tem de aceitar que venham predá-las.
Pode-se, porque não há outro jeito, conviver com esta ordem mundial.
Mas não se pode, sob pena de perdermos a civilização e nos tornarmos aduladores da selvageria, deixar de apontá-la como monstruosa.
Porque o capitalismo, antes de avassalar pessoas e países tem de avassalar ideias.
Só assim se pode acreditar que seja justo que um indivíduo tenha 58 milhões de vezes o que possui outro e isto seja democracia e  “mundo livre”.

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