Vera Sílvia Magalhães, torturada barbaramente durante a ditadura, é amparada por Cid Benjamin ao deixar o cárcere rumo ao exílio |
"... Fiquei cheia de sequelas, cheia de problemas”, lembrou a militante
Após 43 anos, completados nesta semana, o sequestro do embaixador dos EUA Charles Elbrick, em um dos episódios mais dramáticos da luta armada no Brasil, marcou a história recente do país. Então integrante do Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR 8), o jornalista Cid Benjamin – um dos idealizadores da ação que culminou na libertação de 15 prisioneiros políticos, entre eles o ex-ministro-chefe da Casa Civil José Dirceu e o líder comunista Gregório Bezerra –, passadas mais de quatro décadas, vive em em um país democrático, possível graças ao sacrifício dos homens e mulheres que resistiram à ditadura militar. Os militares que participaram dos atos de tortura e da série de assassinatos políticos naquela época, segundo o ex-guerrilheiro, devem pagar por seus atos.Em entrevista ao Correio do Brasil, Cid Benjamin – que hoje milita no Partido do Socialismo e Liberdade (PSOL) – acredita que o país mudou “e para melhor”, após os anos de combate ao aparato da repressão, quando ainda integrava a DI-GB. A dissidência do Partido Comunista Brasileiro (PCB), no antigo Estado da Guanabara, fechou uma aliança com a Ação Libertadora Nacional (ALN), liderada por Carlos Marighella, para o seqüestro político do embaixador norte-americano. Em 5 de setembro de 1969, com a ação em curso, o grupo passa a se autodenominar MR-8, em homenagem ao líder guerrilheiro Che Guevara (que caiu em combate em 8 de outubro de 1967). Apesar das baixas que se seguiriam dias após o sequestro político, a missão cumpriu seu objetivo. Além de salvar os militantes presos da morte certa, pela primeira vez a tortura foi denunciada amplamente no país, após a leitura de um manifesto no rádio e na televisão e sua publicação nos jornais da época.
Com a caça implacável aos autores do sequestro, Virgilio Gomes da Silva, o comandante Jonas, que havia liderado a ação, foi preso, torturado e morto por militares na Operação Bandeirantes (Oban). Cid Benjamin e Vera Silvia Araújo Magalhães (Marta), entre outros militantes do MR 8, também caíram e, posteriormente, foram mandados para o exílio. Vera, pouco antes de morrer, em 2007, lembrou ter sido “a única torturada na Sexta-Feira Santa na Polícia do Exército. E eles me disseram: ‘Você vai ser torturada como homem, como Jesus Cristo’. Para uma mulher, acho que exageraram mesmo. Fiquei cheia de sequelas, cheia de problemas”, lembrou a militante, que precisou ser amparada por Benjamin até o avião em que seriam deportados do país, tamanhos os ferimentos causados pela tortura.
Embora o país tenha mudado muito pouco desde então, Cid reafirma que a luta, na época, foi legítima, mas “necessariamente, seria derrotada”.
Fonte: Correio do Brasil (Disponível em http://correiodobrasil.com.br/militares-que-torturaram-e-mataram-devem-ser-punidos-afirma-ex-guerrilheiro/511530/#.UEwUjo1lTa0, acessado em 08.set.2012
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